24 de julho de 2021

A eleição incondicional é arbitrária?


Quando se diz no jargão teológico que a predestinação/eleição é incondicional é no sentido de que a escolha de Deus não é baseada no mérito humano ou na recetividade prevista do Evangelho.

Isso não significa que a eleição é uma escolha arbitrária de Deus. Deus tem razões para eleger alguns indivíduos e reprovar outros. Os seres humanos são agentes. Um mundo no qual houvesse uma distribuição diferente de eleitos e réprobos teria uma história mundial diferente. Se Deus reprovasse Abraão, isso mudaria o curso da história mundial. A eleição leva em consideração o enredo que Deus prefere. 

21 de julho de 2021

ROMA AO CONDENAR O JANSENISMO ANATEMATIZOU A TEOLOGIA DE AGOSTINHO DE HIPONA

 

O jansenismo foi um reavivamento católico pós-Reforma da teologia agostiniana iniciado pelo bispo holandês de Ypres, Cornellius Jansenius (Jansen), no século XVII. Os jansenistas eram uma espécie de "calvinistas católicos", predestinarianos estritos, que se opunham ao semipelagianismo de Roma. Seguindo o agostinismo, defendiam que a graça seria concedida através da predestinação incondicional, contrariando a teoria de que seriam as "boas obras" realizadas de acordo com o livre-arbítrio característico ao ser humano que faria recair sobre si (ou não) a graça divina. De igual forma, considerava o jansenismo que o pecado original inclinou o género humano para o Mal. Um dos seus aderentes ilustres foi o matemático, físico e filósofo Blaise Pascal.

Os principais opositores do jansenismo dentro do catolicismo foram os jesuítas (molinistas) que influenciados pelo humanismo renascentista, passaram a pregar a importância do livre-arbítrio e da colaboração da vontade humana na salvação, considerando que a persistência na tradição agostiniana favoreceria o calvinismo emergente

Ao condenar o jansenismo, a Igreja de Roma anatematizou a tradição agostiniana que ocupava um lugar honroso no catolicismo antes do calvinismo tornar-se intolerável. Algo de semelhante aconteceu com a doutrina da justificação pela fé após Lutero passar a professá-la. A teologia católica é algo reacionária.


P.S. Lendo alguns textos sobre o jansenismo aqui, é fascinante ver como o catolicismo predominante em vários países europeus durante uma boa parte do século XVIII, era mais parecido com uma Igreja protestante do que com a Igreja católica romana pós-Vaticano I.

20 de julho de 2021

SEIS ESTADOS DE NEGAÇÃO CATÓLICOS

 

1. A igreja de Roma é a Noiva de Cristo. Sem o Magistério Romano, estaríamos perdidos na selva, forçados a nos defendermos por nós próprios.

2. A igreja de Roma não pode ser falsificada pelo que os sacerdotes, a hierarquia ou o papa fazem, mas apenas pelo que é oficialmente ensinado.

3. A igreja de Roma não pode ser falsificada pelo que o papa diz ocasionalmente, mas apenas quando fala ex cathedra. Tudo o mais é falível.

4. A igreja de Roma não pode ser falsificada pelo ensino herético do Catecismo da Igreja Católica porque ele é falível.

5. A igreja de Roma não pode ser falsificada pelo ensino conciliar herético, porque isso apenas mostra que o concílio não foi ecuménico. Mesmo que um papa definisse solenemente uma heresia como doutrina irreformável, isso não pode falsificar a igreja de Roma. Um papa herético é um antipapa, não um verdadeiro papa. A heresia ex cathedra é uma contradição de termos. Portanto, nada em princípio ou na prática, nada na história, nada no papel, pode falsificar a igreja de Roma.

6. O dogma é o nosso ponto de referência para separar o ensino de fide do ensino falível ou herético. Contamos com o ensino magisterial para saber o que é dogma e contamos com o dogma para saber o que é o ensino magisterial. A igreja de Roma é a única verdadeira Igreja® porque ela diz que é a única verdadeira Igreja®. A Igreja Católica Romana está sempre certa - exceto quando está errada. E pode-se perceber a diferença usando o dogma para peneirar o Magistério e, ao mesmo tempo, usar o Magistério para peneirar o dogma. O dogma é o ponto de partida. A menos que o Magistério seja o ponto de partida. Na dúvida, lança-se ao ar uma moeda de São Judas Tadeu.

7 de julho de 2021

O antissemitismo/judeofobia é antibíblico

 

Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E este será o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados. Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Romanos 11:25-29)

Os Judeus desobedientes são inimigos do Evangelho (porque endurecidos por Deus) mas amados por causa dos pais. Portanto, longe de nós qualquer sentimento de inimizade ou menosprezo para com o povo judeu. [1]

Quando então a plenitude dos gentios for alcançada, o endurecimento parcial de Deus sobre Israel será retirado e todo o Israel será salvo.

Porque assim como vós também, antigamente, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles, assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada. Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia. Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Porque quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Romanos 11:30-36)


[1] Isto não significa que devamos apoiar de modo especial o atual Estado secular de Israel. É um Estado que deve ser encarado como qualquer outro Estado do mundo. Como aliás, a maioria dos judeus ortodoxos também encaram. Para eles, o atual Estado de Israel é um fenómeno neutro do ponto de vista religioso.

30 de junho de 2021

E se o Holocausto nunca tivesse acontecido?

 

Quando se fala do problema do mal, um clichê é invocar o Holocausto e perguntar onde estava Deus durante o Holocausto? Por que permitiu Deus o Holocausto?

Mas seria um mundo alternativo em que o Holocausto nunca aconteceu melhor do que o nosso mundo? Melhor em que aspecto? Melhor em todos os aspectos?

Um mundo no qual o Holocausto nunca tivesse acontecido teria um passado diferente e um futuro diferente. As condições históricas que levaram ao Holocausto não existiriam. E as consequências históricas do Holocausto não existiriam.

Mas, entre outras coisas, isso requer a eliminação de muitas pessoas do passado e a sua substituição por um conjunto diferente de pessoas. Da mesma forma, isso requer a eliminação de todas as pessoas que nasceram como resultado do Holocausto. De certa forma, isso seria um tipo diferente de Holocausto.

Isso seria melhor para as pessoas que nunca existiriam neste mundo alternativo? E se algumas delas estiverem perto de ter um futuro eterno de felicidade? Ao criar o mundo alternativo, Deus as priva dessa bênção incomparável.

Algumas coisas boas resultam de um mundo onde ocorreu o Holocausto que nunca resultariam sem o Holocausto. Portanto, um mundo em que o Holocausto ocorreu é melhor em alguns aspectos, mas pior em outros. Melhor para algumas pessoas, mas pior para outras.

Há inclusive judeus - muitos judeus - que beneficiaram do Holocausto. Há judeus que nasceram como resultado do Holocausto que nunca existiriam sem esse acontecimento horrível. Por exemplo, alguns sobreviventes do Holocausto casaram com pessoas que nunca teriam oportunidade de conhecer num mundo sem os deslocamentos do Holocausto.

Os melhores meios para um fim não tornam os meios bons em si mesmo. Como uma amputação para evitar a morte por gangrena.

Um mundo com o Holocausto não é o melhor mundo possível, porque o melhor mundo possível é uma impossibilidade lógica, mas é o melhor mundo possível para a realização dos propósitos de Deus.

24 de junho de 2021

Abortar o desenvolvimento de um corpo humano é moralmente irrelevante?

 

Definamos ser humano como a união corpo humano-mente humana. Um corpo humano incapaz de incorporar uma mente humana não é um ser humano, é apenas um corpo humano. Este é o caso de um feto humano nos seus estágios de desenvolvimento iniciais. Enquanto um cérebro capaz de “acoplar” uma mente não se desenvolve, um feto humano é um organismo/corpo humano mas não um ser humano.

Há quem defenda, então, que interromper o desenvolvimento de um corpo humano nos seus estágios iniciais é moralmente equiparável a destruir uma unha humana ou um cabelo humano. O facto de simplesmente ser “humano” não concede direitos morais a estas entidades. O que torna moralmente censurável matar um corpo humano é a existência de uma mente incorporada no corpo, porque nessa condição mata-se não apenas um corpo humano mas também um ser humano.

Mas destruir um corpo humano em desenvolvimento é moralmente equiparável a destruir outro material biológico humano? A resposta parece óbvia. É claro que não. Um corpo humano é uma das partes constituintes de um ser humano sem a qual o ser humano não existe. Interromper o seu desenvolvimento é abortar o processo de formação de um ser humano único. Não é como descartar uma unha ou cabelo humano. Um ser humano pode existir sem unhas ou cabelo mas não pode existir sem um corpo humano. 

Um ser humano não é só o seu corpo, mas é também o seu corpo. O corpo de um ser humano é sempre o mesmo desde o momento da sua conceção até que morre. Sem ele o ser humano não existe. Destruí-lo é destruir uma das partes constituintes de um ser humano. Como tal deve ter a sua integridade protegida. A sua destruição em qualquer momento da sua existência tem implicações morais óbvias.

Que se saiba uma árvore não tem mente, mas não é moralmente irrelevante matá-la. Ter uma mente é uma condição suficiente para um organismo/corpo não ser morto mas não é uma condição necessária. É preciso ter uma boa razão moral que justifique matar um organismo/corpo quer este tenha uma mente ou não. 

Um organismo vivo tem valor em si mesmo, é moralmente errado matá-lo gratuitamente.

Então, mesmo que concedamos que um feto humano nos seus estágios iniciais de desenvolvimento não é um ser humano, mas apenas um organismo/corpo humano, matá-lo (abortá-lo) continua a ser moralmente censurável na ausência de uma razão moralmente relevante que o justifique.

Nota

A definição de ser humano como uma "mente incorporada" pressupõe a existência de duas entidades ontologicamente independentes - o corpo e a mente. Não faz sentido para um fisicalista falar em "mente incorporada" quando a mente é o corpo. Se o cérebro produz a mente não há nada incorporado, há apenas um cérebro/corpo que produz um efeito. Assim, quando um fisicalista fala em "mente incorporada" é como se estivesse a falar em "bílis incorporada" ou "insulina incorporada". Puro nonsense. A emergência da mente provoca uma mudança de grau e não de género, de um ser humano sem mente para um ser humano com mente.

Ovos de águia não são águias. Bora destruir os ninhos...Ups

6 de junho de 2021

NO BEM, NO MAL

 

Muitos cristãos assumem a posição de que Deus é responsável por todas as coisas boas que nos acontecem, mas não por nenhuma das coisas más que nos acontecem. Na verdade, a sua principal objeção ao calvinismo [N.d.T. isto é, que Deus preordena todas as coisas] é que o calvinismo torna Deus responsável pelas coisas más assim como pelas boas. Do seu ponto de vista, isso é evidentemente errado. Não conseguem pensar em coisa pior que se pudesse dizer sobre Deus. Não conseguem imaginar como alguns cristãos realmente acreditam nisso.

Uma vez que isso é tão óbvio para eles, não pensam duas vezes. Ou se pensam duas vezes, gastam o tempo a elaborar como isso seria indescritivelmente abominável. Nunca param para questionar a sua pressuposição.

Falando por mim, tenho exatamente o instinto oposto. É claro que acredito que Deus é responsável por tudo o que acontece. Mas suponhamos, para fins de argumentação, que eu tivesse uma escolha: ou Deus é apenas responsável pelas coisas boas que me acontecem ou ele é apenas responsável pelas coisas más que me acontecem.

Se tivesse que decidir, eu optaria pela alternativa "má". Se pudesse escolher, prefiro que Deus seja responsável pelas coisas más do que pelas coisas boas.

No que diz respeito às coisas boas, não tenho nada a temer. Nada a perder. Estou seguro. Elas não representam nenhuma ameaça para mim ou para as pessoas que amo. O bom é isento de riscos.

Mas o mal pode ferir-me. O mal pode ferir as pessoas que amo. No que diz respeito ao mal, eu teria tudo a temer, tudo a perder - a menos que Deus esteja por trás do mal. A menos que Deus limite o mal. A menos que o mal sirva um bem ulterior.

Se Deus é responsável pelo mal que se abate sobre mim ou as pessoas que amo, então não importa quão mau isso fique, nunca ficará tão mau quanto poderia. Nunca envolverá dano irreparável ou perda irremediável. Se Deus é responsável pelos males da minha vida, então há uma marca além da qual eles não passam. Se tudo, incluindo todos os eventos maus, se desenrola de acordo com o plano e a providência sábia e benéfica de Deus, então o mal não é um poço sem fundo. Não para os seus filhos.

Todo mal que se abate sobre mim como cristão, por mais horrível que seja, será um mal redimível. Há esperança. Há coisas boas à minha espera do outro lado da provação - nesta vida ou na próxima.

Muitos de nós chegamos a um ponto na vida, mais cedo ou mais tarde, em que a vida se fecha sobre nós. Onde, apesar dos nossos melhores esforços para evitá-lo, os nossos piores medos se tornam realidade. Por vezes, podemos vê-los a chegar e nos sentimos impotentes para impedi-lo. Esperamos e suplicamos para que se desviem no último momento, mas não se desviam.

Em vez de acordar de um pesadelo, acordamos para um pesadelo. Aquela sensação terrível de naufrágio. Saber que se está encurralado. Tudo que poderia dar errado deu errado. Todos os dados se alinham contra nós.

É em tempos como estes, enquanto nos agarramos a uma rocha fustigada pelo vento, que saber que Deus está por trás da nossa provação é uma fonte de esperança, força e consolação. Na verdade, a única fonte de esperança, força e consolação. Ao sabermos disso, sabemos que isso não é o fim. Isso não é o epitáfio. Se Deus está por trás disso, então Deus também está na frente disso. Para nos abençoar. Para nos fazer bem.

No bem e no mal. Mas não para o pior - mas para o melhor.

Steve Hays (1959-2020) 

What he lived by, he died by.

4 de junho de 2021

Lactâncio e a simplicidade das Escrituras

 

Lactâncio (ca. 240 — ca. 320), em Divinae Institutiones 5.1.15-18, escreveu ao imperador que os escritos sagrados dos cristãos (presumivelmente incluindo o AT e o NT) eram desprezados pelos eruditos do mundo secular porque eram verdadeiros e sem embelezamento e não se concentravam em agradar aos ouvidos dos ouvintes. Isso é relevante para tentativas de alegação que os Evangelhos teriam usado "artifícios composicionais" greco-romanos para mudar os factos e que o seu público não se importaria. Mas não somente não há evidências para sustentar a existência do género que os teóricos afirmam, como as Escrituras cristãs eram explicitamente conhecidas nos tempos antigos pela sua simplicidade e ausência de embelezamento retórico.

Este ponto encaixa-se com o que Paulo diz em 1 Coríntios. 1:26: “Considerai, pois, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados...”. Ao longo desta passagem Paulo enfatiza que a eloquência de palavras é um "extra" na propagação do evangelho e que, em geral, o evangelho e o cristianismo estão associados à verdade franca da mensagem, em vez de a floreados retóricos.

3 de junho de 2021

O determinismo é autoderrotante?

 

Se a crença no determinismo foi determinada por fatores externos irracionais, então o determinismo minaria a crença no determinismo. Mas se a crença no determinismo foi determinada por um Deus racional, então isso não derrota a racionalidade da crença no determinismo.

Dizer “a razão pela qual se acredita no determinismo é simplesmente porque estava determinado a fazê-lo” é simplista e equívoco. Isso confunde a razão que se tem para acreditar no determinismo (ou seja, a coisa que torna o determinismo uma ideia persuasiva) com a razão pela qual algo acontece. A razão pela qual choveu hoje não é a mesma razão pela qual eu penso que choveu hoje. O facto de eu estar predeterminado a pensar que choveu hoje não implica que não tenha boas razões para pensar que choveu hoje. A diferença é clara.

Um agente determinado pode pesar os argumentos a favor e contra. Um agente determinado será predeterminado para pesar os argumentos a favor e contra. Não há nenhum motivo para assumir que um processo determinístico não pode fazer uso de boas razões para convencer um agente determinado de que o determinismo é verdadeiro.

Conselho amigável: Se alguém acha que o determinismo é autoderrotante não deverá confiar nos resultados das máquinas de calcular.

2 de junho de 2021

CATOLICISMO QUÂNTICO

 

Alguns católicos lidam com o papa Francisco assumindo a posição de que, mesmo que ele seja um herege, isso não tem grande importância, desde que as suas opiniões heréticas sejam apenas um seu ponto de vista privado, e não um dogma.

Mas é claro que isso representa um dilema. E se Francisco oficializar as suas heresias? Então, elas deixam de ser heréticas. A heresia de ontem pode ser a ortodoxia de amanhã, enquanto a ortodoxia de ontem pode ser a heresia de amanhã.

O catolicismo é semelhante ao voluntarismo teológico nesse aspecto. De acordo com o voluntarismo, nada é intrinsecamente certo ou errado. Depende do ditame arbitrário de Deus.

No catolicismo, nada é herético, a menos que seja oficialmente herético. É herético se um concílio ecuménico condenar.

O catolicismo é como o gato de Schrödinger, suspenso num estado de sobreposição onde está vivo e morto até que alguém abra a caixa e espreite para dentro.

Francisco é um herege até tornar a heresia oficial, momento em que se torna dogma.

1 de junho de 2021

Alma imaterial e segunda lei da termodinâmica


Uma objeção levantada à existência de uma mente/alma imaterial é que a sua interação com o cérebro violaria a segunda lei da termodinâmica. Mas esta lei apenas se aplica a sistemas fechados e o cérebro ao interagir com uma mente/alma imaterial não é um sistema fechado por definição. Por isso, pode ter variações de entropia negativas sem violar nenhuma lei da física ou impossibilidade lógica. 

A objeção o que na verdade faz é assumir o fisicalismo para rejeitar uma posição não fisicalista. É simplesmente circular.

As leis da física, incluindo as da termodinâmica, governam processos naturais do universo físico. Descrevem um resultado natural de um contínuo de causas e efeitos físicos. Mas o universo físico não é um sistema fechado. Embora geralmente opere como tal, na verdade é um sistema aberto. Uma causação exterior não-física pode mudar o resultado natural previsto pelas leis da física.

Por exemplo, a causação mental pode alterar o estado físico de uma zona do meu cérebro previsto pelas leis da física. Se eu decidir mentalmente levantar o braço direito o estado físico do meu cérebro será um, se eu não decidir levantar o braço o estado físico será outro. Se não decidir levantar o braço o estado físico dessa zona do cérebro será o naturalmente previsto pelas leis da física.

Na cosmovisão bíblica, o universo físico não está fechado a causas não-físicas. Na verdade, é um palco para agentes pessoais (Deus, anjos, demónios, humanos). 

29 de maio de 2021

Como o perdão e o batismo estão ligados?

 

Pedro disse-lhes: “Arrependei-vos e sede imersos, cada um de vós, em nome de Jesus, o Messias, com base no perdão dos pecados ...” (Atos 2:38).

A preposição “para” (eis) na expressão “para o perdão dos pecados” levanta a questão da relação entre a imersão na água (batismo) e o perdão dos pecados. Alguns interpretam a preposição como expressando propósito (o propósito do batismo é o perdão dos pecados), alguns como expressando resultado (batismo resulta em perdão).

Uma interpretação contextualmente mais plausível assume um significado causal (o perdão dos pecados é a causa do batismo); os judeus que ouviram Pedro explicar que Jesus era o Messias crucificado, ressuscitado e exaltado e o Senhor que salva Israel nos “últimos dias” se arrependeram dos seus pecados e passaram a ter fé em Jesus. De outra forma, eles não estariam dispostos a ser imersos em água para purificação “em nome de Jesus o Messias”; eles foram imersos em água para purificação “com base no perdão dos pecados”, que receberam de Jesus.


E. Schnabel, Acts (Zondervan 2012), 164-65.

27 de maio de 2021

O BATISMO NÃO PODE SER UMA BUROCRACIA


Uma maneira de refutar a regeneração batismal é colocar a seguinte questão: O batismo é absolutamente necessário para a salvação? 

Como a absoluta necessidade do batismo é indefensável, até mesmo os defensores da necessidade do batismo geralmente preveem sempre uma condição de salvação sem o batismo, o batismo revela-se uma burocracia, um capricho, uma exigência gratuita de Deus, pois Deus pode salvar e justificar sem o batismo, ele não é inerentemente necessário para a salvação.

A menos que se considere o batismo como absolutamente necessário para a salvação, o batismo como exigência para a salvação não faz sentido. Deus não é um burocrata.

18 de maio de 2021

A arte como camuflagem

 

O interior das igrejas reformadas/evangélicas é tradicionalmente espartano. A simplicidade e ausência de luxos é uma das suas imagens de marca. Quem está acostumado a isso e entra numa catedral gótica ou numa basílica bizantina pela primeira vez pode ter um choque. O contraste é avassalador.

Esse impacto pode ter consequências diferentes em pessoas diferentes. Alguém com uma fé principalmente intelectual e teórica, que adere ao cristianismo pelo sentido estético da coisa, pode ficar fascinado e sentir-se atraído por toda a parafernália artística dessas igrejas. Essa é uma das razões pelas quais é um erro os evangélicos serem gratuitamente espartanos quando se trata de serviço de culto. Isso convida ao abandono de certas pessoas. 

Não estou a apelar para a ostentação nem para encher as igrejas com imagens ou pinturas. Isso certamente não seria boa arte, mas mau gosto disfarçado de piedade. Nada pior do que igrejas que mais parecem lojas de bugigangas. Porém, não custa nada ter um maior cuidado com os espaços do culto, a seleção da música sacra, a reverência no culto etc.

Mas a arte majestosa pode ser vista por um prisma diferente: é uma ótima maneira de camuflar o vazio. Se não se tem nada, faz-se com que pareça que há alguma coisa por meio de elementos externos. Se o vinho é apenas vinho, isso é disfarçado usando um cálice esplendoroso. Se a hóstia é apenas um pedaço de pão seco, dissimula-se isso colocando-a dentro de um tabernáculo magnificente, num altar magnificente, com muitos outros adornos cintilantes. Se o sacerdote na verdade não tem poderes transformativos, mas é apenas um homem como outro qualquer, mascara-se isso envolvendo-o com vestes extravagantes. Quanto menos se tem, mais se tem que compensar.

Os elementos externos, a sobrecarga sensorial, desviam a atenção do facto de que não há nada ali. Camadas sobre camadas para esconder o vazio no âmago. Arrebatar os sentidos é uma tática sagaz para desarmar as faculdades críticas.

Ou, para colocar isso ao contrário, se realmente houvesse alguma coisa ali, algo manifestamente sobrenatural, então toda a arte vistosa, arquitetura, música, ouro e brocado seria desnecessário. Na verdade, se realmente houvesse algo ali, todos os embrulhos faustosos o obscureceriam.

17 de maio de 2021

EQUÍVOCOS CANÓNICOS

 

Apologistas católicos e protestantes frequentemente chegam a um impasse nos debates sobre o cânon devido a equívocos. A igreja precede o cânon ou o cânon precede a igreja? A igreja nos deu o cânon?

Como resultado, conversam em círculos sem chegar a lugar nenhum. Para quebrar o impasse e esclarecer as questões, algumas distinções e definições são necessárias.

Escritura

Embora a Bíblia seja escritura, escritura não é sinónimo de Bíblia, visto que escritura pode ser apenas uma parte da Bíblia. Isaías é escritura, mas não é a Bíblia.

A Bíblia

A coleção total de escrituras.

Uma Bíblia

O AT é uma Bíblia, mas não a Bíblia. A Bíblia é o AT e o NT.

O cânon

i) Isso pode se referir ao cânon do AT, ao cânon do NT ou a todo o cânon.

ii) Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode estar aberto ou fechado, completo ou incompleto.

iii) Numa definição, o cânon está completo ou fechado de facto quando todas as escrituras estão escritas. Dito de outra forma, nesse momento a Bíblia realmente existe in toto. Esta é uma definição intrínseca.

iv) Isso é diferente da receção ou distribuição da Escritura, que pode ser desigual.

v) Escritura implica cânon porque escritura implica um contraste entre escritura e não-escritura. Portanto, o conceito de escritura contém implicitamente um princípio ou objetivo canónico: limites em princípio e/ou prática. Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode não ter atingido o seu limite. Durante o período de revelação pública, há um cânon aberto. Isso é verdade tanto nos tempos do AT como nos tempos do NT.

vi) Os apologistas católicos negam que os cristãos do século I tivessem "A Bíblia". Dizem que a Igreja nos deu "A Bíblia". Dizem que Sola Scriptura é inconsistente com um cânon aberto ou incompleto. Dizem que a maioria dos primeiros cristãos não tinha acesso à "Bíblia" - porque os livros do NT não estavam todos escritos ou a distribuição era desigual.

Mas isso são equívocos. A Sola Scriptura pode operar com um cânon menor porque o princípio governante continua a ser a Escritura. A igreja pode ser governada por um cânon central - um cânon incompleto porque o ponto de contraste não é entre alguma escritura e toda a escritura, mas entre escritura e não-escritura. Colocado de outra forma, entre revelação e não revelação. A revelação divina é a autoridade final, não importa se está muito ou pouco disponível. Nada mais pode ser maior ou igual à revelação divina na teologia e ética cristã.

2 de abril de 2021

Paixão segundo São Mateus de Bach

 

Esta obra de Johann Sebastian Bach é baseada no evangelho de Mateus, narrando a condenação e a morte de Jesus na cruz do calvário. Bach é considerado o quinto evangelista por ter produzido músicas magníficas, influenciando e tocando os corações no mundo todo. Pregou com a sua criativa música.

Bach foi um cristão luterano que viveu cerca de 200 anos após a Reforma Protestante.

A Paixão Segundo São Mateus foi traduzida para o português e está legendada para poder ser acompanhada. Bom deleite. 

https://gulbenkian.pt/musica/videos/paixao-segundo-sao-mateus/

1 de abril de 2021

Teologia do Faz-de-conta

 

492 Mais que toda e qualquer outra pessoa criada, o Pai a «encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo» (Ef 1, 3). «N'Ele a escolheu antes da criação do mundo, para ser, na caridade, santa e irrepreensível na sua presença» (Ef 1, 4).

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2cap2_422-682_po.html

Não há nada de errado com essas afirmações? Comparemo-las com as palavras do seu texto de prova:

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; 4 como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele (Ef. 1:3-4).

Ef. 1:3-4 não destaca Maria como o objeto de Ef. 1:3-4, mas os cristãos em geral. Os eleitos.

Na verdade, não diz absolutamente nada sobre Maria. Na melhor das hipóteses, ela estaria incluída entre outros cristãos.

Desde Newman, os católicos apelam para a teoria do desenvolvimento. Aqui vemos uma passagem da Escritura dissociada do seu contexto, para sustentar o dogma mariano. A partir do momento em que a Escritura é dissociada do contexto, o processo ganha vida própria.

Não há nada intrinsecamente errado com o desenvolvimento teológico, mas tem que ser logicamente válido. O problema é que a teologia católica se desenvolve da mesma maneira que um argumento ficcional seminal se desenvolve ao longo do tempo. Veja-se a evolução literária da lenda de Fausto ou da lenda Arturiana, ou a evolução cinematográfica do Batman, do Super-homem, os mitos de vampiros ou as permutações do cânon de Star Trek. Como a ficção não está sujeita a restrições factuais, ela pode mudar. O único limite é a consistência e a imaginação do argumentista.

Mas os eventos históricos não podem mudar. Eles são o que foram. Estão congelados no tempo.

A teologia católica sofre o tipo de embelezamento lendário que é característico da ficção. Um desenvolvimento descontrolado, porque a realidade não impõe nenhum limite sobre para onde pode ir.

31 de março de 2021

O tempo é uma propriedade apenas do universo material?

 

Eu defendo uma teoria absoluta do tempo, em que o tempo pode existir sem existir qualquer mudança na realidadeO tempo é a dimensão da mudança possível. O tempo existe se, e somente se, existir uma substância duradoura que possa mudar. Se o Universo deixasse de existir o tempo não desapareceria, uma vez que ainda existiria uma realidade última necessária - Deus. E Deus não é fortemente imutável como dizem alguns teístas clássicos, mas fracamente imutável. Deus é imutável no sentido de que a sua natureza divina essencial não pode mudar, mas Ele pode sofrer mudanças intrínsecas e extrínsecas não essenciais, como se tornar O Criador, Redentor, e Senhor da humanidade.

Igualmente, estados mentais sucessivos envolvem sucessão temporal e, a menos que se seja fisicalista, isso significa que o tempo é separável da matéria.

Mentes imateriais como anjos, demónios, almas imortais, não têm espaço (ainda que possam ter espaço simulado como os sonhos), mas são temporais, pois experimentam estados mentais sucessivos.

Deus também pode experimentar uma sequência de eventos mentais, por isso é temporal, mas é mais do que simplesmente temporal, é a própria fonte do tempo. O tempo só deixaria de existir se Deus deixasse de existir. Uma vez que Deus existe necessariamente e pode sofrer mudanças, o tempo existe necessariamente. O tempo existe porque existe um Deus pessoal. É um concomitante necessário do seu Ser.

Portanto, o tempo é um atributo divino não criado que é exemplificado no universo material e imaterial (mentes). E o tempo como grandeza física é apenas uma métrica deste tempo metafísico absoluto. É a medição da duração dos intervalos temporais entre eventos anteriores e posteriores uns aos outros.

A temporalidade divina significa que Deus perderá momentos da sua vida à medida que eles deslizam para o passado inexistente, e Deus deve esperar que os momentos futuros antecipados (por Ele) se tornem presentes antes que Ele possa vivenciá-los.

28 de março de 2021

Mal natural e naturalismo

 

A noção de mal natural é um conceito teleológico. Por exemplo, dizer que a cegueira é um mal natural é um julgamento teleológico. Mas a evolução naturalista rejeita objetivos finais. Se não há telos, não há disteleologia. A cegueira só é um mal natural se os olhos foram projetados para ver. Mas a evolução naturalista é um processo não-dirigido, em vez de um processo orientado para um objetivo. Os olhos não têm nenhum propósito na evolução naturalista.

Se a evolução naturalista for verdadeira, então não é possível que uma parte do corpo funcione mal, pois os olhos não foram feitos para ver, os ouvidos não foram feitos para ouvir, os corações não foram feitos para bombear sangue, etc.

Como pode então o mal natural contar contra a existência de Deus, se a sua existência só é possível num mundo com Deus? A alternativa é um mundo sem teleologia. Antes que o mal possa contar contra a existência de Deus, ele deve contar como mal.

27 de março de 2021

Multiverso das lacunas

 

[Paul Davies] Então esse é o fim da história? O multiverso pode fornecer uma explicação completa e fechada de toda a existência física? Não exatamente. O multiverso vem com muita bagagem, tal como um espaço e tempo abrangente para hospedar todas essas explosões (big bangs), um mecanismo gerador de universos para acioná-los, campos físicos para povoar os universos com coisas materiais e uma seleção de forças para fazer as coisas acontecerem. Os cosmologistas adotam esses recursos imaginando "meta-leis" gerais que permeiam o multiverso e geram leis específicas numa base universo a universo. As próprias meta-leis permanecem inexplicadas - entidades transcendentes eternas e imutáveis que simplesmente existem e devem ser simplesmente aceites como dadas. Nesse aspecto, as meta-leis têm um status semelhante a um deus transcendente inexplicável.

https://www.thehindu.com/sci-tech/Stephen-Hawkingrsquos-big-bang-gaps/article15902960.ece

25 de março de 2021

O ateísmo é uma crença injustificada à luz da ciência


"Seja como for, se o naturalismo do universo único é quase de certeza falso, a seguinte disjunção muito provavelmente é verdadeira: o nosso universo é apenas um entre muitos, havendo um enorme predomínio de universos incompatíveis com a existência de vida, ou o nosso universo foi afinado minuciosamente por (pelo menos) um agente de modo a que existisse vida consciente e racional. Também parece ser razoável concluir que qualquer uma das hipóteses disjuntas tem uma probabilidade significativa de ser verdadeira. Daí não se segue que o teísmo ----- no sentido estrito do termo, que adoptei ao longo desta discussão ----- tenha uma probabilidade significativa ser verdadeiro. Pois talvez encontremos razões muito consideráveis para crer que, havendo um afinador, muito provavelmente ele não reunirá as características de Deus. Mas podemos usar o termo «teísmo» num sentido mais amplo, considerando teísta todo aquele que acredite em algum afinador, isto é, em pelo menos um agente que tenha «desenhado» a estrutura básica do universo. Ser ateu por referência ao teísmo assim entendido, atribuir uma probabilidade muito baixa ou nula à existência de um afinador, não é razoável. No mínimo, atendendo devidamente à evidência da afinação, é preciso ser agnóstico".

http://pedrogalvao.weebly.com/uploads/6/6/5/5/6655805/deus.pdf 

Portanto, segundo este filósofo secular, a crença no ateísmo não é justificada à luz do conhecimento científico atual. A conclusão do trabalho é que há duas hipóteses razoáveis porque, argumenta-se, a probabilidade de existir um Afinador é sensivelmente igual à da existência de multiversos. 

É claro que apenas argumentos científicos, como o argumento da "Afinação Minuciosa", não chegam para justificar a crença no teísmo bíblico, mas chegam para eliminar o ateísmo. O teísmo bíblico é justificado pelo efeito cumulativo de vários tipos de evidências.

19 de março de 2021

O DILEMA DA AUTORIDADE


Há católicos que adoram, amam a autoridade eclesiástica... até se encontrarem do lado errado do bastão da autoridade que professam amar. Invetivam os evangélicos com perguntas estereotipadas como: "Qual é a tua autoridade para essa interpretação? Ou "Qual é a tua autoridade para o cânon?" (Não há nada de errado em perguntar como os protestantes justificam o cânon ou a sua teologia, mas colocar a questão em termos de autoridade eclesiástica é só uma petição de princípio).

Enquanto a autoridade eclesiástica está do lado deles, só têm a falar muito bem da autoridade do papa ou da autoridade "da Igreja". Quando, no entanto, o chão debaixo dos seus pés desaparece e se encontram do lado perdedor da autoridade eclesiástica, a sua paixão pela autoridade papal ou pelo Magistério esfria a temperaturas próximas do zero absoluto.

Assistir tradicionalistas e católicos progressistas a digladiarem-se é como assistir a uma luta entre fundamentalistas mórmons polígamos e mórmons convencionais. Dentro do paradigma Mórmon, ambos os lados estão certos e ambos os lados estão errados. Fora do paradigma mórmon, ambos os lados estão completamente errados.

Com uma hipérbole perdoável, podemos dizer que, para os tradicionalistas, a tradição termina com Pio X, mas para os católicos progressistas, a tradição começa com Pio XII. Os tradicionalistas têm o passado enquanto os seus adversários têm o futuro. Mas a equipa com o futuro garantido é imbatível. Os líderes vivos têm uma vantagem decisiva sobre os líderes mortos. Os vivos podem dominar os mortos, ao passo que os mortos estão mal posicionados para dominar os vivos.

É especialmente irónico ver convertidos a Roma tentar educar católicos e até mesmo bispos, cardeais e papas no verdadeiro catolicismo. São como alguém que compra uma casa nova e depois descobre que comprou um monte de problemas. Ela está a cair aos pedaços. O telhado precisa de ser substituído. O encanamento precisa de ser substituído. A instalação elétrica precisa de ser substituída. A casa está infestada de ratos e térmitas.

14 de março de 2021

Sem alma imaterial não há arbítrio (e muito menos livre-arbítrio)

 

É bizarro ver defender ao mesmo tempo uma conceção materialista do homem e que o homem tem livre-arbítrio. Se o homem é só matéria, então a consciência é apenas um subproduto do cérebro. A sensação de que fazemos escolhas é uma ilusão. Na realidade não temos nenhuma capacidade de arbítrio. As escolhas são determinadas fisicamente (por neurónios, estados cerebrais, etc.), que na melhor das hipóteses é uma determinação probabilística.

Alma imaterial é sinónimo de mente/consciência que, quando incorporada, está causalmente relacionada com o cérebro, mas não é reduzível a ele. Existem eventos mentais determinados pelo cérebro (causação física) e existem eventos mentais determinados mentalmente (causação mental). O arbítrio é um destes eventos de causação mental.

8 de março de 2021

Dado o teísmo bíblico, o livre-arbítrio é uma impossibilidade ontológica

 

Há quem ainda não tenha entendido o que é livre-arbítrio e confunda livre-arbítrio com arbítrio ou quem use inadequadamente o termo como sinónimo de livre-agência (ausência de coação externa). Não negamos que os seres humanos tenham arbítrio e livre-agência.

O que negamos é o conceito de livre-arbítrio que pressupõe ou implica neutralidade moral do ser que o possui.

Sempre que confrontado com uma decisão moral, o ser com livre-arbítrio pode escolher ser bom ou mau moralmente. Por isso ele é por natureza moralmente neutro. Não é ontologicamente nem bom nem mau. Pode ser totalmente bom, pode ser totalmente mau, ou pode ser um misto de bom e mau. [1]

Mas na Bíblia não há seres moralmente neutros, isto é, não há seres com livre-arbítrio. Os seres ou são totalmente bons (Deus e os seus anjos bons), ou são totalmente maus (o diabo e os espíritos malignos), ou são inclinados para o mal (o ser humano).

Confrontado com uma decisão moral, Deus, escolhe sempre ser bom moralmente, é impossível que escolha ser mau. Por isso é chamado de Bom Deus.

Confrontado com uma decisão moral, o diabo e seus anjos, escolhe sempre ser mau moralmente, é impossível que escolha ser bom. Por isso é chamado de Maligno.

Confrontado com uma decisão moral, o ser humano, escolhe tendencialmente ser mau moralmente, é impossível que escolha ser sempre bom. Por isso é chamado depravado ou pecador. O “pecado original” refere-se a esta natureza malvada/pecaminosa do ser humano.

O arbítrio não é livre, está limitado pela natureza dos seres. É impossível que façam escolhas contra a sua própria natureza.

Já para não falar que a presciência divina é incompatível com livre-arbítrio. Só se pode prever o que está predeterminado. Um mundo com livre-arbítrio seria totalmente imprevisível e incontrolável. Por exemplo, podia ser impossível para Deus cumprir profecias.

Por conseguinte, uma cosmovisão que inclui o livre-arbítrio choca de frente com o teísmo bíblico. São duas cosmovisões totalmente incompatíveis.

 

[1] Numa população de seres com livre-arbítrio seria de esperar estatisticamente 1/3 de seres totalmente bons, 1/3 de seres totalmente maus e 1/3 de seres mistos.

6 de março de 2021

Quem quer livre-arbítrio?

Se o mal moral é consequência dos homens terem livre-arbítrio, então que se dane o livre-arbítrio! O que é melhor: ter livre-arbítrio ou fazer apenas escolhas moralmente certas e boas? Eu não me importava de não ter livre-arbítrio e fazer apenas escolhas moralmente certas. Aliás, se tenho livre-arbítrio não sei por que não faço. :-)

5 de março de 2021

A culpa é da lei natural e do livre-arbítrio?

 

Há uma forma ingénua de resolver o problema do mal que é atribuir à «lei natural» e ao «livre-arbítrio» a culpa pela existência do mal no mundo e Deus não tem nada a ver com isso. Mas isto resolve alguma coisa? Não, pelo contrário, apenas retrata Deus como causador de mal gratuito.

Imaginemos que acontece um mal natural como um tsunami ou uma peste e Deus não faz nada para impedir, limita-se a assistir ao curso dos acontecimentos causados pela lei natural. Isto automaticamente imputaria a Deus a causa destes acontecimentos, porque se alguém pode impedir um mal e não o impede causa esse mal. Por exemplo, se alguém tem uma planta em casa e não impede que ela morra por falta de água causa a morte da planta, mesmo que apenas deixe seguir o curso natural dos acontecimentos.

Agora imaginemos que alguém na rua fazendo uso do seu livre-arbítrio desata aos tiros contra pessoas inocentes. Deus apanhado de surpresa mesmo assim podia impedir as pessoas de serem atingidas, travando as balas ou em último caso matando o atirador em ato de legítima defesa. Não o fazendo causa esse mal. O atirador seria o autor do mal mas Deus o causaria porque podia tê-lo impedido e não impediu.

Segue-se que, Deus limitando-se a assistir à ação da «lei natural» e ao «livre-arbítrio» dos homens é o causador do mal no mundo, mas sem nenhum propósito, nenhuma razão justificável para permitir o mal, causa apenas mal gratuito do qual não resulta nenhum bem superior.

A presciência do mal por parte de Deus e a sua atualização implica preordenação do mal e se Deus preordena o mal é porque tem uma razão para isso, a obtenção de um bem maior. Por exemplo, Deus não permitiu que Adão pecasse gratuitamente, ele preordenou o pecado de Adão para um bem maior.

4 de março de 2021

Deus é o autor do mal?

A menos que alguém considere que William Shakespeare é o autor da morte de Romeu e Julieta e que não são eles os autores da sua morte, então igualmente Deus como o autor do "romance" da História é o autor do mal. Mas considerar uma coisa dessas é absurdo.

A alternativa seria não haver “romance”. 

Deus usa os seus autores/atores, que podem ser agentes pessoais ou impessoais, para cumprir os seus desígnios soberanos. 

A exceção é quando o próprio Deus entra diretamente na História, mas qualquer "mal" que Deus faça nesta condição de autor/ator é sempre moralmente justificado em vista de um bem maior.


26 de fevereiro de 2021

Análise do Credo Niceno

 

É frequente ouvir cristãos fazerem das antigas declarações de fé como o Credo Niceno a sua referência. Se algo não está no Credo Niceno ou no Credo dos Apóstolos, então é secundário e opcional.

Mas Deus não nos mandou fazer desses credos a referência. Os credos podem funcionar como resumos de doutrina úteis e necessários, mas Deus nos ordena que creiamos na sua Palavra (a Bíblia). Ela é o padrão de referência primário. Os credos não substituem a fé na Escritura. Ela é o padrão pelo qual devemos viver.

Analisemos o Credo Niceno:

Cremos em um só Deus,

Pai Todo-poderoso,

i) A tradução portuguesa tem uma vírgula depois de "um só Deus," o que pode sugerir que “um só Deus” inclui o Pai, Filho, e Espírito Santo. Mas, que eu saiba, o texto grego não tem essa pontuação.

ii) Estas parecem ser cláusulas paralelas:

Cremos em um só Deus, Pai  

Cremos em um só Senhor Jesus Cristo

Se assim for, isso sugere que o Credo Niceno apenas afirma o Pai como o único Deus - não o Pai, Filho e Espírito inclusivamente. Nesse caso, é uma formulação muito defeituosa. [1]

Criador do céu e da terra,

i) Na Escritura, a criação do mundo não é exclusiva do Pai. Na verdade, o NT normalmente atribui essa ação ao Filho.

De facto, o Credo prossegue dizendo que "todas as coisas foram feitas por meio" do Filho.

Mas nesse caso, falha em destacar algum ato ou atributo particular que distingue o Pai do Filho.

ii) O Credo é deficiente a esse respeito porque a teologia patrística era subdesenvolvida. Por exemplo, um calvinista diria que a obra do Pai inclui eleição e justificação, bem como a ressurreição de Jesus dos mortos. Na economia da salvação, isso é distintivo do Pai.

de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Em rigor, não diria que tudo o que é invisível foi criado. Os números não foram criados. Mundos possíveis não foram criados. As leis da lógica não foram criadas. São coisas inerentes à mente e à natureza de Deus.

Cremos em um só Senhor Jesus Cristo,

o único Filho de Deus,

nascido do Pai antes de todos os séculos,

Deus de Deus, luz de luz,

verdadeiro Deus de verdadeiro Deus;

gerado, não criado,

Uma cristologia que diz que o Filho deriva sua existência do Pai está mais perto do arianismo do que uma cristologia que afirma a asseidade do Filho. Eu não afirmo a geração eterna do Filho, mas sim a filiação eterna do Filho. Deus não é derivativo.

de igual substância do Pai;

Essa é a melhor parte do Credo. Infelizmente, falha em estender esse princípio ao Espírito. Nunca diz que o Espírito é consubstancial ao Pai. Essa é uma omissão grave.

por Ele todas as coisas foram feitas.

Por nós, homens, e por nossa salvação, Ele desceu do céu e se fez carne, pelo Espírito Santo, da virgem Maria, e se tornou homem.

Também por nós, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado.

Ressurgiu no terceiro dia, conforme as Escrituras.

Subiu ao céu, está sentado à direita do Pai e de novo há de vir, com glória, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim.

Tudo bem.

Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador,

i) Isso é bastante superficial. Falha ao não mencionar a obra do Espírito na regeneração e santificação. Mais uma vez, essa deficiência reflete o estado subdesenvolvido da teologia patrística.

que procede do Pai e do Filho.

Da mesma forma, não afirmo a processão eterna do Espírito. O Espírito Santo não é uma criatura eterna do Pai e do Filho (ou só do Pai como professam os ortodoxos orientais). O Espírito Santo procede de si mesmo. Deus não é derivativo.

com o Pai e o Filho é adorado e glorificado;

que falou através dos profetas.

Certo.

Cremos em uma santa Igreja católica e apostólica.

i) Não é redundante dizer que a igreja é "uma" e "universal"? Por definição, só pode haver uma igreja universal.

ii) Os outros pontos são um tanto arbitrários. Sim, a igreja é "apostólica", mas por que não dizer que a igreja é "profética, apostólica e dominical" (Ef. 2:20)?

Da mesma forma, a igreja é "espiritual". Uma comunhão do Espírito Santo

Confessamos um só batismo para remissão dos pecados.

Não confesso que o batismo confere a remissão dos pecados, se é isso que significa.

Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro.

Certo.

Em suma, o Credo Niceno é muito irregular. Acerta várias coisas, erra em algumas coisas, e é defeituoso em algumas das suas formulações.

Notas

[1Em 1 Coríntios 8:6 Paulo diz “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele”.

Mas aqui Paulo não chama apenas o Pai de o “único Deus”.

i) Uma vez que Paulo escreve em grego, ele usa sinónimos gregos para palavras hebraicas. E nós estamos a usar palavras em português. Mas se “retro-traduzíssemos” a afirmação de Paulo à luz do texto que está por detrás, isso capturaria a verdadeira força do uso das palavras:

Ouve, ó Israel: Yahweh (o Senhor) é nosso Elohim (Deus), Yahweh (o Senhor) é único (Dt 6:4).

todavia, para nós há um só Elohim, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Yahweh, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele (1 Cor 8:6).

ii) Elohim não denota necessariamente a única Deidade verdadeira. Mas em Deuteronómio 6:4, a única Deidade verdadeira é o referente pretendido. E Yahweh é uma designação distintiva para a única Deidade verdadeira no uso do AT. Portanto, esse é na verdade o termo mais forte.

Usando o Shemá como sua estrutura, Paulo atribui Elohim ao Pai e Yahweh ao Filho:

O Pai é o único Elohim

enquanto

O Filho é o único Yahweh

Isso é o que Paulo está a dizer. Ele pega na confissão resumida do monoteísmo do AT e distribui os dois títulos divinos ao Pai e ao Filho, respetivamente.

9 de janeiro de 2021

NÃO VOS TORNEIS ESCRAVOS DE HOMENS


«Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens.» (1 Coríntios 7:23)

A Igreja é não-denominacional e não-sectária.

Cada igreja local é absolutamente autónoma, livre, e soberana e ainda que tenha comunhão e relações de colaboração com outras comunidades, reconhece apenas um "chefe" e esse chefe é Cristo.

Os condutores da comunidade, pastores e anciãos, diáconos e diaconisas, são eleitos pela igreja local para a igreja local, sem nenhum envolvimento de entidades externas.

Nenhum "corpo" pode ter pretensões de superioridade sobre os outros membros e nenhuma "autoridade" tem o direito de exercer "poder" sobre as comunidades.

Estai firmes na liberdade. (Gálatas 5:1)

2 de janeiro de 2021

O mal como necessário para a manifestação da Glória de Deus

 

O terceiro método para lidar com esta questão é ficar satisfeito com os pronunciamentos simples da Bíblia. A Escritura ensina, 1. Que a glória de Deus é o fim ao qual a promoção da sacralidade, e a produção da felicidade, e todos os outros fins estão subordinados. 2. Que, como tal, a automanifestação de Deus, a revelação da sua infinita perfeição, sendo a mais elevada concebível, ou bem possível, é o fim último de todas as suas obras na criação, providência e redenção. 3. Como criaturas sencientes são necessárias para a manifestação da benevolência de Deus, não poderia haver qualquer manifestação da sua misericórdia sem miséria, ou da sua graça e justiça, se não houvesse pecado. Do mesmo modo que os céus declaram a glória de Deus, também Ele engenhou um plano de redenção, “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef. 3:10). O conhecimento de Deus é a vida eterna. É para as criaturas o bem mais elevado. E a promoção desse conhecimento, a manifestação multiforme das perfeições do Deus infinito, é o fim mais nobre de todas as suas obras. Isto é declarado pelo apóstolo ser o fim contemplado, tanto no castigo dos pecadores como na salvação dos crentes. É um fim ao qual, diz ele, nenhum homem pode objetar. “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rom. 9:22-23). O pecado, como tal, segundo a Escritura, é permitido, para que a justiça de Deus possa ser conhecida no seu castigo, e a sua graça no seu perdão. E o universo, sem o conhecimento destes atributos, seria como a terra sem a luz do sol.

A glória de Deus sendo o fim maior de todas as coisas, não estamos obrigados a assumir que este é o melhor mundo possível para a produção da felicidade, ou até mesmo para assegurar o maior nível de piedade entre criaturas racionais. Este mundo está sabiamente adaptado ao fim para que foi desenhado, nomeadamente, a manifestação das multiformes perfeições de Deus. Que Deus, ao se revelar, promove o bem maior das suas criaturas, de forma consistente com a promoção da sua própria glória, pode ser admitido. Mas inverter esta ordem, fazendo do bem da criatura o fim mais elevado, é perverter e subverter todo o sistema; é pôr os meios no lugar do fim, subordinar Deus ao universo, o Infinito ao finito. Isto de pôr a criatura no lugar do Criador, perturba os nossos sentimentos e convicções morais e religiosas, assim como a nossa compreensão intelectual de Deus, e da sua relação com o universo.

Os teólogos mais antigos quase unanimemente fazem da glória de Deus a epítome, e o bem da criatura o fim subordinado de todas as coisas. Twesten, de facto, diz que não faz qualquer diferença se dizemos que Deus apresenta a sua glória como fim último, e, para esse propósito, determinou-se a produzir o mais alto grau de bem; ou se dizemos que Ele planeou o bem maior das suas criaturas, da qual a manifestação da sua glória flui por consequência. Contudo, faz toda a diferença do mundo, se o Criador está subordinado à criatura, ou a criatura ao Criador; se o fim é os meios, ou os meios o fim. Há uma grande diferença entre ser a terra ou o sol o centro do nosso sistema solar. Se fazemos da terra o centro, a nossa astronomia ficará numa confusão. E se fizermos da criatura, e não Deus, o fim de todas as coisas, a nossa teologia e religião ficarão do mesmo modo deturpadas. Pode ser, em conclusão, seguramente afirmado que um universo construído para o propósito de fazer Deus conhecido, é muito melhor que um universo desenhado para a produção de felicidade.

Teologia Sistemática Vol. I, 1872, Charles Hodge, “A Existência do Mal”.

https://sensocomumempt.home.blog/2019/08/02/teologia-sistematica-vol-i-1872-charles-hodge-a-existencia-do-mal/

21 de novembro de 2020

Argumentos populares a favor de Deus


Por popular, quero dizer argumentos ou evidências mais acessíveis a não especialistas. Mas isso não significa que sejam inferiores às provas teístas filosóficas/científicas.

1. Argumento da experiência religiosa

Existem exemplos específicos. Por exemplo:

i) Argumento da oração respondida (ou providência especial):

Isso é algo que muitos cristãos experimentam em primeira mão. É claro que é importante distinguir entre coincidência e intercessão divina. Muitos exemplos de oração respondida (ou providência especial) podem ser classificados como milagres de coincidência. Embora possam ser o resultado final de uma cadeia natural de eventos, o resultado é demasiado distintivo, oportuno, pontual e improvável para ser uma questão de sorte.

ii) Argumento dos milagres

Exceto para a Ressurreição, o argumento dos milagres é negligenciado na apologética moderna. Embora filósofos cristãos dediquem grande atenção ao assunto dos milagres, eles normalmente defendem o conceito, a possibilidade e a credibilidade dos milagres, em vez de apresentar evidências de milagres reais.

Defesas filosóficas: 

John Earman, Hume’s Abject Failure: The Argument Against Miracles (Oxford, 2000)

D. Geivett & G. Habermas, eds., In Defense of Miracles: A Comprehensive Case for God's Action in History (IVP, 1997)

Joseph Houston, Reported Miracles: A Critique of Hume (Cambridge, 1994)

Peter vanInwagen: http://andrewmbailey.com/pvi/Of_Of_Miracles.pdf

Estudos de casos:

Craig Keener, Miracles: The Credibility of the New Testament Accounts, 2 vols. (Baker, 2011)

Rex Gardner, Healing Miracles: A Doctor Investigates (Darton, Longman & Todd Ltd, 1986)

2. Argumento da profecia

T. D. Alexander, The Servant King: The Bible's Portrait of the Messiah (Regent College Publishing, 2003)

Herbert Bateman et al. Jesus the Messiah: Tracing the Promises, Expectations, and Coming of Israel's King(Kregel, 2012)

J. Alec Motyer, Look to the Rock: An Old Testament Background to Our Understanding of Christ (Kregel Academic & Professional; 1st ed., 2004)

O. Palmer Robertson, The Christ of the Prophets (P & R Publishing, 2008)

Michael Rydelnik’s The Messianic Hope: Is the Hebrew Bible Really Messianic? (B& H 2010)

John H. Sailhamer, The Meaning of the Pentateuch: Revelation, Composition and Interpretation (IVP, 2009)

3. Argumento moral 

https://plato.stanford.edu/entries/moral-arguments-god/

https://appearedtoblogly.files.wordpress.com/2011/05/linville-mark-22the-moral-argument22.pdf

4. Argumento existencial

Levanta a questão de saber se o ateísmo implica niilismo moral e/ou existencial. Por exemplo:

https://www.reasonablefaith.org/writings/popular-writings/existence-nature-of-god/the-absurdity-of-life-without-god/

5. A Bíblia

Se a Bíblia for aproximadamente verdadeira, então isso não apenas prova o mero teísmo, como também o teísmo cristão. Existem muitos livros que expõem a confiabilidade histórica geral das Escrituras, bem como do Jesus histórico em particular.

Paul Barnett, Finding the Historical Jesus (Eerdmans, 2009)

Richard Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses (Eerdmans, 2nd ed., 2017) 

Daniel Block, et al. eds. Israel: Ancient Kingdom or Late Invention? (B&H Academic, 2008)

Craig Blomberg, The Historical Reliability of the New Testament (B&H Academic, 2016)

C. John Collins, Reading Genesis Well (Zondervan 2018)

I. Provan, et al. A Biblical History of Israel (WJK, 2nd ed., 2015)

Peter Williams, Can We Trust the Gospels? (Crossway 2018)

James Hoffmeier. The Archaeology of the Bible (Lion Hudson, 2008)

James Hoffmeier, Israel in Egypt: Evidence for the Authenticity of the Exodus Tradition (Oxford, 1997)

James Hoffmeier, Ancient Israel in Sinai: The Evidence for the Authenticity of the Wilderness Tradition (Oxford, 2005)

D. A. Carson, ed. The Enduring Authority of the Christian Scriptures (Eerdmans, 2016)

S. Cowan & T. Wilder. In Defense of the Bible: A Comprehensive Apologetic for the Authority of Scripture (B&H, 2013)

D. Bock & R. Webb, eds., Key Events in the Life of the Historical Jesus: A Collaborative Exploration of Context and Coherence (Eerdmans, 2010). 

Paul Rhodes Eddy & Gregory Boyd, The Jesus Legend: A Case for the Historical Reliability of the Synoptic Jesus Tradition (Baker, 2007)

Colin Hemer, The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History (Eisenbrauns, 1990)

Craig A. Evans, Jesus and His World: The Archeological Evidence (WJK, 2012)

R. Hess, et al. eds. Critical Issues in Early Israelite History (Eisenbrauns, 2008)

James Hoffmeier & Dennis MaGary, eds., Do Historical Matters Matter to Faith? (Crossway, 2012)

Kenneth Kitchen, On the Reliability of the Old Testament (Eerdmans 2003)

Alan Millard et al. eds. Faith, Tradition, and History: Old Testament Historiography in Its Near Eastern Context(Eisenbrauns, 1994)

Stanley Porter, John, His Gospel, and Jesus (Eerdmans, 2016)

Vern Poythress, Inerrancy and the Gospels (Crossway 2012)

Andrew Steinmann. From Abraham to Paul: A Biblical Chronology (Concordia, 2011)

Bruce. W. Winter, The Book of Acts in Its First Century Setting, vols. 1-4 (Eerdmans)