quarta-feira, 31 de março de 2021

O tempo é uma propriedade apenas do universo material?

 

Eu defendo uma teoria absoluta do tempo, em que o tempo pode existir sem existir qualquer mudança na realidadeO tempo é a dimensão da mudança possível. O tempo existe se, e somente se, existir uma substância duradoura que possa mudar. Se o Universo deixasse de existir o tempo não desapareceria, uma vez que ainda existiria uma realidade última necessária - Deus. E Deus não é fortemente imutável como dizem alguns teístas clássicos, mas fracamente imutável. Deus é imutável no sentido de que a sua natureza divina essencial não pode mudar, mas Ele pode sofrer mudanças intrínsecas e extrínsecas não essenciais, como se tornar O Criador, Redentor, e Senhor da humanidade.

Igualmente, estados mentais sucessivos envolvem sucessão temporal e, a menos que se seja fisicalista, isso significa que o tempo é separável da matéria.

Mentes imateriais como anjos, demónios, almas imortais, não têm espaço (ainda que possam ter espaço simulado como os sonhos), mas são temporais, pois experimentam estados mentais sucessivos.

Deus também pode experimentar uma sequência de eventos mentais, por isso é temporal, mas é mais do que simplesmente temporal, é a própria fonte do tempo. O tempo só deixaria de existir se Deus deixasse de existir. Uma vez que Deus existe necessariamente e pode sofrer mudanças, o tempo existe necessariamente. O tempo existe porque existe um Deus pessoal. É um concomitante necessário do seu Ser.

Portanto, o tempo é um atributo divino não criado que é exemplificado no universo material e imaterial (mentes). E o tempo como grandeza física é apenas uma métrica deste tempo metafísico absoluto. É a medição da duração dos intervalos temporais entre eventos anteriores e posteriores uns aos outros.

A temporalidade divina significa que Deus perderá momentos da sua vida à medida que eles deslizam para o passado inexistente, e Deus deve esperar que os momentos futuros antecipados (por Ele) se tornem presentes antes que Ele possa vivenciá-los.

domingo, 28 de março de 2021

Mal natural e naturalismo

 

A noção de mal natural é um conceito teleológico. Por exemplo, dizer que a cegueira é um mal natural é um julgamento teleológico. Mas a evolução naturalista rejeita objetivos finais. Se não há telos, não há disteleologia. A cegueira só é um mal natural se os olhos foram projetados para ver. Mas a evolução naturalista é um processo não-dirigido, em vez de um processo orientado para um objetivo. Os olhos não têm nenhum propósito na evolução naturalista.

Se a evolução naturalista for verdadeira, então não é possível que uma parte do corpo funcione mal, pois os olhos não foram feitos para ver, os ouvidos não foram feitos para ouvir, os corações não foram feitos para bombear sangue, etc.

Como pode então o mal natural contar contra a existência de Deus, se a sua existência só é possível num mundo com Deus? A alternativa é um mundo sem teleologia. Antes que o mal possa contar contra a existência de Deus, ele deve contar como mal.

sábado, 27 de março de 2021

Multiverso das lacunas

 

[Paul Davies] Então esse é o fim da história? O multiverso pode fornecer uma explicação completa e fechada de toda a existência física? Não exatamente. O multiverso vem com muita bagagem, tal como um espaço e tempo abrangente para hospedar todas essas explosões (big bangs), um mecanismo gerador de universos para acioná-los, campos físicos para povoar os universos com coisas materiais e uma seleção de forças para fazer as coisas acontecerem. Os cosmologistas adotam esses recursos imaginando "meta-leis" gerais que permeiam o multiverso e geram leis específicas numa base universo a universo. As próprias meta-leis permanecem inexplicadas - entidades transcendentes eternas e imutáveis que simplesmente existem e devem ser simplesmente aceites como dadas. Nesse aspecto, as meta-leis têm um status semelhante a um deus transcendente inexplicável.

https://www.thehindu.com/sci-tech/Stephen-Hawkingrsquos-big-bang-gaps/article15902960.ece

quinta-feira, 25 de março de 2021

O ateísmo é uma crença injustificada à luz da ciência


"Seja como for, se o naturalismo do universo único é quase de certeza falso, a seguinte disjunção muito provavelmente é verdadeira: o nosso universo é apenas um entre muitos, havendo um enorme predomínio de universos incompatíveis com a existência de vida, ou o nosso universo foi afinado minuciosamente por (pelo menos) um agente de modo a que existisse vida consciente e racional. Também parece ser razoável concluir que qualquer uma das hipóteses disjuntas tem uma probabilidade significativa de ser verdadeira. Daí não se segue que o teísmo ----- no sentido estrito do termo, que adoptei ao longo desta discussão ----- tenha uma probabilidade significativa ser verdadeiro. Pois talvez encontremos razões muito consideráveis para crer que, havendo um afinador, muito provavelmente ele não reunirá as características de Deus. Mas podemos usar o termo «teísmo» num sentido mais amplo, considerando teísta todo aquele que acredite em algum afinador, isto é, em pelo menos um agente que tenha «desenhado» a estrutura básica do universo. Ser ateu por referência ao teísmo assim entendido, atribuir uma probabilidade muito baixa ou nula à existência de um afinador, não é razoável. No mínimo, atendendo devidamente à evidência da afinação, é preciso ser agnóstico".

http://pedrogalvao.weebly.com/uploads/6/6/5/5/6655805/deus.pdf 

Portanto, segundo este filósofo secular, a crença no ateísmo não é justificada à luz do conhecimento científico atual. A conclusão do trabalho é que há duas hipóteses razoáveis porque, argumenta-se, a probabilidade de existir um Afinador é sensivelmente igual à da existência de multiversos. 

É claro que apenas argumentos científicos, como o argumento da "Afinação Minuciosa", não chegam para justificar a crença no teísmo bíblico, mas chegam para eliminar o ateísmo. O teísmo bíblico é justificado pelo efeito cumulativo de vários tipos de evidências.

sexta-feira, 19 de março de 2021

O DILEMA DA AUTORIDADE


Há católicos que adoram, amam a autoridade eclesiástica... até se encontrarem do lado errado do bastão da autoridade que professam amar. Invetivam os evangélicos com perguntas estereotipadas como: "Qual é a tua autoridade para essa interpretação? Ou "Qual é a tua autoridade para o cânon?" (Não há nada de errado em perguntar como os protestantes justificam o cânon ou a sua teologia, mas colocar a questão em termos de autoridade eclesiástica é só uma petição de princípio).

Enquanto a autoridade eclesiástica está do lado deles, só têm a falar muito bem da autoridade do papa ou da autoridade "da Igreja". Quando, no entanto, o chão debaixo dos seus pés desaparece e se encontram do lado perdedor da autoridade eclesiástica, a sua paixão pela autoridade papal ou pelo Magistério esfria a temperaturas próximas do zero absoluto.

Assistir tradicionalistas e católicos progressistas a digladiarem-se é como assistir a uma luta entre fundamentalistas mórmons polígamos e mórmons convencionais. Dentro do paradigma Mórmon, ambos os lados estão certos e ambos os lados estão errados. Fora do paradigma mórmon, ambos os lados estão completamente errados.

Com uma hipérbole perdoável, podemos dizer que, para os tradicionalistas, a tradição termina com Pio X, mas para os católicos progressistas, a tradição começa com Pio XII. Os tradicionalistas têm o passado enquanto os seus adversários têm o futuro. Mas a equipa com o futuro garantido é imbatível. Os líderes vivos têm uma vantagem decisiva sobre os líderes mortos. Os vivos podem dominar os mortos, ao passo que os mortos estão mal posicionados para dominar os vivos.

É especialmente irónico ver convertidos a Roma tentar educar católicos e até mesmo bispos, cardeais e papas no verdadeiro catolicismo. São como alguém que compra uma casa nova e depois descobre que comprou um monte de problemas. Ela está a cair aos pedaços. O telhado precisa de ser substituído. O encanamento precisa de ser substituído. A instalação elétrica precisa de ser substituída. A casa está infestada de ratos e térmitas.

domingo, 14 de março de 2021

Sem alma imaterial não há arbítrio (e muito menos livre-arbítrio)

 

É bizarro ver defender ao mesmo tempo uma conceção materialista do homem e que o homem tem livre-arbítrio. Se o homem é só matéria, então a consciência é apenas um subproduto do cérebro. A sensação de que fazemos escolhas é uma ilusão. Na realidade não temos nenhuma capacidade de arbítrio. As escolhas são determinadas fisicamente (por neurónios, estados cerebrais, etc.), que na melhor das hipóteses é uma determinação probabilística.

Alma imaterial é sinónimo de mente/consciência que, quando incorporada, está causalmente relacionada com o cérebro, mas não é reduzível a ele. Existem eventos mentais determinados pelo cérebro (causação física) e existem eventos mentais determinados mentalmente (causação mental). O arbítrio é um destes eventos de causação mental.

segunda-feira, 8 de março de 2021

Dado o teísmo bíblico, o livre-arbítrio é uma impossibilidade ontológica

 

Há quem ainda não tenha entendido o que é livre-arbítrio e confunda livre-arbítrio com arbítrio ou quem use inadequadamente o termo como sinónimo de livre-agência (ausência de coação externa). Não negamos que os seres humanos tenham arbítrio e livre-agência.

O que negamos é o conceito de livre-arbítrio que pressupõe ou implica neutralidade moral do ser que o possui.

Sempre que confrontado com uma decisão moral, o ser com livre-arbítrio pode escolher ser bom ou mau moralmente. Por isso ele é por natureza moralmente neutro. Não é ontologicamente nem bom nem mau. Pode ser totalmente bom, pode ser totalmente mau, ou pode ser um misto de bom e mau. [1]

Mas na Bíblia não há seres moralmente neutros, isto é, não há seres com livre-arbítrio. Os seres ou são totalmente bons (Deus e os seus anjos bons), ou são totalmente maus (o diabo e os espíritos malignos), ou são inclinados para o mal (o ser humano).

Confrontado com uma decisão moral, Deus, escolhe sempre ser bom moralmente, é impossível que escolha ser mau. Por isso é chamado de Bom Deus.

Confrontado com uma decisão moral, o diabo e seus anjos, escolhe sempre ser mau moralmente, é impossível que escolha ser bom. Por isso é chamado de Maligno.

Confrontado com uma decisão moral, o ser humano, escolhe tendencialmente ser mau moralmente, é impossível que escolha ser sempre bom. Por isso é chamado depravado ou pecador. O “pecado original” refere-se a esta natureza malvada/pecaminosa do ser humano.

O arbítrio não é livre, está limitado pela natureza dos seres. É impossível que façam escolhas contra a sua própria natureza.

Já para não falar que a presciência divina é incompatível com livre-arbítrio. Só se pode prever o que está predeterminado. Um mundo com livre-arbítrio seria totalmente imprevisível e incontrolável. Por exemplo, podia ser impossível para Deus cumprir profecias.

Por conseguinte, uma cosmovisão que inclui o livre-arbítrio choca de frente com o teísmo bíblico. São duas cosmovisões totalmente incompatíveis.

 

[1] Numa população de seres com livre-arbítrio seria de esperar estatisticamente 1/3 de seres totalmente bons, 1/3 de seres totalmente maus e 1/3 de seres mistos.

sábado, 6 de março de 2021

Quem quer livre-arbítrio?

Se o mal moral é consequência dos homens terem livre-arbítrio, então que se dane o livre-arbítrio! O que é melhor: ter livre-arbítrio ou fazer apenas escolhas moralmente certas e boas? Eu não me importava de não ter livre-arbítrio e fazer apenas escolhas moralmente certas. Aliás, se tenho livre-arbítrio não sei por que não faço. :-)

sexta-feira, 5 de março de 2021

A culpa é da lei natural e do livre-arbítrio?

 

Há uma forma ingénua de resolver o problema do mal que é atribuir à «lei natural» e ao «livre-arbítrio» a culpa pela existência do mal no mundo e Deus não tem nada a ver com isso. Mas isto resolve alguma coisa? Não, pelo contrário, apenas retrata Deus como causador de mal gratuito.

Imaginemos que acontece um mal natural como um tsunami ou uma peste e Deus não faz nada para impedir, limita-se a assistir ao curso dos acontecimentos causados pela lei natural. Isto automaticamente imputaria a Deus a causa destes acontecimentos, porque se alguém pode impedir um mal e não o impede causa esse mal. Por exemplo, se alguém tem uma planta em casa e não impede que ela morra por falta de água causa a morte da planta, mesmo que apenas deixe seguir o curso natural dos acontecimentos.

Agora imaginemos que alguém na rua fazendo uso do seu livre-arbítrio desata aos tiros contra pessoas inocentes. Deus apanhado de surpresa mesmo assim podia impedir as pessoas de serem atingidas, travando as balas ou em último caso matando o atirador em ato de legítima defesa. Não o fazendo causa esse mal. O atirador seria o autor do mal mas Deus o causaria porque podia tê-lo impedido e não impediu.

Segue-se que, Deus limitando-se a assistir à ação da «lei natural» e ao «livre-arbítrio» dos homens é o causador do mal no mundo, mas sem nenhum propósito, nenhuma razão justificável para permitir o mal, causa apenas mal gratuito do qual não resulta nenhum bem superior.

A presciência do mal por parte de Deus e a sua atualização implica preordenação do mal e se Deus preordena o mal é porque tem uma razão para isso, a obtenção de um bem maior. Por exemplo, Deus não permitiu que Adão pecasse gratuitamente, ele preordenou o pecado de Adão para um bem maior.

quinta-feira, 4 de março de 2021

Deus é o autor do mal?

A menos que alguém considere que William Shakespeare é o autor da morte de Romeu e Julieta e que não são eles os autores da sua morte, então igualmente Deus como o autor do "romance" da História é o autor do mal. Mas considerar uma coisa dessas é absurdo.

A alternativa seria não haver “romance”. 

Deus usa os seus autores/atores, que podem ser agentes pessoais ou impessoais, para cumprir os seus desígnios soberanos. 

A exceção é quando o próprio Deus entra diretamente na História, mas qualquer "mal" que Deus faça nesta condição de autor/ator é sempre moralmente justificado em vista de um bem maior.


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