segunda-feira, 8 de março de 2021

Dado o teísmo bíblico, o livre-arbítrio é uma impossibilidade ontológica

 

Há quem ainda não tenha entendido o que é livre-arbítrio e confunda livre-arbítrio com arbítrio ou quem use inadequadamente o termo como sinónimo de livre-agência (ausência de coação externa). Não negamos que os seres humanos tenham arbítrio e livre-agência.

O que negamos é o conceito de livre-arbítrio que pressupõe ou implica neutralidade moral do ser que o possui.

Sempre que confrontado com uma decisão moral, o ser com livre-arbítrio pode escolher ser bom ou mau moralmente. Por isso ele é por natureza moralmente neutro. Não é ontologicamente nem bom nem mau. Pode ser totalmente bom, pode ser totalmente mau, ou pode ser um misto de bom e mau. [1]

Mas na Bíblia não há seres moralmente neutros, isto é, não há seres com livre-arbítrio. Os seres ou são totalmente bons (Deus e os seus anjos bons), ou são totalmente maus (o diabo e os espíritos malignos), ou são inclinados para o mal (o ser humano).

Confrontado com uma decisão moral, Deus, escolhe sempre ser bom moralmente, é impossível que escolha ser mau. Por isso é chamado de Bom Deus.

Confrontado com uma decisão moral, o diabo e seus anjos, escolhe sempre ser mau moralmente, é impossível que escolha ser bom. Por isso é chamado de Maligno.

Confrontado com uma decisão moral, o ser humano, escolhe tendencialmente ser mau moralmente, é impossível que escolha ser sempre bom. Por isso é chamado depravado ou pecador. O “pecado original” refere-se a esta natureza malvada/pecaminosa do ser humano.

O arbítrio não é livre, está limitado pela natureza dos seres. É impossível que façam escolhas contra a sua própria natureza.

Já para não falar que a presciência divina é incompatível com livre-arbítrio. Só se pode prever o que está predeterminado. Um mundo com livre-arbítrio seria totalmente imprevisível e incontrolável. Por exemplo, podia ser impossível para Deus cumprir profecias.

Por conseguinte, uma cosmovisão que inclui o livre-arbítrio choca de frente com o teísmo bíblico. São duas cosmovisões totalmente incompatíveis.

 

[1] Numa população de seres com livre-arbítrio seria de esperar estatisticamente 1/3 de seres totalmente bons, 1/3 de seres totalmente maus e 1/3 de seres mistos.

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