Muitos cristãos assumem a posição de que Deus é responsável por todas as coisas boas que nos acontecem, mas não por nenhuma das coisas más que nos acontecem. Na verdade, a sua principal objeção ao calvinismo [N.d.T. isto é, que Deus preordena todas as coisas] é que o calvinismo torna Deus responsável pelas coisas más assim como pelas boas. Do seu ponto de vista, isso é evidentemente errado. Não conseguem pensar em coisa pior que se pudesse dizer sobre Deus. Não conseguem imaginar como alguns cristãos realmente acreditam nisso.
Uma vez que isso é tão óbvio para eles, não pensam duas vezes. Ou se pensam duas vezes, gastam o tempo a elaborar como isso seria indescritivelmente abominável. Nunca param para questionar a sua pressuposição.
Falando por mim, tenho exatamente o instinto oposto. É claro que acredito que Deus é responsável por tudo o que acontece. Mas suponhamos, para fins de argumentação, que eu tivesse uma escolha: ou Deus é apenas responsável pelas coisas boas que me acontecem ou ele é apenas responsável pelas coisas más que me acontecem.
Se tivesse que decidir, eu optaria pela alternativa "má". Se pudesse escolher, prefiro que Deus seja responsável pelas coisas más do que pelas coisas boas.
No que diz respeito às coisas boas, não tenho nada a temer. Nada a perder. Estou seguro. Elas não representam nenhuma ameaça para mim ou para as pessoas que amo. O bom é isento de riscos.
Mas o mal pode ferir-me. O mal pode ferir as pessoas que amo. No que diz respeito ao mal, eu teria tudo a temer, tudo a perder - a menos que Deus esteja por trás do mal. A menos que Deus limite o mal. A menos que o mal sirva um bem ulterior.
Se Deus é responsável pelo mal que se abate sobre mim ou as pessoas que amo, então não importa quão mau isso fique, nunca ficará tão mau quanto poderia. Nunca envolverá dano irreparável ou perda irremediável. Se Deus é responsável pelos males da minha vida, então há uma marca além da qual eles não passam. Se tudo, incluindo todos os eventos maus, se desenrola de acordo com o plano e a providência sábia e benéfica de Deus, então o mal não é um poço sem fundo. Não para os seus filhos.
Todo mal que se abate sobre mim como cristão, por mais horrível que seja, será um mal redimível. Há esperança. Há coisas boas à minha espera do outro lado da provação - nesta vida ou na próxima.
Muitos de nós chegamos a um ponto na vida, mais cedo ou mais tarde, em que a vida se fecha sobre nós. Onde, apesar dos nossos melhores esforços para evitá-lo, os nossos piores medos se tornam realidade. Por vezes, podemos vê-los a chegar e nos sentimos impotentes para impedi-lo. Esperamos e suplicamos para que se desviem no último momento, mas não se desviam.
Em vez de acordar de um pesadelo, acordamos para um pesadelo. Aquela sensação terrível de naufrágio. Saber que se está encurralado. Tudo que poderia dar errado deu errado. Todos os dados se alinham contra nós.
É em tempos como estes, enquanto nos agarramos a uma rocha fustigada pelo vento, que saber que Deus está por trás da nossa provação é uma fonte de esperança, força e consolação. Na verdade, a única fonte de esperança, força e consolação. Ao sabermos disso, sabemos que isso não é o fim. Isso não é o epitáfio. Se Deus está por trás disso, então Deus também está na frente disso. Para nos abençoar. Para nos fazer bem.
No bem e no mal. Mas não para o pior - mas para o melhor.
Steve Hays (1959-2020)
What he lived by, he died by.
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