domingo, 29 de dezembro de 2024

AROMATERAPIA

 

Eis uma outra forma de expor o princípio da Sola Scriptura:

1. A Sola Scriptura é baseada na primazia da revelação pública.

Por "pública" quero dizer a revelação divina para os cristãos em geral ou para a humanidade em geral. Não descarto a revelação privada (por exemplo, um sonho premonitório para uma pessoa), mas essa revelação não é para a igreja.

2. Nada supera a revelação. Nada está ao mesmo nível da revelação.

3. Neste momento, o único lugar em que encontramos a revelação pública é no registo das Escrituras.

4. Há a questão de como verificamos ou falsificamos uma alegada fonte de revelação. Falsificar uma alegada fonte de revelação não viola a primazia da revelação, pois, se ela é falsa, nunca foi revelação.

5. Verificar uma alegada fonte de revelação significa colocar o que usamos para verificá-la em pé de igualdade com a coisa que verificamos? Ou mesmo superá-la?

Não. Para fazer uma comparação, suponhamos que eu seja uma testemunha ocular de Jesus. Eu vi-o realizar milagres. Eu vi-o morrer na cruz. Eu vi o túmulo vazio. Eu vi-o vivo novamente. Eu toquei nele.

Estou a usar os meus sentidos naturais para verificar a Ressurreição. Mas isso não me coloca ao mesmo nível de Jesus.

6. E se os protestantes cometeram um erro sobre o cânon? E se eles incluíram um livro que deveriam excluir ou excluíram um livro que deveriam incluir? Isso anula a Sola Scriptura?

i) Para começar, as pessoas podem estar enganadas mesmo que haja evidências suficientes para acreditar numa coisa. Elas podem ter uma estrutura de plausibilidade que filtra as evidências suficientes para acreditar numa coisa. Não é a evidência, mas a estrutura de plausibilidade que é defeituosa. Considere-se os ateus que automaticamente desconsideram relatos de milagres independentemente da evidência.

ii) Suponhamos que os protestantes cometeram um erro sobre o cânon porque a evidência disponível é insuficiente. Nesse caso, por que nos deveríamos preocupar ou afligir por um erro inocente e inevitável? Ele não seria suficientemente importante para Deus nos fornecer evidências suficientes para evitar esse erro.

7. Católicos/ortodoxos podem dizer que a sua alternativa é uma proteção contra esse risco de errar. No entanto, uma falsa solução não é uma solução real. É como dizer a um paciente com cancro terminal, para quem a terapia convencional é inútil, para mudar para a aromaterapia ou a medicina tradicional chinesa. Católicos e ortodoxos estão na mesma situação epistémica que os protestantes. Eles apenas disfarçam a situação.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

A ESCATOLOGIA DA IGREJA PRIMITIVA


A opinião largamente maioritária que vemos na igreja primitiva era que o mundo duraria 6000 anos desde a criação e então haveria um reinado de Cristo literal de 1000 anos, seguido pelos novos céus e nova terra (o 8º dia). Vemos isto na Epístola de Barnabé, Ireneu, Justino Mártir, Lactâncio, Papias e Hipólito, que disseram que a construção do terceiro templo significaria o fim do tempo presente e o começo iminente do reinado milenar de Cristo.

«O ponto mais marcante na escatologia do período anteniceno é o proeminente quiliasmo, ou milenarismo, que é a crença num reino visível de Cristo em glória na terra com os santos ressuscitados por mil anos, antes da ressurreição geral e do juízo final. Ele, na verdade, não era a doutrina da igreja incorporada em algum credo ou forma de devoção, mas uma opinião amplamente corrente de mestres ilustres, como Barnabé, Papias, Justino Mártir, Ireneu, Tertuliano, Metódio e Lactâncio.» (Philip Schaff, History of the Christian Church, VIII vols. (Grand Rapids: Eerdmans Publishing Company, 1973), vol. II, p. 614).

No entanto, é preciso qualificar que no Diálogo com Trifão, Justino, embora assuma a posição quiliasta, admite que há muitos com opiniões diferentes, que são, ainda assim, cristãos verdadeiros e ortodoxos. Portanto, temos alguma evidência de uma alternativa ao quiliasmo já no início do século II. Também temos a doutrina amilenista explícita em Clemente e Orígenes, que provavelmente foram os seus inventores.

Isto não pretende ser um argumento acerca da verdade ou falsidade da doutrina quiliasta, mas é apenas um apontamento histórico. Sou agnóstico sobre o que acontecerá em detalhe após a segunda vinda de Cristo.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

A LEI E A GRAÇA

 

«Todos, então, que correm para Cristo são salvos pela sua graça e aproveitam o seu dom. Mas aqueles que desejam encontrar justificação na Lei também cairão da graça. Não poderão desfrutar da benevolência do Rei porque estão a esforçar-se para ganhar a salvação pelos seus próprios esforços; atrairão sobre si a maldição da Lei porque nenhuma carne encontrará justificação pelas obras da Lei. Por isso Paulo diz: “Se fores circuncidado, Cristo não terá nenhuma vantagem para ti”. Pois o homem que se esforça para ganhar a salvação pelas obras das Leis nada tem em comum com a graça. Isto é o que Paulo sugeriu quando disse: “Se é por graça, então não é em virtude das obras; de outra forma, a graça não é mais graça. Mas se é por obras, já não é mais graça: de outra forma, a obra não é mais obra”. E ainda: “Se a justiça vem da lei, então Cristo morreu em vão”. E ainda: “Vós que vos justificais na Lei caístes da graça”. Morrestes para a Lei, tornaste-vos um cadáver; doravante já não estais sob o seu jugo, já não estais sujeitos à sua necessidade. Por que razão, então, se esforçam por criar problemas a vós próprios, quando tudo é inútil e em vão?» (João Crisóstomo, Contra os Judeus. Homilia 2, II)

«O que ele quer dizer quando diz: 'Eu declarei a tua justiça?' Ele não disse simplesmente: 'Eu dei', 'Eu declarei'. O que isso significa? Que ele justificou a nossa raça não por ações corretas, nem por labutas, não por trocas e escambos, mas somente pela graça. Paulo também deixou isso claro quando disse: 'Mas agora a justiça de Deus se manifestou independentemente da Lei.' Mas a justiça de Deus vem pela fé em Jesus Cristo e não por qualquer trabalho e sofrimento. E Paulo retomou o testemunho deste Salmo quando falou o seguinte: 'Pois a Lei, tendo apenas uma sombra dos bens vindouros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca pelos sacrifícios que se oferecem continuamente, ano após ano, aperfeiçoar aqueles que se aproximam. Por isso, ao vir ao mundo, ele diz: 'Sacrifício e oblação não quiseste, mas um corpo me preparaste.'» (João Crisóstomo, Contra os Judeus. Homilia 7, III,2)

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Justificação pela Fé: uma Doutrina Patrística

 

Este ensaio desafia as críticas geralmente dirigidas aos primeiros Padres anteriores a Agostinho por não articularem uma visão da justificação pela fé que correspondesse ao cristianismo paulino, conforme refletido nas fórmulas dos reformadores do século XVI. Não apenas essa visão é anacrónica e tende a assumir que havia (ou há) uma definição uniforme de justificação, como também há evidência de que a teologia latina antes de Agostinho promulgou os princípios da graça imerecida e da necessidade de justiça que vem somente por meio da fé justificadora. Em particular, o comentário sobre Mateus de Hilário de Poitiers formula explicitamente uma teologia bíblica de 'fides sola iustificat' e provavelmente contribuiu para um renascimento do interesse nas Epístolas Paulinas no final do século IV e início do século V.

https://www.academia.edu/90613266/Justification_by_Faith_a_Patristic_Doctrine?source=swp_share

domingo, 17 de novembro de 2024

ESTÁ CONSUMADO!


As Escrituras são claras ao dizer que não há nenhum sacrifício contínuo e nem pode haver. A expiação de Jesus é final e completa. Não há outro sacrifício pelos pecados. Ele não precisa de nenhuma continuação, repetição ou suplementação.

A irrepetibilidade do sacrifício de cristo, seja de forma cruenta ou incruenta

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

OS NOSSOS PECADOS FORAM IMPUTADOS A CRISTO? SOMOS CULPADOS PELO PECADO DE ADÃO?

 

Há uma diferença moralmente significativa entre imputar a culpa a um inocente e imputar a justiça a um culpado. A primeira é uma aberração moral, mas a segunda pode ser um ato de altruísmo. Por isso, a doutrina sustentada pela Igreja Católica Romana e algumas Igrejas Protestantes de que todos os seres humanos carregam a culpa do pecado original cometido por Adão e Eva é moralmente indefensável e nem há rasto dela na Bíblia.

A consequência do primeiro pecado foi separar Deus da raça humana, quebrar a comunhão que existia entre Deus e os homens. Não a imputação da culpa desse primeiro pecado a todos os descendentes de Adão e Eva. Apenas somos culpados pelos nossos pecados pessoais.

Da mesma forma, os nossos pecados não foram imputados a Cristo, de outra forma assim como nos tornamos justos pela imputação da justiça de Cristo, Cristo se tornaria culpado pela imputação da nossa culpa nele. E, por conseguinte, deixaria de poder fazer qualquer obra de expiação a nosso favor. O cordeiro expiatório precisa de ser puro e imaculado para poder expiar pecados alheios.

O que Cristo fez na cruz foi pagar a pena que nós merecíamos pelos nossos pecados para nos reconciliar com Deus que é um justo juiz, portanto um ato altruísta de substituição penal. O justo pagou pelos injustos. Cristo foi feito justiça para nós pela imputação da sua justiça em nós, sem qualquer imputação da nossa culpa nele.

QUANTAS VEZES O PAPA FALOU INFALIVELMENTE EX CATHEDRA?

 A discussão continua acesa nas hostes romanas.


A infalibilidade papal é como um relógio avariado. Todos os dias marca a hora certa, não se sabe é quando.

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

SOLA SCRIPTURA NÃO É ESCRITURALISMO

 

Não se viola a Sola Scriptura, afirmando que existem verdades que podem ser encontradas fora das Escrituras, mas alegando que existem palavras extra-bíblicas que têm a mesma autoridade que as Escrituras, ou superior.

E em momentos de revelação pública ou na segunda vinda de Cristo não há mal nenhum em violar a Sola Scriptura. Isso não representa uma inconsistência do princípio. A aplicação do princípio está condicionada há verificação de um contexto específico. Fora desse contexto o princípio consistentemente não se aplica.

FÉ E FIDEÍSMO

 

A fé bíblica não é fideísmo “crença na ausência de evidências”; pelo contrário, é uma confiança sustentada em evidências suficientes.

sábado, 2 de novembro de 2024

LIVRE EXAME NA IGREJA PRIMITIVA

 

«Na narrativa de Agostinho sobre sua própria experiência de conversão no jardim em Milão, ele diz que no banco daquele jardim havia um códice das Epístolas de Paulo, e que foi isso que ele leu quando ouviu as famosas palavras, “Pega e lê.” Assim, no cerne da experiência de conversão de Agostinho, e portanto de sua vida devocional, estava a leitura privada das Escrituras – embora não devamos esquecer que tal leitura era normalmente feita em voz alta, e que Agostinho ficou surpreso quando viu Ambrósio lendo sem pronunciar o que lia. Da mesma forma, Crisóstomo, Jerónimo e muitos outros repetidamente incentivam os seus ouvintes a ler a Bíblia – em vários casos, a ler em casa

(Justo L. González, The Bible in the Early Church, Eerdmans, 2022).

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

DRÁCULA À SOLTA

 

L'Osservatore Romano

A noite de Halloween acordou o conde Drácula do seu descanso milenar. Drácula deixou um rastro de vítimas exsanguinadas na Polónia, Espanha, França, Itália e Irlanda. A polícia não o consegue apanhar pelo facto de Drácula ser um mutante. Para além disso, ele é invisível às câmeras de segurança. Tudo isso o torna extremamente esquivo.

As autoridades da igreja tiveram mais sucesso em afugentá-lo, mas com efeitos desmoralizadores. As técnicas usuais se mostraram ineficazes, tendo o conde Drácula conseguido exsanguinar os melhores caçadores de vampiros da igreja.

A razão é que os caçadores de vampiros católicos não têm nada para usar contra o conde Drácula, já que ele é ortodoxo romeno. Uma cruz latina ou crucifixo latino é ineficaz. Eles precisam de usar uma cruz bizantina. Fazer o sinal da cruz é ineficaz porque os caçadores de vampiros católicos cruzam a mão ao contrário: da esquerda para a direita em vez da direita para a esquerda. Água benta é ineficaz porque os caçadores de vampiros católicos professam o Filioque, invalidando assim o sacramental. O Vaticano está em negociações com o Patriarca Ecuménico para enviar caçadores de vampiros ortodoxos romenos para o Ocidente, mas o Patriarca Ecuménico exigiu que o Papa volte para a Igreja Mãe antes de autorizar tal ação.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

ALHOS E BUGALHOS

 

Quando se fala em “Protestantismo” ou “igrejas protestantes” está-se a falar de uma categoria doutrinal (mais comum) ou uma categoria histórica.

Quando “Protestantismo” significa um conjunto de doutrinas associadas à Reforma Protestante partilhadas por um conjunto de igrejas, estamos perante uma categoria doutrinal.

Quando “Protestantismo” significa igrejas ligadas historicamente à Reforma Protestante estamos a falar de uma categoria histórica.

Se se pretende comparar uma característica eclesial de uma igreja, por exemplo, “a unidade da Igreja Católica Romana”, não se pode comparar com “a unidade do Protestantismo” porque Protestantismo não é uma categoria eclesial mas doutrinal. É como comparar a unidade da Igreja Católica Romana com a unidade de um conjunto de doutrinas que caracterizam “Protestantismo”. É portanto uma comparação sem sentido.

“A unidade da Igreja Católica Romana” tem que se comparar com outra categoria eclesiástica concreta como “a unidade da Igreja Batista”, “da Igreja Presbiteriana”, “da Igreja Luterana”, “da Igreja Anglicana”, “da Igreja Ortodoxa”, "da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, “das Testemunhas de Jeová”, etc.

A unidade institucional da Igreja Católica compara com a unidade institucional de outra instituição eclesiástica.

“Protestantismo” não é uma instituição eclesiástica. “Protestantismo” compara com “Catolicismo”, isto é, doutrinas protestantes com doutrinas católicas.

Características eclesiais de uma igreja concreta compara com características eclesiais de outras igrejas concretas. Tem que se comparar alhos com alhos e bugalhos com bugalhos. Não alhos com bugalhos.

domingo, 20 de outubro de 2024

O QUE É UM CONCÍLIO ECUMÉNICO?

 

Richard Price, historiador católico romano, responde. Numa entrevista no Youtube, ao minuto 1:47, um entrevistador pergunta: "O que é exatamente um concílio ecuménico? Essa tende a ser uma pergunta bastante comum e um tanto difícil de responder. Qual a sua opinião sobre isso?" Price responde:

«A resposta católica padrão é que é um concílio de todos os bispos da igreja. Ora bem, o problema com isso é se realmente aprofundar isso, já houve algum concílio ecuménico? Os concílios católicos recentes foram apenas concílios da igreja católica. E se recuarmos aos primeiros - os famosos sete concílios ecuménicos - de Niceia I a Niceia II – esses concílios realmente representavam toda a igreja? Quase não havia nenhuma representação de fora do território do império romano - da Pérsia ou do sul da Etiópia. E eu penso que se poderia, na verdade, dizer que as igrejas ocidentais não estavam representadas.

Agora, alguém diz: "Sim, claro que estavam, porque havia representantes do papa em todos esses concílios." Mas eles não estavam lá para representar todas as igrejas ocidentais, mas para representar o papa, que era - até o cisma - considerado o bispo número um da igreja.

Então, o que os tornava ecuménicos? Bem, a resposta é que eles eram concílios imperiais, convocados pelo imperador em Constantinopla. Desde o tempo de Constantino, o Grande, era um tema constante que Deus fez do imperador romano-bizantino seu representante na Terra. E tão tarde quanto 1400, quando o Grão-Príncipe Basílio de Moscovo disse: "Temos uma igreja, mas não um imperador", o patriarca António de Constantinopla escreveu-lhe, dizendo: "Isso não é verdade. O imperador de Constantinopla é o imperador de todos os cristãos. É verdade que a maioria deles não reconhece isso, mas é isso que ele é por nomeação divina."

E há uma expressão extraordinária que era usada - certamente no século VII - que dizia que Deus é co-governante juntamente com o imperador - não o contrário - Deus é co-governante com o imperador, porque o imperador é o representante de Deus na Terra. 

Os Concílios tinham que ser convocados pelo imperador, e os seus decretos não tinham força até que o imperador os emitisse como leis imperiais. E isso era a coisa decisiva que os tornava ecuménicos e com autoridade total. Não só os imperadores tinham esse papel significativo no que diz respeito à convocação de concílios e à concessão de autoridade aos seus decretos, como também vemos em muitos desses concílios que os imperadores exerciam uma influência muito forte, de tal maneira que às vezes ditavam aos bispos o que os próprios bispos não escolheriam.»

Não se confunda, pois, História da Igreja com História da Igreja oficial do Império Romano e do Papado.

Uma transcrição maior da entrevista pode ser encontrada aqui https://unapologetica.blogspot.com/2024/07/church-history-and-apologetics.html

domingo, 13 de outubro de 2024

ENQUANTO O MUNDO DORMIA

 

26 E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. 27 E dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como. 28 Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. 29 E, quando já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa. (Marcos 4:26-29)

Antes de a sua reputação ficar manchada pelo escândalo dos abusos clericais, a igreja católica dominava o cenário mundial. Ela costumava ser um importante player na geopolítica. Nisso residia muito de seu apelo para muitos. Se Jesus fundou uma igreja universal, certamente é assim que ela se deve parecer. Grande, conspícua, disseminada. Comparadas a isso, as denominações protestantes parecem provincianas e fragmentadas.

Isso encaixa na alegação dos apologistas católicos de que Jesus fundou uma igreja visível (ou seja, uma organização hierárquica unificada). Ela tem um chefe visível (o papa).

Mas compare-se isso com a parábola do reino de Deus sobre a semente crescendo à noite. Nesse sentido, o reino de Deus é invisível. Ele cresce à noite enquanto o agricultor dorme. Ele cresce à noite enquanto o mundo dorme. Nos Sinóticos, a igreja e o reino de Deus são categorias intimamente relacionadas.

Nesse sentido, a igreja representa uma revolução silenciosa. Ela cresce e se espalha sob o manto da escuridão. O mundo é apanhado de surpresa. A igreja escapa da atenção do mundo até que de repente se torna evidente. A igreja cria raízes e se espalha onde o mundo menos suspeita. Considere-se a igreja clandestina na China. Considere-se o avivamento cristão no coração do mundo muçulmano, devido a sonhos e visões de Jesus. Considere-se como o movimento pentecostal varreu a América Latina.

Nesse sentido, a visibilidade mundial da igreja católica é a antítese do reino de Deus. O progresso do reino é inesperado e imprevisível. Ele acontece em lugares para onde ninguém está a olhar. A universalidade da igreja não é encontrada nos sinais de néon do catolicismo romano, mas em sítios surpreendentes. Em esquinas e lugares escondidos que o mundo despreza até que seja tarde demais para ignorar.

terça-feira, 24 de setembro de 2024

O QUE A ERUDIÇÃO MODERNA DIZ A RESPEITO DAS RAÍZES HISTÓRICAS DO BATISMO INFANTIL?

A erudição moderna é da opinião de que o batismo infantil não foi uma prática dos apóstolos. Esta opinião tem sido seguida por muitos teólogos pedobatistas. O batismo de infantes teria sua origem nos filhos de cristãos que corriam risco de vida.  O estudioso luterano pedobatista H.A.W. Meyer diz:

«O batismo dos filhos de cristãos, do qual nenhum vestígio é encontrado no N.T, não deve ser considerado uma ordenança apostólica, pois, na verdade, encontrou imediata e longa resistência; mas é uma instituição da igreja, que surgiu gradualmente nos tempos pós-apostólicos em conexão ao desenvolvimento da vida eclesiástica e do ensino doutrinário. Certamente não foi observado antes de Tertuliano, e por ele ainda foi decididamente combatido. Embora defendido por Cipriano, só se tornou uma prática generalizada após o tempo de Agostinho...» (Commentary on Acts [16:15], New York: Funk & Wagnalls, 1883, p. 312).

O erudito patrístico David F. Wright é um exemplo dessa tendência da erudição moderna:

«Vimos, nesta exposição principalmente atendendo aos textos do desenvolvimento batismal ocidental, uma mudança verdadeiramente enorme na história da igreja de Cristo. De uma corporação que recrutava por resposta intencional ao imperativo do evangelho para o discipulado e o batismo, tornou-se uma sociedade em que se entrava por inscrição desde o nascimento. Foi indiscutivelmente uma das maiores mudanças na história do cristianismo. Ela levou, como vimos, à formação da cristandade, compreendendo um império cristão, nações ou povos cristãos. O cristianismo tornou-se uma questão de hereditariedade e não de decisão pessoal. As famosas e reveladoras palavras de Tertuliano "fiunt, non nascuntur, Christiani" - "Ninguém nasce cristão, mas torna-se cristão", foram viradas do avesso» (What Has Infant Baptism Done To Baptism? (England: Paternoster Press, 2005), p. 74).

Wright ainda diz sobre os credos ecuménicos:

«O único credo ecuménico a mencionar o batismo é o niceno (nenhum menciona a eucaristia) na frase "um batismo para a remissão dos pecados". Defendi em outro lugar que isso originalmente não podia abranger os bebés, porque nos círculos em que este credo surgiu, para ser aprovado no Concílio de Constantinopla em 381 (se aceitarmos o testemunho dos Padres no Concílio de Calcedónia, setenta anos depois, como a maioria dos eruditos faz), acreditava-se que os bebés recém-nascidos não tinham pecados» (Ibid., p. 93).

E continua:

«Peter Leithart afirmou recentemente que "a igreja foi salva da teologia e prática batista por Agostinho de Hipona". Se “batista” aqui implica a rejeição do batismo infantil, essa afirmação temerária é um exagero, mas dentro de limites perdoáveis (...) Para Leithart "o facto notável sobre o batismo na igreja primitiva é que o batismo infantil emergiu... como a prática dominante da Igreja". Esta não é a maneira como a história geralmente é contada! Na verdade, é bastante enganador ver a época dos padres simplesmente como uma era de batismo infantil. De facto, dos indivíduos conhecidos daqueles séculos que tinham pais cristãos e foram batizados em datas conhecidas, a grande maioria foi batizada com base na profissão de fé (...) Como Leithart resume de forma útil: "as primeiras liturgias batismais (...) foram construídas sobre pressupostos batistas, mesmo quando as crianças eram incluídas" (...) Leithart não consegue tirar a conclusão óbvia desta evidência - o batismo infantil nunca pode ter sido a norma neste período inicial (...) A época do longo reinado do batismo infantil se prolonga desde o início do período medieval, a partir do século VI, isto é, depois de Agostinho de Hipona, que morreu em 430. Foi ele quem forneceu a teologia que levou o batismo infantil a se tornar uma prática geral pela primeira vez na história da igreja...» (Ibid., pp. 4-6, 8, n. 7 na p. 8, 12, 17).

O estudioso Anthony Lane expressa uma opinião peculiar:

«A situação nos primeiros séculos foi de que as duas formas de batismo existiram lado a lado, tanto por causa do grande afluxo de conversos quanto porque nem todos os cristãos traziam seus bebés ao batismo. A "dupla prática" de permitir aos cristãos a escolha de batizar ou não os seus filhos, e se sim em que idade, pode parecer hoje a muitos confusa e sem princípios. Mas o facto claro é que tal variedade de práticas existia nos séculos III e IV e ninguém levantou qualquer objeção de princípio contra ela. Na verdade, pode-se argumentar com este facto que é muito provável que tal aceitação de variedade remonta aos tempos apostólicos» (Ibid., p. 7-8).

Everett Ferguson – autor do estudo mais detalhado sobre o tema – escreve:

«Há concordância geral de que não há evidências sólidas do batismo infantil antes da última parte do século II (...) A explicação mais plausível para a origem do batismo infantil é encontrada no batismo de emergência de crianças doentes que se esperava que morressem em breve, de modo a garantir a entrada no reino dos céus» (Baptism in the Early Church, Grand Rapids, 2009, p. 856).

A respeito do período em que o batismo infantil se tornou dominante:

«[O Batismo infantil] era geralmente aceite, mas questionamentos continuaram a ser levantados sobre a sua propriedade até o século V. Tornou-se a prática habitual nos séculos V e VI» (p. 857).

Mesmo os eruditos pedobatistas tendem a afirmar que o batismo infantil não é uma prática que remonta aos apóstolos. A primeira evidência patrística favorável é em meados do século III (Orígenes e Cipriano). Em todo o caso, o consenso sugere que o batismo infantil começou a ser praticado com crianças no leito de morte e até o século V não havia qualquer posição dogmática a respeito. Por isso, era usual que mesmo os filhos de pais cristãos tivessem o batismo adiado. O batismo infantil tornou-se prática generalizada apenas nos séculos V e VI. Os defensores do batismo infantil costumam apontar para a história como o argumento decisivo em favor de sua posição. No entanto, concluímos que a história oferece mais problemas do que apoio à posição pedobatista.


https://respostascristas.blogspot.com/search/label/Batismo%20Infantil

domingo, 22 de setembro de 2024

CREDALISMO


As doutrinas que estão nos credos são verdadeiras porque estão nos credos ou estão nos credos porque são verdadeiras? Muitos cristãos comportam-se como se a primeira opção fosse a verdadeira, o que é obviamente um erro. Os credos (ou confissões) não têm autoridade intrínseca.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

NOS ALVORES DA REFORMA

 

«Os últimos anos de Júlio (que ficou conhecido como il papa terribile) viram os Estados Papais expandirem-se, com a tomada de Modena (1510) e Parma e Piacenza (1512), e os franceses expulsos de Itália. Ao mesmo tempo que tornava o governo papal uma realidade nos Estados Pontifícios, as campanhas militares de Júlio, nas quais teve um papel vigoroso até ao fim da sua vida, atraíram críticas crescentes de toda a Europa por parte daqueles que sentiam que este não era o tipo de liderança esperado de um papa. No diálogo satírico “Júlio Excluído do Céu” [1], citado no início deste capítulo, o papa, chegando às portas do Céu com vinte mil soldados mortos nas suas guerras, vangloria-se a São Pedro das suas conquistas:

Júlio: Ainda deves estar a sonhar com aquela antiga igreja na qual, com alguns bispos famintos, tu próprio, um pontífice a tremer de frio, estavas exposto à pobreza, ao suor, aos perigos e a mil outras provações. Mas agora o tempo mudou tudo para melhor... se pudesses ver a vida em Roma hoje: todos os cardeais vestidos de púrpura, acompanhados por regimentos inteiros de vassalos, os cavalos mais do que dignos de um rei, as mulas enfeitadas com tecidos finos, ouro e joias, algumas até calçadas com ouro e prata! Se pudesses vislumbrar o sumo pontífice, transportado numa cadeira de ouro sobre os ombros dos seus homens, enquanto o povo de todos os lados presta homenagem com um aceno da mão; se pudesses ouvir o trovão do canhão, o retumbar das cornetas, o toque das trombetas, ver os clarões das armas e ouvir os aplausos do povo, os vivas, toda a cena iluminada por tochas brilhantes e até os maiores príncipes a beijar o pé bendito… se pudesses ver e ouvir tudo isto, o que dirias?

Pedro: Que eu estava a ver um tirano pior do que qualquer outro no mundo, o inimigo de Cristo, a ruína da igreja.

Quando São Pedro se recusa a admitir Júlio no céu, o papa ameaça invadir o Céu e expulsar Pedro. Críticas como esta do papado contemporâneo eram moderadas em comparação com as que viriam...»

Roger Collins, Keepers of the Keys of Heaven: A History of the Papacy, Orion Publishing CO, 2010)

 

Nota

[1] Os seus contemporâneos e a maioria dos académicos modernos atribuem a autoria do diálogo “Júlio Excluído do Céu” (Latim: Iulius exclusus e coelis) ao humanista e teólogo holandês Erasmo de Roterdão, embora seja tecnicamente uma obra anónima.

O sujeito do diálogo, Júlio II (papa 1503-1513), era famoso pelo seu patrocínio das artes e pela sua vida imoral e belicosa. O diálogo, que satiriza as suas ambições mundanas e os seus abusos de poder, foi imensamente popular nos anos que antecederam a Reforma Protestante. Teve treze edições em quatro anos e foi rapidamente traduzido para alemão, inglês e francês, ficando disponível para um largo público.

É mais um testemunho do estado decadente e corrupto em que se encontrava a Igreja de Roma, do descontentamento social, da ânsia de liberdade e do desejo generalizado de uma grande reforma religiosa antes da explosão da Reforma Protestante.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

AQUELE QUE SE GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR


“O Evangelho é verdadeiro porque priva os homens de toda a glória, sabedoria e justiça e entrega toda a honra somente ao Criador. É mais seguro atribuir demasiada glória a Deus do que ao homem.”

(Martinho Lutero, Comentário à Epístola aos Gálatas)

sábado, 14 de setembro de 2024

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

PAPA TORNA VÃO O SACRIFÍCIO DE CRISTO E ANIQUILA O EVANGELHO DA GRAÇA DE DEUS


Durante uma palestra em Singapura, Francisco abordou a questão do diálogo inter-religioso entre católicos romanos e vários outros grupos religiosos cristãos e não cristãos. Disse então o seguinte:

«Todas as religiões são caminhos para chegar a Deus. Elas são — para fazer uma comparação — como línguas diferentes, dialetos diferentes, para chegar a ele. Mas Deus é Deus para todos. Se você começar a lutar dizendo "minha religião é mais importante que a sua, a minha é verdadeira e a sua não", aonde isso nos levará? Só existe um Deus, e cada um de nós tem uma língua para chegar a Deus. Uns são siques, outros muçulmanos, outros hindus, outros cristãos; são caminhos diferentes para Deus.»

Ora, se se chega a Deus pela lei moral (boas obras) ou pela prática ritual das várias religiões existentes no mundo, então a salvação não é mais pela graça de Deus, mas pela prática de uma das várias religiões, pelas obras piedosas que os homens praticam. Esforçando-nos para ser bons religiosos, segundo a religião da nossa preferência, podemos ser justos diante de Deus pelos nossos méritos, merecer estar em comunhão com Deus. Deus não nos dá nada que não mereçamos, nada de graça. A obrigação de Deus é estar em comunhão com nós, que somos bons e piedosos. O evangelho da graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo é assim aniquilado.

Igualmente, Cristo sacrificou-se inutilmente na cruz, não precisamos da aplicação da justiça de Cristo em nós, do seu sacrifício expiatório. A nossa religião e as nossas obras nos justificam. Chegamos a Deus por elas. Nada por que ser condenados. O sacrifício de Cristo foi pois desnecessário ou como diz Paulo "se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21).

Mas ao contrário do papa, Jesus ensinou: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim." (João 14:6)

Alguém que pregue o Evangelho ao papa!


P.S. A razão porque devemos ser tolerantes e respeitar a liberdade religiosa dos crentes de outras religiões, não é por considerarmos que as religiões são todas iguais, que todas adoram o mesmo Deus e que nenhuma é mais verdadeira do que outra, mas precisamente por considerarmos que nem todas as religiões são iguais, que nem todas adoram o mesmo Deus e que há a religião verdadeira e a religião falsa, é que é preciso tolerar e respeitar a liberdade dos crentes das diferentes religiões com as quais discordamos. 

Quem acredita que as religiões são todas boas e que adoram o mesmo Deus não precisa de ser educado na tolerância nem no respeito pela liberdade dos crentes de outras religiões.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O "CONCÍLIO DE ROMA" DE 382 E O DECRETO FANTASMA DE DÂMASO SOBRE O CÂNON BÍBLICO

 

O que foi exatamente o "Concílio de Roma" de 382 d.C.? E como é que ninguém ouviu falar dele antes do século XVIII?

O único registo que temos deste "Concílio" vem de um códice do século VIII, conhecido como códice de Ragyndrudis, que contém um manuscrito habitualmente intitulado como "Decretum Gelasianum". O texto completo está aqui: link.

- Os capítulos I e II são interessantes, listam as atas de um suposto Concílio de Roma presidido pelo papa Dâmaso, ​​junto com o cânon bíblico.

- Os capítulos III-V são menos pertinentes, listam alguns decretos do papa Gelásio (492-496). No entanto, também a credibilidade destes decretos é duvidosa, porque o texto menciona factos que ocorreram após 496 d.C., data da morte de Gelásio (ver abaixo).

Este documento é confiável?

Ao que tudo indica este documento é uma completa fraude, por quatro razões:

1) Não existe nenhuma consciência do "Decreto de Dâmaso" ao longo da história. Existem várias figuras históricas que não estão cientes deste Decreto sobre o cânon bíblico. Isso inclui Jerónimo, que naquela época estava a produzir a sua tradução da Bíblia em Latim, conhecida como Vulgata Latina. Jerónimo negou explicitamente a canonicidade dos livros apócrifos incluídos no suposto decreto de Dâmaso e introduziu juízos depreciativos sobre estes livros que ecoariam pelos séculos seguintes. Nenhum dos Padres Latinos (para não mencionar os Padres Gregos) demonstra qualquer conhecimento de um decreto sobre o Cânon das Escrituras; nunca o referenciam, ou mesmo sugerem estar cientes da sua existência. É também óbvio que os teólogos medievais até ao tempo do Cardeal Caetano no século XVI não têm ideia da sua existência, citando o cânon do AT como Martinho Lutero faria, e não como o "Papa Dâmaso do Concílio de Roma de 382" fez.

2) Não há nenhuma evidência do Concílio. Não há registo histórico na antiguidade de qualquer Concílio realizado em Roma no ano de 382! Tão simples quanto isso. Temos histórias eclesiásticas detalhadas da Antiguidade Tardia, com descrições de concílios, sínodos e procedimentos da igreja. Não há nenhum registo de um concílio realizado em Roma em todo o século IV, sob o Papa Dâmaso ou qualquer outro. No entanto, temos registos de concílios de cidades menos significativas, como Cartago, realizados nos séculos III, IV e V.

3) A era das falsificações. No período de 500-1000 d.C., sabe-se que o papado se envolveu numa vasta gama de falsificações documentais, para provar que era a igreja suprema (na verdade a única) em todo o mundo, que o seu bispo era o Pastor Universal e que tinha direito de governar temporalmente e conquistar reinos mundanos como bem entendesse. A existência deste documento reforça o direito do papado em todas estas reivindicações.

4) Evidência textual de falsificação. O próprio texto mostra sinais de falsificação. Uma das melhores análises críticas foi feita por F. C. Burkitt em 1913:

Burkitt observou que:

- O texto supostamente datado de 382, ​​contém uma citação de um livro de Santo Agostinho escrito em 416.

- A parte atribuída ao Papa Gelásio I (492-496) contém factos que ocorreram após 496.

- A existência deste "Concílio de Roma de 382" foi alegada pela primeira vez em 1794, por um padre jesuíta espanhol exilado em Itália de nome F. Arévalo. Em outras palavras, uma falsificação criada pela primeira vez na Idade Média foi reutilizada uma segunda vez como evidência forjada, por um escritor muito fiel ao papado do século XVIII.

Burkitt subscreve, então, a conclusão do professor Ernst von Dobschütz:

«Todos os cinco capítulos [do Decretum Gelasianum] pertencem à mesma obra original, que não é um decreto ou carta genuína de Dâmaso ou Gelásio, mas uma produção literária pseudónima da primeira metade do século VI (entre 519 e 553)»

https://www.tertullian.org/articles/burkitt_gelasianum.htm

Entretanto, na realidade paralela da apologética católica podem se ler coisas deste tipo:

O cânon das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, foi fixado definitivamente no Concílio de Roma em 382, sob a autoridade do Papa Dâmaso I

Como se o bispo de Roma tivesse poder para impor às outras igrejas alguma coisa por decreto...

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

COINCIDÊNCIAS NÃO INTENCIONAIS

 

O relato bíblico da alimentação de 5.000 pessoas por Jesus contém coincidências não intencionais que sugerem autenticidade histórica.

Na história destaca-se a importância de Filipe como discípulo de Jesus. Embora Filipe não seja proeminente no Novo Testamento, a sua origem em Betsaida é relevante. Lucas menciona este lugar, mas não menciona Filipe no seu relato, mas a sua ligação com Betsaida realça a sua importância na história. Filipe e André são residentes em Betsaida, o que pode explicar a razão de conhecerem um rapaz que tinha pão e peixes. No relato de Marcos destaca-se que a erva era verde, algo pouco comum em Israel, o que acrescenta intriga ao relato. Marcos refere que Jesus os convida a descansar num lugar deserto, o que demonstra preocupação com o bem-estar das pessoas que o rodeiam. Durante a Páscoa, a erva fica verde na região devido às chuvas. João é o único evangelista que refere que os pães eram de cevada, podendo isso ser relacionado com a colheita da cevada na época da Páscoa. A ligação entre a erva verde, os pães de cevada e a multidão em movimento aponta para que o evento ocorreu durante a Páscoa. Do mesmo modo, a menção de João à Páscoa permite explicar a presença da erva verde e da multidão.

Por esta razão, os estudiosos do Novo Testamento apontam a importância da casualidade na avaliação da fiabilidade histórica.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

QUANDO O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO SE CONFUNDE COM O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL DA REFORMA

 

Os princípios de interpretação do Novo Testamento neste curso assumem uma perspetiva histórico-crítica. O método histórico-crítico de interpretação de um texto privilegia o sentido pretendido pelo autor antigo, a interpretação do público original do texto, a língua original em que o texto foi escrito e a prevenção do anacronismo. Contudo, durante a maior parte dos últimos dois mil anos, este não tem sido o método de interpretação da Bíblia. Os intérpretes pré-modernos, como Orígenes e Agostinho, sentiram-se livres para alegorizar e utilizar o texto como bem entendessem. Foi apenas através da Reforma e de outros acontecimentos da história moderna que o método histórico-crítico se tornou o método predominante de interpretação.

https://oyc.yale.edu/religious-studies/rlst-152/lecture-22

Se esta é a definição de método histórico-crítico de interpretação, então não há nada a objetar a ele, na verdade é semelhante em termos de objetivos ao método conhecido como histórico-gramatical, que é método padrão utilizado pelos reformadores e as igrejas protestantes.

O problema é quando o “crítico” vai além da interpretação do texto e desenha conclusões sobre as origens e a historicidade do texto não baseadas na evidência histórica objetiva, mas em pressupostos filosóficos particulares como o naturalismo ou o antisobrenaturalismo metafísicos. Ou dito de outra forma, quando associa ao método histórico-crítico o naturalismo metodológico.

De acordo com o naturalismo metodológico os mortos não ressuscitam, por isso a intenção dos autores dos textos bíblicos não é relatar uma ressurreição real ou histórica, se é então estão a mentir ou iludidos. Por definição, Jesus não pode ter ressuscitado realmente.... mas isso de acordo com o naturalismo, não com a evidência histórica objetiva.

domingo, 25 de agosto de 2024

IRENEU, EUSÉBIO E AS CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS AFIRMAM QUE O PRIMEIRO BISPO DE ROMA FOI LINO

 

Na sua «História Eclesiástica», Eusébio de Cesareia afirma o seguinte:

Livro III

II

[Quem foi o primeiro que presidiu a Igreja de Roma]

1. Depois do martírio de Paulo e de Pedro, o primeiro a ser eleito para o episcopado da Igreja de Roma foi Lino. Ele é mencionado por Paulo quando escreve de Roma a Timóteo, na despedida ao final da carta (2 Tm 4:21)."

Note-se que Eusébio de Cesareia nunca menciona Pedro como tendo sido alguma vez Bispo de Roma.

Isto porque Eusébio seguia uma lista dos doze primeiros bispos de Roma, dada por Ireneu de Lyon no século II, em que o primeiro bispo de Roma mencionado era Lino.

Eusébio cita então a lista de Ireneu, onde o bispo de Lyon classifica Lino como o primeiro bispo de Roma:

Livro V

VI

[Lista dos bispos de Roma]

1. "Os bem-aventurados apóstolos, depois de haverem fundado e edificado a Igreja, puseram o ministério do episcopado em mãos de Lino. Este Lino é mencionado por Paulo em sua carta a Timóteo ..."

As Constituições Apostólicas, um documento cristão do século IV, também indicam que Lino, tendo sido ordenado por Paulo, foi o primeiro bispo de Roma, sendo o seu sucessor Clemente, que foi ordenado por Pedro (cfr. Constituições Apostólicas 7.4).

Anacleto é considerado o sucessor de Lino por Ireneu.


A BÍBLIA E A HISTÓRIA FORNECEM EVIDÊNCIA DEFINITIVA DA NATUREZA VÁCUA E ESPÚRIA DAS PRETENSÕES ROMANISTAS

«As listas mais antigas de papas começam, não com Pedro, mas com um homem chamado Lino. A razão pela qual o nome de Pedro não foi listado foi porque ele era um apóstolo, que era uma super-categoria, muito superior a papa ou bispo... A comunidade cristã em Roma, bem dentro do segundo século operava como uma coleção de comunidades separadas sem qualquer estrutura central... Roma era uma constelação de igrejas domésticas, independentes umas das outras, cada uma das quais era livremente governada por um ancião. As comunidades, portanto, basicamente seguiam o padrão das sinagogas Judaicas das quais se desenvolveram.» (John O'Malley, A History of the Popes, Sheed & Ward, 2009, p. 11)

«É certo que a posição católica, que os bispos são os sucessores dos apóstolos por instituição divina, está longe de ser fácil de estabelecer... O primeiro problema tem a ver com a noção de que Cristo ordenou apóstolos como bispos... Os apóstolos eram missionários e fundadores de igrejas; não há nenhuma evidência, nem é de todo provável, de que qualquer um deles alguma vez tenha fixado residência permanente numa igreja em particular como seu bispo... A carta dos Romanos aos Coríntios, conhecida como I Clemente, que data de cerca do ano 96, fornece boas evidências de que cerca de 30 anos após a morte de São Paulo a igreja de Corinto estava sendo liderada por um grupo de presbíteros, sem indicação de um bispo com autoridade sobre toda a igreja local... A maioria dos académicos são da opinião de que a igreja de Roma, muito provavelmente também era liderada nesse tempo por um grupo de presbíteros... Existe um amplo consenso entre os académicos, incluindo muitos católicos, que igrejas como Alexandria, Filipos, Corinto e Roma, muito provavelmente, continuaram a ser lideradas durante algum tempo por um colégio de presbíteros, e que só no segundo século a estrutura tríplice tornou-se a regra geral, com um bispo, assistido por presbíteros, presidindo a cada igreja local.» (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, pp. 13,14,15).

«De acordo com Ireneu, Pedro e Paulo, não somente Pedro, nomearam Lino como o primeiro na sucessão de bispos de Roma. Isto sugere que Ireneu não pensava em Pedro e Paulo como bispos, ou em Lino e aqueles que se seguiram como sucessores de Pedro mais do que de Paulo.»  (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, p. 148).

«Devemos concluir que o Novo Testamento não fornece nenhuma base para a noção de que antes dos apóstolos morrerem, eles ordenaram um homem para cada uma das igrejas que eles fundaram... "Havia um Bispo de Roma no primeiro século?"... A evidência disponível indica que a igreja em Roma era liderada por um colégio de presbíteros, e não por um único bispo, por pelo menos várias décadas do século II.» (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, p. 80,221-222).

«Fontes primitivas, incluindo Eusébio, afirmam que Lino ocupou o cargo por cerca de 12 anos, mas elas não são claras sobre as datas exatas ou o seu exato papel pastoral e autoridade. Deve ser lembrado que ao contrário da piedosa crença católica, a estrutura episcopal monárquica de governo da igreja (também conhecida como o episcopado monárquico, em que cada diocese era liderada por um único bispo) ainda não existia em Roma neste tempo.» (McBrien, Richard P. Lives of the Popes: The Pontiffs from St. Peter to Benedict XVI. Harper, San Francisco, 2005 updated ed., p. 34).

«Para começar, na verdade, não havia 'papa', nem bispo como tal, pois a igreja em Roma foi lenta a desenvolver o cargo de presbítero ou bispo chefe... Clemente não fez nenhuma reivindicação de escrever como bispo... Não há nenhuma maneira de definir uma data em que o cargo de bispo dirigente surgiu em Roma... mas o processo estava certamente completo pelo tempo de Aniceto, por volta do ano 150.» (Duffy, Eamon. Saints & Sinners: A History of the Popes, 2nd ed. Yale University Press, London, 2001, pp. 9, 10,13).

«O fracionamento em Roma favoreceu um sistema de governo presbiteral colegial e impediu durante muito tempo, até à segunda metade do século II, o desenvolvimento de um episcopado monárquico na cidade. Vítor (c. 189-99) foi o primeiro que, após tímidas tentativas de Eleutério (c. 175-89), Sotero (c. 166-75) e Aniceto (c. 155-66), avançou energicamente como bispo monárquico e (por vezes, apenas porque era incitado do exterior) tentou colocar os diferentes grupos da cidade sob a sua supervisão ou, quando tal não era possível, estabelecer barreiras através da excomunhão. Antes da segunda metade do século II, não havia em Roma nenhum episcopado monárquico nos círculos mutuamente unidos em comunhão.» Peter Lampe, From Paul to Valentinus: Christians at Rome in the First Two Centuries, trans. Michael Steinhauser (Minneapolis: Fortress Press, 2003) p. 397.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

CATÓLICO EX-PROTESTANTE TORNA-SE PROTESTANTE EX-CATÓLICO

Para contextualizar, Fernando Casanova é ou era uma estrela da apologética católica e muito popular na América latina. Costumava ser apresentado como "ex-pastor protestante" convertido ao catolicismo e exibido como um troféu de caça nos programas de propaganda de massas. 

Agora parece que teve um arrebate de consciência e resolveu tratar a evidência histórica com honestidade. Declarou não acreditar no papado, na infalibilidade papal, na assunção de Maria entre outras coisas e anunciou formalmente que não pode continuar na Igreja Católica romana por razões de consciência. A comoção é grande entre os católicos! É caso para dizer "bem-vindo a casa" Fernando.

https://youtu.be/b5NkUuDtDg4?si=velDLqCHU3kBR8N1

domingo, 18 de agosto de 2024

O PANTEÃO DA IGREJA DE ROMA

Os católicos são frequentemente acusados ​​de idolatria. Há vários motivos para isso. Um é a veneração dos santos, especialmente de Maria. Outro é a Adoração Eucarística.

Uma forma em que os católicos tentam rechaçar a acusação é traçar distinções subtis entre dulia, hiperdulia e latria.

Gostaria apenas de fazer uma breve comparação. Eu considero que a veneração dos santos é um sincretismo disfarçado: apenas substitui deuses padroeiros por santos padroeiros. Nomes diferentes, a mesma função, a mesma mentalidade.

Ora, um idólatra pagão também pode distinguir entre graus ascendentes ou descendentes de veneração. No politeísmo, o panteão tem uma hierarquia. Nem todos os deuses ou deusas são criados iguais. Existem deuses superiores e deuses inferiores.

Se alguém for um marinheiro, é melhor prestar vénias a Posídon. Mas se uma pessoa viver em terra firme, tem pouco a temer de Posídon. Ela está fora da sua jurisdição.

Ninguém quer ter a inimizade de deuses ou deusas poderosos e vingativos como Zeus, Juno e Marte. No entanto, Vénus não é muito intimidante. Da mesma forma, Vulcano não é terrivelmente ameaçador — a menos para alguém que viva na sombra do Monte Vesúvio.

No hinduísmo, um hindu piedoso normalmente se torna devoto de uma divindade em particular, como Vishnu, Shiva, Devi, Durga, Kali, Rama ou Krishna.

O meu ponto é que é fácil traçar paralelos entre a devoção pagã e a devoção católica a este respeito. Tanto católicos quanto pagãos têm uma gradação no grau de veneração que concedem à numina. Desenhar distinções refinadas não protege o catolicismo da acusação de idolatria, pois os pagãos podem e fazem a mesma coisa em relação à hierarquia divina.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

DESAMBIGUAÇÃO DA PRESENÇA REAL E TRANSUBSTANCIAÇÃO


Enquanto a crença na presença real de Cristo na Eucaristia é comum a todas as tradições cristãs, uma vez que uma presença simbólica ou espiritual não é menos real que uma presença física, a transubstanciação como formulada por Aquino e sancionada em Trento é uma doutrina exclusiva da Igreja de Roma.

Por exemplo, as interpretações católica, luterana, ortodoxa e calvinista têm em comum a aceitação da presença real, mas também diferem entre si em relação a como é produzida.

Segundo o dogma católico da transubstanciação, em virtude das palavras da consagração o pão e o vinho tornam-se o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Cristo, embora persistam os “acidentes” (forma, cor, odor, sabor e composição química) do pão e do vinho. Esta mudança é permanente, o que torna a hóstia em objeto de culto de adoração (latria).

O Luteranismo aceita a distinção aristotélica entre substância e acidente, mas não que o pão deixa de ser pão e o vinho deixa de ser vinho, mas que pelas palavras da consagração Cristo se faz verdadeiramente presente “em, com e sob” as espécies (consubstanciação).

Por seu lado os ortodoxos orientais rejeitam as controvérsias ocidentais e afirmam a presença real como símbolo (“pôr junto com”) e mistério, sem tentar explicar a forma em que é produzida; segundo uma página ortodoxa, “São o pão e o vinho molecularmente alterados para tornar-se carne e sangue físicos? É claro que não. Mas como o pão e o vinho, quando são ingeridos, se convertem como alimento na nossa própria carne e sangue de um modo desconhecido para nós, assim o pão e o vinho da Eucaristia tornam-se (também de um modo desconhecido para nós) o real corpo e sangue de Cristo na aparência e forma de pão e vinho.”

O Calvinismo ensina que Cristo está verdadeiramente presente na Eucaristia, mas de maneira espiritual – em oposição a uma presença física - e que portanto o pão e o vinho são fontes de poder e santidade para aqueles que participam dignamente deles.

A maioria das Igrejas cristãs evangélicas sustentam que o pão e o vinho são exclusivamente símbolos e, portanto, uma presença simbólica do corpo e sangue de Cristo nos elementos Eucarísticos, mas nem por isso menos real.

Portanto, a menos que se esteja a utilizar a expressão "presença real" como um termo técnico para presença física, todos os cristãos acreditam na presença real de Cristo na Eucaristia.

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

SACRAMENTALISMO ANTI-ENCARNACIONAL

 

O Luteranismo, o Catolicismo e a Ortodoxia, cada um à sua maneira, enfatizam a “Presença Real”. Mas um problema básico da “Presença Real” é a forma como este dogma atinge a raiz da Encarnação – bem como da Ressurreição. É uma visão fundamentalmente anti-encarnacional da Eucaristia.

Jesus tinha um corpo. Um corpo de verdade. Um corpo físico. Isto fica claro nos Evangelhos. Ele tinha um corpo visível e tangível. Um corpo com altura e peso normal, comparável ao de outros seres humanos com quem interagia.

Isto era verdade antes da sua Ressurreição, e isto era igualmente verdade depois da sua Ressurreição. Na verdade, tanto Lucas (Lc 24) como João (Jo 20-21) esforçam-se por acentuar o caráter visível e tangível do corpo glorificado de Cristo. Embora Cristo pudesse aparecer e desaparecer à vontade, quando estava presente, estava presente de uma forma localmente tangível e definível. Localidade, não ubiquidade. O seu corpo glorificado tinha propriedades empíricas.

Isso é essencial para a teologia lucana da Ressurreição, como também para a teologia joanina da Ressurreição. O corpo de Cristo Ressuscitado é algo que era possível aos observadores ver e sentir.

Mas para defender a “Presença Real” em relação aos elementos da comunhão, é necessário redefinir radicalmente um corpo. E, no processo, é necessário redefinir radicalmente tanto a Encarnação como a Ressurreição.

O fisicalista sacramental despedaça a Encarnação e a Ressurreição em prol do seu dogma eucarístico. Para salvar a doutrina, a corporalidade do corpo é despojada das suas propriedades corporais.

Com efeito, o fisicalista sacramental reduz o corpo de Cristo a um corpo astral ou a uma matéria subtil. Ele tem que assumir uma "forte" sacramentologia à custa de uma fraca cristologia.

terça-feira, 4 de junho de 2024

POR QUE NÃO SER PROTESTANTE?

 

Dois pilares distintivos de uma eclesiologia protestante são:

1) a igreja é falível.

2) a igreja não está restrita a uma instituição.

Ambas as coisas parecem bastante modestas.

(1) significa que a igreja não é infalível e, portanto, está subordinada à Escritura. Isso não parece ser difícil de aceitar. Afinal, a Escritura é revelação «soprada» por Deus. A infalibilidade eclesial pós-apostólica nunca existiu e não tem nenhuma base na fundação da nossa religião (não, Mateus 16:18 não ensina infalibilidade, apenas indefectibilidade, a qual afirmamos). Até Agostinho pensava que os concílios ecuménicos eram falíveis e, portanto, estavam sujeitos à Escritura.

(2) significa que a igreja reúne-se dentro de múltiplas instituições. Isso também pode ser aceite de imediato. Vê-se frutos evidentes da Igreja (exorcismos, glória da Trindade, salvação, etc.) em múltiplas expressões institucionais. Isto é uma enorme vantagem protestante porque a maioria das outras tradições têm que introduzir permanentemente novas condições históricas para tentarem dar sentido a si mesmas hoje.

Então... por que não ser protestante? Fica-se com uma igreja maior, mais católica e deixa-se de estar preso a erros e acréscimos ilegítimos que eram obviamente desconhecidos dos apóstolos e considerados hoje irreformáveis ​​(como a veneração de ícones ou a oração a Maria).

A Igreja… é a sociedade de todos os santos, uma sociedade que, espalhada por todo o mundo e existindo em todas as épocas, mas unida por uma só doutrina e por um só Espírito de Cristo, cultiva e observa a unidade de fé e a concórdia fraterna. Com esta Igreja negamos que tenhamos qualquer desacordo” (João Calvino, 1539).

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Lutero sobre a compatibilidade de Tiago com Paulo

Em 1530, Lutero respondeu à pergunta: “Por que Tiago [2:26] diz: ‘A fé sem obras é morta’?”

A resposta de Lutero foi:

"Tiago está a tratar de uma questão moral, não teológica, assim como trata quase inteiramente de moralidade. Moralmente falando, é verdade que a fé sem obras é morta - isto é, se a fé não faz obras ou se obras exteriores não seguem a fé. Dessa forma, então, a fé não pode existir separada das obras; isto é, ela não pode deixar de fazer obras, pois a fé não existe sozinha. No entanto, aqui [em Paulo] estamos a tratar de uma questão teológica, já que estamos a discutir a justificação diante de Deus. Aqui afirmamos que somente a fé é contada como justiça diante de Deus, independentemente das obras e dos méritos.” (Luther's Works, 61:183-184).

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