18 de maio de 2021

A arte como camuflagem

 

O interior das igrejas reformadas/evangélicas é tradicionalmente espartano. A simplicidade e ausência de luxos é uma das suas imagens de marca. Quem está acostumado a isso e entra numa catedral gótica ou numa basílica bizantina pela primeira vez pode ter um choque. O contraste é avassalador.

Esse impacto pode ter consequências diferentes em pessoas diferentes. Alguém com uma fé principalmente intelectual e teórica, que adere ao cristianismo pelo sentido estético da coisa, pode ficar fascinado e sentir-se atraído por toda a parafernália artística dessas igrejas. Essa é uma das razões pelas quais é um erro os evangélicos serem gratuitamente espartanos quando se trata de serviço de culto. Isso convida ao abandono de certas pessoas. 

Não estou a apelar para a ostentação nem para encher as igrejas com imagens ou pinturas. Isso certamente não seria boa arte, mas mau gosto disfarçado de piedade. Nada pior do que igrejas que mais parecem lojas de bugigangas. Porém, não custa nada ter um maior cuidado com os espaços do culto, a seleção da música sacra, a reverência no culto etc.

Mas a arte majestosa pode ser vista por um prisma diferente: é uma ótima maneira de camuflar o vazio. Se não se tem nada, faz-se com que pareça que há alguma coisa por meio de elementos externos. Se o vinho é apenas vinho, isso é disfarçado usando um cálice esplendoroso. Se a hóstia é apenas um pedaço de pão seco, dissimula-se isso colocando-a dentro de um tabernáculo magnificente, num altar magnificente, com muitos outros adornos cintilantes. Se o sacerdote na verdade não tem poderes transformativos, mas é apenas um homem como outro qualquer, mascara-se isso envolvendo-o com vestes extravagantes. Quanto menos se tem, mais se tem que compensar.

Os elementos externos, a sobrecarga sensorial, desviam a atenção do facto de que não há nada ali. Camadas sobre camadas para esconder o vazio no âmago. Arrebatar os sentidos é uma tática sagaz para desarmar as faculdades críticas.

Ou, para colocar isso ao contrário, se realmente houvesse alguma coisa ali, algo manifestamente sobrenatural, então toda a arte vistosa, arquitetura, música, ouro e brocado seria desnecessário. Na verdade, se realmente houvesse algo ali, todos os embrulhos faustosos o obscureceriam.

17 de maio de 2021

EQUÍVOCOS CANÓNICOS

 

Apologistas católicos e protestantes frequentemente chegam a um impasse nos debates sobre o cânon devido a equívocos. A igreja precede o cânon ou o cânon precede a igreja? A igreja nos deu o cânon?

Como resultado, conversam em círculos sem chegar a lugar nenhum. Para quebrar o impasse e esclarecer as questões, algumas distinções e definições são necessárias.

Escritura

Embora a Bíblia seja escritura, escritura não é sinónimo de Bíblia, visto que escritura pode ser apenas uma parte da Bíblia. Isaías é escritura, mas não é a Bíblia.

A Bíblia

A coleção total de escrituras.

Uma Bíblia

O AT é uma Bíblia, mas não a Bíblia. A Bíblia é o AT e o NT.

O cânon

i) Isso pode se referir ao cânon do AT, ao cânon do NT ou a todo o cânon.

ii) Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode estar aberto ou fechado, completo ou incompleto.

iii) Numa definição, o cânon está completo ou fechado de facto quando todas as escrituras estão escritas. Dito de outra forma, nesse momento a Bíblia realmente existe in toto. Esta é uma definição intrínseca.

iv) Isso é diferente da receção ou distribuição da Escritura, que pode ser desigual.

v) Escritura implica cânon porque escritura implica um contraste entre escritura e não-escritura. Portanto, o conceito de escritura contém implicitamente um princípio ou objetivo canónico: limites em princípio e/ou prática. Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode não ter atingido o seu limite. Durante o período de revelação pública, há um cânon aberto. Isso é verdade tanto nos tempos do AT como nos tempos do NT.

vi) Os apologistas católicos negam que os cristãos do século I tivessem "A Bíblia". Dizem que a Igreja nos deu "A Bíblia". Dizem que Sola Scriptura é inconsistente com um cânon aberto ou incompleto. Dizem que a maioria dos primeiros cristãos não tinha acesso à "Bíblia" - porque os livros do NT não estavam todos escritos ou a distribuição era desigual.

Mas isso são equívocos. A Sola Scriptura pode operar com um cânon menor porque o princípio governante continua a ser a Escritura. A igreja pode ser governada por um cânon central - um cânon incompleto porque o ponto de contraste não é entre alguma escritura e toda a escritura, mas entre escritura e não-escritura. Colocado de outra forma, entre revelação e não revelação. A revelação divina é a autoridade final, não importa se está muito ou pouco disponível. Nada mais pode ser maior ou igual à revelação divina na teologia e ética cristã.

2 de abril de 2021

Paixão segundo São Mateus de Bach

 

Esta obra de Johann Sebastian Bach é baseada no evangelho de Mateus, narrando a condenação e a morte de Jesus na cruz do calvário. Bach é considerado o quinto evangelista por ter produzido músicas magníficas, influenciando e tocando os corações no mundo todo. Pregou com a sua criativa música.

Bach foi um cristão luterano que viveu cerca de 200 anos após a Reforma Protestante.

A Paixão Segundo São Mateus foi traduzida para o português e está legendada para poder ser acompanhada. Bom deleite. 

https://gulbenkian.pt/musica/videos/paixao-segundo-sao-mateus/

1 de abril de 2021

Teologia do Faz-de-conta

 

492 Mais que toda e qualquer outra pessoa criada, o Pai a «encheu de toda a espécie de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo» (Ef 1, 3). «N'Ele a escolheu antes da criação do mundo, para ser, na caridade, santa e irrepreensível na sua presença» (Ef 1, 4).

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p1s2cap2_422-682_po.html

Não há nada de errado com essas afirmações? Comparemo-las com as palavras do seu texto de prova:

3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo; 4 como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele (Ef. 1:3-4).

Ef. 1:3-4 não destaca Maria como o objeto de Ef. 1:3-4, mas os cristãos em geral. Os eleitos.

Na verdade, não diz absolutamente nada sobre Maria. Na melhor das hipóteses, ela estaria incluída entre outros cristãos.

Desde Newman, os católicos apelam para a teoria do desenvolvimento. Aqui vemos uma passagem da Escritura dissociada do seu contexto, para sustentar o dogma mariano. A partir do momento em que a Escritura é dissociada do contexto, o processo ganha vida própria.

Não há nada intrinsecamente errado com o desenvolvimento teológico, mas tem que ser logicamente válido. O problema é que a teologia católica se desenvolve da mesma maneira que um argumento ficcional seminal se desenvolve ao longo do tempo. Veja-se a evolução literária da lenda de Fausto ou da lenda Arturiana, ou a evolução cinematográfica do Batman, do Super-homem, os mitos de vampiros ou as permutações do cânon de Star Trek. Como a ficção não está sujeita a restrições factuais, ela pode mudar. O único limite é a consistência e a imaginação do argumentista.

Mas os eventos históricos não podem mudar. Eles são o que foram. Estão congelados no tempo.

A teologia católica sofre o tipo de embelezamento lendário que é característico da ficção. Um desenvolvimento descontrolado, porque a realidade não impõe nenhum limite sobre para onde pode ir.

31 de março de 2021

O tempo é uma propriedade apenas do universo material?

 

Eu defendo uma teoria absoluta do tempo, em que o tempo pode existir sem existir qualquer mudança na realidadeO tempo é a dimensão da mudança possível. O tempo existe se, e somente se, existir uma substância duradoura que possa mudar. Se o Universo deixasse de existir o tempo não desapareceria, uma vez que ainda existiria uma realidade última necessária - Deus. E Deus não é fortemente imutável como dizem alguns teístas clássicos, mas fracamente imutável. Deus é imutável no sentido de que a sua natureza divina essencial não pode mudar, mas Ele pode sofrer mudanças intrínsecas e extrínsecas não essenciais, como se tornar O Criador, Redentor, e Senhor da humanidade.

Igualmente, estados mentais sucessivos envolvem sucessão temporal e, a menos que se seja fisicalista, isso significa que o tempo é separável da matéria.

Mentes imateriais como anjos, demónios, almas imortais, não têm espaço (ainda que possam ter espaço simulado como os sonhos), mas são temporais, pois experimentam estados mentais sucessivos.

Deus também pode experimentar uma sequência de eventos mentais, por isso é temporal, mas é mais do que simplesmente temporal, é a própria fonte do tempo. O tempo só deixaria de existir se Deus deixasse de existir. Uma vez que Deus existe necessariamente e pode sofrer mudanças, o tempo existe necessariamente. O tempo existe porque existe um Deus pessoal. É um concomitante necessário do seu Ser.

Portanto, o tempo é um atributo divino não criado que é exemplificado no universo material e imaterial (mentes). E o tempo como grandeza física é apenas uma métrica deste tempo metafísico absoluto. É a medição da duração dos intervalos temporais entre eventos anteriores e posteriores uns aos outros.

A temporalidade divina significa que Deus perderá momentos da sua vida à medida que eles deslizam para o passado inexistente, e Deus deve esperar que os momentos futuros antecipados (por Ele) se tornem presentes antes que Ele possa vivenciá-los.

28 de março de 2021

Mal natural e naturalismo

 

A noção de mal natural é um conceito teleológico. Por exemplo, dizer que a cegueira é um mal natural é um julgamento teleológico. Mas a evolução naturalista rejeita objetivos finais. Se não há telos, não há disteleologia. A cegueira só é um mal natural se os olhos foram projetados para ver. Mas a evolução naturalista é um processo não-dirigido, em vez de um processo orientado para um objetivo. Os olhos não têm nenhum propósito na evolução naturalista.

Se a evolução naturalista for verdadeira, então não é possível que uma parte do corpo funcione mal, pois os olhos não foram feitos para ver, os ouvidos não foram feitos para ouvir, os corações não foram feitos para bombear sangue, etc.

Como pode então o mal natural contar contra a existência de Deus, se a sua existência só é possível num mundo com Deus? A alternativa é um mundo sem teleologia. Antes que o mal possa contar contra a existência de Deus, ele deve contar como mal.

27 de março de 2021

Multiverso das lacunas

 

[Paul Davies] Então esse é o fim da história? O multiverso pode fornecer uma explicação completa e fechada de toda a existência física? Não exatamente. O multiverso vem com muita bagagem, tal como um espaço e tempo abrangente para hospedar todas essas explosões (big bangs), um mecanismo gerador de universos para acioná-los, campos físicos para povoar os universos com coisas materiais e uma seleção de forças para fazer as coisas acontecerem. Os cosmologistas adotam esses recursos imaginando "meta-leis" gerais que permeiam o multiverso e geram leis específicas numa base universo a universo. As próprias meta-leis permanecem inexplicadas - entidades transcendentes eternas e imutáveis que simplesmente existem e devem ser simplesmente aceites como dadas. Nesse aspecto, as meta-leis têm um status semelhante a um deus transcendente inexplicável.

https://www.thehindu.com/sci-tech/Stephen-Hawkingrsquos-big-bang-gaps/article15902960.ece

25 de março de 2021

O ateísmo é uma crença injustificada à luz da ciência


"Seja como for, se o naturalismo do universo único é quase de certeza falso, a seguinte disjunção muito provavelmente é verdadeira: o nosso universo é apenas um entre muitos, havendo um enorme predomínio de universos incompatíveis com a existência de vida, ou o nosso universo foi afinado minuciosamente por (pelo menos) um agente de modo a que existisse vida consciente e racional. Também parece ser razoável concluir que qualquer uma das hipóteses disjuntas tem uma probabilidade significativa de ser verdadeira. Daí não se segue que o teísmo ----- no sentido estrito do termo, que adoptei ao longo desta discussão ----- tenha uma probabilidade significativa ser verdadeiro. Pois talvez encontremos razões muito consideráveis para crer que, havendo um afinador, muito provavelmente ele não reunirá as características de Deus. Mas podemos usar o termo «teísmo» num sentido mais amplo, considerando teísta todo aquele que acredite em algum afinador, isto é, em pelo menos um agente que tenha «desenhado» a estrutura básica do universo. Ser ateu por referência ao teísmo assim entendido, atribuir uma probabilidade muito baixa ou nula à existência de um afinador, não é razoável. No mínimo, atendendo devidamente à evidência da afinação, é preciso ser agnóstico".

http://pedrogalvao.weebly.com/uploads/6/6/5/5/6655805/deus.pdf 

Portanto, segundo este filósofo secular, a crença no ateísmo não é justificada à luz do conhecimento científico atual. A conclusão do trabalho é que há duas hipóteses razoáveis porque, argumenta-se, a probabilidade de existir um Afinador é sensivelmente igual à da existência de multiversos. 

É claro que apenas argumentos científicos, como o argumento da "Afinação Minuciosa", não chegam para justificar a crença no teísmo bíblico, mas chegam para eliminar o ateísmo. O teísmo bíblico é justificado pelo efeito cumulativo de vários tipos de evidências.

19 de março de 2021

O DILEMA DA AUTORIDADE


Há católicos que adoram, amam a autoridade eclesiástica... até se encontrarem do lado errado do bastão da autoridade que professam amar. Invetivam os evangélicos com perguntas estereotipadas como: "Qual é a tua autoridade para essa interpretação? Ou "Qual é a tua autoridade para o cânon?" (Não há nada de errado em perguntar como os protestantes justificam o cânon ou a sua teologia, mas colocar a questão em termos de autoridade eclesiástica é só uma petição de princípio).

Enquanto a autoridade eclesiástica está do lado deles, só têm a falar muito bem da autoridade do papa ou da autoridade "da Igreja". Quando, no entanto, o chão debaixo dos seus pés desaparece e se encontram do lado perdedor da autoridade eclesiástica, a sua paixão pela autoridade papal ou pelo Magistério esfria a temperaturas próximas do zero absoluto.

Assistir tradicionalistas e católicos progressistas a digladiarem-se é como assistir a uma luta entre fundamentalistas mórmons polígamos e mórmons convencionais. Dentro do paradigma Mórmon, ambos os lados estão certos e ambos os lados estão errados. Fora do paradigma mórmon, ambos os lados estão completamente errados.

Com uma hipérbole perdoável, podemos dizer que, para os tradicionalistas, a tradição termina com Pio X, mas para os católicos progressistas, a tradição começa com Pio XII. Os tradicionalistas têm o passado enquanto os seus adversários têm o futuro. Mas a equipa com o futuro garantido é imbatível. Os líderes vivos têm uma vantagem decisiva sobre os líderes mortos. Os vivos podem dominar os mortos, ao passo que os mortos estão mal posicionados para dominar os vivos.

É especialmente irónico ver convertidos a Roma tentar educar católicos e até mesmo bispos, cardeais e papas no verdadeiro catolicismo. São como alguém que compra uma casa nova e depois descobre que comprou um monte de problemas. Ela está a cair aos pedaços. O telhado precisa de ser substituído. O encanamento precisa de ser substituído. A instalação elétrica precisa de ser substituída. A casa está infestada de ratos e térmitas.

14 de março de 2021

Sem alma imaterial não há arbítrio (e muito menos livre-arbítrio)

 

É bizarro ver defender ao mesmo tempo uma conceção materialista do homem e que o homem tem livre-arbítrio. Se o homem é só matéria, então a consciência é apenas um subproduto do cérebro. A sensação de que fazemos escolhas é uma ilusão. Na realidade não temos nenhuma capacidade de arbítrio. As escolhas são determinadas fisicamente (por neurónios, estados cerebrais, etc.), que na melhor das hipóteses é uma determinação probabilística.

Alma imaterial é sinónimo de mente/consciência que, quando incorporada, está causalmente relacionada com o cérebro, mas não é reduzível a ele. Existem eventos mentais determinados pelo cérebro (causação física) e existem eventos mentais determinados mentalmente (causação mental). O arbítrio é um destes eventos de causação mental.

8 de março de 2021

Dado o teísmo bíblico, o livre-arbítrio é uma impossibilidade ontológica

 

Há quem ainda não tenha entendido o que é livre-arbítrio e confunda livre-arbítrio com arbítrio ou quem use inadequadamente o termo como sinónimo de livre-agência (ausência de coação externa). Não negamos que os seres humanos tenham arbítrio e livre-agência.

O que negamos é o conceito de livre-arbítrio que pressupõe ou implica neutralidade moral do ser que o possui.

Sempre que confrontado com uma decisão moral, o ser com livre-arbítrio pode escolher ser bom ou mau moralmente. Por isso ele é por natureza moralmente neutro. Não é ontologicamente nem bom nem mau. Pode ser totalmente bom, pode ser totalmente mau, ou pode ser um misto de bom e mau. [1]

Mas na Bíblia não há seres moralmente neutros, isto é, não há seres com livre-arbítrio. Os seres ou são totalmente bons (Deus e os seus anjos bons), ou são totalmente maus (o diabo e os espíritos malignos), ou são inclinados para o mal (o ser humano).

Confrontado com uma decisão moral, Deus, escolhe sempre ser bom moralmente, é impossível que escolha ser mau. Por isso é chamado de Bom Deus.

Confrontado com uma decisão moral, o diabo e seus anjos, escolhe sempre ser mau moralmente, é impossível que escolha ser bom. Por isso é chamado de Maligno.

Confrontado com uma decisão moral, o ser humano, escolhe tendencialmente ser mau moralmente, é impossível que escolha ser sempre bom. Por isso é chamado depravado ou pecador. O “pecado original” refere-se a esta natureza malvada/pecaminosa do ser humano.

O arbítrio não é livre, está limitado pela natureza dos seres. É impossível que façam escolhas contra a sua própria natureza.

Já para não falar que a presciência divina é incompatível com livre-arbítrio. Só se pode prever o que está predeterminado. Um mundo com livre-arbítrio seria totalmente imprevisível e incontrolável. Por exemplo, podia ser impossível para Deus cumprir profecias.

Por conseguinte, uma cosmovisão que inclui o livre-arbítrio choca de frente com o teísmo bíblico. São duas cosmovisões totalmente incompatíveis.

 

[1] Numa população de seres com livre-arbítrio seria de esperar estatisticamente 1/3 de seres totalmente bons, 1/3 de seres totalmente maus e 1/3 de seres mistos.

6 de março de 2021

Quem quer livre-arbítrio?

Se o mal moral é consequência dos homens terem livre-arbítrio, então que se dane o livre-arbítrio! O que é melhor: ter livre-arbítrio ou fazer apenas escolhas moralmente certas e boas? Eu não me importava de não ter livre-arbítrio e fazer apenas escolhas moralmente certas. Aliás, se tenho livre-arbítrio não sei por que não faço. :-)

5 de março de 2021

A culpa é da lei natural e do livre-arbítrio?

 

Há uma forma ingénua de resolver o problema do mal que é atribuir à «lei natural» e ao «livre-arbítrio» a culpa pela existência do mal no mundo e Deus não tem nada a ver com isso. Mas isto resolve alguma coisa? Não, pelo contrário, apenas retrata Deus como causador de mal gratuito.

Imaginemos que acontece um mal natural como um tsunami ou uma peste e Deus não faz nada para impedir, limita-se a assistir ao curso dos acontecimentos causados pela lei natural. Isto automaticamente imputaria a Deus a causa destes acontecimentos, porque se alguém pode impedir um mal e não o impede causa esse mal. Por exemplo, se alguém tem uma planta em casa e não impede que ela morra por falta de água causa a morte da planta, mesmo que apenas deixe seguir o curso natural dos acontecimentos.

Agora imaginemos que alguém na rua fazendo uso do seu livre-arbítrio desata aos tiros contra pessoas inocentes. Deus apanhado de surpresa mesmo assim podia impedir as pessoas de serem atingidas, travando as balas ou em último caso matando o atirador em ato de legítima defesa. Não o fazendo causa esse mal. O atirador seria o autor do mal mas Deus o causaria porque podia tê-lo impedido e não impediu.

Segue-se que, Deus limitando-se a assistir à ação da «lei natural» e ao «livre-arbítrio» dos homens é o causador do mal no mundo, mas sem nenhum propósito, nenhuma razão justificável para permitir o mal, causa apenas mal gratuito do qual não resulta nenhum bem superior.

A presciência do mal por parte de Deus e a sua atualização implica preordenação do mal e se Deus preordena o mal é porque tem uma razão para isso, a obtenção de um bem maior. Por exemplo, Deus não permitiu que Adão pecasse gratuitamente, ele preordenou o pecado de Adão para um bem maior.

4 de março de 2021

Deus é o autor do mal?

A menos que alguém considere que William Shakespeare é o autor da morte de Romeu e Julieta e que não são eles os autores da sua morte, então igualmente Deus como o autor do "romance" da História é o autor do mal. Mas considerar uma coisa dessas é absurdo.

A alternativa seria não haver “romance”. 

Deus usa os seus autores/atores, que podem ser agentes pessoais ou impessoais, para cumprir os seus desígnios soberanos. 

A exceção é quando o próprio Deus entra diretamente na História, mas qualquer "mal" que Deus faça nesta condição de autor/ator é sempre moralmente justificado em vista de um bem maior.


26 de fevereiro de 2021

Análise do Credo Niceno

 

É frequente ouvir cristãos fazerem das antigas declarações de fé como o Credo Niceno a sua referência. Se algo não está no Credo Niceno ou no Credo dos Apóstolos, então é secundário e opcional.

Mas Deus não nos mandou fazer desses credos a referência. Os credos podem funcionar como resumos de doutrina úteis e necessários, mas Deus nos ordena que creiamos na sua Palavra (a Bíblia). Ela é o padrão de referência primário. Os credos não substituem a fé na Escritura. Ela é o padrão pelo qual devemos viver.

Analisemos o Credo Niceno:

Cremos em um só Deus,

Pai Todo-poderoso,

i) A tradução portuguesa tem uma vírgula depois de "um só Deus," o que pode sugerir que “um só Deus” inclui o Pai, Filho, e Espírito Santo. Mas, que eu saiba, o texto grego não tem essa pontuação.

ii) Estas parecem ser cláusulas paralelas:

Cremos em um só Deus, Pai  

Cremos em um só Senhor Jesus Cristo

Se assim for, isso sugere que o Credo Niceno apenas afirma o Pai como o único Deus - não o Pai, Filho e Espírito inclusivamente. Nesse caso, é uma formulação muito defeituosa. [1]

Criador do céu e da terra,

i) Na Escritura, a criação do mundo não é exclusiva do Pai. Na verdade, o NT normalmente atribui essa ação ao Filho.

De facto, o Credo prossegue dizendo que "todas as coisas foram feitas por meio" do Filho.

Mas nesse caso, falha em destacar algum ato ou atributo particular que distingue o Pai do Filho.

ii) O Credo é deficiente a esse respeito porque a teologia patrística era subdesenvolvida. Por exemplo, um calvinista diria que a obra do Pai inclui eleição e justificação, bem como a ressurreição de Jesus dos mortos. Na economia da salvação, isso é distintivo do Pai.

de todas as coisas visíveis e invisíveis.

Em rigor, não diria que tudo o que é invisível foi criado. Os números não foram criados. Mundos possíveis não foram criados. As leis da lógica não foram criadas. São coisas inerentes à mente e à natureza de Deus.

Cremos em um só Senhor Jesus Cristo,

o único Filho de Deus,

nascido do Pai antes de todos os séculos,

Deus de Deus, luz de luz,

verdadeiro Deus de verdadeiro Deus;

gerado, não criado,

Uma cristologia que diz que o Filho deriva sua existência do Pai está mais perto do arianismo do que uma cristologia que afirma a asseidade do Filho. Eu não afirmo a geração eterna do Filho, mas sim a filiação eterna do Filho. Deus não é derivativo.

de igual substância do Pai;

Essa é a melhor parte do Credo. Infelizmente, falha em estender esse princípio ao Espírito. Nunca diz que o Espírito é consubstancial ao Pai. Essa é uma omissão grave.

por Ele todas as coisas foram feitas.

Por nós, homens, e por nossa salvação, Ele desceu do céu e se fez carne, pelo Espírito Santo, da virgem Maria, e se tornou homem.

Também por nós, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado.

Ressurgiu no terceiro dia, conforme as Escrituras.

Subiu ao céu, está sentado à direita do Pai e de novo há de vir, com glória, para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim.

Tudo bem.

Cremos no Espírito Santo, Senhor e Vivificador,

i) Isso é bastante superficial. Falha ao não mencionar a obra do Espírito na regeneração e santificação. Mais uma vez, essa deficiência reflete o estado subdesenvolvido da teologia patrística.

que procede do Pai e do Filho.

Da mesma forma, não afirmo a processão eterna do Espírito. O Espírito Santo não é uma criatura eterna do Pai e do Filho (ou só do Pai como professam os ortodoxos orientais). O Espírito Santo procede de si mesmo. Deus não é derivativo.

com o Pai e o Filho é adorado e glorificado;

que falou através dos profetas.

Certo.

Cremos em uma santa Igreja católica e apostólica.

i) Não é redundante dizer que a igreja é "uma" e "universal"? Por definição, só pode haver uma igreja universal.

ii) Os outros pontos são um tanto arbitrários. Sim, a igreja é "apostólica", mas por que não dizer que a igreja é "profética, apostólica e dominical" (Ef. 2:20)?

Da mesma forma, a igreja é "espiritual". Uma comunhão do Espírito Santo

Confessamos um só batismo para remissão dos pecados.

Não confesso que o batismo confere a remissão dos pecados, se é isso que significa.

Esperamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro.

Certo.

Em suma, o Credo Niceno é muito irregular. Acerta várias coisas, erra em algumas coisas, e é defeituoso em algumas das suas formulações.

Notas

[1Em 1 Coríntios 8:6 Paulo diz “todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele”.

Mas aqui Paulo não chama apenas o Pai de o “único Deus”.

i) Uma vez que Paulo escreve em grego, ele usa sinónimos gregos para palavras hebraicas. E nós estamos a usar palavras em português. Mas se “retro-traduzíssemos” a afirmação de Paulo à luz do texto que está por detrás, isso capturaria a verdadeira força do uso das palavras:

Ouve, ó Israel: Yahweh (o Senhor) é nosso Elohim (Deus), Yahweh (o Senhor) é único (Dt 6:4).

todavia, para nós há um só Elohim, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só Yahweh, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele (1 Cor 8:6).

ii) Elohim não denota necessariamente a única Deidade verdadeira. Mas em Deuteronómio 6:4, a única Deidade verdadeira é o referente pretendido. E Yahweh é uma designação distintiva para a única Deidade verdadeira no uso do AT. Portanto, esse é na verdade o termo mais forte.

Usando o Shemá como sua estrutura, Paulo atribui Elohim ao Pai e Yahweh ao Filho:

O Pai é o único Elohim

enquanto

O Filho é o único Yahweh

Isso é o que Paulo está a dizer. Ele pega na confissão resumida do monoteísmo do AT e distribui os dois títulos divinos ao Pai e ao Filho, respetivamente.

9 de janeiro de 2021

NÃO VOS TORNEIS ESCRAVOS DE HOMENS


«Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens.» (1 Coríntios 7:23)

A Igreja é não-denominacional e não-sectária.

Cada igreja local é absolutamente autónoma, livre, e soberana e ainda que tenha comunhão e relações de colaboração com outras comunidades, reconhece apenas um "chefe" e esse chefe é Cristo.

Os condutores da comunidade, pastores e anciãos, diáconos e diaconisas, são eleitos pela igreja local para a igreja local, sem nenhum envolvimento de entidades externas.

Nenhum "corpo" pode ter pretensões de superioridade sobre os outros membros e nenhuma "autoridade" tem o direito de exercer "poder" sobre as comunidades.

Estai firmes na liberdade. (Gálatas 5:1)

2 de janeiro de 2021

O mal como necessário para a manifestação da Glória de Deus

 

O terceiro método para lidar com esta questão é ficar satisfeito com os pronunciamentos simples da Bíblia. A Escritura ensina, 1. Que a glória de Deus é o fim ao qual a promoção da sacralidade, e a produção da felicidade, e todos os outros fins estão subordinados. 2. Que, como tal, a automanifestação de Deus, a revelação da sua infinita perfeição, sendo a mais elevada concebível, ou bem possível, é o fim último de todas as suas obras na criação, providência e redenção. 3. Como criaturas sencientes são necessárias para a manifestação da benevolência de Deus, não poderia haver qualquer manifestação da sua misericórdia sem miséria, ou da sua graça e justiça, se não houvesse pecado. Do mesmo modo que os céus declaram a glória de Deus, também Ele engenhou um plano de redenção, “Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef. 3:10). O conhecimento de Deus é a vida eterna. É para as criaturas o bem mais elevado. E a promoção desse conhecimento, a manifestação multiforme das perfeições do Deus infinito, é o fim mais nobre de todas as suas obras. Isto é declarado pelo apóstolo ser o fim contemplado, tanto no castigo dos pecadores como na salvação dos crentes. É um fim ao qual, diz ele, nenhum homem pode objetar. “E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou” (Rom. 9:22-23). O pecado, como tal, segundo a Escritura, é permitido, para que a justiça de Deus possa ser conhecida no seu castigo, e a sua graça no seu perdão. E o universo, sem o conhecimento destes atributos, seria como a terra sem a luz do sol.

A glória de Deus sendo o fim maior de todas as coisas, não estamos obrigados a assumir que este é o melhor mundo possível para a produção da felicidade, ou até mesmo para assegurar o maior nível de piedade entre criaturas racionais. Este mundo está sabiamente adaptado ao fim para que foi desenhado, nomeadamente, a manifestação das multiformes perfeições de Deus. Que Deus, ao se revelar, promove o bem maior das suas criaturas, de forma consistente com a promoção da sua própria glória, pode ser admitido. Mas inverter esta ordem, fazendo do bem da criatura o fim mais elevado, é perverter e subverter todo o sistema; é pôr os meios no lugar do fim, subordinar Deus ao universo, o Infinito ao finito. Isto de pôr a criatura no lugar do Criador, perturba os nossos sentimentos e convicções morais e religiosas, assim como a nossa compreensão intelectual de Deus, e da sua relação com o universo.

Os teólogos mais antigos quase unanimemente fazem da glória de Deus a epítome, e o bem da criatura o fim subordinado de todas as coisas. Twesten, de facto, diz que não faz qualquer diferença se dizemos que Deus apresenta a sua glória como fim último, e, para esse propósito, determinou-se a produzir o mais alto grau de bem; ou se dizemos que Ele planeou o bem maior das suas criaturas, da qual a manifestação da sua glória flui por consequência. Contudo, faz toda a diferença do mundo, se o Criador está subordinado à criatura, ou a criatura ao Criador; se o fim é os meios, ou os meios o fim. Há uma grande diferença entre ser a terra ou o sol o centro do nosso sistema solar. Se fazemos da terra o centro, a nossa astronomia ficará numa confusão. E se fizermos da criatura, e não Deus, o fim de todas as coisas, a nossa teologia e religião ficarão do mesmo modo deturpadas. Pode ser, em conclusão, seguramente afirmado que um universo construído para o propósito de fazer Deus conhecido, é muito melhor que um universo desenhado para a produção de felicidade.

Teologia Sistemática Vol. I, 1872, Charles Hodge, “A Existência do Mal”.

https://sensocomumempt.home.blog/2019/08/02/teologia-sistematica-vol-i-1872-charles-hodge-a-existencia-do-mal/

21 de novembro de 2020

Argumentos populares a favor de Deus


Por popular, quero dizer argumentos ou evidências mais acessíveis a não especialistas. Mas isso não significa que sejam inferiores às provas teístas filosóficas/científicas.

1. Argumento da experiência religiosa

Existem exemplos específicos. Por exemplo:

i) Argumento da oração respondida (ou providência especial):

Isso é algo que muitos cristãos experimentam em primeira mão. É claro que é importante distinguir entre coincidência e intercessão divina. Muitos exemplos de oração respondida (ou providência especial) podem ser classificados como milagres de coincidência. Embora possam ser o resultado final de uma cadeia natural de eventos, o resultado é demasiado distintivo, oportuno, pontual e improvável para ser uma questão de sorte.

ii) Argumento dos milagres

Exceto para a Ressurreição, o argumento dos milagres é negligenciado na apologética moderna. Embora filósofos cristãos dediquem grande atenção ao assunto dos milagres, eles normalmente defendem o conceito, a possibilidade e a credibilidade dos milagres, em vez de apresentar evidências de milagres reais.

Defesas filosóficas: 

John Earman, Hume’s Abject Failure: The Argument Against Miracles (Oxford, 2000)

D. Geivett & G. Habermas, eds., In Defense of Miracles: A Comprehensive Case for God's Action in History (IVP, 1997)

Joseph Houston, Reported Miracles: A Critique of Hume (Cambridge, 1994)

Peter vanInwagen: http://andrewmbailey.com/pvi/Of_Of_Miracles.pdf

Estudos de casos:

Craig Keener, Miracles: The Credibility of the New Testament Accounts, 2 vols. (Baker, 2011)

Rex Gardner, Healing Miracles: A Doctor Investigates (Darton, Longman & Todd Ltd, 1986)

2. Argumento da profecia

T. D. Alexander, The Servant King: The Bible's Portrait of the Messiah (Regent College Publishing, 2003)

Herbert Bateman et al. Jesus the Messiah: Tracing the Promises, Expectations, and Coming of Israel's King(Kregel, 2012)

J. Alec Motyer, Look to the Rock: An Old Testament Background to Our Understanding of Christ (Kregel Academic & Professional; 1st ed., 2004)

O. Palmer Robertson, The Christ of the Prophets (P & R Publishing, 2008)

Michael Rydelnik’s The Messianic Hope: Is the Hebrew Bible Really Messianic? (B& H 2010)

John H. Sailhamer, The Meaning of the Pentateuch: Revelation, Composition and Interpretation (IVP, 2009)

3. Argumento moral 

https://plato.stanford.edu/entries/moral-arguments-god/

https://appearedtoblogly.files.wordpress.com/2011/05/linville-mark-22the-moral-argument22.pdf

4. Argumento existencial

Levanta a questão de saber se o ateísmo implica niilismo moral e/ou existencial. Por exemplo:

https://www.reasonablefaith.org/writings/popular-writings/existence-nature-of-god/the-absurdity-of-life-without-god/

5. A Bíblia

Se a Bíblia for aproximadamente verdadeira, então isso não apenas prova o mero teísmo, como também o teísmo cristão. Existem muitos livros que expõem a confiabilidade histórica geral das Escrituras, bem como do Jesus histórico em particular.

Paul Barnett, Finding the Historical Jesus (Eerdmans, 2009)

Richard Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses (Eerdmans, 2nd ed., 2017) 

Daniel Block, et al. eds. Israel: Ancient Kingdom or Late Invention? (B&H Academic, 2008)

Craig Blomberg, The Historical Reliability of the New Testament (B&H Academic, 2016)

C. John Collins, Reading Genesis Well (Zondervan 2018)

I. Provan, et al. A Biblical History of Israel (WJK, 2nd ed., 2015)

Peter Williams, Can We Trust the Gospels? (Crossway 2018)

James Hoffmeier. The Archaeology of the Bible (Lion Hudson, 2008)

James Hoffmeier, Israel in Egypt: Evidence for the Authenticity of the Exodus Tradition (Oxford, 1997)

James Hoffmeier, Ancient Israel in Sinai: The Evidence for the Authenticity of the Wilderness Tradition (Oxford, 2005)

D. A. Carson, ed. The Enduring Authority of the Christian Scriptures (Eerdmans, 2016)

S. Cowan & T. Wilder. In Defense of the Bible: A Comprehensive Apologetic for the Authority of Scripture (B&H, 2013)

D. Bock & R. Webb, eds., Key Events in the Life of the Historical Jesus: A Collaborative Exploration of Context and Coherence (Eerdmans, 2010). 

Paul Rhodes Eddy & Gregory Boyd, The Jesus Legend: A Case for the Historical Reliability of the Synoptic Jesus Tradition (Baker, 2007)

Colin Hemer, The Book of Acts in the Setting of Hellenistic History (Eisenbrauns, 1990)

Craig A. Evans, Jesus and His World: The Archeological Evidence (WJK, 2012)

R. Hess, et al. eds. Critical Issues in Early Israelite History (Eisenbrauns, 2008)

James Hoffmeier & Dennis MaGary, eds., Do Historical Matters Matter to Faith? (Crossway, 2012)

Kenneth Kitchen, On the Reliability of the Old Testament (Eerdmans 2003)

Alan Millard et al. eds. Faith, Tradition, and History: Old Testament Historiography in Its Near Eastern Context(Eisenbrauns, 1994)

Stanley Porter, John, His Gospel, and Jesus (Eerdmans, 2016)

Vern Poythress, Inerrancy and the Gospels (Crossway 2012)

Andrew Steinmann. From Abraham to Paul: A Biblical Chronology (Concordia, 2011)

Bruce. W. Winter, The Book of Acts in Its First Century Setting, vols. 1-4 (Eerdmans)

18 de novembro de 2020

Evidência de Deus e o deus das lacunas


I. É importante ter expectativas razoáveis ​​quanto à evidência de Deus. Se o Deus do teísmo clássico existe, então ele não é diretamente detetável. Deus não é um objeto empírico. Deus é impercetível para os cinco sentidos. A evidência pública de Deus envolve inferir a existência de Deus dos seus efeitos e/ou do seu poder explicativo.

Este não é um conceito incomum. Por exemplo, o passado não é detetável diretamente. No presente, o passado é impercetível para os cinco sentidos. Em alguns casos, temos registos de áudio e visuais do passado. Na maioria dos outros casos, inferimos o passado a partir de evidências residuais. Inferimos o passado a partir do efeito residual do passado sobre o presente. Da mesma forma, podemos inferir objetos abstratos (por exemplo, números, mundos possíveis) com base no seu valor explicativo indispensável. Portanto, os tipos de evidência de Deus não são exclusivos do teísmo clássico. Existem temas análogos em que recorremos aos mesmos tipos de evidência.

Para dar um exemplo específico, interpretar uma cena de crime é um exercício de reconstrução histórica. Um detetive de homicídios pode ter que determinar a causa da morte. Foram causas naturais? Foi acidental? Ou foi assassinato? Um assassino inteligente tentará ocultar a verdadeira causa. Um detetive de homicídios deve estar alerta a pistas subtis de agência inteligente.

É claro que Deus pode tornar a sua existência mais explícita por meio de uma voz audível ou milagres. Na verdade, muitas pessoas dizem que testemunharam isso. Mas isso não é uma experiência universal.

II. Os argumentos científicos a favor de Deus são geralmente atacados como argumentos da ignorância. Defende-se que devemos operar presumindo o naturalismo, porque o naturalismo metodológico tem um grande histórico no preenchimento de lacunas.

Há, no entanto, vários problemas com esta objeção:

i) Ela substitui o deus das lacunas pelo naturalismo das lacunas.

ii) Ela deturpa a teologia cristã. Deus não causa diretamente todos os eventos - ou mesmo a maioria dos eventos. Antes, há uma doutrina da providência geral, onde os eventos naturais são normalmente o resultado de causas físicas. Portanto, o facto da ciência descobrir mecanismos naturais não preenche lacunas que eram anteriormente a instância do «fiat» imediato de Deus. A religião popular pode ser culpada disso, mas não a teologia cristã.

iii) Além disso, a objeção às vezes assume o que é preciso demonstrar. Por exemplo, um ateu dirá que as pessoas costumavam atribuir a doença mental à possessão demoníaca, mas agora sabemos que a doença mental tem causas naturais.

No entanto, afirmar que a possessão demoníaca é inerentemente supersticioso e não científico não apenas é uma petição de princípio como ignora as evidências em contrário. Por exemplo:

http://www.craigkeener.com/exorcism-stories/

https://www.washingtonpost.com/posteverything/wp/2016/07/01/as-a-psychiatrist-i-diagnose-mental-illness-and-sometimes-demonic-possession/

M. Scott Peck, Glimpses of the Devil A Psychiatrist's Personal Accounts of Possession, Exorcism, and Redemption (Free Press, 2009)

iv) Argumentos de design são argumentos do conhecimento. Indicações de agência racional. Para fazer uma comparação, um detetive pode ter que determinar se uma morte foi acidental ou um homicídio. Um assassino inteligente encenará um assassinato para fazer parecer uma morte acidental ou morte por causas naturais. No entanto, pode haver indicações subtis de que foi assassinato. Imagine-se um ateu objetando com o fundamento de que devemos sempre ser pacientes e assumir que a morte foi acidental ou devido a causas naturais. Mesmo que não possamos explicar dessa forma, devemos esperar até desenvolver uma teoria para fazê-lo. Invocar um agente pessoal (assassino) é homicídio das lacunas.

v) Algumas questões, como o difícil problema da consciência, defensavelmente pertencem a um domínio diferente do fisicalismo. Argumentos para a irredutibilidade da consciência são metafísicos em vez de científicos.

28 de outubro de 2020

A quadratura do círculo do sistema "Bíblia, Tradição e Magistério"


Assumindo os pressupostos romanistas, não é possível a uma pessoa chegar à conclusão que a Igreja católica romana é a verdadeira Igreja de Cristo sem primeiro contradizer esses mesmos pressupostos. 

Como pode, na verdade, uma pessoa chegar a tal conclusão, sem primeiro reconhecer autoridade à Bíblia e interpretá-la por si mesmo? Como é que ela estabelece o magistério da Igreja romana como autêntico, se não pode fazer livre exame das fontes da revelação - Bíblia e Tradição?

O sistema "Bíblia, Tradição e Magistério" é autoderrotante, já que o magistério ao estabelecer-se como única entidade capaz de reconhecer e interpretar autenticamente o cânon bíblico e a tradição, tira a si mesmo a possibilidade de ser justificado de forma independente. Só se pode assumir que a Igreja católica romana é a verdadeira Igreja de Cristo porque ela diz que é, caindo-se assim num raciocínio circular, não se pode chegar a essa conclusão por meios próprios justificantes.

1 de abril de 2020

O que Deus está a fazer através da pandemia


Está a fazer morrer os pecadores que Ele quer fazer morrer, como também os justos que Ele quer fazer morrer; por isso está fazer descer ao inferno estes pecadores, e a salvar no seu reino celeste estes justos.

Está a livrar da morte os pecadores que Ele quer, como também os justos que Ele quer.

Está a dar aos ímpios a sua retribuição como também está a dar aos justos a sua retribuição!

Está a enriquecer alguns, e a empobrecer outros.

Está a acorrentar o ímpio, e está a libertar o aflito pela aflição.

Está a endurecer os corações de muitos para que não se convertam, e a abrir o coração dos que estão ordenados à vida eterna para que prestem atenção à Palavra de Deus.

Está a dirigir os corações das autoridades na direção que Ele quer, para que executem os Seus desígnios que são firmes e seguros.

Está a frustrar os desígnios dos astutos, para fazer subsistir o Seu plano.

Está a apanhar os sábios na sua astúcia, demonstrando que não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho que valha contra Deus.

Está a envergonhar os incrédulos e os cobardes, e a honrar os que creem nas Suas promessas e são corajosos.

Está a humilhar os soberbos, e a exaltar os humildes.

Está a criar necessidades no meio do Seu povo, para que se pratiquem as boas obras para a glória do Seu nome.

Está a mostrar a diferença que há entre aqueles que servem o seu ventre, e aqueles que servem o Senhor Jesus Cristo.

Está mostrar a diferença que há entre o ingénuo que acredita em tudo o que se diz, e o prudente que cuida dos seus passos.

Está a fazer muitos crentes entenderem que o local de culto não é a Igreja nem a Casa de Deus.

Está a fazer muitos crentes redescobrir ou descobrir a alegria, a paz e a bênção que há em reunirem-se nas casas para oferecer o culto a Deus como faziam os antigos discípulos.

Está a fazer muitos crentes entender que aqueles que pensavam que eram pastores, na realidade são servos de Mamon, que pensam só e exclusivamente em dinheiro. 

Está a levar muitos crentes a examinar as Escrituras e está a converter os seus corações.

Eis algumas das muitíssimas coisas que está a fazer o nosso Deus.

15 de março de 2020

O conselho pastoral de Martinho Lutero durante a Peste Negra


“Pedirei a Deus para, misericordiosamente, proteger-nos. Então farei vapor, ajudarei a purificar o ar, a administrar remédios e a tomá-los.  Evitarei lugares e pessoas onde minha presença não é necessária para não ficar contaminado e, assim, porventura infligir e poluir outros e, portanto, causar a morte como resultado da minha negligência. Se Deus quiser me levar, ele certamente me encontrará e eu terei feito o que ele esperava de mim e, portanto, não sou responsável pela minha própria morte ou pela morte de outros. Se, no entanto, meu próximo precisar de mim, não evitarei o lugar ou a pessoa, mas irei livremente conforme declarado acima. Veja que essa é uma fé que teme a Deus, porque não é imprudente nem audaciosa e não tenta a Deus”

Martin Luther, Works, v. 43, p. 132. Carta "Se alguém pode fugir de uma praga mortal" escrita ao Rev. Dr. John Hess

11 de dezembro de 2019

Fake News em formato de livro


O branqueamento e a manipulação massiva da História é a forma moderna da Inquisição.

https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1371/781

25 de abril de 2019

Exortações várias


O amor seja sem hipocrisia. Aborrecei o mal, e apegai-vos ao bem. 

Quanto ao amor fraternal, sede cheios de afeição uns pelos outros; quanto à honra, preveni-vos uns aos outros; quanto ao zelo, não sejais preguiçosos; sede fervorosos no espírito, servi o Senhor; sede alegres na esperança, pacientes na aflição, perseverantes na oração; provede às necessidades dos santos, praticai com diligência a hospitalidade. 

Abençoai os que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que estão alegres; chorai com os que choram. Tende entre vós um mesmo sentimento; não ambicioneis coisas altas, mas deixai-vos atrair pelas humildes. 

Não vos estimeis sábios aos vossos próprios olhos. Não retribuais a ninguém mal por mal. Aplicai-vos às coisas que são honestas, perante todos os homens.

Se for possível, pelo que depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus; porque está escrito: A mim pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor. Antes, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo assim, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem. 

(Romanos 12:9-21)

20 de abril de 2019

O castigo que nos traz a paz estava sobre Ele


Quem deu crédito à nossa pregação? E a quem se manifestou o braço do Senhor? Ele veio como renovo perante ele, como raiz que sobe de uma terra seca; não tinha parecer nem formosura; e, olhando nós para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos. Desprezado e abandonado pelos homens, homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. E, no entanto, eram as nossas enfermidades que ele levava, eram as nossas dores que carregava; e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus e humilhado! Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos. Maltratado, se humilhou a si mesmo, e não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Da opressão e do juízo foi tirado; e entre os da sua geração quem refletiu que ele foi arrancado da terra dos vivos e ferido por causa das transgressões do meu povo? E puseram a sua sepultura com os ímpios mas foi com o rico, na sua morte; porquanto nunca fez injustiça, nem houve engano na sua boca. Todavia, ao Senhor agradou o moê-lo com sofrimentos. Depois de dar sua vida em sacrifício pela culpa, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a obra do Senhor prosperará nas suas mãos. Ele verá o fruto do tormento da sua alma e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento, o meu servo, o justo, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si. Pelo que lhe darei a sua parte entre os grandes, e com os poderosos, repartirá ele o despojo; porquanto se deu a si mesmo à morte, e foi contado entre os transgressores, porque levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu. (Isaías 53)

28 de outubro de 2018

Não há autoridade que não proceda de Deus


Está escrito: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação". (Romanos 13:1-2)

Portanto, não importa absolutamente nada se num país existe uma república ou uma monarquia, uma democracia ou uma ditadura, nós somos chamados a sujeitar-nos à autoridade instituída. Obviamente, no caso da autoridade nos ordenar a desobedecer a Deus em alguma coisa, nós somos chamados a desobedecer à autoridade para agradar a Deus. Mas isso nunca nos deve induzir a entrar em lutas sociais ou políticas ou armadas ilegais contra a autoridade instituída por Deus para instaurar uma democracia ou uma monarquia, porque isso significa resistir à ordenação de Deus. Se, portanto, parte da população, fora da lei, começar com lutas sociais ou políticas ou armadas para instaurar ou restaurar algum regime político, os cristãos não devem de modo algum participar nelas, porque essas lutas não fazem parte da vontade de Deus para nós. Somos filhos do Rei dos reis, não revolucionários ou guerrilheiros.

27 de outubro de 2018

A BRUTAL INJUSTIÇA DO ANIQUILACIONISMO E DO UNIVERSALISMO


No aniquilacionismo todos os homens que não forem salvos sofrerão a mesma pena, isto é, a aniquilação eterna, a passagem à não-existência. Não há qualquer tipo de gradação. Todos acabarão da mesma forma.

É como condenar à mesma pena um pilha-galinhas e um violador e assassino de crianças.

O mesmo se aplica ao universalismo, isto é, a teoria que defende que no fim todos os homens serão salvos. Todos também acabarão da mesma forma, independentemente do que fizeram em vida. O universalismo despreza por completo a justiça. 

É como decretar a impunidade geral para todos os homens.