quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Evidência de Deus e o deus das lacunas


I. É importante ter expectativas razoáveis ​​quanto à evidência de Deus. Se o Deus do teísmo clássico existe, então ele não é diretamente detetável. Deus não é um objeto empírico. Deus é impercetível para os cinco sentidos. A evidência pública de Deus envolve inferir a existência de Deus dos seus efeitos e/ou do seu poder explicativo.

Este não é um conceito incomum. Por exemplo, o passado não é detetável diretamente. No presente, o passado é impercetível para os cinco sentidos. Em alguns casos, temos registos de áudio e visuais do passado. Na maioria dos outros casos, inferimos o passado a partir de evidências residuais. Inferimos o passado a partir do efeito residual do passado sobre o presente. Da mesma forma, podemos inferir objetos abstratos (por exemplo, números, mundos possíveis) com base no seu valor explicativo indispensável. Portanto, os tipos de evidência de Deus não são exclusivos do teísmo clássico. Existem temas análogos em que recorremos aos mesmos tipos de evidência.

Para dar um exemplo específico, interpretar uma cena de crime é um exercício de reconstrução histórica. Um detetive de homicídios pode ter que determinar a causa da morte. Foram causas naturais? Foi acidental? Ou foi assassinato? Um assassino inteligente tentará ocultar a verdadeira causa. Um detetive de homicídios deve estar alerta a pistas subtis de agência inteligente.

É claro que Deus pode tornar a sua existência mais explícita por meio de uma voz audível ou milagres. Na verdade, muitas pessoas dizem que testemunharam isso. Mas isso não é uma experiência universal.

II. Os argumentos científicos a favor de Deus são geralmente atacados como argumentos da ignorância. Defende-se que devemos operar presumindo o naturalismo, porque o naturalismo metodológico tem um grande histórico no preenchimento de lacunas.

Há, no entanto, vários problemas com esta objeção:

i) Ela substitui o deus das lacunas pelo naturalismo das lacunas.

ii) Ela deturpa a teologia cristã. Deus não causa diretamente todos os eventos - ou mesmo a maioria dos eventos. Antes, há uma doutrina da providência geral, onde os eventos naturais são normalmente o resultado de causas físicas. Portanto, o facto da ciência descobrir mecanismos naturais não preenche lacunas que eram anteriormente a instância do «fiat» imediato de Deus. A religião popular pode ser culpada disso, mas não a teologia cristã.

iii) Além disso, a objeção às vezes assume o que é preciso demonstrar. Por exemplo, um ateu dirá que as pessoas costumavam atribuir a doença mental à possessão demoníaca, mas agora sabemos que a doença mental tem causas naturais.

No entanto, afirmar que a possessão demoníaca é inerentemente supersticioso e não científico não apenas é uma petição de princípio como ignora as evidências em contrário. Por exemplo:

http://www.craigkeener.com/exorcism-stories/

https://www.washingtonpost.com/posteverything/wp/2016/07/01/as-a-psychiatrist-i-diagnose-mental-illness-and-sometimes-demonic-possession/

M. Scott Peck, Glimpses of the Devil A Psychiatrist's Personal Accounts of Possession, Exorcism, and Redemption (Free Press, 2009)

iv) Argumentos de design são argumentos do conhecimento. Indicações de agência racional. Para fazer uma comparação, um detetive pode ter que determinar se uma morte foi acidental ou um homicídio. Um assassino inteligente encenará um assassinato para fazer parecer uma morte acidental ou morte por causas naturais. No entanto, pode haver indicações subtis de que foi assassinato. Imagine-se um ateu objetando com o fundamento de que devemos sempre ser pacientes e assumir que a morte foi acidental ou devido a causas naturais. Mesmo que não possamos explicar dessa forma, devemos esperar até desenvolver uma teoria para fazê-lo. Invocar um agente pessoal (assassino) é homicídio das lacunas.

v) Algumas questões, como o difícil problema da consciência, defensavelmente pertencem a um domínio diferente do fisicalismo. Argumentos para a irredutibilidade da consciência são metafísicos em vez de científicos.

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