terça-feira, 24 de setembro de 2024

O QUE A ERUDIÇÃO MODERNA DIZ A RESPEITO DAS RAÍZES HISTÓRICAS DO BATISMO INFANTIL?

A erudição moderna é da opinião de que o batismo infantil não foi uma prática dos apóstolos. Esta opinião tem sido seguida por muitos teólogos pedobatistas. O batismo de infantes teria sua origem nos filhos de cristãos que corriam risco de vida.  O estudioso luterano pedobatista H.A.W. Meyer diz:

«O batismo dos filhos de cristãos, do qual nenhum vestígio é encontrado no N.T, não deve ser considerado uma ordenança apostólica, pois, na verdade, encontrou imediata e longa resistência; mas é uma instituição da igreja, que surgiu gradualmente nos tempos pós-apostólicos em conexão ao desenvolvimento da vida eclesiástica e do ensino doutrinário. Certamente não foi observado antes de Tertuliano, e por ele ainda foi decididamente combatido. Embora defendido por Cipriano, só se tornou uma prática generalizada após o tempo de Agostinho...» (Commentary on Acts [16:15], New York: Funk & Wagnalls, 1883, p. 312).

O erudito patrístico David F. Wright é um exemplo dessa tendência da erudição moderna:

«Vimos, nesta exposição principalmente atendendo aos textos do desenvolvimento batismal ocidental, uma mudança verdadeiramente enorme na história da igreja de Cristo. De uma corporação que recrutava por resposta intencional ao imperativo do evangelho para o discipulado e o batismo, tornou-se uma sociedade em que se entrava por inscrição desde o nascimento. Foi indiscutivelmente uma das maiores mudanças na história do cristianismo. Ela levou, como vimos, à formação da cristandade, compreendendo um império cristão, nações ou povos cristãos. O cristianismo tornou-se uma questão de hereditariedade e não de decisão pessoal. As famosas e reveladoras palavras de Tertuliano "fiunt, non nascuntur, Christiani" - "Ninguém nasce cristão, mas torna-se cristão", foram viradas do avesso» (What Has Infant Baptism Done To Baptism? (England: Paternoster Press, 2005), p. 74).

Wright ainda diz sobre os credos ecuménicos:

«O único credo ecuménico a mencionar o batismo é o niceno (nenhum menciona a eucaristia) na frase "um batismo para a remissão dos pecados". Defendi em outro lugar que isso originalmente não podia abranger os bebés, porque nos círculos em que este credo surgiu, para ser aprovado no Concílio de Constantinopla em 381 (se aceitarmos o testemunho dos Padres no Concílio de Calcedónia, setenta anos depois, como a maioria dos eruditos faz), acreditava-se que os bebés recém-nascidos não tinham pecados» (Ibid., p. 93).

E continua:

«Peter Leithart afirmou recentemente que "a igreja foi salva da teologia e prática batista por Agostinho de Hipona". Se “batista” aqui implica a rejeição do batismo infantil, essa afirmação temerária é um exagero, mas dentro de limites perdoáveis (...) Para Leithart "o facto notável sobre o batismo na igreja primitiva é que o batismo infantil emergiu... como a prática dominante da Igreja". Esta não é a maneira como a história geralmente é contada! Na verdade, é bastante enganador ver a época dos padres simplesmente como uma era de batismo infantil. De facto, dos indivíduos conhecidos daqueles séculos que tinham pais cristãos e foram batizados em datas conhecidas, a grande maioria foi batizada com base na profissão de fé (...) Como Leithart resume de forma útil: "as primeiras liturgias batismais (...) foram construídas sobre pressupostos batistas, mesmo quando as crianças eram incluídas" (...) Leithart não consegue tirar a conclusão óbvia desta evidência - o batismo infantil nunca pode ter sido a norma neste período inicial (...) A época do longo reinado do batismo infantil se prolonga desde o início do período medieval, a partir do século VI, isto é, depois de Agostinho de Hipona, que morreu em 430. Foi ele quem forneceu a teologia que levou o batismo infantil a se tornar uma prática geral pela primeira vez na história da igreja...» (Ibid., pp. 4-6, 8, n. 7 na p. 8, 12, 17).

O estudioso Anthony Lane expressa uma opinião peculiar:

«A situação nos primeiros séculos foi de que as duas formas de batismo existiram lado a lado, tanto por causa do grande afluxo de conversos quanto porque nem todos os cristãos traziam seus bebés ao batismo. A "dupla prática" de permitir aos cristãos a escolha de batizar ou não os seus filhos, e se sim em que idade, pode parecer hoje a muitos confusa e sem princípios. Mas o facto claro é que tal variedade de práticas existia nos séculos III e IV e ninguém levantou qualquer objeção de princípio contra ela. Na verdade, pode-se argumentar com este facto que é muito provável que tal aceitação de variedade remonta aos tempos apostólicos» (Ibid., p. 7-8).

Everett Ferguson – autor do estudo mais detalhado sobre o tema – escreve:

«Há concordância geral de que não há evidências sólidas do batismo infantil antes da última parte do século II (...) A explicação mais plausível para a origem do batismo infantil é encontrada no batismo de emergência de crianças doentes que se esperava que morressem em breve, de modo a garantir a entrada no reino dos céus» (Baptism in the Early Church, Grand Rapids, 2009, p. 856).

A respeito do período em que o batismo infantil se tornou dominante:

«[O Batismo infantil] era geralmente aceite, mas questionamentos continuaram a ser levantados sobre a sua propriedade até o século V. Tornou-se a prática habitual nos séculos V e VI» (p. 857).

Mesmo os eruditos pedobatistas tendem a afirmar que o batismo infantil não é uma prática que remonta aos apóstolos. A primeira evidência patrística favorável é em meados do século III (Orígenes e Cipriano). Em todo o caso, o consenso sugere que o batismo infantil começou a ser praticado com crianças no leito de morte e até o século V não havia qualquer posição dogmática a respeito. Por isso, era usual que mesmo os filhos de pais cristãos tivessem o batismo adiado. O batismo infantil tornou-se prática generalizada apenas nos séculos V e VI. Os defensores do batismo infantil costumam apontar para a história como o argumento decisivo em favor de sua posição. No entanto, concluímos que a história oferece mais problemas do que apoio à posição pedobatista.


https://respostascristas.blogspot.com/search/label/Batismo%20Infantil

domingo, 22 de setembro de 2024

CREDALISMO


As doutrinas que estão nos credos são verdadeiras porque estão nos credos ou estão nos credos porque são verdadeiras? Muitos cristãos comportam-se como se a primeira opção fosse a verdadeira, o que é obviamente um erro. Os credos (ou confissões) não têm autoridade intrínseca.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

NOS ALVORES DA REFORMA

 

«Os últimos anos de Júlio (que ficou conhecido como il papa terribile) viram os Estados Papais expandirem-se, com a tomada de Modena (1510) e Parma e Piacenza (1512), e os franceses expulsos de Itália. Ao mesmo tempo que tornava o governo papal uma realidade nos Estados Pontifícios, as campanhas militares de Júlio, nas quais teve um papel vigoroso até ao fim da sua vida, atraíram críticas crescentes de toda a Europa por parte daqueles que sentiam que este não era o tipo de liderança esperado de um papa. No diálogo satírico “Júlio Excluído do Céu” [1], citado no início deste capítulo, o papa, chegando às portas do Céu com vinte mil soldados mortos nas suas guerras, vangloria-se a São Pedro das suas conquistas:

Júlio: Ainda deves estar a sonhar com aquela antiga igreja na qual, com alguns bispos famintos, tu próprio, um pontífice a tremer de frio, estavas exposto à pobreza, ao suor, aos perigos e a mil outras provações. Mas agora o tempo mudou tudo para melhor... se pudesses ver a vida em Roma hoje: todos os cardeais vestidos de púrpura, acompanhados por regimentos inteiros de vassalos, os cavalos mais do que dignos de um rei, as mulas enfeitadas com tecidos finos, ouro e joias, algumas até calçadas com ouro e prata! Se pudesses vislumbrar o sumo pontífice, transportado numa cadeira de ouro sobre os ombros dos seus homens, enquanto o povo de todos os lados presta homenagem com um aceno da mão; se pudesses ouvir o trovão do canhão, o retumbar das cornetas, o toque das trombetas, ver os clarões das armas e ouvir os aplausos do povo, os vivas, toda a cena iluminada por tochas brilhantes e até os maiores príncipes a beijar o pé bendito… se pudesses ver e ouvir tudo isto, o que dirias?

Pedro: Que eu estava a ver um tirano pior do que qualquer outro no mundo, o inimigo de Cristo, a ruína da igreja.

Quando São Pedro se recusa a admitir Júlio no céu, o papa ameaça invadir o Céu e expulsar Pedro. Críticas como esta do papado contemporâneo eram moderadas em comparação com as que viriam...»

Roger Collins, Keepers of the Keys of Heaven: A History of the Papacy, Orion Publishing CO, 2010)

 

Nota

[1] Os seus contemporâneos e a maioria dos académicos modernos atribuem a autoria do diálogo “Júlio Excluído do Céu” (Latim: Iulius exclusus e coelis) ao humanista e teólogo holandês Erasmo de Roterdão, embora seja tecnicamente uma obra anónima.

O sujeito do diálogo, Júlio II (papa 1503-1513), era famoso pelo seu patrocínio das artes e pela sua vida imoral e belicosa. O diálogo, que satiriza as suas ambições mundanas e os seus abusos de poder, foi imensamente popular nos anos que antecederam a Reforma Protestante. Teve treze edições em quatro anos e foi rapidamente traduzido para alemão, inglês e francês, ficando disponível para um largo público.

É mais um testemunho do estado decadente e corrupto em que se encontrava a Igreja de Roma, do descontentamento social, da ânsia de liberdade e do desejo generalizado de uma grande reforma religiosa antes da explosão da Reforma Protestante.

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

AQUELE QUE SE GLORIA, GLORIE-SE NO SENHOR


“O Evangelho é verdadeiro porque priva os homens de toda a glória, sabedoria e justiça e entrega toda a honra somente ao Criador. É mais seguro atribuir demasiada glória a Deus do que ao homem.”

(Martinho Lutero, Comentário à Epístola aos Gálatas)

sábado, 14 de setembro de 2024

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

PAPA TORNA VÃO O SACRIFÍCIO DE CRISTO E ANIQUILA O EVANGELHO DA GRAÇA DE DEUS


Durante uma palestra em Singapura, Francisco abordou a questão do diálogo inter-religioso entre católicos romanos e vários outros grupos religiosos cristãos e não cristãos. Disse então o seguinte:

«Todas as religiões são caminhos para chegar a Deus. Elas são — para fazer uma comparação — como línguas diferentes, dialetos diferentes, para chegar a ele. Mas Deus é Deus para todos. Se você começar a lutar dizendo "minha religião é mais importante que a sua, a minha é verdadeira e a sua não", aonde isso nos levará? Só existe um Deus, e cada um de nós tem uma língua para chegar a Deus. Uns são siques, outros muçulmanos, outros hindus, outros cristãos; são caminhos diferentes para Deus.»

Ora, se se chega a Deus pela lei moral (boas obras) ou pela prática ritual das várias religiões existentes no mundo, então a salvação não é mais pela graça de Deus, mas pela prática de uma das várias religiões, pelas obras piedosas que os homens praticam. Esforçando-nos para ser bons religiosos, segundo a religião da nossa preferência, podemos ser justos diante de Deus pelos nossos méritos, merecer estar em comunhão com Deus. Deus não nos dá nada que não mereçamos, nada de graça. A obrigação de Deus é estar em comunhão com nós, que somos bons e piedosos. O evangelho da graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo é assim aniquilado.

Igualmente, Cristo sacrificou-se inutilmente na cruz, não precisamos da aplicação da justiça de Cristo em nós, do seu sacrifício expiatório. A nossa religião e as nossas obras nos justificam. Chegamos a Deus por elas. Nada por que ser condenados. O sacrifício de Cristo foi pois desnecessário ou como diz Paulo "se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21).

Mas ao contrário do papa, Jesus ensinou: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim." (João 14:6)

Alguém que pregue o Evangelho ao papa!


P.S. A razão porque devemos ser tolerantes e respeitar a liberdade religiosa dos crentes de outras religiões, não é por considerarmos que as religiões são todas iguais, que todas adoram o mesmo Deus e que nenhuma é mais verdadeira do que outra, mas precisamente por considerarmos que nem todas as religiões são iguais, que nem todas adoram o mesmo Deus e que há a religião verdadeira e a religião falsa, é que é preciso tolerar e respeitar a liberdade dos crentes das diferentes religiões com as quais discordamos. 

Quem acredita que as religiões são todas boas e que adoram o mesmo Deus não precisa de ser educado na tolerância nem no respeito pela liberdade dos crentes de outras religiões.

segunda-feira, 9 de setembro de 2024

O "CONCÍLIO DE ROMA" DE 382 E O DECRETO FANTASMA DE DÂMASO SOBRE O CÂNON BÍBLICO

 

O que foi exatamente o "Concílio de Roma" de 382 d.C.? E como é que ninguém ouviu falar dele antes do século XVIII?

O único registo que temos deste "Concílio" vem de um códice do século VIII, conhecido como códice de Ragyndrudis, que contém um manuscrito habitualmente intitulado como "Decretum Gelasianum". O texto completo está aqui: link.

- Os capítulos I e II são interessantes, listam as atas de um suposto Concílio de Roma presidido pelo papa Dâmaso, ​​junto com o cânon bíblico.

- Os capítulos III-V são menos pertinentes, listam alguns decretos do papa Gelásio (492-496). No entanto, também a credibilidade destes decretos é duvidosa, porque o texto menciona factos que ocorreram após 496 d.C., data da morte de Gelásio (ver abaixo).

Este documento é confiável?

Ao que tudo indica este documento é uma completa fraude, por quatro razões:

1) Não existe nenhuma consciência do "Decreto de Dâmaso" ao longo da história. Existem várias figuras históricas que não estão cientes deste Decreto sobre o cânon bíblico. Isso inclui Jerónimo, que naquela época estava a produzir a sua tradução da Bíblia em Latim, conhecida como Vulgata Latina. Jerónimo negou explicitamente a canonicidade dos livros apócrifos incluídos no suposto decreto de Dâmaso e introduziu juízos depreciativos sobre estes livros que ecoariam pelos séculos seguintes. Nenhum dos Padres Latinos (para não mencionar os Padres Gregos) demonstra qualquer conhecimento de um decreto sobre o Cânon das Escrituras; nunca o referenciam, ou mesmo sugerem estar cientes da sua existência. É também óbvio que os teólogos medievais até ao tempo do Cardeal Caetano no século XVI não têm ideia da sua existência, citando o cânon do AT como Martinho Lutero faria, e não como o "Papa Dâmaso do Concílio de Roma de 382" fez.

2) Não há nenhuma evidência do Concílio. Não há registo histórico na antiguidade de qualquer Concílio realizado em Roma no ano de 382! Tão simples quanto isso. Temos histórias eclesiásticas detalhadas da Antiguidade Tardia, com descrições de concílios, sínodos e procedimentos da igreja. Não há nenhum registo de um concílio realizado em Roma em todo o século IV, sob o Papa Dâmaso ou qualquer outro. No entanto, temos registos de concílios de cidades menos significativas, como Cartago, realizados nos séculos III, IV e V.

3) A era das falsificações. No período de 500-1000 d.C., sabe-se que o papado se envolveu numa vasta gama de falsificações documentais, para provar que era a igreja suprema (na verdade a única) em todo o mundo, que o seu bispo era o Pastor Universal e que tinha direito de governar temporalmente e conquistar reinos mundanos como bem entendesse. A existência deste documento reforça o direito do papado em todas estas reivindicações.

4) Evidência textual de falsificação. O próprio texto mostra sinais de falsificação. Uma das melhores análises críticas foi feita por F. C. Burkitt em 1913:

Burkitt observou que:

- O texto supostamente datado de 382, ​​contém uma citação de um livro de Santo Agostinho escrito em 416.

- A parte atribuída ao Papa Gelásio I (492-496) contém factos que ocorreram após 496.

- A existência deste "Concílio de Roma de 382" foi alegada pela primeira vez em 1794, por um padre jesuíta espanhol exilado em Itália de nome F. Arévalo. Em outras palavras, uma falsificação criada pela primeira vez na Idade Média foi reutilizada uma segunda vez como evidência forjada, por um escritor muito fiel ao papado do século XVIII.

Burkitt subscreve, então, a conclusão do professor Ernst von Dobschütz:

«Todos os cinco capítulos [do Decretum Gelasianum] pertencem à mesma obra original, que não é um decreto ou carta genuína de Dâmaso ou Gelásio, mas uma produção literária pseudónima da primeira metade do século VI (entre 519 e 553)»

https://www.tertullian.org/articles/burkitt_gelasianum.htm

Entretanto, na realidade paralela da apologética católica podem se ler coisas deste tipo:

O cânon das Escrituras, Antigo e Novo Testamento, foi fixado definitivamente no Concílio de Roma em 382, sob a autoridade do Papa Dâmaso I

Como se o bispo de Roma tivesse poder para impor às outras igrejas alguma coisa por decreto...

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

COINCIDÊNCIAS NÃO INTENCIONAIS

 

O relato bíblico da alimentação de 5.000 pessoas por Jesus contém coincidências não intencionais que sugerem autenticidade histórica.

Na história destaca-se a importância de Filipe como discípulo de Jesus. Embora Filipe não seja proeminente no Novo Testamento, a sua origem em Betsaida é relevante. Lucas menciona este lugar, mas não menciona Filipe no seu relato, mas a sua ligação com Betsaida realça a sua importância na história. Filipe e André são residentes em Betsaida, o que pode explicar a razão de conhecerem um rapaz que tinha pão e peixes. No relato de Marcos destaca-se que a erva era verde, algo pouco comum em Israel, o que acrescenta intriga ao relato. Marcos refere que Jesus os convida a descansar num lugar deserto, o que demonstra preocupação com o bem-estar das pessoas que o rodeiam. Durante a Páscoa, a erva fica verde na região devido às chuvas. João é o único evangelista que refere que os pães eram de cevada, podendo isso ser relacionado com a colheita da cevada na época da Páscoa. A ligação entre a erva verde, os pães de cevada e a multidão em movimento aponta para que o evento ocorreu durante a Páscoa. Do mesmo modo, a menção de João à Páscoa permite explicar a presença da erva verde e da multidão.

Por esta razão, os estudiosos do Novo Testamento apontam a importância da casualidade na avaliação da fiabilidade histórica.

terça-feira, 3 de setembro de 2024

QUANDO O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO SE CONFUNDE COM O MÉTODO HISTÓRICO-GRAMATICAL DA REFORMA

 

Os princípios de interpretação do Novo Testamento neste curso assumem uma perspetiva histórico-crítica. O método histórico-crítico de interpretação de um texto privilegia o sentido pretendido pelo autor antigo, a interpretação do público original do texto, a língua original em que o texto foi escrito e a prevenção do anacronismo. Contudo, durante a maior parte dos últimos dois mil anos, este não tem sido o método de interpretação da Bíblia. Os intérpretes pré-modernos, como Orígenes e Agostinho, sentiram-se livres para alegorizar e utilizar o texto como bem entendessem. Foi apenas através da Reforma e de outros acontecimentos da história moderna que o método histórico-crítico se tornou o método predominante de interpretação.

https://oyc.yale.edu/religious-studies/rlst-152/lecture-22

Se esta é a definição de método histórico-crítico de interpretação, então não há nada a objetar a ele, na verdade é semelhante em termos de objetivos ao método conhecido como histórico-gramatical, que é método padrão utilizado pelos reformadores e as igrejas protestantes.

O problema é quando o “crítico” vai além da interpretação do texto e desenha conclusões sobre as origens e a historicidade do texto não baseadas na evidência histórica objetiva, mas em pressupostos filosóficos particulares como o naturalismo ou o antisobrenaturalismo metafísicos. Ou dito de outra forma, quando associa ao método histórico-crítico o naturalismo metodológico.

De acordo com o naturalismo metodológico os mortos não ressuscitam, por isso a intenção dos autores dos textos bíblicos não é relatar uma ressurreição real ou histórica, se é então estão a mentir ou iludidos. Por definição, Jesus não pode ter ressuscitado realmente.... mas isso de acordo com o naturalismo, não com a evidência histórica objetiva.

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