“A inspiração – mais particularmente, a
inspiração profética – foi identificada por muitos como a característica
distintiva da coleção do Antigo Testamento quando foi reconhecida como
completa. A coleção estava completa em princípio, segundo Josefo, quando a
‘exata sucessão de profetas’ terminou em Israel. Os rabinos tiveram por profetas
os autores dos principais livros históricos (Josué, Juízes, Samuel, Reis) como também
do Pentateuco e dos Salmos. Segundo os livros posteriores do Novo Testamento,
toda a Escritura hebraica (fosse o texto original ou na versão grega) ‘é
inspirada por Deus’ (2 Timóteo 3:16), pois ´homens movidos pelo Espírito Santo
falaram da parte de Deus’ (2 Pedro 2:21).
Os cristãos tiveram razão ao discernir o
Espírito Santo igualmente ativo nas Escrituras do Novo Testamento... Mas tem
havido uma tendência de isolar a obra do Espírito na composição das escrituras
individuais do Novo Testamento, da sua obra posterior em relação com elas. Os cristãos
dos primeiros séculos não pensavam que a inspiração tinha cessado com o último
livro do Novo Testamento; continuaram conscientemente gozando de inspiração
eles próprios (embora não unida com a autoridade apostólica que põe os escritos
do Novo Testamento num nível singular)...
A obra do Espírito Santo não se discerne
mediante as ferramentas comuns do ofício do historiador. O seu testemunho
interior dá a certeza aos ouvintes ou leitores da Escritura de que nas suas palavras
o próprio Deus se dirige a eles; mas quando alguém considera o processo
pelo qual o cânon da Escritura ganhou forma seria mais sábio falar da providência
ou guia do Espírito que do seu testemunho... Certamente, quando alguém olha
para trás o processo de canonização nos primeiros séculos cristãos, e recorda
algumas das ideias de que eram capazes certos escritores eclesiásticos dessa
época, é fácil concluir que ao chegar a uma conclusão sobre os limites do cânon
eles foram guiados por uma sabedoria maior do que a sua. Pode ser que aqueles
cujas mentes foram em grande medida formadas pela Escritura tal como foi canonizada
achassem natural realizar um juízo deste tipo. Mas não é mera retrospeção
dizer, com William Barclay, que ‘os livros do Novo Testamento tornaram-se canónicos
porque ninguém os conseguiu impedir’ ou, na linguagem exagerada de Oscar Cullmann,
que ‘os livros que formariam o futuro cânon se impuseram na Igreja pela sua
autoridade apostólica intrínseca, como ainda o fazem, porque o Kyrios Cristo fala neles’.”
(F.F. Bruce, “The Canon of Scripture”. Downers Grove: InterVarsity Press,
1988, pp. 280-282).
Dado que os livros sagrados têm uma autoridade intrínseca
que provém do seu Autor, o seu caráter canónico não depende da sanção humana
em geral, nem eclesiástica em particular. A Igreja não decidiu
nem decretou o cânon, mas o discerniu ou reconheceu, e a seguir o confessou e
proclamou.
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