Há na literatura cristã primitiva, algumas referências a tradições
apostólicas extrabíblicas, que demonstram bem a carência de precisão,
clareza, incorruptibilidade e confiabilidade que têm tal tipo de tradições.
É sabido, e nenhuma pessoa medianamente informada negará, que a pregação
oral precedeu a redação e formação do Novo Testamento. É óbvio que enquanto os Apóstolos viviam, a sua
palavra oral tinha igual valor que a sua palavra escrita.
Ora bem, quando os Apóstolos morreram, os seus ensinamentos ficaram perpetuados
para sempre nas Escrituras do Novo Testamento e nos ensinamentos das Igrejas
que se guiavam por elas.
Tudo indica que houve um rápido desaparecimento ou corrupção das tradições
orais. Por exemplo, o bispo Papias de Hierápolis escreveu uma Explicação das Sentenças do Senhor em
cinco livros, a qual não se conservou. Papias tinha especial interesse pelas
tradições orais. Ora, as tradições que em finais do século I conseguiu recolher,
e que Ireneu e Eusébio referem, são na sua maior parte coisas lendárias que
nenhum erudito, católico ou evangélico, leva a sério.
De novo, no século II houve uma controvérsia acerca do tempo da celebração da
Páscoa. Tanto os bispos ocidentais, com Vítor bispo de Roma à cabeça, como os
bispos orientais liderados por Polícrates, sustentavam que os seus respetivos
costumes se baseavam em tradições apostólicas.
Pouco depois Tertuliano de Cartago sustentava que o costume de submergir os
batizados três vezes era uma tradição apostólica, afirmação que não é
confirmada por nenhuma outra fonte independente.
Em resumo: No Novo Testamento estamos em terreno firme e seguro. Quando abrimos
as portas a supostas tradições e as colocamos ao mesmo nível de autoridade que o escrito,
somente se cria confusão. Estes são factos históricos, que muitas vezes arruínam
as melhores teorias.
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