sábado, 9 de junho de 2012

Calvino: O que veio primeiro? A Escritura ou a Igreja?


“Entretanto, tem prevalecido o erro perniciosíssimo de que o valor que assiste à Escritura é apenas até onde os alvitres da Igreja concedem. Como se de fato a eterna e inviolável verdade de Deus se apoiasse no arbítrio dos homens! Pois, com grande escárnio do Espírito Santo, assim indagam: “Quem porventura nos pode fazer crer que essas coisas provieram de Deus?” Quem, por acaso, nos pode atestar que elas chegaram até nossos dias inteiras e intatas? Quem, afinal, nos pode persuadir de que este livro deve ser recebido reverentemente, excluindo um outro de seu número, a não ser que a Igreja prescrevesse a norma infalível de todas essas coisas?””

“Mas, palradores desse gênero se refutam sobejamente com apenas uma palavra do Apóstolo. Categoriza ele [Ef 2.20] que a Igreja se sustém no fundamento dos profetas e dos apóstolos. Se o fundamento da Igreja é a doutrina profética e apostólica, é necessário que esta doutrina tenha sua inteira infalibilidade antes que a Igreja começasse a existir. Nem procede o que sofisticamente arrazoam, a saber, ainda que daqui derive a Igreja sua origem e começo, a não ser que se interponha o arbítrio da própria Igreja, permanece em dúvida quais coisas se devam atribuir aos profetas e aos apóstolos. Ora, se de início a Igreja Cristã foi fundada nos escritos dos profetas e na pregação dos apóstolos, onde quer que esta doutrina se encontre, sua aceitação, sem a qual a própria Igreja jamais teria existido, indubitavelmente precedeu à Igreja.

Portanto, mui fútil é a ficção de que o poder de julgar a Escritura está na alçada da Igreja, de sorte que se deva entender que do arbítrio desta, a Igreja, depende a certeza daquela, a Escritura. Consequentemente, enquanto a recebe e com sua aprovação a sela, a Igreja não a converte de duvidosa em autêntica, ou de outro modo seria controvertida; ao contrário, visto que a reconhece como sendo a verdade de seu Deus, por injunção da piedade, a venera sem qualquer restrição.

Quanto, porém, ao que perguntam: Como seremos persuadidos de que as Escrituras provieram de Deus, a não ser que nos refugiemos no decreto da Igreja? É exatamente como se alguém perguntasse: de onde aprenderemos a distinguir a luz das trevas, o branco do preto, o doce do amargo? Pois a Escritura manifesta plenamente evidência não menos diáfana de sua veracidade, que de sua cor as coisas brancas e pretas, de seu sabor, as doces e amargas.”

Fonte: As Institutas de João Calvino I.7.1-2

2 comentários:

  1. Gostaria de saber se aquilo que chamam de "salvação calvinista" ou predestinação é mesmo verdade,pois alguns dizem que Calvino pregava que Deus designou uns para o céu e outros para o inferno!!!!É o famoso destino manifesto ou predestinação fatalista...

    E também gostaria de saber se Lutero e Calvino divergiam sobre o tema da mortalidade da alma,pois os blogs romanistas os atribuem os títulos de pai das divisões e de que eles não concordavam entre si...um cria que a morte era um sono e o outro cria que a alma é imortal...isso é verdade ou pura difamação dos blogueiros romanistas?

    Pax Christi1

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  2. Sobre Lutero acreditar no "sono da alma" este artigo aí deve lhe tirar todas as dúvidas.

    http://www.e-cristianismo.com.br/pt/lutero/236-o-lutero-adventista-do-setimo-dia

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