1. Os teístas do livre-arbítrio (ou arminianos) dizem que a fé é como uma mão vazia que agarra a oferta de salvação. A fé não é um produto da graça salvífica; antes, a graça salvífica é o resultado da fé.
Comparemos isso com Efésios 2:8:
«Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.»
Eis o que um comentador e
estudioso do grego diz:
«Em grego, os eventos como um todo são tratados como coisas neutras singulares com artigos neutros (p. ex., to pisteuein, "crer"), pronomes relativos neutros (p. ex., Ef 5:5) ou pronomes demonstrativos neutros, como no v8b (também, p. ex., 6:1; 1 Co 6:6,8; Fp 1:22,28; Cl 3:20; 1 Ts 5:18; 1 Tm 2:1-3). Portanto, o antecedente de touto [isto] é o evento inteiro: "Ser salvo pela graça por meio da fé". Uma implicação desta compreensão correta de touto é que todos os componentes do evento também são referenciados como originários não da capacidade ou esforço humano, mas como um dom de Deus. Isto significa que até mesmo o ato de crer do crente vem de Deus, como é dito mais explicitamente por Paulo em outro lugar: "Porque a vós vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente crer nele..." (Fp 1:29). Isto é parte da evidência da posição histórica do protestantismo de que a salvação é sola gratia e sola fide. Os humanos não contribuem em nada para esta salvação, já que até mesmo crer (o que os eleitos são habilitados a fazer) é um dom divino (cf. Rm 3:24-25). No contexto de Ef 2:8, a chave para “isto” é o que Paulo vem enfatizando com tanta força até aí: antes da intervenção graciosa de Deus, os crentes estavam irremediavelmente mortos, com as suas vontades aprisionadas por natureza em atos que levavam apenas à transgressão e ao pecado (2:1-5a,12).» S. M. Baugh, Ephesians (Lexham Press, 2016), 160-61.
Portanto, o dom na segunda cláusula se refere, através de touto, a "Pois pela graça sois salvos, por meio da fé". Portanto, o dom de Deus é a salvação pela graça por meio da fé. A fé está incluída no dom. A fé não é algo pelo qual os cristãos recebem o dom, mas uma parte da dotação graciosa e salvífica de Deus.
2. Por outro lado, os teístas do livre-arbítrio habitualmente dizem que para algo ser um dom, o destinatário deve poder recusá-lo. Compare-se isso com Paul and the Gift (cap. 2) de John Barclay, onde ele analisa diferentes conotações de um "dom" ou benfeitoria na antiguidade. Considere-se a sua categoria de "eficácia", onde dar dons é uma coisa poderosa, cumprindo o seu propósito - como quando os pais dão o dom da vida aos seus filhos ou alguém é resgatado da morte. Nessas situações, o destinatário está passivo e desamparado.
Adicionalmente, ele cita uma passagem de Filão enfatizando a eficácia da graça perante a passividade e inatividade humana, atribuindo tudo à soberania de Deus.
Além disso, no sistema de patrocínio do Império Romano, um poderoso benfeitor não oferece um dom, mas confere um dom.
E a dinâmica assimétrica entre superiores sociais e inferiores sociais no mundo antigo é muito mais análoga ao relacionamento entre Deus e criaturas do que presentes de aniversário e de Natal entre iguais.
O conceito eficaz de dar dons é incompatível com a graça no teísmo do livre-arbítrio, a qual é resistível e, portanto, ineficaz.
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