Em Sobre a monogamia, 8, Tertuliano, primeiro fala da dignidade de Zacarias e de João, que baptizou Cristo e depois continua:
Pois quem era mais digno de realizar o rito iniciático sobre o corpo do Senhor, do que carne semelhante em tipo àquela que concebeu e deu à luz esse [corpo]? E na verdade era uma virgem, prestes a casar-se uma vez por todas depois do seu parto, que deu à luz Cristo, para que cada título de santidade pudesse cumprir-se na parentela de Cristo, por meio de uma mãe que era tanto virgem, como esposa de um só marido.
O tratado de Tertuliano Sobre a Monogamia opõe-se tanto aos que proíbem casar como aos que promovem a poligamia. Tertuliano defende a monogamia; é disso que se trata a obra. Tendo discutido os ensinos heréticos e a situação do Antigo Testamento, avança sobre os exemplos do Evangelho, entre os quais destaca a monogamia de Maria. A seguir apresenta os ensinos do Senhor e os de Paulo. O texto respeitante a Maria diz-nos que ela foi tanto uma virgem (ao conceber Jesus) como a esposa de um só marido (depois de dar à luz Jesus). A inferência óbvia é que se refere ao texto evangélico de Mateus 1:25, "e não a conheceu até que ela deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus". Em outras palavras, o matrimónio não se consumou até depois do parto.
Este sentido é o único compatível com o facto de Tertuliano ter insistido repetidamente que Jesus tinha irmãos.
«Quem é minha mãe e meus irmãos? ... Ele estava justamente indignado de que pessoas tão próximas d`Ele «permanecessem fora», enquanto uns estranhos estivessem dentro aferrando-se às Suas palavras. Isto é particularmente assim dado que sua mãe e seus irmãos desejavam apartá-lo da obra solene que tinha entre mãos. Mais que negá-los, Ele os desautorizou. Portanto, à pergunta prévia, «Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?» acrescentou a resposta: «Ninguém senão os que ouvem as minhas palavras e as praticam». Deste modo transferiu os nomes das relações consanguíneas a outros que considerava mais estreitamente relacionados com Ele por causa da fé deles... Não é surpreendente que preferisse gente de fé aos seus próprios parentes, que não possuíam tal fé.
(Contra Marcião IV, 19).
Pode ler-se online em
http://www.ccel.org/fathers2/
Além disso, Tertuliano defende tenazmente a noção de um parto normal do Senhor, em particular nos escritos contra Marcião e outros gnósticos. Por exemplo:
Vem, então, reúne as tuas cavilações contra as mais sagradas e reverendas obras da natureza ... destrói a origem da carne e da vida; chama ao ventre um esgoto do ilustre animal ... espraia-te nas impuras e vergonhosas torturas do parto ... Mas no entanto, depois de teres rebaixado todas estas coisas até à infâmia, que possas afirmar que são indignas de Deus, o nascimento não será pior para ele [Jesus] do que a morte, a infância do que a cruz, o castigo do que a natureza, a condenação do que a carne. Se Cristo realmente sofreu tudo isto, nascer era uma coisa menor para ele... Portanto, se ele deve ser considerado na carne, porque nasceu; e nascido, porque Ele está na carne, e porque não é um fantasma – segue-se que Ele deve ser reconhecido como o verdadeiro Cristo do Criador, que foi anunciado pelos profetas do Criador como prestes a vir na carne, e pelo processo do nascimento humano.
Contra Marcião 3:11
Ver também 4:21
Em Sobre a carne de Cristo, e contra o ensino dos hereges do seu tempo, diz Tertuliano:
Ela que pariu, pariu; e embora fosse uma virgem quando concebeu, era uma esposa (nupsit) quando deu à luz a seu filho. Ora, como uma esposa, ela estava debaixo da lei da "abertura do ventre", pelo que era completamente irrelevante se o nascimento do varão foi por causa da cooperação do marido ou não; foi o mesmo sexo [o varão] que abriu o seu ventre. Na verdade, seu é o ventre por causa do qual está escrito de outros também: "Todo varão que abra o ventre será chamado santo para o Senhor". Pois, quem é realmente santo senão o Filho de Deus? Quem abriu propriamente o ventre senão Aquele que abriu um que estava fechado? Mas é o matrimónio que abre o ventre em todos os casos. O ventre da virgem, portanto, foi especialmente aberto, porque estava especialmente fechado. Na verdade, ela devia ser chamada não (simplesmente) uma virgem, mas uma virgem tornando-se uma mãe num pulo, por assim dizer, antes de ser uma esposa. E que mais deve dizer-se sobre este ponto? Já que foi neste sentido que o apóstolo declarou que o Filho de Deus nasceu, não de uma virgem, mas "de uma mulher", ele em tal afirmação reconheceu a condição do "ventre aberto" que tem lugar no matrimónio.
De carne Christi, 23
O mariólogo, Philip J. Donnelly, S.I., observa que embora Tertuliano defenda a concepção virginal, "é incansável em defender que o nascimento de Cristo foi inteiramente normal e em descrever Maria como mãe de vários filhos depois do nascimento de Cristo".
(Mariología, Ed. J.E. Carol. Trad. Cast. Madrid: BAC, 1964, p. 657).
O tratado de Tertuliano Sobre a Monogamia opõe-se tanto aos que proíbem casar como aos que promovem a poligamia. Tertuliano defende a monogamia; é disso que se trata a obra. Tendo discutido os ensinos heréticos e a situação do Antigo Testamento, avança sobre os exemplos do Evangelho, entre os quais destaca a monogamia de Maria. A seguir apresenta os ensinos do Senhor e os de Paulo. O texto respeitante a Maria diz-nos que ela foi tanto uma virgem (ao conceber Jesus) como a esposa de um só marido (depois de dar à luz Jesus). A inferência óbvia é que se refere ao texto evangélico de Mateus 1:25, "e não a conheceu até que ela deu à luz um filho; e pôs-lhe o nome de Jesus". Em outras palavras, o matrimónio não se consumou até depois do parto.
Este sentido é o único compatível com o facto de Tertuliano ter insistido repetidamente que Jesus tinha irmãos.
«Quem é minha mãe e meus irmãos? ... Ele estava justamente indignado de que pessoas tão próximas d`Ele «permanecessem fora», enquanto uns estranhos estivessem dentro aferrando-se às Suas palavras. Isto é particularmente assim dado que sua mãe e seus irmãos desejavam apartá-lo da obra solene que tinha entre mãos. Mais que negá-los, Ele os desautorizou. Portanto, à pergunta prévia, «Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?» acrescentou a resposta: «Ninguém senão os que ouvem as minhas palavras e as praticam». Deste modo transferiu os nomes das relações consanguíneas a outros que considerava mais estreitamente relacionados com Ele por causa da fé deles... Não é surpreendente que preferisse gente de fé aos seus próprios parentes, que não possuíam tal fé.
(Contra Marcião IV, 19).
Ver também
Sobre a Carne de Cristo 7
Sobre o Véu das Virgens 6
Sobre o pudor 6
http://www.ccel.org/fathers2/
Além disso, Tertuliano defende tenazmente a noção de um parto normal do Senhor, em particular nos escritos contra Marcião e outros gnósticos. Por exemplo:
Vem, então, reúne as tuas cavilações contra as mais sagradas e reverendas obras da natureza ... destrói a origem da carne e da vida; chama ao ventre um esgoto do ilustre animal ... espraia-te nas impuras e vergonhosas torturas do parto ... Mas no entanto, depois de teres rebaixado todas estas coisas até à infâmia, que possas afirmar que são indignas de Deus, o nascimento não será pior para ele [Jesus] do que a morte, a infância do que a cruz, o castigo do que a natureza, a condenação do que a carne. Se Cristo realmente sofreu tudo isto, nascer era uma coisa menor para ele... Portanto, se ele deve ser considerado na carne, porque nasceu; e nascido, porque Ele está na carne, e porque não é um fantasma – segue-se que Ele deve ser reconhecido como o verdadeiro Cristo do Criador, que foi anunciado pelos profetas do Criador como prestes a vir na carne, e pelo processo do nascimento humano.
Contra Marcião 3:11
Ver também 4:21
Em Sobre a carne de Cristo, e contra o ensino dos hereges do seu tempo, diz Tertuliano:
Ela que pariu, pariu; e embora fosse uma virgem quando concebeu, era uma esposa (nupsit) quando deu à luz a seu filho. Ora, como uma esposa, ela estava debaixo da lei da "abertura do ventre", pelo que era completamente irrelevante se o nascimento do varão foi por causa da cooperação do marido ou não; foi o mesmo sexo [o varão] que abriu o seu ventre. Na verdade, seu é o ventre por causa do qual está escrito de outros também: "Todo varão que abra o ventre será chamado santo para o Senhor". Pois, quem é realmente santo senão o Filho de Deus? Quem abriu propriamente o ventre senão Aquele que abriu um que estava fechado? Mas é o matrimónio que abre o ventre em todos os casos. O ventre da virgem, portanto, foi especialmente aberto, porque estava especialmente fechado. Na verdade, ela devia ser chamada não (simplesmente) uma virgem, mas uma virgem tornando-se uma mãe num pulo, por assim dizer, antes de ser uma esposa. E que mais deve dizer-se sobre este ponto? Já que foi neste sentido que o apóstolo declarou que o Filho de Deus nasceu, não de uma virgem, mas "de uma mulher", ele em tal afirmação reconheceu a condição do "ventre aberto" que tem lugar no matrimónio.
De carne Christi, 23
O mariólogo, Philip J. Donnelly, S.I., observa que embora Tertuliano defenda a concepção virginal, "é incansável em defender que o nascimento de Cristo foi inteiramente normal e em descrever Maria como mãe de vários filhos depois do nascimento de Cristo".
(Mariología, Ed. J.E. Carol. Trad. Cast. Madrid: BAC, 1964, p. 657).
Portanto, Tertuliano não sustentou o que a Igreja Católica ensina hoje dogmaticamente sobre a virgindade perpétua de Maria. Ensinou explicitamente contra a virgindade de Maria depois do parto e, à semelhança de Orígenes, não sustentou a virgindade durante o parto. Esta era no seu tempo uma doutrina própria dos hereges....
Pode citar alguma referência de algum outro pai da igreja contra a virgindade post partum de Maria?
ResponderEliminarAlguma referência de Hegesipo, Ireneu, Eusébio, que mostram serem contra essa doutrina? Muito obrigado!
Pode encontrar as referências de Hegésipo, Josefo, além dos autores dos evangelhos e Paulo contra a virgindade post partum de Maria nesta página:
ResponderEliminarhttp://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2009/11/os-irmaos-de-jesus.html
De Ireneu já coloquei noutro post, e transcrevo agora para aqui:
IRENEU DE LYON E A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA
O mariólogo J.B. Carol afirma:
«Mas a penetração maravilhosa de Santo Ireneu na concepção virginal de Cristo levou-o a esclarecimentos adicionais relativos à virgindade de Nossa Senhora? Infelizmente, não, pelo menos de acordo com aqueles escritos autênticos dele que chegaram até nós, na maior parte apenas em traduções; não há nada nestas passagens traduzidas que mostre que Ireneu sustentava a permanência da virgindade de Maria, isto é, depois da Anunciação, no nascimento de Cristo, e posteriormente até ao fim da sua vida na terra.»
(J.B. Carol, Mariology, Volume 2, Bruce, 1957)
Acresce que há textos de Ireneu negando a virgindade perpétua de Maria.
Em “Contra as Heresias, 3:21:10”, Ireneu refere-se a Maria dando à luz Jesus quando ela era «ainda uma virgem». A implicação é que ela não permaneceu uma virgem. Ireneu compara Maria sendo uma virgem no tempo do nascimento de Jesus à terra sendo "ainda virgem" antes de ter sido cultivada pelo homem. A terra posteriormente deixou de ser virgem, de acordo com Ireneu, quando foi cultivada. A implicação é que Maria também deixou de ser uma virgem.
Em outro lugar, Ireneu escreve:
«Para este efeito testificam, dizendo, que antes de José se ajuntar com Maria, quando ela portanto mantinha-se em virgindade, “achou-se ter concebido do Espírito Santo”» (Contra as Heresias, 3:21:4)
Ireneu parece associar "se ajuntar" com relações sexuais. A implicação é que José e Maria tiveram relações conjugais normais depois de Jesus ter nascido.
Veja este site http://peacebyjesus.witnesstoday.org/Ancients_on_Mary.html
Não é de se esperar muitas declarações explícitas "contra" uma doutrina que não existia na época, pelo menos nos círculos ortodoxos. O que se pode fazer é detetar declarações incompatíveis com tal doutrina ou que sugerem que não era por então crida. Mas a importância destas declarações é relativa. Primariamente o ónus da prova cabe a quem afirma que a doutrina foi sempre crida e é de origem apostólica. Esses é que têm que apresentar testemunhos da virgindade perpétua, coisa que não conseguem fazer com autores anteriores a meados do século IV.
Se não tívéssemos nenhumas declarações dos padres "contra" a virgindade perpétua isso não significa que a doutrina fosse crida na sua época. Invocar o silêncio dos padres é utilizar o chamado argumento do silêncio, que na ausência de outra evidência positiva seria bastante fraco.
O historiador judeu Flávio Josefo se refere a Tiago como se segue, a respeito da morte do procurador Festo na Judeia e a sua substituição por Albino no ano 62:
ResponderEliminar"Sendo Anã [o sumo sacerdote] deste carácter, aproveitando-se da oportunidade, pois Festo havia falecido e Albino ainda estava em viagem, reuniu o sinédrio. Chamou a juízo o irmão de Jesus que se chamou Cristo; seu nome era Tiago, e com ele fez comparecer a vários outros. Os acusou de ser infractores da lei e os condenou a ser apedrejados."
(Flávio Josefo, Antiguidades dos judeus, XX, 9: 1)
"Ao apelar Paulo ao César e ser enviado por Festo à cidade de Roma, os judeus, frustrada a esperança que os induziu a conspirar contra ele, voltaram-se contra Tiago, o irmão do Senhor, a quem os apóstolos tinham confiado o trono episcopal de Jerusalém ...
O modo como ocorreu a morte de Tiago já foi esclarecido pelas palavras citadas de Clemente ... Mas quem narra com maior exactidão tudo o que a ele se refere é Hegésipo, que pertence à primeira geração sucessora dos apóstolos e que, no livro V de suas Memórias, diz assim:
«Sucessor na direcção da Igreja é, junto com os apóstolos, Tiago, o irmão do Senhor. Todos dão-lhe o sobrenome de 'Justo', desde os tempos do Senhor até os nossos, pois eram muitos os que se chamavam Tiago...»."
Eusébio de Cesareia em Historia Eclesiástica II, 23: 1,3-4
Eusébio também obteve de Hegésipo a seguinte referência aos descendentes de Judas, o meio-irmão de Jesus:
"O próprio Domiciano deu ordem de executar os membros da família de David, e uma antiga tradição diz que alguns hereges acusaram os descendentes de Judas –que era irmão do Salvador segundo a carne (adelfon kata sarka tou sôtêros) - , com o pretexto de que eram da família de David e parentes (sungeneian) do próprio Cristo. Isto é o que declara Hegésipo quando diz textualmente:
«Da família do Senhor viviam ainda os netos de Judas, chamado seu irmão segundo a carne, aos quais delataram por serem da família de David... O evocatus conduziu-os à presença do césar Domiciano, porque este, assim como Herodes, temia a vinda de Cristo. E perguntou-lhes se descendiam de David; eles o admitiram...»."
Ibid, III, 19-20
Irá o magistério da Igreja católica também colocar o "sabor semítico" em todas estas obras e autores que se referem aos "irmãos de Jesus"?