O problema
Há quem diga que a noção tradicional de que Jesus foi julgado e crucificado numa sexta-feira se baseia na declaração de Marcos 15:42, "Quando a noite chegou, porque era a preparação, isto é, a véspera do sábado, José de Arimateia … pediu o corpo de Jesus". Consideram esta noção errada, e arraigada na ignorância de que o primeiro dia depois da Páscoa é um dia festivo, ou Sábado solene, porque nele começa a festa dos ázimos ou pães sem fermento, que era um Sábado sem importar em que dia da semana caísse (David R. Reagan, Daniel's 70 Weeks Of Years. Lamb and Lion Ministries, http://www.lamblion.com/articles/articles_tribulation6.php).
Um problema relacionado, que no entanto não tratarei em detalhe, é o tempo que Jesus passou no túmulo. Segundo a noção tradicional, Jesus teria permanecido no túmulo uma parte de sexta-feira, todo o sábado e parte do domingo, isto é, menos de três dias completos. Segundo a noção revista, Jesus teria estado sepultado desde quinta-feira até domingo, ou seja três dias completos.
Mateus 12:39-40 diz: "Ele respondeu, e lhes disse: - A geração má e adúltera pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas. Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra". À primeira vista esta profecia de Jesus parece exigir três dias completos ou 72 horas. No entanto, a expressão "dias e noites" é uma forma hebraica de referir um dia, que pode compreender apenas parte dele. Assim, por exemplo, em Ester 4:16, é dito que os hebreus jejuaram três dias e três noites antes que Ester comparecesse diante de Assuero, e no entanto em 5:1 se relata que ela se apresentou "ao terceiro dia".
Além disso, os próprios dados dos Evangelhos são consistentes com a noção de que a expressão "três dias e três noites" pode significar menos de 72 horas. De facto, os anúncios de Jesus sobre a Sua ressurreição "ao terceiro dia" na realidade exigem entender assim a expressão (Mateus 16:21; 17: 23; 20:19; ver 27:64; Marcos 9:31; 10:34; Lucas 9:22; 18: 33; 24:33, cf. 24:7,21).
Portanto, os anúncios da ressurreição não estão em contradição entre si, nem permitem decidir pela cronologia tradicional ou pela revista da última semana.
Mateus 12:39-40 diz: "Ele respondeu, e lhes disse: - A geração má e adúltera pede um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, senão o sinal de Jonas. Pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra". À primeira vista esta profecia de Jesus parece exigir três dias completos ou 72 horas. No entanto, a expressão "dias e noites" é uma forma hebraica de referir um dia, que pode compreender apenas parte dele. Assim, por exemplo, em Ester 4:16, é dito que os hebreus jejuaram três dias e três noites antes que Ester comparecesse diante de Assuero, e no entanto em 5:1 se relata que ela se apresentou "ao terceiro dia".
Além disso, os próprios dados dos Evangelhos são consistentes com a noção de que a expressão "três dias e três noites" pode significar menos de 72 horas. De facto, os anúncios de Jesus sobre a Sua ressurreição "ao terceiro dia" na realidade exigem entender assim a expressão (Mateus 16:21; 17: 23; 20:19; ver 27:64; Marcos 9:31; 10:34; Lucas 9:22; 18: 33; 24:33, cf. 24:7,21).
Portanto, os anúncios da ressurreição não estão em contradição entre si, nem permitem decidir pela cronologia tradicional ou pela revista da última semana.
O ano civil e o ano religioso
Nos tempos de Jesus, os judeus usavam dois calendários: o civil que era solar e começava em outubro ou novembro, com a festa de Rosh Ha-shana, e o religioso, que era lunar e começava com o mês de Nissan (março ou abril). Um mês lunar é um pouco mais de 29 dias, de modo que no calendário lunar havia meses de 29 e de 30 dias. Quando se percebia que a Páscoa cairia antes do equinócio da Primavera (21 de março segundo o calendário atual), era acrescentado entre o último mês do ano religioso e o mês de Nissan um mês intercalado ou embolísmico, que se chamava Ve-Adar. Segundo Números 28, a Páscoa celebrava-se em 14 de Nissan, e era imediatamente seguida pela festa dos ázimos (15 a 21 de Nissan). Como os dias da semana se determinavam de acordo com o ano solar civil, a Páscoa podia cair em qualquer dia da semana, já que a sua ocorrência era determinada segundo o calendário religioso (lunar), que estava desfasado do solar.
Existe evidência de que algumas seitas judaicas usavam um calendário perpétuo, segundo o qual as festas sempre caíam no mesmo dia da semana, mas não é absolutamente claro se Jesus ou os primeiros cristãos seguiriam esta disposição sectária. Esta hipótese carece, portanto, de fundamento firme; veja-se a discussão a respeito, na International Standard Bible Encyclopedia 3:953-954, artigo "Preparation, Day of".
O "dia da preparação"
Em relação à expressão grega "hëmera paraskeuës" ou "dia da preparação", o erudito bíblico Gleason L. Archer (1982, p. 375-376) assinala: "Primeiro, a palavra paraskeuës já se havia tornado, no primeiro século da Era Cristã, num termo técnico para designar a sexta-feira, já que sexta-feira era o dia da preparação para o Sábado. Em grego moderno, paraskeuës significa "sexta-feira". Segundo, a expressão grega tou pascha (literalmente "da Páscoa") é considerado como equivalente da semana da Páscoa". De modo que, em primeira instância, parece que o julgamento e a crucificação do Senhor ocorreram numa sexta-feira.
Os que sustentam que há um erro na interpretação tradicional assinalam como evidência que Marcos 16:1 diz que um grupo de mulheres compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus depois de ter terminado o Sábado, mas que Lucas 23:56 diz que compraram os perfumes antes do Sábado e, em seguida, descansaram durante este antes de ir ao túmulo.
Os que sustentam que há um erro na interpretação tradicional assinalam como evidência que Marcos 16:1 diz que um grupo de mulheres compraram perfumes para ungir o corpo de Jesus depois de ter terminado o Sábado, mas que Lucas 23:56 diz que compraram os perfumes antes do Sábado e, em seguida, descansaram durante este antes de ir ao túmulo.
Os textos bíblicos
O argumento recém-mencionado requer alguma elaboração. Mas antes disso, transcreverei os textos relevantes:
Mateus 26:1-2. "Quando Jesus acabou todas estas palavras, disse aos seus discípulos: «Sabeis que dentro de dois dias se celebra a Páscoa, e que o Filho do homem será entregue para ser crucificado»"
Mateus 26:17. "No primeiro dia dos pães ázimos, vieram os discípulos a Jesus, e perguntaram: Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?"
Mateus 27:62-64. "No dia seguinte, que é depois da preparação, se reuniram os principais sacerdotes e os fariseus perante Pilatos e lhe disseram: - Senhor, lembramo-nos que aquele mentiroso, quando ainda vivo, afirmou: «Depois de três dias ressuscitarei». Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia; para não suceder que, vindo os seus discípulos de noite, o furtem e digam ao povo: «Ressuscitou dentre os mortos». E o último engano será pior do que o primeiro."
Marcos 14:1-2. "Dois dias depois era a Páscoa e a festa dos Pães ázimos. Os principais sacerdotes e os escribas buscavam como prendê-lo com engano e matá-lo. E diziam: «Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo»."
Marcos 14:12 "No primeiro dia dos Pães ázimos, quando sacrificavam o cordeiro da Páscoa, disseram-lhe os seus discípulos: Aonde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?" (ver também v.14,16)
Marcos 15:42 – 43 "Quando chegou a noite, porque era a preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de Arimateia, … e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus."
Lucas 22:1,7-8. "Aproximava-se a festa dos Pães ázimos, que se chama a Páscoa... Chegou o dia dos Pães ázimos, em que era necessário sacrificar o cordeiro da Páscoa. Então Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide, preparai-nos a Páscoa, para que a comamos."
Lucas 23:53-54 "Tirando-o da cruz, envolveu-o num lençol, e pô-lo num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto. Era o dia da preparação, e amanhecia o sábado."
João 13:1-2 "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim. E quando ceavam…"
João 18:28 "Levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era de manhã cedo, e eles não entraram no pretório para não se contaminarem e assim poderem comer a Páscoa."
João 19:14 "Era a preparação da Páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei!"
João 19:31 "Então os judeus, porquanto era a preparação da Páscoa, para que no sábado os corpos não ficassem na cruz (pois aquele sábado era de grande solenidade), rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali"
João 19:42 "Ali, pois, por causa da preparação da Páscoa dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro, puseram a Jesus."
Costumes e nomenclatura na época de Jesus
Na realidade, segundo o Antigo Testamento, os cordeiros deviam sacrificar-se no dia anterior ao primeiro dia da festa dos Pães ázimos, veja-se o livro de Roland de Vaux (p. 610-620) para a história antiga destas celebrações. No entanto, como já assinalei, no tempo de Jesus, no 14 de Nissan se costumava tirar pela manhã o fermento das casas para ser queimado, e de tarde se sacrificavam os cordeiros pascais que cada família reservava no 10 de Nissan. Este costume é referido por Marcos 14:12 e Lucas 22:07 (ver acima). A ceia pascal celebrava-se depois do pôr do sol, o que na prática significava logo após o aparecimento das primeiras três estrelas no céu.
Entre os judeus tornou-se prática comum designar tanto esta celebração pascal como a festa dos Pães ázimos que a seguia sob o termo comum de "pães ázimos" ou indistintamente "Páscoa" como se fossem uma só celebração contínua. Isto é atestado pelo historiador judeu Flávio Josefo (Antiguidades dos Judeus, 14, 2:1 e 17,9:3). Mateus, que provavelmente se dirigia primariamente a cristãos judeus, parece dar por adquirido que os seus leitores conheciam esta prática ao chamá-la o primeiro dia dos pães ázimos, o que seria um sem-sentido se não fosse pelo costume assinalado, pois em tal caso já teria passado o tempo da Páscoa (Mateus 26:2,17).
Por outro lado, tanto Marcos como Lucas, que aparentemente se dirigiam a cristãos procedentes da gentilidade (não judeus), estabelecem a distinção entre as duas celebrações (Marcos 14:1,12, Lucas 22:7). Ambos deixam muito claro que a ceia se celebrava no mesmo dia - segundo o modo atual de contá-los, de 0 am a 12 pm - em que se sacrificavam os cordeiros. Mateus também estabelece o 14 de Nissan em 26:17, ou seja, o dia em que se costumava tirar o fermento das casas. Aqui há um defeito de tradução em algumas versões da Bíblia já que dizem "No primeiro dia da festa dos Pães ázimos". No texto grego lê-se: prötei tön azumön, "no primeiro dos ázimos". Aqui a palavra "dia" está subentendida e é correto acrescentá-la: "no primeiro dia dos ázimos". No entanto, a palavra "festa" é uma adição injustificada que altera o sentido: quando se fala da "festa", como em João 13:1, não se incluía a ceia pascal.
Embora João chame ao dia do julgamento de Jesus "a preparação para a Páscoa", isto deve entender-se, como o deixa muito claro a Nova Versão Internacional (em inglês), como "o dia da preparação da semana da Páscoa". Isto não é apenas indicado pelo costume conhecido, nem é um recurso para se fazer encaixar João no esquema dos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), mas é claramente demonstrado pelo que João diz em 18:28. No dia do julgamento de Jesus os judeus recusaram entrar no pretório ou corte de Pilatos, âmbito gentio, para evitar se contaminarem e assim poderem "comer a Páscoa". Ora, a comida a que aqui se faz referência deve ter sido a das ofertas da festa dos Pães ázimos (ver Deuteronómio 16:2-3). A razão é que, se o dia do julgamento de Jesus tivesse sido o 14 de Nissan, se contaminarem por entrar no pretório não impediria os judeus de comer a ceia pascal, uma vez que esta ceia se celebrava após o pôr do sol, quando a contaminação ritual já tinha terminado (Levítico 22:7).
Embora João chame ao dia do julgamento de Jesus "a preparação para a Páscoa", isto deve entender-se, como o deixa muito claro a Nova Versão Internacional (em inglês), como "o dia da preparação da semana da Páscoa". Isto não é apenas indicado pelo costume conhecido, nem é um recurso para se fazer encaixar João no esquema dos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas), mas é claramente demonstrado pelo que João diz em 18:28. No dia do julgamento de Jesus os judeus recusaram entrar no pretório ou corte de Pilatos, âmbito gentio, para evitar se contaminarem e assim poderem "comer a Páscoa". Ora, a comida a que aqui se faz referência deve ter sido a das ofertas da festa dos Pães ázimos (ver Deuteronómio 16:2-3). A razão é que, se o dia do julgamento de Jesus tivesse sido o 14 de Nissan, se contaminarem por entrar no pretório não impediria os judeus de comer a ceia pascal, uma vez que esta ceia se celebrava após o pôr do sol, quando a contaminação ritual já tinha terminado (Levítico 22:7).
Quando ocorreu a crucificação?
A Páscoa devia teoricamente cair na noite de lua cheia do décimo quarto dia depois do começo da fase crescente. No entanto, isto não era necessariamente preciso do ponto de vista astronómico, já que o começo da fase da lua era determinado por decreto de um tribunal ou Beth Din, com base no testemunho de três pessoas. Isto pode ter causado algumas vezes um atraso de 24 horas (já que os meses lunares não podiam durar menos de 29, nem mais de 30 dias) entre o começo real e o começo declarado do novo mês lunar.
Segundo o esquema proposto por Reagan, no ano 31 a Páscoa caiu numa quarta-feira. Jesus foi crucificado na mesma manhã, agonizava enquanto se estavam sacrificando os cordeiros pascais, e foi sepultado no mesmo dia ao entardecer. No dia seguinte, uma quinta-feira, era um Sábado solene. Na sexta-feira, depois do Sábado solene, as mulheres teriam comprado os perfumes, e depois descansaram durante o sábado normal (semanal) antes de ir ao túmulo na manhã de domingo.
Ora, na realidade desconhece-se o ano preciso da crucificação, embora se saiba que deve ter sido entre o ano 30 e o 34 (aqui deve-se recordar que Jesus nasceu entre o ano 4 e 7 a.C., antes da morte de Herodes; a data tradicional de nascimento se fixou erroneamente na Idade Média). Para as datas envolvidas, os anos 32 e 34 podem descartar-se, ficando como possíveis candidatos os anos 30, 31 e 33. Tendo em conta que a Páscoa devia necessariamente cair depois do equinócio da primavera, e a incerteza na determinação da lua nova, Joachim Jeremias (p. 38-39) mostra que, segundo cálculos astronómicos, os dias correspondentes para os anos 30, 31 e 33 foram como se segue.
30 d.C.: 14 e 15 de Nissan corresponderiam à sexta-feira 7 e ao sábado 8 de abril (menos provavelmente à quinta-feira 6 e à sexta-feira 7 de abril).
31 d.C.; 14 e 15 de Nissan corresponderiam ou à quarta-feira 25 e à quinta-feira 26 de abril, ou alternativamente à quinta-feira 26 e à sexta-feira 27 de abril.
33 d.C.: 14 e 15 de Nissan corresponderiam ou à sexta-feira 3, e ao sábado 4 de abril, ou alternativamente ao sábado 4 e ao domingo 5 de abril.
Os dados anteriores implicam ainda que não é absolutamente seguro que o 14 de Nissan tenha caído numa quarta-feira no ano 31, embora exista a possibilidade. No entanto, se este foi o dia da crucificação, isso significa que a Última Ceia teve lugar no dia anterior ao da ceia pascal, ou seja, segundo o reconhecimento hebraico dos dias desde um pôr do sol até ao seguinte, no início do 14 de Nissan; mas os Evangelhos (Mateus 26:17 e paralelos) dizem explicitamente o contrário. Esta é uma importante dificuldade desta hipótese já que, como Jeremias e outros demonstraram, a Última Ceia foi realmente uma refeição Pascal.
Um ou dois Sábados na última semana?
Outra importante dificuldade é que a hipótese revista pressupõe dois Sábados, conforme detalhado a seguir:
A Última Ceia na terça-feira à noite (início do 14 de Nissan)
O julgamento, a crucificação e o sepultamento na quarta-feira antes do pôr do sol (14 de Nissan)
Um sábado solene na quinta-feira (15 de Nissan)
Um dia de preparação na sexta-feira (16 de Nissan)
Repouso durante o Sábado semanal (17 de Nissan)
A ressurreição no domingo (18 de Nissan)
Tirando a observação de que a Páscoa podia cair em qualquer dia da semana - um facto, seguramente conhecido por estudiosos favoráveis à cronologia tradicional do gabarito de Archer e Jeremias - o principal argumento a favor de dois sábados parece ser este: "Os Evangelhos deixam claro que a semana da crucificação teve dois Sábados. Marcos 16:1 diz que um grupo de mulheres comprou perfumes para ungir o corpo de Jesus depois de terminado o Sábado. Mas em Lucas 23:56 é dito que compraram os perfumes antes do Sábado e depois descansaram no Sábado antes de ir ao túmulo." (Reagan, obra citada).
Ora, estas declarações são imprecisas. Primeiro examinemos os textos gregos com uma tradução literal:
Marcos diz, Kai diagenomenou tou sabbatou, Maria he magdalënë kai Maria he tou Iakobou kai Salömë ëgorasan arömata ina elthousai aleipsösin auton. Kai lian proi tes mias sabbatön erchontai epi ton mnëmeion...
"E passando o sábado, Maria a Madalena e Maria a [mãe de] Tiago, e Salomé compraram perfumes [de modo] que vindo pudessem ungi-lo. E muito cedo no primeiro [dia] da semana vieram ao túmulo ... "
Lucas diz, de ëtoimasan arömata kai mura. Kai to men sabbaton ësichasan kata tën entolën. Të de mia tön sabbaton ... ëlthon epi to mnema
"E prepararam perfumes e unguento. E no sábado, descansaram segundo o mandamento. Mas no primeiro [dia] da semana... vieram ao túmulo."
Duas coisas são dignas de atenção aqui. Em primeiro lugar, nem Marcos nem Lucas mencionam dois Sábados. Cada autor refere-se a um único Sábado. Marcos diz que as mulheres compraram perfumes (arömata) mas Lucas não diz tal coisa; simplesmente relata que as mulheres "prepararam" (ëtoimasan) perfumes e unguento. Como observou Walter W. Wessel, o relato de Marcos sugere que elas compraram os perfumes logo que terminou o Sábado, ou seja depois das 6 da tarde. É possível que os tenham comprado para adicioná-los aos já preparados – que menciona Lucas - se lhes pareceu que estes últimos não seriam suficientes (Mark, em Expositor's Bible Commentary; 8:786).
Em segundo lugar, a hipótese de dois Sábados dá por adquirido que o grupo de mulheres que prepararam os perfumes segundo Lucas era exatamente o mesmo que comprou os perfumes segundo Marcos. Esta é uma suposição que carece de fundamento sólido. Deve-se recordar que havia muitas mulheres que seguiam Jesus (Lucas 8:3). Marcos menciona Maria Madalena, Maria a mãe de Tiago e Salomé, enquanto Lucas não nos diz os seus nomes neste texto (Lucas 23:56), que simplesmente fala das "mulheres". Mas mais tarde (24:10) Lucas menciona as mesmas Marias, Joana - muito provavelmente a mulher de Cuza, o mordomo de Herodes Antipas - e "o resto das mulheres [que estavam com] elas" (kai ai loipai sun autais). O plural indica que havia outras para além de Salomé, e Marcos não menciona Joana. De modo que é perfeitamente possível que as "mulheres" anónimas de Lucas preparassem perfumes e unguento na tarde de sexta-feira e que as Marias e Salomé comprassem mais por sua conta depois de terminado o sábado, antes de todas se reunirem para dirigirem-se ao túmulo de Jesus.
Portanto, é impossível demonstrar que os Evangelhos referem explícita ou implicitamente dois Sábados. Um argumento que corrobora contra esta hipótese é o facto de que no clima palestino os cadáveres se decompunham rapidamente. Porque é que as mulheres haveriam de esperar desde a tarde de quarta-feira até a manhã de domingo para ungir o corpo de Jesus, quando poderiam ter realizado esta urgente tarefa na sexta-feira, a ser correta a hipótese dos dois sábados?
Portanto, é impossível demonstrar que os Evangelhos referem explícita ou implicitamente dois Sábados. Um argumento que corrobora contra esta hipótese é o facto de que no clima palestino os cadáveres se decompunham rapidamente. Porque é que as mulheres haveriam de esperar desde a tarde de quarta-feira até a manhã de domingo para ungir o corpo de Jesus, quando poderiam ter realizado esta urgente tarefa na sexta-feira, a ser correta a hipótese dos dois sábados?
Conclusão
Considerando todos os factos e os dados bíblicos, creio que um estudo cuidadoso demonstra que não há contradição entre a cronologia dos Sinópticos e a de João. Por conseguinte, reafirmo a doutrina tradicional segundo a qual Jesus celebrou a Última Ceia como uma refeição pascal na noite de quinta-feira, foi julgado, crucificado e morto durante a sexta-feira, e ressuscitou ao terceiro dia, domingo.
Como o expressa Gleason L. Archer Jr., "Desta forma, resulta que houve um simples mal-entendido da frase paraskeuë tou pascha [preparação para a Páscoa] ... As várias explicações engenhosas oferecidas por outros, como a que Cristo celebrou a Sua Páscoa pessoal uma noite antes, sabendo que seria crucificado antes do pôr do sol de 14, ou a que Cristo e o Seu movimento aderiam a um calendário diferente, que reconhecia o 14 um dia antes de o calendário do sacerdócio oficial de Jerusalém; ou a que Ele seguia o calendário revisto que observavam os essénios de Qumran - todas estas teorias são bastante improváveis e completamente desnecessárias. Não há contradição alguma entre João e os Sinópticos em relação ao dia em que Jesus morreu - foi uma sexta-feira." (p. 376).
Fernando D. Saraví
Bibliografia
Como o expressa Gleason L. Archer Jr., "Desta forma, resulta que houve um simples mal-entendido da frase paraskeuë tou pascha [preparação para a Páscoa] ... As várias explicações engenhosas oferecidas por outros, como a que Cristo celebrou a Sua Páscoa pessoal uma noite antes, sabendo que seria crucificado antes do pôr do sol de 14, ou a que Cristo e o Seu movimento aderiam a um calendário diferente, que reconhecia o 14 um dia antes de o calendário do sacerdócio oficial de Jerusalém; ou a que Ele seguia o calendário revisto que observavam os essénios de Qumran - todas estas teorias são bastante improváveis e completamente desnecessárias. Não há contradição alguma entre João e os Sinópticos em relação ao dia em que Jesus morreu - foi uma sexta-feira." (p. 376).
Fernando D. Saraví
Bibliografia
Archer, Gleason L., Jr. Encyclopedia of Biblical Difficulties. Grand Rapids: Zondervan, 1982.
Bromiley, Geoffrey W. (Dir.). International Standard Bible Encyclopedia, 2nd Ed. Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1979-1988 [4 vol.].
Flavio Josefo. Antigüedades de los judíos. Terrassa: CLIE, 1988 [3 vol.].
Gaebelein, Frank E. (Dir.). Expositor's Bible Commentary; Grand Rapids: Zondervan, 1975-1992 [12 vol.].
Geisler, Norman; Howe, Thomas. When critics ask. A popular handbook on Bible difficulties. Wheaton: Victor Books, 1992.
Henry, Matthew. Commentary on the whole Bible. Peabody: Hendrickson, 1991 [edição completa num volume].
Jeremias, Joachim. La última cena: Palabras de Jesús. Madrid: Cristiandad, 1980 (especialmente p. 13- 88).
León-Dufour, Xavier. Los Evangelios y la historia de Jesús. Madrid: Cristiandad, 1982. (especialmente p. 349-358).
Saraví, Fernando D. La profecía de las setenta semanas. Terrassa: CLIE, 1992.
Vaux, Roland de. Instituciones del Antiguo Testamento. Barcelona, Herder, 1985.
Mas a dúvida persiste.
ResponderEliminarAcho que as dúvidas desaparecem quando se tem em conta que:
ResponderEliminar1) A expressão "paraskeuo tou pascha" (João 19:14) ou simplesmente "paraskeuo" (João 19:31) era a forma usual de referir entre os judeus a sexta-feira da semana dos pães ázimos.
2) A expressão "Antes da festa da páscoa" em João 13:1 deve ler-se como "Antes da festa dos pães ázimos" que começava no dia 15 de Nissan depois da ceia pascal.
olá amigos! considerém o seguinte facto. a morte de jejus na quarta, e o apontamento mais correto com as escrituras, reipeito todas as opiniãos, mais prefiro ficar com as escrituras.(pmw.marceneiro@gmail.com fon:061...98452.4975...
ResponderEliminarOlhe uma coisa: Não é um facto que a morte de Jesus na quarta seja o apontamento mais correto com as Escrituras. A menos que o "jejus" de que esteja a falar não seja a mesma pessoa que o Jesus do Novo Testamento.
EliminarEu também prefiro ficar com as Escrituras, mas ao contrário de você não respeito todas as opiniões, respeito as pessoas mas não todas as opiniões que possam ter. Por exemplo, opiniões disparatadas e falsas como a sua, de que Jesus morreu numa quarta-feira, eu não respeito.
Para que é o número de telefone? Acha que alguém lhe vai ligar? :)
Concordo, realmente Jesus morre na quarta e ressucita no crepúsculo do sábado, isto é não ha nenhum registro bíblico que ele ressucitou no Domingo.ideias pagãs, é um absurdo em dizer que YESHUA ressucitou no Domingo.Daniel 7,25 diz que mudariam o tempo e a lei, isto é fazendo com que a humanidade adotem q o domingo é o dia do Senhor.
ResponderEliminarÉ a primeira vez que vejo alguém defender que Jesus não ressuscitou num domingo. O NT está cheio de declarações que afirmam que Jesus ressuscitou num domingo. Por exemplo:
Eliminar"E Jesus, tendo ressuscitado na manhã do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria Madalena, da qual tinha expulsado sete demônios". (Marcos 16:9)
Qual será o primeiro dia da semana?
Eliminar1) No primeiro dia da semana Jesus apareceu a dois discípulos no caminho de Emaús
2) Esse dia era o terceiro desde a morte de Jesus
3) Jesus disse que ressuscitaria ao terceiro dia
4) Logo, Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana (domingo)
Lucas 24: 1,13,21,46