Irmãos e
irmãs em Cristo,
Com o
coração pesado, mas iluminado pela fé que nos une, ergo a minha voz nesta praça
sagrada, diante do altar do mundo, não para reafirmar poder, mas para
testemunhar humildade.
Assumi este
ministério não como trono, mas como cruz. E é da cruz que vos falo agora.
Nestes
tempos de clamor humano, de fome de justiça, de sede de verdade, de uma terra
exausta sob o peso das estruturas, escutei não só os clamores dos pobres e dos
esquecidos, mas também o sussurro do Espírito Santo, que não habita palácios,
mas corações.
A Igreja de
Cristo nasceu entre pescadores, não entre príncipes. Cresceu partilhando o pão,
não acumulando ouro. A força do Evangelho reside na fraqueza do mundo, e a sua
glória, na simplicidade do amor.
Assim, após
oração profunda, conselho de irmãos e discernimento sincero diante de Deus,
anuncio ao mundo: o papado, como estrutura monárquica e centralizada, será
abolido.
A autoridade
será restituída às comunidades, aos bispos, aos fiéis. A Igreja, Povo de Deus,
caminhará agora em colegialidade plena, livre de coroas, anéis e tronos. O
Espírito sopra onde quer, e agora sopra para além destas muralhas.
Peço perdão
pelas vezes em que este cargo se sobrepôs à mensagem de Jesus. Peço coragem a
todos para construirmos uma Igreja horizontal, servidora, pobre com os pobres,
universal em amor.
Não deixo um
vazio. Deixo espaço. Para que o Cristo, cabeça da Igreja, seja o único centro.
E para que cada um de vós, batizado, assuma o seu lugar na construção do Reino.
Que a paz de
Deus, que excede todo o entendimento, guarde os nossos corações neste novo
êxodo.
Irmãos e
irmãs em Cristo,
Hoje
falo-vos não com a autoridade de um trono, mas com a liberdade de quem foi
alcançado pela graça. Falo-vos como servo de Jesus, e apenas d’Ele.
A história
nos concedeu séculos de luz, mas também séculos de sombras. Com temor e tremor,
reconheço que, por vezes, em nome da Igreja, nos afastámos do Evangelho —
aquele Evangelho simples, eterno, que proclama: “O justo viverá pela fé.”
(Romanos 1:17)
Sim, afirmo
hoje, com toda a clareza: a salvação é dom gratuito de Deus, pela fé em
Jesus Cristo, e não por obras, nem por méritos, nem por rituais humanos.
Nenhuma moeda lançada, nenhum documento assinado, nenhum castigo temporal pode
acrescentar uma gota ao sangue que Cristo já derramou na cruz. Ele disse: Está
consumado. E cremos n’Ele.
Por isso,
diante do céu e da terra, declaro abolido o sistema de indulgências. O
perdão não se vende. A graça não se negocia. A misericórdia não tem preço.
E com igual
seriedade, rejeito a doutrina do purgatório como fardo que a Escritura não
sustenta. O que está ausente do Evangelho, não pode permanecer como
doutrina da Igreja. A cruz é suficiente. Cristo é suficiente.
Digo-vos com
o coração nu: não há mais necessidade de intermediários terrenos entre Deus
e o homem, pois “há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo” (1
Timóteo 2:5). Que se ouça isto em todas as línguas: solus Christus, sola
fide, sola gratia.
E é por isso
que, hoje, renuncio ao papado como instituição. Não por fraqueza, mas por
fidelidade. O Corpo de Cristo não precisa de coroa, precisa de Cristo. O
mundo já teve papas. Agora precisa de discípulos.
Que a Igreja
se reconstrua, não sobre pedra de autoridade humana, mas sobre a Rocha da fé.
Que todo o joelho se dobre — não diante de um nome entre homens, mas diante do
Nome acima de todo nome.
A partir
deste dia, caminharemos como irmãos, guiados pela Palavra, pelo Espírito e pela
cruz vazia. Que este seja o início de uma reforma sem retorno — não de
estruturas apenas, mas de corações.
A Deus toda
a glória. A Cristo todo o senhorio. À Igreja, a liberdade dos filhos.
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