É Dámaso (366-384) quem
utiliza pela primeira vez Mateus 16:18 para fundamentar as pretensões romanas
de poder e, ao mesmo tempo, as interpreta de forma jurídica. O contexto: na
sua tumultuosa eleição contra Ursino, 137 pessoas perderam a vida na Igreja.
Ele deve a sua entronização ao perfeito da cidade de Roma, e é acusado sob um novo
perfeito da cidade de instigar o assassinato; somente a intervenção de amigos
ricos diante do imperador o salva de ser condenado. Este bispo romano sedento
de poder, anfitrião principesco e chamado “bajulador dos ouvidos das damas”,
tem todos os motivos para fortalecer a sua fraca autoridade política e moral,
mediante uma inovadora acentuação da dignidade do seu cargo como sucessor de
Pedro. Ao referir-se à Igreja romana, ele utiliza sempre, e apenas, a expressão
“Sede apostólica” (sedes apostolica) e esgrime com isso para a igreja romana a
pretensão de um nível superior ao das restantes igrejas, baseada numa posição
de monopólio da Igreja de Roma supostamente dada por Deus através de Pedro e
Paulo. Por isso, não é de estranhar que Dámaso mandasse ornamentar as
sepulturas e igrejas de Pedro e Paulo assim como as dos bispos e mártires
romanos e adorná-las com belas e elogiosas inscrições latinas. Tudo isso para
deixar claro que a verdadeira Roma é agora a Roma cristã. E nessa política insere-se
também o encargo dado a Jerónimo, erudito do norte de Itália, para que faça uma
versão latina da Bíblia, moderna e facilmente inteligível (em vez da velha-latina
“Itala” ou “Vetus Latina”). Ela traduz com toda a naturalidade muitas
expressões, sobretudo veterotestamentárias, mediante outras do direito romano, e
se converte mais tarde na “Vulgata”, normativa tanto no eclesiástico-teológico
como no litúrgico-jurídico. Qual é a contribuição de Dámaso, que, como todos os
outros bispos romanos do século IV, tenta atrair a simpatia da alta sociedade
romana saudosista da grande Roma pagã? Poder-se-á dizer que a sua contribuição é,
como diz com sensatez Henry Chadwick, “que ele funde o orgulho imperial e civil
vetero-romano com o cristianismo”. Quem quiser escrever uma história da
mentalidade da Cúria romana deve começar por aí.
Extraído de “El
cristianismo, esencia e historia” de Hans Küng, Ed. Trotta. Pag. 323
sexta-feira, 5 de abril de 2013
ROMA APLICA A SI MESMO A NEOTESTAMENTÁRIA PROMESSA A PEDRO
Publicada por
Conhecereis a Verdade
à(s)
18:23
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Temas:
papado,
sucessão apostólica
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