A opinião amplamente maioritária até ao século XVI é que o cânon do AT como regra de fé era o hebreu; admitindo-se ao mesmo tempo que os livros chamados Apócrifos ou Eclesiásticos e depois deuterocanónicos são úteis para a edificação mas não para fundar doutrinas.
I. O cânon do Antigo Testamento: séculos II e III
Além do que pode inferir-se com base no uso de determinados livros, o primeiro autor cristão cuja opinião explícita do cânon do AT se conservou (graças a Eusébio de Cesareia) é Melitão, bispo de Sardes na Ásia Menor (m. cerca de 190). Na sua carta a Onésimo dá um «catálogo dos escritos admitidos do Antigo Testamento» que corresponde essencialmente ao cânon hebreu, apenas com a omissão de Ester (Eusébio, História Eclesiástica IV, 26:12-14).
Um catálogo similar e provavelmente contemporâneo (século II), mas com o acréscimo de Ester, foi achado em 1875 no mesmo manuscrito em que se encontrou a Didaquê, ou Doutrina dos Doze Apóstolos, um dos mais antigos documentos cristãos extracanónicos.
Em meados do seguinte século, o destacado erudito bíblico Orígenes de Alexandria, que pode considerar-se com justiça o pai da crítica textual, afirmava: «Não se deve ignorar que os livros testamentários, tal como os transmitiram os hebreus, são vinte e dois, tantos como o número de letras que há entre eles». Orígenes dá depois uma lista de tais livros que correspondem quase exatamente ao cânon hebreu exceto pelo acréscimo da «carta de Jeremias»; como parte do livro canónico do mesmo nome, e pela omissão dos Profetas menores (Eusébio, História Eclesiástica VI, 25:1-2). Este último aspecto é seguramente um deslize original ou de transcrição, já que o total referido é de 21 e a canonicidade de dito livro – os Doze Profetas Menores - nunca esteve em dúvida. Diz Orígenes explicitamente que os livros de Macabeus estão «à parte destes». Há que reconhecer, no entanto, que na prática, Orígenes se negou a excluir totalmente os apócrifos, porque eram usados na Igreja, como ele mesmo o explica na sua Carta a Júlio Africano.
II . O cânon do Antigo Testamento: séculos IV e V
Uma evidência da «fluidez» do cânon do AT naquele tempo, no que aos livros Eclesiásticos diz respeito, é indicada pelos mais antigos códices existentes: o Sinaítico e o Vaticano, ambos do século IV, e o Alexandrino, do seguinte século. Estes manuscritos que são cristãos, incluem o AT grego da Septuaginta, a tradução judaica alexandrina pré-cristã, mas (além de perdas acidentais) diferem nos livros apócrifos/deuterocanónicos incluídos. O Sinaítico inclui, além de Tobite, Judite, 1 Macabeus, Sabedoria de Salomão e Eclesiástico (Sirá), 4 Macabeus (que nunca foi tido por canónico), enquanto exclui 2 Macabeus e Baruc. O códice Vaticano exclui todos os livros de Macabeus; pelo contrário, o Alexandrino inclui os quatro livros de Macabeus. Em outras palavras, nos manuscritos às vezes faltam livros tidos hoje por canónicos pela Igreja de Roma, e noutras ocasiões estão incluídos livros cuja canonicidade rejeita a citada Igreja.
Atanásio, bispo de Alexandria e campeão da ortodoxia nicena, na sua carta pascal 39ª de 367 dá aos bispos africanos uma lista de livros do AT similar à hebraica, com a diferença de que inclui Baruc e a Carta de Jeremias e omite Ester. A lista é parecida à de Orígenes, ainda que ponha Rute separado de Juízes. Diz Atanásio:
"Mas para maior exatidão devo ... acrescentar isto: há outros livros fora destes, que não estão certamente incluídos no cânon, mas que foram desde o tempo dos padres dispostos para ser lidos aos que são recém-convertidos à nossa comunhão e desejam ser instruídos na palavra da verdadeira religião. Estes são a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Sirá [Eclesiástico], Ester, Judite e Tobite ... Mas enquanto os primeiros estão incluídos no cânon e estes últimos se leem [na igreja], não se deve fazer menção aos livros apócrifos. São a invenção de hereges que escrevem segundo a sua própria vontade ..."
Nicene and Post-Nicene Fathers, 2nd Series (= NPNF2), 4:551-552
Como pode ver-se, Atanásio tornou explícito o que Orígenes fez na prática: reconhecer essencialmente o cânon hebreu, enquanto admitia a existência de livros que, embora fora do cânon, tinham valor para a instrução. Por outro lado, aqueles que ele chama apócrifos são obra de hereges e devem ser excluídos.
Quatro anos antes de Atanásio escrever esta carta houve um sínodo em Laodiceia, em cujo cânon 59 se estabelecia que nas Igrejas deviam ser lidos apenas os livros canónicos dos Testamentos Antigo e Novo. O cânon 60 dá uma lista essencialmente igual à de Atanásio, mas inclui o livro de Ester (NPNF2 14:158-159). É possível que este cânon 60 seja uma adição posterior.
Quatro anos antes de Atanásio escrever esta carta houve um sínodo em Laodiceia, em cujo cânon 59 se estabelecia que nas Igrejas deviam ser lidos apenas os livros canónicos dos Testamentos Antigo e Novo. O cânon 60 dá uma lista essencialmente igual à de Atanásio, mas inclui o livro de Ester (NPNF2 14:158-159). É possível que este cânon 60 seja uma adição posterior.
Cirilo, bispo de Jerusalém entre 348 e 386, segue basicamente a opinião de Orígenes, mas inclui Baruc (NPNF2, 7:27).
Gregório Nacianceno (330-390) dá uma lista de livros canónicos em verso, onde reconhece vinte e dois livros; omite Ester (Hino 1.1.72.31). Anfilóquio, bispo de Icónio (m. cerca de 394) dá uma lista igual à de Gregório, mas acrescenta: «Juntamente com estes, alguns incluem Ester».
Epifânio, bispo de Salamina em Chipre (315-403) dá uma lista de 22 livros similar à anónima do século II mencionada mais acima (Sobre pesos e medidas, 23). Em outro lado, acrescenta como apêndice a uma lista de livros do Novo Testamento a Sabedoria de Salomão e a de Sirá (Panarion 76:5).
Jerónimo (346-420) foi secretário do bispo de Roma, Dámaso, entre 382 e 384. Por pedido de Dámaso, começou a rever os Salmos e os Evangelhos (ou quiçá todo o Novo Testamento) da versão bíblica chamada Latina Antiga. Depois da morte de Dámaso, em 384, começou uma peregrinação até que se estabeleceu em Belém (Palestina) em 386. Aí prosseguiu a sua tarefa. Começou com uma nova revisão do Saltério em latim conforme à Septuaginta (LXX). No entanto, rapidamente se convenceu de que devia trabalhar a partir do texto hebraico. A sua obra de tradução do AT foi completada em 405. Ao que parece não planeava incluir os apócrifos/deuterocanónicos mas mais tarde cedeu ao costume prevalecente (eclesiástico) e realizou uma tradução de Tobite e Judite «do aramaico»; o resto dos apócrifos/deuterocanónicos não foi traduzido por ele, mas acrescentado por outros tal como se achavam na Latina Antiga. Não é verdade que os incluísse por ordem de Dámaso, que já estava morto há mais de 20 anos quando Jerónimo completou o seu trabalho.
Jerónimo enumera o cânon hebreu palestino exatamente, e dá conta da dupla numeração como 24 ou 22, segundo se Rute e Lamentações se contassem por separado ou agregados, respetivamente, a Juízes e Jeremias. Depois escreve:
"Este prólogo às Escrituras pode servir como um prefácio com elmo [galeatus] para todos os livros que vertemos do hebraico para o latim, para que possamos saber – os meus leitores tanto como eu mesmo - que qualquer [livro] que esteja para lá destes deve ser reconhecido entre os apócrifos. Portanto, a Sabedoria de Salomão, como se a titula comummente, e o livro do Filho de Sirá [Eclesiástico] e Judite e Tobias e o Pastor não estão no Cânon."
Jerónimo traçou a diferença entre os livros canónicos e os eclesiásticos como se segue:
"Como a Igreja lê os livros de Judite e Tobite e Macabeus, mas não os recebe entre as Escrituras canónicas, assim também lê Sabedoria e Eclesiástico para a edificação do povo, não como autoridade para a confirmação da doutrina."
De igual modo, sublinhou que as adições a Ester, Daniel e Jeremias (o livro de Baruc) não tinham lugar entre as Escrituras canónicas.
Agostinho (354-430), bispo de Hipona, foi o grande autor cristão quase contemporâneo de Jerónimo. Agostinho possuía uma bagagem teológica que faltava a Jerónimo, mas em compensação este tinha um sentido crítico bíblico muito mais desenvolvido. Embora Agostinho reconhecesse a importância das línguas originais, não sabia hebraico, e instou na sua correspondência com Jerónimo a que este realizasse a sua nova versão a partir da Septuaginta. Dá uma lista do cânon do Antigo e Novo Testamentos em Sobre a Doutrina Cristã 2 (8):13, no qual inclui os apócrifos/deuterocanónicos. No entanto, em outras ocasiões Agostinho demonstra estar consciente da distinção entre o cânon e o uso eclesiástico:
Desde o tempo da restauração do templo entre os judeus já não houve reis, mas príncipes, até Aristóbulo. O cálculo do tempo destes não se encontra nas Santas Escrituras chamadas canónicas, mas em outros escritos, entre os quais estão os livros dos Macabeus, que não têm por canónicos os judeus, mas a Igreja...
A Cidade de Deus, XVIII:36
No entanto, como outros autores cristãos antes dele, na prática a distinção era frequentemente esquecida.
Concílios africanos. Estes realizaram-se em finais do século IV e princípios do V, e a autoridade de Agostinho parece ter sido decisiva. Não há documentos do Concílio de Hipona de 393, mas outro sínodo em Cartago (397) reafirma a lista de livros do AT e NT, este último tal como hoje o conhecemos (uma lista igual havia sido dada 30 anos antes por Atanásio na sua Carta Pascal), e o AT com os livros Eclesiásticos, incluído 1 Esdras (= 3 Esdras no Apêndice da Vulgata), que não forma parte do Cânon de Trento. A decisão foi ratificada no sexto Concílio de Cartago de 419. Não figuram as distinções que tinha indicado Agostinho (e outros antes dele).
O bispo de Roma Inocêncio I, numa carta ao bispo de Tolosa, Exupério, dá em 405 uma lista de livros do AT que inclui os apócrifos/deuterocanónicos (com 1 Esdras).
Rufino, contemporâneo de Jerónimo, no seu Comentário ao Credo dos Apóstolos dá depois do Concílio de Cartago de 397 uma lista de livros do AT que corresponde exatamente ao cânon hebreu. Depois precisa:
Mas devia saber-se que há também outros livros que nossos padres não chamam canónicos, mas eclesiásticos, ou seja, Sabedoria, chamado Sabedoria de Salomão, e outra Sabedoria, chamada a Sabedoria do filho de Sirá, o último dos quais os latinos chamam pelo título geral de Eclesiástico ...
Ao mesmo tipo pertencem o livro de Tobite, e o livro de Judite, e os livros dos Macabeus ... todos os quais se leram nas Igrejas, mas não se apela a eles para a confirmação da doutrina. Aos outros escritos lhes chamaram «Apócrifos»; estes não admitiram que se leiam nas Igrejas.
(NPNF2 3:558)
Atribui-se a Gelásio, bispo de Roma (492-496) um decreto acerca dos livros que devem ser recebidos e dos que não devem ser recebidos, que segundo alguns manuscritos é atribuído ao papa Dámaso; no entanto, o tal Decreto parece ser uma compilação realizada em Itália no século VI.
III. O cânon do Antigo Testamento: séculos VI e VII
Um século mais tarde Gregório Magno, bispo de Roma (590-604) continuava a insistir na distinção entre livros canónicos e eclesiásticos:
Em relação a tal particular não estamos a agir irregularmente, se dos livros, ainda que não canónicos, no entanto outorgados para a edificação da Igreja, extraímos testemunho. Assim, Eleázar na batalha feriu e derribou o elefante, mas caiu debaixo da própria besta que tinha matado [1 Macabeus 6:46].
Library of the Fathers of the Holy Catholic Church, 2:424; negrito acrescentado.
Que a questão do cânon do AT não estava nem pouco mais ou menos resolvida, o confirma não só Gregório Magno, mas outros bispos como os africanos Jumilius e Primasius (seguem Jerónimo), Anastácio de Antioquia e Leôncio, que reconhecem o cânon hebreu.
Sexto Concílio Ecuménico. No sínodo de Constantinopla, chamado Trulano, reunido em 692 como uma espécie de continuação do Sexto Concílio Ecuménico, Terceiro de Constantinopla (680-681) se ratificaram os cânones dos Concílios anteriores, incluindo o de Cartago. Com isto poderia pensar-se que implicitamente se ratificou o cânon do AT ali determinado. No entanto, no mesmo documento os bispos conciliares também ratificavam os «cânones» (cartas decretais) de Atanásio, Gregório Nacianceno e Anfilóquio, os quais, como vimos, defendiam um cânon virtualmente igual ao hebreu (NPNF2 14:361). De modo que não fica clara a posição destes bispos do VI Concílio Ecuménico acerca do cânon do AT; é possível que eles mesmos não tivessem uma posição uniforme.
No mesmo século João de Damasco (aprox. 675-749), na sua Exposição da Fé Ortodoxa (4:18) defende também o cânon hebreu, o qual explica com certo detalhe, e acrescenta:
Está também o Panaretus, isto é, a Sabedoria de Salomão, e a Sabedoria de Jesus, publicada em hebraico pelo pai de Sirá [=Eclesiástico] e posteriormente traduzido para o grego por seu neto, Jesus filho de Sirá. Estes são virtuosos e nobres, mas não são contados nem foram depositados na arca.
(NPNF2 9:89-90)
IV. O Cânon do Antigo Testamento: Curso Posterior
Poderiam citar-se muitos outros autores entre os séculos IX e XV que sustiveram explicitamente o cânon hebreu e respeitaram a distinção traçada por Jerónimo. Por exemplo, Beda, Alcuíno, Nicéforo de Constantinopla, Rábano Mauro, Agobardo de Lyon, Pedro Maurício, Hugo e Ricardo de São Vítor, Pedro Comestor, João Belet, João de Salisbury, o anónimo autor da Glossa Ordinaria, João de Columna, arcebispo de Messina, Nicolau de Lira, William Occam, Afonso Tostado, bispo de Ávila, e o Cardeal Francisco Jiménez de Cisneros (editor da famosa Poliglota Complutense, o maior monumento à erudição bíblica católica do século XVI). A posição deste último era a seguinte:
O cardeal Jiménez de Cisneros produz em Espanha a sua monumental Bíblia poliglota chamada Complutense (1514–1517), com o texto latino da Vulgata no centro, o grego da Septuaginta de um lado e o hebraico massorético do outro, que representam respetivamente a Igreja Grega e a Sinagoga, e diz que o texto latino se imprime no meio «como Jesus foi crucificado entre dois ladrões». Mas quanto aos deuterocanónicos, que estão incluídos na Complutense, explica no seu Prefácio que são recebidos pela Igreja para edificação, mas não para fundamentar doutrinas, pelo que se vê que o ditame de São Jerónimo continua ainda em vigência.
(Gonzalo Báez-Camargo, Breve historia del Canon bíblico , 1980, p. 56; negrito acrescentado)
Duas importantes autoridades sobre a Bíblia, nessa mesma época, são Erasmo de Roterdão, o eminente humanista, e o cardeal Caetano. Erasmo dá a lista do cânon hebreu omitindo Ester. E dos deuterocanónicos, entre os quais coloca este livro, sem dúvida porque está considerando-o no seu texto grego (com adições) e não no hebraico, diz que «foram recebidos para o uso eclesiástico», mas que "seguramente (a Igreja) não deseja que Judite, Tobite e Sabedoria tenham o mesmo peso que o Pentateuco".
Eis aqui como resume a situação no Ocidente um autor católico:
Na Igreja latina, ao longo de toda a Idade Média achamos evidência de hesitação acerca do caráter dos deuterocanónicos. Há uma corrente amistosa para com eles, outra distintamente desfavorável para com a sua autoridade e sacralidade, enquanto oscilando entre ambas há um número de escritores cuja veneração por estes livros é temperada por certa perplexidade acerca da sua posição exata, e entre eles encontramos São Tomás de Aquino. Encontram-se poucos que reconheçam inequivocamente a sua canonicidade. A atitude prevalecente dos autores ocidentais medievais é substancialmente a dos Padres gregos.
(George J. Reid, Canon of the Old Testament, em The Catholic Encyclopedia ,1913; negrito acrescentado)
O peso da evidência indica que por muito tempo existiu uma distinção entre os livros canónicos (basicamente o cânon hebreu) e os eclesiásticos, que correspondem aos apócrifos/deuterocanónicos. Lamentavelmente, a nomenclatura nos autores antigos não é uniforme, e assim o próprio Jerónimo chama «apócrifos» aos Eclesiásticos; mas às vezes reserva tal apelativo para os livros heréticos. De igual modo, havia confusão acerca do termo «canónico» que em sentido estrito costumava reservar-se para os livros considerados inspirados e santos de maneira singular, mas que com frequência se referia a toda a coleção, incluindo os eclesiásticos. Este problema foi notado pelo Cardeal Tomás de Vio (Caetano):
Aqui concluímos nossos comentários sobre os livros históricos do Antigo Testamento. Pois o resto (isto é, Judite, Tobite, e os livros de Macabeus) são contados por Jerónimo fora dos livros canónicos. E são postos entre os apócrifos. Juntamente com Sabedoria e Eclesiástico, como é evidente do Prólogo com Elmo. E não te preocupes, como um erudito principiante, se acharem em qualquer lado, seja nos sagrados concílios ou nos sagrados doutores, estes livros reconhecidos como canónicos. Pois as palavras tanto dos concílios como dos doutores devem ser reduzidas à correção de Jerónimo. Ora, segundo o seu juízo, na carta aos bispos Cromácio e Heliodoro, estes livros (e quaisquer outros como eles no cânon da Bíblia) não são canónicos, isto é, não são da natureza de uma regra para confirmar assuntos de fé. Contudo, eles podem ser chamados canónicos, isto é, da natureza de uma regra para a edificação dos fiéis, como tendo sido recebidos e autorizados no cânon da Bíblia para este propósito. Com a ajuda desta distinção tu podes ver o teu caminho claramente através do que diz Agostinho, e do que está escrito no Concílio provincial de Cartago.
(Sobre o último Capítulo de Ester)
Como pode ver-se, já bem dentro do século XVI eminentes eruditos católicos ainda sustentavam, para o Antigo Testamento, a distinção entre livros Canónicos propriamente ditos (os do cânon hebreu) e livros Eclesiásticos (num nível inferior e portanto não canónicos em sentido estrito).
O cânon do Antigo Testamento que a Igreja Católica determinou para sua total satisfação não somente difere do hebreu e protestante, mas é diferente do aceite em Cartago e do admitido pelas diversas igrejas Ortodoxas orientais. A decisão dogmática do Concílio de Trento pôs (pelo menos para os católicos) fim a esta distinção muito razoável e sustentada pela maioria durante séculos.
Fernando D. Saraví
Mendoza-Argentina
Prezado Blogueiro!
ResponderEliminarGostaria de um subsídio para refutar este artigo católico do site vivacatholic.wordpress.com/ e que na versão brasileira encotra-se neste site:
http://www.bibliacatolica.com.br/blog/apologetica/quem-possui-o-numero-correto-de-livros-na-biblia/
A Paz de Cristo!
Parabéns pelo blog!
Que Deus te abençoe!
Eu não posso refutar em concreto todos os artigos dos apologistas católicos que correm por essa Internet fora.
ResponderEliminarPara além da informação que pode encontrar aqui nos vários posts sobre o cânon bíblico, veja os comentários protestantes feitos ao artigo original e já tem os subsídios suficientes para refutar esse artigo católico :)
Use o google tradutor se tiver dificuldade com o inglês.
http://vivacatholic.wordpress.com/2012/02/05/who-has-the-correct-number-of-books-in-the-bible/#comments
Obrigado!!!!!!!
ResponderEliminar"Duas IMPORTANTES AUTORIDADES sobre a Bíblia, nessa mesma época, são Erasmo de Roterdão, o eminente humanista, e o CARDEAL CAETANO".
ResponderEliminarVcs protestantes são dignos de pena mesma. Quando se trata de dar sustentação as suas heresias, um cardeal da SANTA IGREJA CATÓLICA ROMANA, se torna uma "IMPORTANTE AUTORIDADE SOBRE A BIBLIA".
Depois de tecer elogios a Santo Agostinho, termina DETURPANDO os seus escritos, como fazem tambem com as Escrituras Sagradas. Vejamos: No entanto, em outras ocasiões Agostinho demonstra estar consciente da distinção entre o cânon e o uso eclesiástico:
Desde o tempo da restauração do templo entre os judeus já não houve reis, mas príncipes, até Aristóbulo. O cálculo do tempo destes não se encontra nas Santas Escrituras chamadas canónicas, mas em outros escritos, entre os quais estão os livros dos Macabeus, que não têm por canónicos os judeus, mas a Igreja...
Preste atenção as palavras de Agostinho:"...entre os quais estão os LIVROS DOS MACABEUS, QUE NÃO TEM POR CANÔNICO OS JUDEUS, mas a IGREJA..."
Santo Agostinho está dizendo aqui que os "outros escritos, entre os quais se econtram os livros dos Macabeus, não são tidos por CANÔNICOS pelos JUDEUS, mas sim pela Igreja. São os judeus e os protestantes(que surgiram no século XVI)que rejeitam esses livros e não a Igreja de Jesus Cristo denominada CATÓLICA no final do século I, tendo em vista que Igreja os usavam para o ensino e instrução dos recem-convertidos.Ora por que razão a Igreja usaria esses livros para o ensino e instrução dos fiéis, se eles fossem livros expúrios. Ainda que alguns Pais da Igreja tem tido algum receio quanto a canonicidade deles, nenhum concilio ecumenico anterior ao concilio de trento tenha se manisfestado contrário. Como dizia Agostinho:"no que diz respeito às Escrituras canônicas, ele deve seguir a decisão do maior número de igrejas católicas, e entre estas, naturalmente, um lugar de destaque deve ser dado a tal que tem sido considerada digna de ser a SEDE DE UM APÓSTOLO".(Doutrina Cristã Livro II,cap 8 nº 12). Obra ja citada aqui.
A respeito de vcs ja tinha dito o Apostolo Pedro, o primeiro Papa na chefia da Igreja de Jesus Cristo (Jo 21,15-17)denominada CATÓLICA no final do século I:"...nelas há alguns pontos dificeis de entender, que pessoas IGNORANTES e sem firmeza DETURPAM, como o fazem com as outras ESCRITURAS, para sua própria pedrição"(2 Pedro 3,16).
O que Agostinho diz claramente é que os livros dos Macabeus não se encontram nas Santas Escrituras mas em outros escritos que a igreja tinha por canónicos. Aqui a palavra canónicos significa aprovados pela Igreja como é óbvio. Dai que como se disse nesta passagem Agostinho demonstra estar consciente da distinção entre as Sagradas Escrituras e o uso eclesiástico de outros escritos.
ResponderEliminarA outra citação de Agostinho apenas demonstra que não foi uma decisão dgmática da Igreja de Roma que decidiu o cânon mas é um testemunho da forma como a Igreja Católica antiga no Século IV discerniu e chegou a um consenso sobre o conteúdo do cânon do Novo Testamento.
O Ally Barreto foi quem aqui manifestou uma grande ignorância e deturpou os escritos de Agostinho e as Escrituras. Por isso o que diz o apóstolo Pedro aplica-se a ele na perfeição.
Graça e Paz, meu irmão amado ( blog conhecereis a verdade).
ResponderEliminarO seu blog está se tornando muito conhecido aqui no Brasil e já podemos chama-lo de pedra no sapato dos apologistas católicos.
Enfim, muitos outros hereges virão aqui tentar refutá - lo.
Deus seja contigo!
Shalom.
Honrado!!!Eu também concordo!!!!!Eles estão endoidando mesmo!!!!! Eu gosto muito do debate,desde que,seja feito no mais alto nível de civilidade e educação,pois não é nenhum crime termos diferenças doutrinárias.O problema é quando fazemos da diferença motivo de pré-julgamento e acusação!!!
ResponderEliminarEu queria que estes romanistas viessem aqui com um nível melhor e não com difamações baratas...
Refutando os hereges das bíblias mutiladas.
ResponderEliminarComo escreve o historiador J. N. D. Kelly da Igreja Protestante, “deve ser observado que o Antigo Testamento, dessa maneira, admitido como oficial na Igreja era algo maior e mais abrangente (do que a Bíblia Protestante)... Sempre incluiu, embora com graus variáveis de reconhecimento, os assim chamados apócrifos ou livros deuterocanônicos” (Early Christian Doctrines, 53).-Veritatis Splendor-
Foram os hereges que mutilaram a Bíblia e não a Igreja que acrescentou,porém abaixo eu trago PROVAS PATRÍSTICAS PRIMITIVAS sobre os deuterocanônicos!!!!
http://www.veritatis.com.br/apologetica/106-biblia-tradicao-magisterio/792-o-canon-do-antigo-testamento
Agora eu tenho que imitar o adágio do Fernando Nascimento!!!
"CAI A FARSA"!!!!!!!!!!
Só não apago este comentário pelo seu tom ofensivo porque dá a oportunidade de desmascarar estes apologistas sem escrúpulos.
ResponderEliminarEsta citação de J.N.D Kelly é a favorita dos apologistas católicos. É repetida em centenas de sites de apologética católica. Mas ela não provê nada de especial para a posição romanista. Apenas confirma o que já temos vindo a dizer aqui. O Antigo Testamento nas Bíblias cristãs primitivas era constituído pelos livros do cânon hebraico mais o "plus" da Septuaginta. Sendo que os primeiros tinham uma autoridade e grau de reconhecimento superior que os segundos dado pela maioria dos cristãos.
Vejamos:
O texto como apresentado pelo site Veritatis Splendor está deturpado, o autor é citado selectivamente e descontextualizado para parecer dizer mais do que aquilo que diz.
O texto trata da forma como os livros apócrifos foram parar ao AT da Bíblia cristã e de como eram usados na Igreja nos primeiros séculos. E é verdade que coexistiam juntos tanto livros canónicos como apócrifos na Bíblia cristã com graus variáveis de reconhecimento como diz o autor e nós concordamos.
O texto em inglês com mais contexto é assim:
"It should be observed that the Old Testament thus admitted as authoritative in the Church was somewhat bulkier and more comprehensive than the twenty-two, or twenty-four, books of the Hebrew Bible of Palestinian Judaism. (These conventional totals were arrived at by reckoning 1 and 2 Samuel and 1 and 2 Kings as two books, the twelve minor prophets as one book, Ezra-Nehemiah and 1-2 Chronicles as one book each, and in the case of the former, by attaching Ruth and Lamentations to Judges and Jeremiah respectively.) It always included, though with varying degrees of recognition, the so-called apocrypha or deutero-canonical books. The reason for this is that the Old Testament which passed in the first instance into the hands of the Christians was not the original Hebrew version, but the Greek translation known as the Septuagint." (Early Christian Doctrines, 53).
Em português:
"Deve ser observado que o Antigo Testamento admitido como autorizado na Igreja era algo maior e mais abrangente do que os 22 ou 24, livros da Bíblia Hebraica do Judaísmo Palestino. (Estes totais convencionais foram obtidos contando 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis como dois livros, os doze profetas menores como um livro, Esdras-Neemias e Crônicas 1-2 como um livro cada um, e no primeiro caso, anexando Rute e Lamentações a Juízes e Jeremias, respectivamente). Sempre incluiu, embora com graus variáveis de reconhecimento, os chamados apócrifos ou livros deuterocanônicos. A razão para isso é que o Antigo Testamento que passou em primeira instância para as mãos dos Cristãos não foi a versão original Hebraica, mas a tradução grega conhecida como Septuaginta."
Agora notem-se as diferenças.
Repare-se na subtileza de trocar "os 22 ou 24, livros da Bíblia Hebraica do Judaísmo Palestino" por "Bíblia Protestante" na citação desonesta e selectiva.
Note-se que também se podia ter escrito algo maior e mais abrangente (do que a Bíblia Católica) porque nas Bíblias cristãs primitivas estavam incluídos mais livros apócrifos que os sete canonizados pela Igreja Católica em Trento.
O mesmo autor admite ainda no mesmo texto que o cânon palestino estava "rigidamente fixado" durante a época apostólica. Mas isto não convinha mostrar e a solução foi deturpar o texto.
CAI MAIS UMA FARSA!!!!!
Católico desafia pastor evangélico e escreve em sua refutação:
ResponderEliminar"Fazendo uma análise criteriosa dos três concílios onde foram estabelecidos os livros canônicos e o concílio de Trento no século XVI, concluímos que nada foi alterado no cânon, desde o quarto século, o cânon possui (73) livros canônicos, o que o concílio de Trento fez, foi apenas re-confirmar o cânon de Roma, Hipona e Cartago, assim como fez todos os outros concílios anteriores ao de Trento; cito aqui o concílio de Florença realizado um século antes do concílio de Trento."
http://macabeuscomunidades.blogspot.com.br/2012/08/desafio-macabeus-x-pr-airton-costa.html
É realmente ridículo argumentar que o canon estabelecido em Treno seja exatamente o mesmo dos concilios anteriores.
Realmente é extraordinário como em tão poucas linhas se pode dizer tantas asneiras.
ResponderEliminar1) O Cânon de Roma não existe, é uma falsificação do século VI.
2) Não é líquido que a lista de livros do Antigo Testamento que deram os concílios Africanos seja de livros canónicos em sentido estrito. Há muitos bons historiadores que defendem que a intenção dos concílios foi enumerar os livros que eram lidos na igreja, portanto os livros canónicos em sentido amplo e não apenas os considerados inspirados e santos de maneira singular.
3) Seja como for, a lista dos concílios Africanos (e a suposta de Roma)não é coincidente com a lista do Concílio de Trento. Na lista de Trento falta 1 Esdras.
3) Mais nenhum concílio até Trento se pronunciou sobre o tema do cânon. É falso que o concílio de Florença tenha reconfirmado qualquer cânon. Depois desse concílio, eminentes personalidades da Igreja continuaram a sustentar que o cânon do Antigo Testamento era o cânon hebraico, sendo os apócrifos uma classe de livros à parte.
4) Se Trento apenas reconfirmou o estabelecido na antiguidade por que é que o cânon das Igrejas Ortodoxas Orientais, das quais Roma se separou, é diferente do cânon estabelecido em Trento?
Como se pode ver esse católico está completamente desligado da realidade,vive no mundo da fantasia.
Os sínodos de Hipona e Cartago não decidiram sobre o cânon? As decisões eram universais ou locais?Pergunto isto porque a sustentação romana se baseia nos sínodos africanos...
ResponderEliminarO que esses sínodos decidiram representa o que era a prática da época na Igreja Norte Africana.
ResponderEliminarComo o próprio nome indica "sínodos africanos" são sínodos locais não representativos nem vinculativos para a igreja universal.
Não tiveram grande efeito na igreja universal. Jerónimo, por exemplo, não parece ter tido conhecimento das suas decisões ou se teve ignorou-as.
Existem vários problemas com sua tese. Se havia um cânon hebraico definido ANTES de Cristo (pois o que os judeus definiram depois pouco me importa), então por que os cristãos não simplesmente herdaram esse cânon?
ResponderEliminarO que vemos é o seguinte: Melito de Sardes, que viajou para a Palestina especificamente para conhecer o cânon hebraico, omite Ester! Quer indicação mais forte de que não havia consenso ainda sobre um cânon hebraico?
Orígenes, mais tarde, ao listar o canôn "dos hebreus", novamente omite Ester e, como você mesmo reconheceu, registra que a Igreja usava os deuterocanônicos. E ele ainda cita os deuterocanônicos em suas obras como Escritura!
Aliás, nas obras dos Padres apostólicos vemos citações dos deuterocanônicos também. Não teriam eles simplesmente herdado um "cânon hebraico" supostamente definido antes de Cristo?
E quando alguns Padres orientais questionam vários deuterocanônicos, como Atanásio e Cirilo de Jerusalém, novamente vemos que eles omitiam Ester (e incluiam Baruc!). Desconheciam o suposto cânon hebraico sobre o qual vocês protestantes insistiam que já havia consenso antes de Cristo? (E, diga-se de passagem, Atanásio e outros continuavam citando deuterocanônicos como "a Escritura diz...").
A verdade é que não havia nenhum cânon definido antes de Cristo. E é por isso que a Igreja não teve um cânon do AT definido desde o início! O que vocês fazem é simplesmente tomar emprestado o cânon dos judeus (depois de Cristo) e criar a ficção de que esse era o "cânon aceito por todos antes de Cristo".
Você ainda deturpa muitas informações. Agostinho explicitamente chama de "Escritura Sagrada" os deuterocanônicos. Ele apenas fez uma distinção entre o que era canônico PARA OS JUDEUS e o que era PARA A IGREJA. Era importante distinguir o que era canônico para os judeus porque os cristãos deveriam argumentar a partir dos livros já aceitos pelos judeus. Agostinho citou os deuterocanônicos várias vezes como "Escritura" e atribui profecias a Eclesiástico. Assim ele lista o cânon:
"O cânon completo DAS SAGRADAS ESCRITURAS... compreende: [segue uma lista que inclui os deuterocanônicos]".
Também Rufino, depois de desentender-se com Jerônimo, voltou atrás na sua adesão de um cânon menor. E várias outras listas da época de Jerônimo incluiam deuterocanônicos.
Conclusão: não havia consenso NENHUM sobre o cânon protestante do AT. A Igreja não herdou um cânon do AT do povo judeu antes de Cristo, mas sim reconheceu um muito tempo depois.
[João Moraes].” Existem vários problemas com sua tese. Se havia um cânon hebraico definido ANTES de Cristo (pois o que os judeus definiram depois pouco me importa), então por que os cristãos não simplesmente herdaram esse cânon?”
ResponderEliminar[ Resposta] A mim parece-me que com a sua tese existem muitos mais problemas. Mas quem lhe disse que os cristãos não herdaram esse cânon? Você confunde a listagem dos livros do cânon do AT com a aceitação do cânon hebraico. Os cristãos herdaram o cânon hebraico, mas não herdaram a definição dos seus limites num livro pronto a usar (até porque o códice só aparece no século II E ATÉ AÍ OS LIVROS CIRCULAVAM EM ROLOS SEPARADOS) ou uma lista caída do céu com uma compilação de todos os livros do cânon hebraico. Ao fazerem eles esta delimitação dos limites do cânon hebraico é natural que por vezes a listagem dos livros não fosse rigorosa e apresentasse alguns equívocos. Mas estas listas representam virtualmente todo o cânon hebraico.
Não se segue do fato de Melitão não citar Ester, que não havia já um cânon bíblico consensual entre os hebreus, nem que os cristãos não aceitassem esse cânon.
Existem outras razões para isso ter acontecido. Primeiro, o livro de Ester é um livro particular que sempre esteve para muitos na periferia do cânon tal como este foi recebido pelos hebreus. Segundo, como os cristãos receberam o AT através da tradução grega da Septuaginta e nesta tradução o livro de Ester trazia adições em grego, este livro por vezes era omitido dos livros do cânon hebraico. O próprio Erasmo de Roterdão, no Sec. XVI, omite Ester do cânon hebraico e o relega para os livros eclesiásticos por este motivo.
Como vê existe outros motivos para Melitão omitir Ester da lista do cânon hebraico diferente da não existência já de um cânon bíblico consensual entre os hebreus. Quer indicação mais forte do que a listagem de todos os livros do cânon hebraico com exceção de um? Que, ainda por cima, essa exceção pode ser explicada facilmente? O que Melitão não cita certamente como pertencentes ao cânon do AT é algum dos livros deuterocanónicos.
[João Moraes] "Orígenes, mais tarde, ao listar o canôn "dos hebreus", novamente omite Ester e, como você mesmo reconheceu, registra que a Igreja usava os deuterocanônicos. E ele ainda cita os deuterocanônicos em suas obras como Escritura!
Aliás, nas obras dos Padres apostólicos vemos citações dos deuterocanônicos também. Não teriam eles simplesmente herdado um "cânon hebraico" supostamente definido antes de Cristo?"
[Resposta] Está-me a parecer que você não leu o artigo que comenta. Orígenes afirma expressamente que o cânon do VT SÃO OS QUE OS HEBREUS TRANSMITIRAM E QUE SÃO 22. Dá depois uma lista de tais livros que correspondem quase exatamente ao cânon hebreu exceto pelo acréscimo da «carta de Jeremias»; como parte do livro canónico do mesmo nome, e pela omissão dos Profetas menores (Eusébio, História Eclesiástica VI, 25:1-2). Este último aspecto é seguramente um deslize original ou de transcrição, já que o total referido é de 21 e a canonicidade de dito livro – os Doze Profetas Menores - nunca esteve em dúvida. Diz Orígenes explicitamente que os livros de Macabeus estão «à parte destes».
Não omite Ester como você diz.
E o fato de usar e citar livros deuterocanónicos não quer dizer que lhes desse a mesma autoridade que dava aos livros do cânon hebreu. Eu também cito livros deuterocanónicos e, por exemplo, Lutero também citava muitos mas não os colocava no mesmo nível de autoridade que os livros do cânon hebraico. Ou você quer defender que Orígenes se contradizia a ele mesmo? Diz uma coisa e pratica outra?
Os Padres Apostólicos apesar de conhecerem os livros deuterocanónicos, nunca os citam como Escritura.
[João Moraes] E quando alguns Padres orientais questionam vários deuterocanônicos, como Atanásio e Cirilo de Jerusalém, novamente vemos que eles omitiam Ester (e incluiam Baruc!). Desconheciam o suposto cânon hebraico sobre o qual vocês protestantes insistiam que já havia consenso antes de Cristo? (E, diga-se de passagem, Atanásio e outros continuavam citando deuterocanônicos como "a Escritura diz...").
ResponderEliminar[Resposta] Novamente a questão da omissão de Ester já foi respondida acima. A inclusão do livro de Baruc e da Carta de Jeremias explica-se com o fato de estes textos estarem na Septuaginta anexados ao livro canónico de Jeremias. Então por vezes iam incluídos “por atacado”.
O fato é que Atanásio e Cirilo de Jerusalém dão uma lista de livros do AT praticamente igual à hebraica, com a diferença de que inclui Baruc e a Carta de Jeremias e omite Ester, pelas razões já explicadas e você afirma que eles “desconheciam o suposto cânon hebraico”. Bom, é preciso ter um mínimo de sensatez na argumentação se quiser ser levado a sério.
A propósito de Cirilo de Jerusalém (315 – 386 d.C), ele usava a Septuaginta mas apenas admitia 22 livros no cânon do AT, os mesmos do cânon hebraico que Josefo menciona.
«Seja solícito para aprender, e da Igreja, quais são os livros do Antigo Testamento, e quais do Novo; e peço-vos, não leiam nenhum dos livros apócrifos. Pois por que haveria você quando não conhece os livros reconhecidos por todos, de incomodar-se desnecessariamente com aqueles cuja autenticidade é disputada? Leia as divinas Escrituras, estes vinte e dois livros do Antigo Testamento traduzidos pelos setenta e dois intérpretes.»
Cirilo de Jerusalém, Leituras Catequéticas, IV.33
[João Moraes] A verdade é que não havia nenhum cânon definido antes de Cristo. E é por isso que a Igreja não teve um cânon do AT definido desde o início! O que vocês fazem é simplesmente tomar emprestado o cânon dos judeus (depois de Cristo) e criar a ficção de que esse era o "cânon aceito por todos antes de Cristo".
[Resposta] A verdade é que já havia claramente um cânon definido antes de Cristo. Como o evidencia a opinão dos especialistas e historiadores, e os testemunhos de fontes tão diversas como:
O Novo Testamento
O Testemunho histórico de autores judeus
Jesus ben Sirá
Filão de Alexandria
Apocalipse de Esdras (4 Esdras)
Flávio Josefo
O discutido em Jamnia que ratificou o cânon que já existia
As discussões do Talmude
E os Padres da Igreja.
Só ignorando toda esta evidência é que pode afirmar que não havia nenhum cânon definido antes de Cristo.
O Cânon do AT que nós aceitamos é simplesmente o mesmo que Jesus Cristo e os apóstolos aceitaram.
[João Moraes] “Você ainda deturpa muitas informações. Agostinho explicitamente chama de "Escritura Sagrada" os deuterocanônicos. Ele apenas fez uma distinção entre o que era canônico PARA OS JUDEUS e o que era PARA A IGREJA. Era importante distinguir o que era canônico para os judeus porque os cristãos deveriam argumentar a partir dos livros já aceitos pelos judeus. Agostinho citou os deuterocanônicos várias vezes como "Escritura" e atribui profecias a Eclesiástico. Assim ele lista o cânon:
ResponderEliminar"O cânon completo DAS SAGRADAS ESCRITURAS... compreende: [segue uma lista que inclui os deuterocanônicos]".”
[Resposta] Se lesse o texto que comenta com cuidado veria que onde se fala de Agostinho está dito o seguinte:
Dá uma lista do cânon do Antigo e Novo Testamentos em Sobre a Doutrina Cristã 2 (8):13, no qual inclui os apócrifos/deuterocanónicos. No entanto, em outras ocasiões Agostinho demonstra estar consciente da distinção entre o cânon e o uso eclesiástico:
Desde o tempo da restauração do templo entre os judeus já não houve reis, mas príncipes, até Aristóbulo. O cálculo do tempo destes não se encontra nas Santas Escrituras chamadas canónicas, mas em outros escritos, entre os quais estão os livros dos Macabeus, que não têm por canónicos os judeus, mas a Igreja...
A Cidade de Deus, XVIII:36
No entanto, como outros autores cristãos antes dele, na prática a distinção era frequentemente esquecida.
E num comentário acima, que pelos vistos também não lê, já respondi a essa questão dizendo que o que Agostinho diz claramente é que os livros dos Macabeus não se encontram nas Santas Escrituras mas em outros escritos que a igreja tinha por canónicos. Aqui a palavra canónicos significa aprovados ou usados pela Igreja como é óbvio. Daí que como se disse nesta passagem Agostinho demonstra estar consciente da distinção entre as Sagradas Escrituras e o uso eclesiástico de outros escritos.
A propósito, Agostinho usava a versão Antiga Latina que incluía 1 Esdras e por isso na lista dele inclui este livro que não é aceite como canónico pela Igreja católica romana. Ou seja, a lista do cânon do Velho Testamento que Agostinho dá não é igual à lista aceite pela Igreja Romana.
Portanto quem aqui manifestou uma grande ignorância e deturpou os escritos de Agostinho não fui eu certamente.
[João Moraes] Também Rufino, depois de desentender-se com Jerônimo, voltou atrás na sua adesão de um cânon menor. E várias outras listas da época de Jerônimo incluiam deuterocanônicos.
[Resposta] E suponho que Jerónimo também se arrependeu mais tarde na sua adesão a “um cânon menor”.
Que listas? E o que significa a inclusão de deuterocanónicos nessas supostas listas?
[João Moraes] Conclusão: não havia consenso NENHUM sobre o cânon protestante do AT. A Igreja não herdou um cânon do AT do povo judeu antes de Cristo, mas sim reconheceu um muito tempo depois.
[Resposta] A primeira conclusão é uma expressão de desejo que apenas afirma sem demonstrar contra toda a evidência disponível. A segunda conclusão é verdadeira. De fato a sua igreja não herdou um cânon do AT do povo judeu e reconheceu um muito tempo depois, mais propriamente no concílio de Trento no século XVI, através de um punhado de bispos ignorantes que desconheciam os fatos.
Uma última nota sobre a citação por parte de alguns Padres dos livros deuterocanónicos como Escritura:
EliminarReafirmo que os Padres Apostólicos, embora conhecessem os apócrifos/deuterocanónicos, nunca os citam como Escritura.
Quanto aos Padres posteriores é possível que algum tenha citado estes livros como Escritura. Mas o ponto essencial e que deve ser notado é que a enorme maioria daqueles que dedicaram a sua atenção ao problema do cânon do Antigo Testamento, desde Melitão de Sardes em diante, estabeleciam uma distinção entre o cânon hebraico e os livros eclesiásticos.
AVISO À NAVEGAÇÃO
ResponderEliminarNão respondo mais a comentários aos posts sobre o cânon bíblico. O tema já está perfeitamente esgotado em todos os posts e comentários aos posts sobre este assunto.
A menos que alguém traga algo verdadeiramente novo, que ainda não tenha sido tratado neste blogue, não respondo a mais ninguém. Não vou ficar a repetir as mesmas coisas até à eternidade.
Amado, paz seja contigo. Estou procurando a seguinte citação de Gregório Magno, mas sem sucesso:
ResponderEliminar"“Em relação a tal particular não estamos a atuar irregularmente, se dos livros, (((ainda que não canônicos))), no entanto outorgados para a edificação da Igreja, extraímos testemunho. Assim, Eleázar na batalha feriu e derribou o elefante, mas caiu debaixo da própria besta que tinha matado [1 Macabeus 6:46]”
(Library of the Fathers of the Holy Catholic Church, 2:424)
Poderia me ajudar? Deus abençoe.
Thiago, posso sim.
ResponderEliminarO texto original em inglês é:
"With reference to which particular we are not acting irregularly, if from the books, though not Canonical, yet brought out for the edification of the Church, we bring forward testimony. Thus Eleazar in the battle smote and brought down an elephant, but fell under the very beast that he killed" (1 Macc. 6.46). (Library of the Fathers of the Holy Catholic Church, (Oxford: Parker, 1845), Gregory the Great, Morals on the Book of Job, Volume II, Parts III and IV, Book XIX.34, p.424.)
Esta obra pode ser encontrada em vários links. É só escolher:
http://books.google.pt/books?id=Q7wUAAAAYAAJ&printsec=frontcover&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
http://books.google.pt/books?id=AK0UAAAAYAAJ&printsec=frontcover&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
http://books.google.pt/books?id=_PAXAAAAYAAJ&printsec=frontcover&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
http://books.google.pt/books?id=G6QMAAAAIAAJ&printsec=frontcover&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false
http://www.lectionarycentral.com/GregoryMoralia/Book19.html
(Depois de abrir os links desça até à página 424)
Também lhe posso dar as palavras exatas de Gregório Magno em latim: "De qua re non inordinate agimus, si ex libris, licet non canonicis, tamen ad aedificationem ecclesiae editis, testimonium proferamus”
http://monumenta.ch/latein/text.php?tabelle=Gregorius_Magnus&rumpfid=Gregorius%20Magnus,%20Moralia%20in%20Iob,%2019,%20%20%2021&nf=1
Como se pode ver, Gregório Magno rejeitava o livro apócrifo de Macabeus como Canónico, embora o considerasse edificante para a Igreja.
Lembramos que Trento anatematizou todos aqueles que rejeitam os apócrifos, anatematizando assim até um dos seus próprios papas.
Aqui está um caso, em que os protestantes podem dizer "Eu sigo o Papa", e os católicos romanos não :)
Paz