sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A IMACULADA CONCEIÇÃO: Onde está o problema?


A doutrina da Imaculada Conceição afirma que por um privilégio excecional Maria, a mãe de Jesus, foi concebida livre do pecado original.

Tal como a Igreja de Roma formulou o dogma da imaculada conceição (passiva) da Bem-aventurada Maria, não pode objetar-se contra este dogma que Maria necessitava de redenção (como qualquer descendente de Adão), pois a definição dogmática tem explicitamente em conta este facto.

1. As Escrituras

O que é certamente objetável, e a razão pela qual tal doutrina deve ser rejeitada pelos cristãos, é simplesmente por não ser ensinada na Bíblia, nem de maneira explícita nem por clara implicação. O primeiro é reconhecido de bom grado pelos teólogos católicos; por exemplo: 

"A doutrina da concepção imaculada de Maria não se encontra explicitamente na Sagrada Escritura..."

Ludwig Ott, Manual de Teología Dogmática, Ed. Rev. Barcelona: Herder, 1969, p. 315).

Por outro lado, a Igreja Católica acredita que a doutrina da Imaculada Conceição pode deduzir-se das Escrituras. O autor recém-citado passa a dizer que segundo "numerosos teólogos", a doutrina está implícita nos seguintes textos: Génesis 3:15, Lucas 1:28 e Lucas 1:41 (sic; na realidade se refere a 1:42). Examinemos, pois, as passagens em questão.

Génesis 3:15

E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; [ele] te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.

Este texto, que é por vezes chamado o "primeiro evangelho", anuncia uma luta que se prolongará através dos séculos. Como parte do veredito de Deus contra a serpente, o final de tal combate será adverso a esta. A mulher que é referida aqui é Eva (não havia por então outra!). O pronome masculino singular "ele" é permitido (ainda que não exigido) pelo hebraico, e a Septuaginta passa do neutro "semente" (sperma) ao pronome masculino singular autos, "ele" (em Génesis 4:25 o termo "semente", hebraico zera' também se aplica a um varão particular, neste caso Sete).

Da plenitude da revelação presente no Novo Testamento entendemos que esta semente é Cristo, aquele que derrotou Satanás. Como corroboração podemos notar que em Gálatas 3:16-19 Paulo aplica a Cristo a referência à semente (zera') de Abraão de Génesis 12:7.

É extremamente difícil ver como a doutrina de imaculada conceição possa estar implícita neste texto. Entre Eva e Cristo se estende uma longa cadeia de descendentes dos quais Maria não é senão o último elo, o que impede de pensar que ela (e não o resto dos ascendentes de Cristo segundo a carne) fosse excetuada do pecado original por algum decreto divino que não aparece em lado nenhum na Escritura.

Lucas 1:28

E entrando, lhe disse: «Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo».

Estas palavras do anjo Gabriel a Maria constituem a saudação prévia à anunciação. As palavras "cheia de graça" da Bíblia de Jerusalém correspondem ao termo grego kecharitômenê, do verbo charitoô, "favorecer" ou "encher de favores". Os católicos sustentam que esta era uma plenitude extensiva e intensiva que, portanto, devia incluir a exceção do pecado original. Contudo, deve notar-se que as palavras do anjo não fazem nenhuma referência à concepção de Maria nem à sua condição prévia à visita do anjo. De facto, perante a perplexidade de Maria, no versículo 30 Gabriel diz: "Achaste graça diante de Deus".

Além disso, este verbo somente aparece outra vez em todo o Novo Testamento, em Efésios 1:6, e nesta ocasião se refere a todos os cristãos: "para o louvor da glória da sua graça, com a qual nos encheu de favores (ou "nos encheu de graça", echaritôsen) no Amado". Se esta expressão implicasse por si mesma a concepção imaculada, então este seria um privilégio de todos os crentes.

Lucas 1:42

e exclamando com grande voz, disse: «Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre».

Estas palavras pronunciadas por Isabel, cheia do Espírito Santo, são tomadas pelos católicos no sentido de que a bênção de Deus sobre Maria e sobre Jesus Cristo ao mesmo tempo implicava que tanto a mãe como o Filho compartilhavam o privilégio de ser livres de pecado desde a concepção. Mas disso não há nada no texto nem no contexto. Além disso, que tal bênção supusesse uma bênção suprema e singular exclusiva de Maria é contradito pelas palavras do próprio Senhor. No mesmo Evangelho de Lucas lemos:

Sucedeu que, estando ele dizendo estas coisas, uma mulher levantou a voz do meio do povo, e disse: «Bem-aventurado o ventre que te trouxe, e os peitos que te amamentaram!» Mas ele respondeu: Mais bem-aventurados são os que ouvem a Palavra de Deus e a observam».
(Lucas 11:27-28)


Em outras palavras, segundo Jesus, a bem-aventurança daqueles que ouvem e obedecem a Deus é maior do que a de ter trazido Cristo no ventre e tê-lo amamentado.

2. A tradição

Se algum católico objeta que deve também ter-se em conta a tradição apostólica transmitida por via oral como outra fonte de revelação, deve responder-se que além de estar em desacordo com tal noção, na verdade não existe nenhuma tradição confiável documentada nos primeiros dez séculos do cristianismo que documente tal crença.

Os Padres da Igreja

Não somente é esta doutrina alheia à Bíblia e não é apoiada por nenhuma tradição confiável. Também não foi ensinada por algum escritor cristão dos primeiros séculos. Pode-se procurar em vão durante o primeiro milénio do cristianismo um autor tido por ortodoxo que ensinasse a imaculada conceição. Diz Ott:

"Nem os padres gregos nem os latinos ensinam explicitamente a concepção imaculada de Maria".

(Ludwig Ott, obra citada, p. 316).

Mas como o seu livro é uma exposição da teologia católica, não pode deixar por aí a coisa, e sustenta então que a doutrina está implícita nos Padres. É basicamente o mesmo argumento usado antes acerca da Escritura: a doutrina não está expressa, porém tem que estar presente de alguma forma indireta. A imaculada conceição estaria implícita na alta consideração que tiveram estes autores pela pureza e santidade pessoal de Maria, e no paralelismo e antítese entre Eva e Maria.

Permanece inabalável o facto de que, por mais admiração que sentissem por Maria, nenhum Padre ensinou a sua concepção imaculada, e de facto quando na Idade Média começou a falar-se desta doutrina, recebeu uma firme oposição de alguns dos teólogos mais importantes da época. A principal objeção era a universalidade do pecado e portanto da necessidade de redenção por Cristo.

História de uma tradição espúria

A primeira insinuação do que progressivamente e não sem grande controvérsia conduziu à doutrina em discussão a encontramos não no Ocidente, mas no Oriente. A partir do século VII surge nas igrejas gregas uma festividade da concepção de Santa Ana, a quem se tinha por mãe de Maria.

A origem desta crença pode traçar-se a um dos livros apócrifos do Novo Testamento que com o tempo adquiriu enorme influência nas crenças acerca de Maria. Ainda que esta obra narre o nascimento de Jesus, o seu propósito óbvio é o de exaltar a sua mãe, da qual narra nascimento, infância e casamento. Trata-se do denominado Protoevangelho de Tiago.

Este livro é um dos chamados "evangelhos da infância", e acredita-se que data da segunda metade do século II. Obviamente não pode ter sido escrito por nenhum dos discípulos chamados Tiago. É pois uma obra pseudoepigráfica. Escreveu-se originalmente em grego e foi traduzido para o siríaco, etiópico, georgiano, saídico, eslavo antigo, arménio e provavelmente para o latim (ainda que não subsistam manuscritos latinos antigos).

É no Protoevangelho de Tiago que se proporcionam pela primeira vez os supostos nomes dos pais de Maria como Ana e Joaquim. Embora, como diz Elliott, "as doutrinas desenvolvidas da mariologia podem traçar-se até este livro", na antiguidade o livro foi paradoxalmente proibido pela Igreja ocidental porque ensinava que Maria foi a segunda esposa de José.

Em contrapartida, teve como disse grande popularidade no Oriente, e provavelmente explica a origem de uma festividade dedicada à concepção passiva de Maria, supostamente ocorrida depois de uma prolongada esterilidade de Ana, sua mãe, e anunciada por um anjo (tal como ensinava o pseudo-Tiago).

Mais tarde esta festa se introduziu no Ocidente, ao princípio no sul de Itália e talvez na Irlanda pelo século IX. Em princípios do século XII a celebração da concepção de Maria começou a infiltrar-se na liturgia. Pela mesma época dois monges britânicos, Eadmer e Osberto, começaram a ensinar que na sua concepção Maria tinha sido livre do pecado original.

O facto indisputável de que tal crença era uma novidade na Igreja de Roma fica evidenciado pela reação do Doctor Melifluo, Bernardo de Claraval (1090-1153; o mesmo que escreveu As glórias incomparáveis de Maria). Quando a festa da Imaculada Conceição se introduz em Lyon em 1140, o abade de Claraval "a desaconselha como novidade infundada, ensinando que Maria tinha sido santificada depois da sua concepção..." (Ott, o.c., p. 317; negrito acrescentado).

Oposição de Tomás de Aquino

O decidido antagonismo de Bernardo de Claraval à doutrina da imaculada conceição não foi em absoluto um caso isolado. De igual modo, os principais teólogos católicos do mesmo século e do seguinte se opuseram à doutrina da imaculada conceição. Entre eles, pode mencionar-se Pedro Lombardo (1100-1160), Alexandre de Hales (1170-1245), Boaventura (1221-1274), Alberto Magno (1200-1280) e o seu maior discípulo, Tomás de Aquino (1225-1274). Este último ensinava que Maria foi santificada desde o ventre de sua mãe, porém não desde o mesmo instante da sua concepção, mas mais tarde. Tomás escreveu na Summa Theologica segundo o seu método habitual, os argumentos (Objeções) a favor da imaculada conceição. Vale a pena transcrever a sua exposição.

Foi a Bendita Virgem santificada antes de receber a alma?

Objeção 1. Parece que a Bendita Virgem foi santificada antes de receber a alma. Porque, como dissemos, foi concedida mais graça à Virgem Mãe de Deus do que a qualquer outro santo. Ora, parece que se concedeu a alguns serem santificados antes da receção da alma. Pois está escrito (Jer. 1:5): "Antes que te formasse no ventre de tua mãe, eu te conheci"; e a alma não é infundida antes da formação do corpo. De igual modo diz Ambrósio de João o Batista (Comment. in Luc. i, 15): "Ainda o espírito de vida não estava nele e já possuía o Espírito de graça". Muito mais, portanto, podia a Bendita Virgem ter sido santificada antes da animação.

Objeção 2. Além disso, como diz Anselmo (De Concep. Virg. xviii), "foi apropriado que esta Virgem resplandecesse com tal pureza que abaixo de Deus não pode imaginar-se nenhuma maior": pelo que está escrito (Cant 4:7): "Tu és em tudo formosa, minha amada, e não há mancha em ti". Mas a pureza da Bendita Virgem poderia ser maior se ela nunca houvesse estado manchada pelo contágio do pecado original. Portanto, lhe foi concedido ser santificada antes que a sua carne recebesse a alma.

Objeção 3. Além disso, como se disse acima, não se celebra nenhuma festa exceto a de algum santo. Mas alguns guardam a festa da Concepção da Bendita Virgem. Portanto parece que em sua mesmíssima concepção foi santa; e daqui que foi santificada antes de receber a alma.

Objeção 4. Além disso, o Apóstolo diz (Rom. 11:16): "Pois se a raiz é santa, assim são os ramos". Ora, a raiz dos filhos são os seus pais. Portanto, a Bendita Virgem podia ser santificada já em seus pais, antes de receber a alma.

Em contrário. As coisas do Antigo Testamento eram figuras do Novo, segundo 1 Cor. 10:11: "Todas as coisas lhes ocorreram em figura". Ora, a santificação do Tabernáculo, do qual está escrito (Salmo 45:5): "O Altíssimo magnificou o seu próprio tabernáculo" parece significar a santificação da Mãe de Deus, que é chamada "o Tabernáculo de Deus" segundo o Salmo 18:6: "Ele estabeleceu o seu tabernáculo no sol". Mas do tabernáculo está escrito (Ex. 40:31,32 [?]): "Depois de que tudo foi aperfeiçoado, a nuvem cobriu o tabernáculo do testemunho, e a glória do Senhor o encheu". Portanto a Bendita Virgem também não foi santificada até que tudo nela foi aperfeiçoado, isto é, seu corpo e alma.

Respondo que. A santificação da Bendita Virgem não pode entender-se como ocorrida antes da receção da alma, por duas razões. Primeiro, porque a santificação de que falamos não é senão a limpeza do pecado original; pois a santificação é uma "limpeza perfeita", como diz Dionísio (Div. Nom. xii). Ora, o pecado original não pode ser tirado exceto por graça, o sujeito da qual é somente a criatura racional. Portanto, antes da infusão da alma racional, a Bendita Virgem não foi santificada.

Segundo, porque, já que somente a criatura racional pode ser o sujeito do pecado, a descendência concebida não é capaz de pecar. E assim, de qualquer maneira em que a Bendita Virgem tivesse sido santificada antes de receber a alma, nunca poderia incorrer na mancha do pecado original; e deste modo não necessitaria da redenção e salvação que são por Cristo, de quem está escrito (Mt. 1:21): "Ele salvará o seu povo dos seus pecados". Mas isto é inapropriado, por implicar que Cristo não é o "salvador de todos os homens", como é chamado (1 Tim. 4:10). Segue-se, portanto, que a Bendita Virgem foi santificada depois de receber a alma.

Resposta à objeção 1. O Senhor diz que "conheceu" Jeremias antes que fosse formado no ventre, isto é, por conhecimento de predestinação; mas diz que o "santificou" não antes da sua formação, mas antes que "saísse do ventre", etc. Em relação ao que diz Ambrósio, ou seja que em João o Batista não estava o espírito de vida quando já estava o Espírito de graça, por espírito de vida não devemos entender a alma que dá vida, mas o ar que respiramos. Ou pode dizer-se que nele não estava o espírito de vida, isto é a alma, enquanto suas operações manifestas e completas.

Resposta à objeção 2. Se a alma da Bendita Virgem nunca tivesse incorrido na mancha do pecado original, isso seria lesivo da dignidade de Cristo, por causa de ele ser o universal Salvador de todos. Consequentemente depois de Cristo, que, como Salvador universal de todos, não necessitava ser salvo, a pureza da Bendita Virgem ocupa o lugar mais elevado. Pois Cristo não contraiu o pecado original de absolutamente nenhuma maneira, mas foi santo desde a sua mesmíssima concepção, segundo Lucas 1:35: "O santo Ser que nascerá de ti será chamado o Filho de Deus". Porém, a Bendita Virgem certamente contraiu o pecado original, mas foi limpa dele antes do seu nascimento desde o ventre. Isto é o que significa (Job 3:9) onde está escrito da noite do pecado original "que espere a luz", ou seja, Cristo, "e não a veja" (porque "nada imundo vem a ela", como está escrito, Sap 7:25), "que também não veja o raiar da aurora", isto é da Bendita Virgem, que em seu nascimento era imune ao pecado original.

Resposta à objeção 3. Apesar de a Igreja de Roma não celebrar a Concepção da Bendita Virgem, sim tolera o costume de certas igrejas que sim guardam essa festa, pelo que ela não deve ser inteiramente reprovada. De qualquer forma, a celebração desta festa não nos dá a entender que ela era santa em sua concepção. Mas já que não se sabe quando foi santificada, a festa da sua Santificação, mais que a festa da sua concepção, se celebra no dia da sua concepção.

Resposta à objeção 4. A santificação é dupla. Uma é a de toda a natureza: na medida em que toda a natureza humana é liberta de toda a corrupção de pecado e castigo. Isto há de ocorrer na ressurreição. A outra é a santificação pessoal. Esta não se transmite aos filhos gerados da carne; porque não considera a carne, mas a mente. Consequentemente, ainda que os pais da Bendita Virgem tenham sido limpos do pecado original, todavia ela contraiu o pecado original, já que foi concebida por via da concupiscência da carne e da relação entre varão e mulher; pois diz Agostinho (De Nup. et Concup. i): "Toda carne nascida de relação carnal é pecaminosa".

Tomás de Aquino, Summa Theologica III, 27:2.

3. A verdadeira base da doutrina: o "sentir do povo"

Apesar da firme oposição dos mestres dos séculos XII e XIII, a doutrina da imaculada conceição ganhou terreno em parte graças à defesa que dela fizeram os franciscanos, em particular João Duns Escoto (1264-1308). O chamado Doctor Subtilis cunhou inclusive o peculiar termo "pré-redenção" para expressar a sua ideia de que não é absolutamente necessário que a santificação preceda cronologicamente à infusão da alma, mas basta uma prioridade conceptual.

Segundo Duns Escoto, Maria necessitou ser redimida por Cristo como qualquer outro ser humano, porém acedeu à forma mais perfeita de redenção, aquela que não a limpou mas que a preservou do pecado original. A falta absoluta de precedente bíblico e a ausência de necessidade lógica deste estranho e inovador ensinamento não bastou para atenuar o entusiasmo popular. O certo é que o Doctor Subtilis forneceu à Igreja de Roma uma escapatória mais ou menos racional para ensinar o que o povo preferia crer.

A partir de então ficou relativamente aberto o caminho para a doutrina da Imaculada Conceição. Em 1439 o Concílio de Basileia, que não é tido por ecuménico no catolicismo, afirmou a crença como uma opinião piedosa conforme à fé católica, à razão e às Escrituras. Em 1476 o papa Sisto IV, franciscano como o Doctor Subtilis, aprovou a festa da Imaculada Conceição com a sua própria liturgia. Apesar das suas óbvias simpatias para com a doutrina, Sisto se absteve de transformá-la num dogma. É que ainda estava longe de ser unanimemente aceite no Ocidente.

Prova disso é que na Constituição Grave nimis de 4 de setembro de 1483, o mesmo Sisto IV teve que censurar duramente os pregadores que "não se envergonharam de afirmar até agora publicamente em seus sermões ao povo por diversas cidades e terras ... que todos aqueles que acreditam e afirmam que a imaculada Mãe de Deus foi concebida sem mancha de pecado original, cometem pecado mortal, ou que são hereges celebrando o ofício da mesma imaculada concepção, e que ouvindo os sermões dos que afirmam que foi concebida sem essa mancha, pecam gravemente". Ao mesmo tempo, Sisto IV também não admitiu que se condenasse aqueles que se opunham ao dogma; na mesma Constituição, com efeito, repreendia também os que

...se atreverem a afirmar que aqueles que mantêm a opinião contrária, a saber, que a gloriosa Virgem Maria foi concebida com pecado original, incorrem em crime de heresia ou pecado mortal, uma vez que não está ainda decidido pela Igreja Romana e pela Sé Apostólica... (Denzinger # 735).

4. Um Magistério hesitante

A conduta do papa Sisto IV impressiona por um lado como a de um administrador equânime e digno de elogio, mas por outro ilustra claramente como se estabeleceram os dogmas peculiares do catolicismo. Segundo ensina hoje a doutrina católica, em virtude do seu ofício apostólico como sucessor de Pedro e vigário de Cristo na terra, o papa tem o carisma da infalibilidade, que o livra do erro ao definir dogmaticamente assuntos referentes à doutrina e aos costumes. Se isso fosse verdade, é muito difícil de explicar por que razão se absteve de resolver dogmaticamente a questão em vez de pronunciar-se de maneira definida segundo as suas atribuições e responsabilidades. A razão é, evidentemente, que a doutrina da infalibilidade papal ainda não havia sido concebida.

É bastante significativo que inclusive no século XVI, o Concílio de Trento, sem tratar especificamente o tema, deixara explicitamente fora do Decreto sobre o pecado original de 17 de junho de 1546, a Bem-aventurada Maria, sem pretender avançar no assunto da imaculada conceição mais além do que o havia feito Sisto IV um século e meio antes.

Declara, no entanto, este mesmo santo Concílio que não é intenção sua incluir neste decreto, em que se trata do pecado original, a bem-aventurada e imaculada Virgem Maria, Mãe de Deus, mas devem observar-se as constituições do Papa Sisto IV, de feliz recordação, sob as penas naquelas Constituições contidas, que o Concílio renova" (Denzinger # 792).

É muito significativa a reticência do Concílio de Trento, pedra angular da contrarreforma católica, em definir de uma vez a doutrina da imaculada conceição, se se tiver em conta que este Concílio não hesitou em estabelecer para a Igreja do Ocidente uma série de dogmas fundamentais.

Pouco mais de um século mais tarde, precisamente a 8 de dezembro de 1661, na Bula Sollicitudo omnium Ecclesiae, o papa Alexandre VII basicamente ratificou o afirmado pelo seu antecessor Sisto IV e pelo concílio de Trento, chamando à imaculada conceição "um antigo e piedoso sentir" que abraçam "já quase todos os católicos". Em 1708 Clemente XI fez da festa uma observância obrigatória para toda a Igreja Católica.

5. A mendacidade de Pio IX

Como pode ver-se, a doutrina da imaculada conceição avançou lentamente não como algo reconhecido por todos desde o princípio, mas como uma novidade que de maneira gradual e progressiva ganhou terreno na piedade popular. Inicialmente rejeitada pelos teólogos mais eminentes, foi depois defendida por outros e aos poucos admitida com reservas, com crescente simpatia por parte do Magistério.

Vistos os antecedentes históricos, não é de estranhar que finalmente no século XIX a imaculada conceição fosse elevada à categoria suprema de dogma de fé católica definida por Pio IX na Bula Ineffabilis Deus de 8 de dezembro de 1854. A parte da Bula que contém a definição propriamente dita é como se segue:

Para honra da santa e indivisível Trindade, para glória e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica e acrescentamento da religião cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo e com a nossa declaramos, proclamamos e definimos que a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria foi preservada imune de toda a mancha da culpa original no primeiro instante da sua concepção por singular graça e privilégio de Deus omnipotente, em atenção aos méritos de Cristo Jesus Salvador do género humano, foi revelada por Deus e deve portanto ser firme e constantemente crida por todos os fiéis.

À qual lhe segue, como não podia deixar de ser, o anátema da ordem:

Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, pretender em seu coração sentir de modo distinto a como por Nós foi definido, saiba e tenha por certo que está condenado por seu próprio juízo, que sofreu naufrágio na fé e se separou da unidade da Igreja, e que além disso, pelo mesmo facto, se submete a si mesmo às penas estabelecidas pelo direito, se o que em seu coração sente se atrever a manifestá-lo verbalmente ou por escrito ou de qualquer outro modo externo.

Este texto figura em Denzinger #1641. O que não aparece aí é a fundamentação que Pio IX ofereceu na citada Bula. É que em tal argumentação se falseia de maneira dificilmente acidental a verdade acerca da origem, desenvolvimento e aceitação da doutrina que é proclamada. Eis aqui algumas das afirmações mais interessantes de Pio IX:

A Igreja Católica, dirigida pelo Santo Espírito de Deus, é a coluna e o fundamento da verdade e sempre sustentou como divinamente revelada e como contida no depósito da revelação celestial esta doutrina concernente à inocência original da augusta Virgem – uma doutrina que está tão perfeitamente em harmonia com a sua maravilhosa santidade e preeminente dignidade como Mãe de Deus - e assim nunca cessou de explicar, de ensinar e de promover esta doutrina época após época de muitas formas e por atos solenes. (negrito acrescentado).

Como vimos, é patentemente falso que esta doutrina tenha sido crida sempre, não foi nem mesmo dentro da Igreja de Roma. Mas há mais mentiras:

Ora, na medida em que tudo quanto pertence à adoração sagrada está intimamente ligado com o seu objeto e não pode ter nem consistência nem durabilidade se tal objeto é vago ou incerto, nossos predecessores, os Romanos Pontífices, portanto, enquanto dirigiam todos os seus esforços para um aumento da devoção à concepção, fizeram seu objetivo não só enfatizar o objeto com o maior zelo, mas também enunciar a doutrina exata. (negrito acrescentado).

Isto é completamente falso; pelo contrário, como vimos, os papas Sisto IV e Alexandre VII, assim como o Concílio de Trento, foram deliberadamente vagos em seus ensinamentos a tal respeito, abstendo-se de definições dogmáticas sobre este assunto. Tendo mentido acerca da atitude da Igreja e dos seus predecessores, Pio IX não hesitou em alterar a verdade acerca dos teólogos:

Todos são conscientes de com quanta diligência esta doutrina da Imaculada Conceição da Mãe de Deus foi transmitida, proposta e defendida pelas mais destacadas ordens religiosas, pelas mais celebradas academias teológicas, e por eminentíssimos doutores nas ciências da teologia. (negrito acrescentado).

Isto seria verdade se se excluísse todos os Padres orientais e ocidentais dos primeiros séculos, e Bernardo de Claraval, Pedro Lombardo, Alexandre de Hales, Boaventura, Alberto Magno e Tomás de Aquino...

E certamente, ilustres documentos de venerável antiguidade, tanto da Igreja Oriental como da Ocidental, muito vigorosamente testificam que esta doutrina da Imaculada Conceição da Beatíssima Virgem, a qual foi quotidianamente mais e mais esplendidamente explicada, estabelecida e confirmada pela mais alta autoridade, ensino, zelo, conhecimento, e sabedoria da Igreja, e a qual foi disseminada entre todos os povos e nações do mundo católico de maneira maravilhosa – esta doutrina sempre existiu na Igreja como uma doutrina que foi recebida de nossos antepassados, e que foi estampada com o caráter de uma doutrina revelada. (negrito acrescentado).

Não existe a mais pequena evidência histórica desta afirmação, e na realidade Pio IX não conseguiu citar nenhum dos "ilustres documentos" que refere. Para proclamar como dogma uma doutrina que era por então crida, este Papa formulou uma série de declarações tão altissonantes como ocas. Não havia documentação que pudesse provar as suas asseverações e portanto, elas foram realizadas sem aporte documental algum.

Por conseguinte, já que é evidente que as considerações sobre as quais a definição da Imaculada Conceição se fundamenta são irremediavelmente falsas, não pode pensar-se melhor acerca da própria doutrina.

Fernando D. Saraví

10 comentários:

  1. Perguntas enviadas por email:

    {Católico}:

    (Sobre a adulteração das Bíblias protestantes)

    Embora algumas coisas sejam iguais, as traduções protestantes merecem desconfiança...

    Pra ficar em um só exemplo, eu não conheço nenhuma que traduza o Kecharitomene (grego) ou Gratia Plena (latim) pela expressão correta cheia de graça, na saudação angélica à Virgem SSma. Todas as traduções protestantes botam um genérico "agraciada" que nada tem a ver com a expressão que o anjo Gabriel usou com a Virgem SSma.

    http://www.philvaz.com/apologetics/a116.htm

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  2. Eu já respondi uma vez a isto citando parte deste artigo na caixa de comentários deste post

    http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2010/11/quem-e-maria.html


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    Agora deram para caluniar a versão de Ferreira de Almeida quando as Bíblias católicas (umas mais que outras) é que têm passagens adulteradas para favorecer as suas doutrinas.

    O caso deste versículo é um bom exemplo.

    Lucas 1:28

    E entrando, lhe disse: «Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo».

    Estas palavras do anjo Gabriel a Maria constituem a saudação prévia à anunciação. As palavras "cheia de graça" da Bíblia de Jerusalém correspondem ao termo grego kecharitômenê, do verbo charitoô, "favorecer" ou "encher de favores". Os católicos sustentam que esta era uma plenitude extensiva e intensiva que, portanto, devia incluir a excepção do pecado original. Contudo, deve notar-se que as palavras do anjo não guardam referência alguma à concepção de Maria nem à sua condição prévia à visita do anjo. De facto, perante a perplexidade de Maria, no versículo 30 Gabriel diz: "Achaste graça diante de Deus".

    Além disso, este verbo somente aparece outra vez em todo o Novo Testamento, em Efésios 1:6, e nesta ocasião se refere a todos os cristãos: "para o louvor da glória da sua graça, com a qual nos encheu de favores (ou "nos encheu de graça", echaritôsen) no Amado". Se esta expressão implicasse por si mesma a concepção imaculada, então este seria um privilégio de todos os crentes.

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    Acrescento agora isto:

    É perfeitamente correto e mais fiel traduzir «Kecharitomene» com «agraciada», «favorecida» ou «muito favorecida» (e há bíblias católicas que traduzem assim) do que com a expressão «cheia de graça».

    A palavra «cheia» não se encontra no original grego. Onde se encontra textualmente a expressão «cheia de graça» é em João 1:14 referindo-se a Jesus, e em Atos 6:8 referindo-se a Estêvão.

    Os católicos querem traduzir exclusivamente «Kecharitomene» com «cheia de graça» porque acham que com essa expressão justificam a imaculada conceição de Maria.

    Mas como vimos a Bíblia afirma uma condição realmente «cheia de graça» só para Jesus e Estêvão, não para Maria. Para Maria a Bíblia afirma uma condição de «agraciada» ou «muito favorecida». Portanto, se alguém adultera a Bíblia são as traduções católicas ao traduzir «Kecharitomene» com «cheia de graça».

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  3. {Tréplica do Romanista}:


    {Tréplica do católico}:

    "Em primeiro lugar, San Jerónimo traduziu por gratia plena e, portanto, no mínimo, vocês não traduzem a Vulgata, e sim a[du]lteram a Vulgata.

    Depois, Kecharitomene é uma palavra usada única e exclusivamente para SSma. Virgem na saudação angélica, e não consta em lugar nenhum das Escrituras a não ser na saudação angélica. A carta aos Efésios não usa "Kecharitomene", e sim *echaritosen*, que é outra forma verbal distinta. Aliás, se você tivesse olhado o link que eu pus antes ia ver esta discussão.

    Por fim, em bom português, "agraciado" é um termo comum e banal que pode se referir indistintamente a qualquer pessoa que recebeu qualquer graça. Ao contrário das palavras do Anjo, nas quais o "Cheia de Graça" é empregado quase que como um título da SSma. Virgem, cujo nome não é mencionado na saudação (ao contrário do que acontece alguns versículos antes, quando o Anjo visita outra pessoa e fala "Não temas, Zacarias, etc."). Enquanto "agraciado" é um adjetivo corriqueiro, Kecharitomene é o título usado por Deus para tratar com a Santíssima Virgem por intermédio do Arcanjo Gabriel. A tradução protestante para o português, portanto, amputa de maneira criminosa o sentido do texto inspirado.

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    1. Está se tornando muito comum tal argumentação por parte de católicos... Mas dificilmente o perfeito kecharitomene poderia ser traduzido por "Cheia de Graça", como fez Jerônimo. O perfeito ali é apenas intensivo, revelando um estado atual. Maria era agraciada, e o anjo diria dois versículos depois por quê:

      (Lc 1:30-33) Disse-lhe então o anjo: Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai; e reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.

      Maria não tinha graça por que nasceu sem pecado ou por quaisquer outros motivos. Ela era agraciada por que Deus a escolheu para ser mãe de Cristo.
      Por outro lado Jerônimo não apenas adicionou o "plena" no versículo, mas também inseriu o "Bendita és tu entre as mulheres" (benedicta tu in mulieribus), que não se encontra no texto grego. Mas se os católicos querem tanto seguir as orientações de Jerônimo, por que eles também não seguem a lista de livros canônicos de Jerônimo?

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  4. Mas quem é que quer traduzir ou traduziu a Vulgata? O Novo Testamento foi escrito em grego, não em latim, e é traduzido do texto grego de referência.

    A Vulgata de Jerónimo tem reconhecidamente alguns erros de tradução, e quando Jerónimo traduziu por "gratia plena" certamente que não estava a pensar na imaculada conceição de Maria que naquela altura era uma doutrina inexistente.

    A passagem de Efésios usa exatamente o mesmo verbo charitoô, apenas muda o tempo verbal. Mas os tempos verbais não alteram os significados do verbos como é óbvio.

    O resto da argumentação de «Kecharitomene» ter um significado profundo por trás da palavra que implica a imaculada conceição de Maria é pura mistificação papista.

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  5. W. Radl explica assim o verbo χαριτοω (charitoô)

    χαριτοω

    No NT refere-se à graça divina Ef 1,6 εις επαινον δοξης της χαριτος αυτου ης εχαριτωσεν ημας (“... da sua graça, a qual nos deu gratuitamente”). Em Lc 1,28 na saudação do anjo Gabriel a Maria, a fórmula grega de saudação χαιρε (Homero, Odisseia 1,123; cf. Mc 15,28; Mt 26,49; 27,29; Jo 19,3, combinou-se directamente com χαριτοω : χαιρε κεχαριτομενη : “Te saúdo, oh agraciada!” (vg. gratia plena, Lutero: du Holdselige [“oh! altamente favorecida”]. Lc 1,30 explica a razão de Maria se sentir confusa e com isso explica ao mesmo tempo o sentido da saudação angélica: ευρες γαρ χαριν παρα τω Θεω (achaste graça diante de Deus).

    Diccionario Exegético del Nuevo Testamento II, editado por H. Balz e G. Schneider, 798-802. Salamanca: Sígueme, 1998.

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  6. Bíblias Católicas que não traduzem Lucas 1:28 com a expressão «cheia de graça»

    Bíblia católica Latinoamericana

    "Alégrate tú, la Amada y Favorecida; el Señor está contigo.."

    Bíblia de Mateos-Schökel

    "Alégrate, favorecida, el Señor está contigo.."

    New Jerusalem Bible

    "He went in and said to her, 'Rejoice, you who enjoy God's favour! The Lord is with you."

    Bíblia do Peregrino

    "O anjo entrou onde ela estava e lhe disse: Alegra-te, favorecida, o Senhor está contigo."

    Pergunta para os caluniadores profissionais.

    Estas traduções católicas também estão adulteradas e amputam de maneira criminosa o sentido do texto inspirado?

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  7. A acusação do católico em relação as outras bíblias católicas é gravíssima!Para ele somente a Vulgata tem autoridade e traduz fielmente a palavra de Deus : )

    É verdade que o Magistério romanista só tutela a autoridade canônica a Vulgata ?

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  8. A Vulgata de Jerónimo foi declarada “autêntica” pelo Concílio de Trento.

    O concílio decretou que a versão de Jerónimo “se tivesse por [autêntica] nas lições públicas, disputas, sermões e exposições, esta mesma antiga edição Vulgata, aprovada na Igreja pelo longo uso de tantos séculos; e que ninguém, por nenhum pretexto, se atreva ou presuma rejeitá-la.” Por “autêntica” deve entender-se, segundo Jedin, livre de erros doutrinais. Esta decisão adotou-se mesmo quando todos os medianamente informados sabiam que a Vulgata estava necessitada de uma ampla revisão depois da sua corrupção ao longo dos séculos. Além disso, nesse tempo já se contava com edições impressas do Antigo e Novo Testamento nas suas línguas originais, graças aos esforços de Cisneros e Erasmo.

    Há pelo menos um erro doutrinal na Vulgata

    Apesar da indiscutível autoridade de Jedin, a restrição que impõe não é de todo convincente. Por outro lado, a exatidão doutrinal da Vulgata também é questionável. Em Gênesis 3:15, a Vulgata diz “ipsa conteret” (“ela te ferirá”) quando o pronome e o verbo hebraicos são masculinos. Deveria dizer “ipse conteret” (“ele te ferirá”). Assim o reconhece a antiga versão grega Septuaginta, que usa o pronome masculino (autos). A diferença tem óbvia importância doutrinal, concretamente por ser uma referência ao Messias, e não a toda a descendência de Eva.

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  9. UMA CHAMADA DE ATENÇÃO PARA ALGO QUE VEJO FREQUENTEMENTE

    Historicamente existem duas doutrinas parecidas mas diferentes, que são a impecabilidade de Maria e a Imaculada Conceição de Maria. Sendo a primeira muito mais antiga que a segunda.

    Os apologistas romanos costumam confundir as duas, e apresentar citações de padres antigos que criam na impecabilidade de Maria como evidência para a Imaculada Conceição. Mas isso é uma falácia porque crer na impecabilidade de Maria não implica crer que Maria foi concebida sem pecado original (a imaculada conceição). Por exemplo, um dos padres que parece que creu na impecabilidade foi Agostinho mas ele também afirma explicitamente que Maria nasceu com o pecado original.

    Entre os escritores cristãos antigos, negaram a impecabilidade Tertuliano, Orígenes, Basílio, Crisóstomo e Cirilo de Alexandria.

    A noção de que Maria era imaculada - livre de todo o pecado - desenvolveu-se lentamente. Há declarações claras a partir do século IV. Por exemplo, Efrém o Sírio (m. 373) escreveu num poema cristológico:

    "Tu e a tua mãe sois únicos nisto: Tu és absolutamente belo em todos os sentidos. Não há em ti mancha, nem tampouco a há na tua mãe."

    Pela mesma época, Ambrósio de Milão (m. 397) dizia que Maria estava "inteiramente livre de toda a mancha de pecado" [In Ps 118).

    Igualmente, o seu discípulo Agostinho de Hipona (m. 430) numa passagem muito conhecida, declarou que Maria não teve pecado (De Natura et Gratia).

    É interessante que a crença na ausência de todo pecado pessoal na Bem-aventurada Maria, embora na Igreja de Roma seja uma doutrina de fé, não é um dogma que tenha sido objeto de uma definição solene, como foram a Imaculada Conceição e a Assunção Corporal.

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