Segundo o Catecismo da
Igreja Católica:
973 Ao pronunciar o «Fiat» da Anunciação e dando o seu consentimento ao mistério da Encarnação, Maria colabora desde logo com toda a obra a realizar por seu Filho. Ela é Mãe, onde quer que Ele seja Salvador e Cabeça do Corpo Místico.
O “fiat” alude à tradução da Vulgata de Lc 1,38:
fiat mihi secundum verbum
tuum
“Faça-se em mim segundo a
tua palavra” (Lc 1,38).
Os teólogos católicos agem
como se isso significasse que Deus estava a colocar à votação o plano da
redenção ao dar a Maria poder de veto. Obviamente, a Anunciação é um anúncio do
que Deus fará acontecer.
1) Há apologistas
católicos que dizem que se o nascimento virginal não foi consensual, então ele
foi uma violação. Isto ignora o facto elementar de que uma violação requer
sexo: penetração na relação sexual. Mas é óbvio que a conceção virginal não é
sexual. Violação sem sexo?
2) Ainda assim, continuemos com o argumento católico, fazendo uma comparação. Em Mt 2, José recebe alguns sonhos revelatórios. Eles são premonições de perigo. Os sonhos levantam implicitamente o espectro de futuros alternativos. Se José ficar em Belém, o seu filho será morto pelos capangas de Herodes. Mas ele pode evitar este resultado hipotético se fugir a tempo. Se as coisas continuarem como estão, na sua trajetória atual, Jesus terá uma morte prematura.
3) Isto levanta uma questão para os cristãos libertários. Não atender ao aviso angélico era uma opção viável para José? Pense-se o que isso implicaria. Não estamos a falar aqui apenas do destino de um indivíduo isolado. O destino de toda a raça humana estaria em causa. A Encarnação seria em vão. Séculos de preparação providencial seriam destruídos. Deus teria de começar do zero. Então, por paridade de argumentos, porque é que o catolicismo realça o "fiat" de Maria, mas ignora o "fiat" de José?
4) Além disso, a lógica do argumento católico estende-se a muitos outros intervenientes na história da redenção. Considere-se a chamada de Abraão.