Eis uma outra forma de expor o princípio da Sola Scriptura:
1. A Sola Scriptura é
baseada na primazia da revelação pública.
Por "pública"
quero dizer a revelação divina para os cristãos em geral ou para a humanidade em
geral. Não descarto a revelação privada (por exemplo, um sonho premonitório para
uma pessoa), mas essa revelação não é para a igreja.
2. Nada supera a
revelação. Nada está ao mesmo nível da revelação.
3. Neste momento, o único
lugar em que encontramos a revelação pública é no registo das Escrituras.
4. Há a questão de como
verificamos ou falsificamos uma alegada fonte de revelação. Falsificar uma
alegada fonte de revelação não viola a primazia da revelação, pois, se ela é
falsa, nunca foi revelação.
5. Verificar uma alegada
fonte de revelação significa colocar o que usamos para verificá-la em pé de
igualdade com a coisa que verificamos? Ou mesmo superá-la?
Não. Para fazer uma
comparação, suponhamos que eu seja uma testemunha ocular de Jesus. Eu vi-o
realizar milagres. Eu vi-o morrer na cruz. Eu vi o túmulo vazio. Eu vi-o vivo
novamente. Eu toquei nele.
Estou a usar os meus
sentidos naturais para verificar a Ressurreição. Mas isso não me coloca ao
mesmo nível de Jesus.
6. E se os protestantes cometeram um erro sobre o cânon? E se eles incluíram um livro que deveriam excluir ou excluíram um livro que deveriam incluir? Isso anula a Sola Scriptura?
i) Para começar, as pessoas podem estar enganadas mesmo que haja evidências suficientes para acreditar numa coisa. Elas podem ter uma estrutura de plausibilidade que filtra as evidências suficientes para acreditar numa coisa. Não é a evidência, mas a estrutura de plausibilidade que é defeituosa. Considere-se os ateus que automaticamente desconsideram relatos de milagres independentemente da evidência.
ii) Suponhamos que os protestantes cometeram um erro sobre o cânon porque a evidência disponível é insuficiente. Nesse caso, por que nos deveríamos preocupar ou afligir por um erro inocente e inevitável? Ele não seria suficientemente importante para Deus nos fornecer evidências suficientes para evitar esse erro.
7. Católicos/ortodoxos podem dizer que a sua alternativa é uma proteção contra esse risco de errar. No entanto, uma falsa solução não é uma solução real. É como dizer a um paciente com cancro terminal, para quem a terapia convencional é inútil, para mudar para a aromaterapia ou a medicina tradicional chinesa. Católicos e ortodoxos estão na mesma situação epistémica que os protestantes. Eles apenas disfarçam a situação.