Esta é uma continuação do post anterior:
Como harmonizamos Paulo e Tiago sobre a justificação? A
resposta breve é que Paulo e Tiago falam sobre duas coisas diferentes.
Tiago está preocupado com a natureza da fé salvífica. Entre
a fé morta e a fé viva. A fé viva é uma fé vivida. Viver o que se professa com
os lábios. A fé posta em prática.
A fé viva é uma fé perseverante. A caminhada da fé é para
maratonistas, não para velocistas. O verdadeiro teste não é como se começa, mas
como se acaba.
E mesmo se nos ativermos à terminologia da “justificação” –
que pode ser enganosa (ver o post anterior) – Tiago não diz que a justificação
inclui obras. Em vez disso, ele diz que a fé inclui obras – não no sentido de
que a fé é parcialmente uma obra, mas que a fé viva resulta em boas obras.
Em contraste, Paulo usa "justificação" para
significar que a justiça é um dom divino. Não temos justiça própria. Em vez
disso, temos a justiça de Cristo. Um status atribuído em vez de um status
alcançado. Na verdade, apesar do que nós próprios somos. Como o filho de um
rei, que é príncipe, não por algo que fez, mas por algo com que nasceu.
O uso de Paulo é idiossincrático. Ele redefine a palavra
"justificação" para os seus próprios propósitos. E todo escritor tem
essa prerrogativa. Os escritores não estão vinculados ao uso anterior. Eles são
livres para aplicar palavras antigas com novos significados. Tiago não usa
"justificação" nesse sentido especializado. Por isso não há nenhuma
contradição. Mas devido à influência da teologia paulina, o seu uso inovador tornou-se
o uso dominante, o que é confuso se lido posteriormente em Tiago.
E Paulo concorda com Tiago sobre a natureza da fé salvífica.
Mas Paulo está preocupado com algo diferente. Ele está a lutar com um dilema
teológico. Como pode um Deus santo perdoar pecadores? Pecadores não são
suficientemente bons para merecer a salvação com base na sua própria bondade.
Na verdade, a situação deles é pior do que isso. É um dever
de um Deus justo punir os injustos, não perdoá-los. O que torna justo um Deus
justo é que ele exige a retribuição dos injustos. Absolver o culpado é a
marca de um juiz injusto. Portanto, como Deus pode perdoar o injusto com
justiça?
A solução de Paulo é a substituição penal. A expiação
vicária de Cristo.
E a justificação pela fé espelha a expiação vicária. Colocar a fé em outro é renunciar à fé em si mesmo. Esperar em outro põe de lado a esperança em si mesmo.
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