1. Eu tenho estudado o
Catolicismo Romano com muito mais profundidade do que a Ortodoxia Oriental, e
tenho uma visão clara do que o Catolicismo representa. Acho mais difícil entrar
no mundo conceptual da Ortodoxia Oriental. Isso em parte porque, na minha
leitura, a exposição é muitas vezes metafórica. Portanto, a questão é o que
significa a linguagem figurativa.
2. Dito isso, mesmo que eu
não tenha claro o que algo é, posso ter bastante claro o que não é. Seja o que
for que a Ortodoxia Oriental represente, não é o cristianismo do NT. Quando
comparo os dois, são paradigmas diferentes e divergentes.
3. A Ortodoxia Oriental
rejeita o conceito forense penal da salvação difundido nas Escrituras. A
salvação bíblica não se resume a isso. Há também a santificação. Mas a
Ortodoxia Oriental rejeita um elemento central da soteriologia bíblica. Ele não
está confinado à teologia paulina ou à sola fide. O modelo sustentado da
expiação no NT (prenunciado no AT) é penal e sacrificial. O pecado viola a
justiça divina. O pecado é culpável e censurável. Isso não é tudo o que o
pecado é. O pecado também é corrupção moral. Mas na minha leitura, a Ortodoxia
Oriental apaga o modelo primário de expiação do NT.
4. A alternativa é o
conceito Ortodoxo Oriental de theosis. Não tenho inteiramente a certeza do que
isso significa. Pelo que entendi, a salvação Ortodoxa Oriental é uma categoria
metafísica. O pecado envolve alienação da vida de Deus. A salvação envolve a
participação na vida de Deus. Somos libertos do pecado quando somos levados à
própria vida de Deus. Compartilhamos, não a sua essência, mas as suas energias.
5. Ora, há um sentido em
que a salvação do NT também tem uma dimensão ontológica: santificação e
glorificação. E há um sentido em que os cristãos participam na vida de Deus.
Mas Deus e o homem não se estendem ao longo de um continuum metafísico comum.
Há uma diferença qualitativa e categórica entre o modo de subsistência
necessário, incomparável e transcendente de Deus e a existência de agentes
contingentes, finitos, limitados no tempo e corporificados. O nosso modo de
subsistência nunca interseta com o modo de subsistência de Deus. Deus
compartilha a sua vida conosco no sentido de que ele é a fonte de nosso ser e
bem-estar. Toda a bondade flui dele.
6. Dá-me a impressão de
que a Ortodoxia Oriental cria uma salvaguarda postulando a dicotomia/distinção
essência/energia. Isso parece-me uma distinção ad hoc e instável. As energias
são Deus ou não são Deus? Idênticas com Deus ou algo diferente de Deus? Se for
diferente de Deus, então as energias fazem parte do mundo. Elas caem do lado da
criação.
7. Na soteriologia do NT,
a Encarnação é uma precondição necessária da expiação, mas não expia por si
mesmo. É a morte sacrificial de Cristo que é redentora. E a necessidade de
renovação moral/psicológica é suprida pela agência do Espírito Santo.
8. Pelo que li, os
teólogos Ortodoxos às vezes falam como se a Encarnação não fosse apenas uma
relação confinada a um indivíduo único (Jesus), mas que de alguma forma a Encarnação
une Deus e o homem a um nível universal. Como se todos os humanos estivessem
ligados à vida de Deus em virtude do Filho Encarnado.
9. Dessa forma, isso está
em tensão com a particularidade dos sacramentos. Presumivelmente, os teólogos
Ortodoxos têm estratégias para suavizar essa tensão, mas ela pode ser
solucionada?
10. A propósito de (9), em
4. há um sacramentalismo sufocante, onde a salvação é canalizada através dos
sacramentos. Isso, por sua vez, necessita de sacerdócio. Assim como o Catolicismo,
a Ortodoxia Oriental opera com um paradigma sacerdote-sacramento, enquanto a
teologia evangélica opera com um paradigma Palavra-Espírito.
11. Depois, há o papel
supersticioso dos ícones, que parecem funcionar como projeções ou extensões da
Encarnação.
12. Em cima disso está a
ficção de uma igreja infalível.
Todo o sistema está muito
distante da teologia e da piedade do NT. É claro que os teólogos Ortodoxos
tentam provar a posição deles a partir das Escrituras, mas, pelo que observo, a
sua exegese é deficiente, forçada e circular, pois apelam para a autoridade dos
padres gregos para alavancar as suas interpretações das Escrituras (por
exemplo, a luz do Tabor como luz incriada).
13. Tenho outras objeções,
não exclusivas para a Ortodoxia Oriental. Eu sou predestinacionista enquanto a
Ortodoxia Oriental é libertarianista.
14. Discordo da doutrina
de Deus da Ortodoxia Oriental. Rejeito o seu conceito hierárquico da Trindade,
onde o Pai é o Deus primário e a fonte metafísica do Filho e do Espírito.
Pode-se objetar que,
tradicionalmente, muitas denominações protestantes herdaram um conceito
hierárquico da Trindade, então por que isso é uma razão para eu rejeitar a
Ortodoxia Oriental, mas não as contrapartes protestantes? Uma razão é que não
se pode ser Ortodoxo Oriental honesto a menos que se afirme os dogmas da
Ortodoxia Oriental. Não se pode ser um Ortodoxo Oriental honesto se se rejeitar
a doutrina de Deus da Ortodoxia Oriental.
Em contraste, há mais
liberdade dentro do evangelicalismo. Eu posso ser um protestante honesto sem
reafirmar cada transferência reflexiva da Ortodoxia Grega ou da teologia
Latina.
15. Finalmente, adiro a
uma cristologia de duas-mentes. A inter-relação delas é assimétrica. O Filho é
independente da alma humana, enquanto a alma é contingente. O Filho controla a
alma humana. O Filho tem acesso completo à alma humana. A alma não tem acesso à
mente do Filho, exceto quando o Filho compartilha seu conhecimento com a alma
humana de Cristo. Não tenho certeza de que uma cristologia de duas-mentes seja
compatível com a cristologia ciriliana, mas também não me importo, porque não
presto contas aos Padres Gregos.