quinta-feira, 31 de março de 2022

O coração dos poderosos da terra está na mão de Deus

Num tempo em que se ouve falar tanto de guerra, lembremo-nos sempre que “o coração do rei, na mão do Senhor, é como corrente de águas; ele o inclina para onde quer” (Provérbios 21:1). Por isso também os poderosos da terra têm que submeter-se à vontade de Deus, que opera com eles como quer e ninguém pode impedi-lo de executar a sua vontade. Lembremo-nos do rei do Egito, do rei da Assíria, do rei da Babilónia e de César Augusto, para citar apenas alguns poderosos da terra dos quais Deus se usou para cumprir os seus desígnios sobre a terra.

Como nos ensina o livro de Jó “Deus engrandece os povos e os destrói; amplia as nações e as reconduz às suas fronteiras” (Jó 12:23). Jesus disse-nos que é necessário que guerras e rumores de guerras aconteçam.

A guerra acaba quando Deus na sua soberania decidir que a guerra deve acabar. A paz não está condicionada a mais nada a não ser a sua vontade, como causa primeira de todas as coisas que acontecem na sua criação.

Podemos e devemos orar para que venha a paz, sabendo que a nossa oração pode mudar o futuro, mas não pode mudar os planos de Deus. A oração e a resposta à oração são meios pelos quais o plano de Deus para o mundo se realiza.

Fiquemos, pois, tranquilos sabendo que tudo está sob controle de Deus e que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que o amam.

Teísmo aberto e oração


Eis que Deus está prestes a cessar a Guerra na Ucrânia, por intercessão de Nossa Senhora de Fátima, que o tenta convencer que é mais sábio e justo terminar já com o conflito bélico, quando de repente Ele ouve a oração urgente de sua santidade o Patriarca de Moscovo, Cirilo I, que incensando o ícone de Nossa Senhora de Kazan, pede a continuação abençoada da guerra santa, até que todos os objetivos russos sejam alcançados e os valores cristãos restabelecidos na Ucrânia decadente. Então, Deus muda de ideias e defere em favor do Patriarca Ortodoxo. 

No entanto, a decisão de Deus não é definitiva, ele pode voltar a mudar de ideias dependendo do número de consagrações feitas ao Imaculado Coração de Maria, da quantidade de terços rezados e da qualidade do incenso utilizado pelo patriarca ortodoxo. Na verdade, Deus não tem qualquer plano para o futuro, nem pode ter dado o imprevisível livre-arbítrio dos humanos. Os seus caminhos podem ser alterados (e presumivelmente melhorados) por uma qualquer oração inesperada. Confuso? É só o Deus do teísmo aberto em ação.

sexta-feira, 25 de março de 2022

Por que não sou Ortodoxo Oriental

 

1. Eu tenho estudado o Catolicismo Romano com muito mais profundidade do que a Ortodoxia Oriental, e tenho uma visão clara do que o Catolicismo representa. Acho mais difícil entrar no mundo conceptual da Ortodoxia Oriental. Isso em parte porque, na minha leitura, a exposição é muitas vezes metafórica. Portanto, a questão é o que significa a linguagem figurativa.

2. Dito isso, mesmo que eu não tenha claro o que algo é, posso ter bastante claro o que não é. Seja o que for que a Ortodoxia Oriental represente, não é o cristianismo do NT. Quando comparo os dois, são paradigmas diferentes e divergentes.

3. A Ortodoxia Oriental rejeita o conceito forense penal da salvação difundido nas Escrituras. A salvação bíblica não se resume a isso. Há também a santificação. Mas a Ortodoxia Oriental rejeita um elemento central da soteriologia bíblica. Ele não está confinado à teologia paulina ou à sola fide. O modelo sustentado da expiação no NT (prenunciado no AT) é penal e sacrificial. O pecado viola a justiça divina. O pecado é culpável e censurável. Isso não é tudo o que o pecado é. O pecado também é corrupção moral. Mas na minha leitura, a Ortodoxia Oriental apaga o modelo primário de expiação do NT.

4. A alternativa é o conceito Ortodoxo Oriental de theosis. Não tenho inteiramente a certeza do que isso significa. Pelo que entendi, a salvação Ortodoxa Oriental é uma categoria metafísica. O pecado envolve alienação da vida de Deus. A salvação envolve a participação na vida de Deus. Somos libertos do pecado quando somos levados à própria vida de Deus. Compartilhamos, não a sua essência, mas as suas energias.

5. Ora, há um sentido em que a salvação do NT também tem uma dimensão ontológica: santificação e glorificação. E há um sentido em que os cristãos participam na vida de Deus. Mas Deus e o homem não se estendem ao longo de um continuum metafísico comum. Há uma diferença qualitativa e categórica entre o modo de subsistência necessário, incomparável e transcendente de Deus e a existência de agentes contingentes, finitos, limitados no tempo e corporificados. O nosso modo de subsistência nunca interseta com o modo de subsistência de Deus. Deus compartilha a sua vida conosco no sentido de que ele é a fonte de nosso ser e bem-estar. Toda a bondade flui dele.

6. Dá-me a impressão de que a Ortodoxia Oriental cria uma salvaguarda postulando a dicotomia/distinção essência/energia. Isso parece-me uma distinção ad hoc e instável. As energias são Deus ou não são Deus? Idênticas com Deus ou algo diferente de Deus? Se for diferente de Deus, então as energias fazem parte do mundo. Elas caem do lado da criação.

7. Na soteriologia do NT, a Encarnação é uma precondição necessária da expiação, mas não expia por si mesmo. É a morte sacrificial de Cristo que é redentora. E a necessidade de renovação moral/psicológica é suprida pela agência do Espírito Santo.

8. Pelo que li, os teólogos Ortodoxos às vezes falam como se a Encarnação não fosse apenas uma relação confinada a um indivíduo único (Jesus), mas que de alguma forma a Encarnação une Deus e o homem a um nível universal. Como se todos os humanos estivessem ligados à vida de Deus em virtude do Filho Encarnado.

9. Dessa forma, isso está em tensão com a particularidade dos sacramentos. Presumivelmente, os teólogos Ortodoxos têm estratégias para suavizar essa tensão, mas ela pode ser solucionada?

10. A propósito de (9), em 4. há um sacramentalismo sufocante, onde a salvação é canalizada através dos sacramentos. Isso, por sua vez, necessita de sacerdócio. Assim como o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental opera com um paradigma sacerdote-sacramento, enquanto a teologia evangélica opera com um paradigma Palavra-Espírito.

11. Depois, há o papel supersticioso dos ícones, que parecem funcionar como projeções ou extensões da Encarnação.

12. Em cima disso está a ficção de uma igreja infalível.

Todo o sistema está muito distante da teologia e da piedade do NT. É claro que os teólogos Ortodoxos tentam provar a posição deles a partir das Escrituras, mas, pelo que observo, a sua exegese é deficiente, forçada e circular, pois apelam para a autoridade dos padres gregos para alavancar as suas interpretações das Escrituras (por exemplo, a luz do Tabor como luz incriada).

13. Tenho outras objeções, não exclusivas para a Ortodoxia Oriental. Eu sou predestinacionista enquanto a Ortodoxia Oriental é libertarianista.

14. Discordo da doutrina de Deus da Ortodoxia Oriental. Rejeito o seu conceito hierárquico da Trindade, onde o Pai é o Deus primário e a fonte metafísica do Filho e do Espírito.

Pode-se objetar que, tradicionalmente, muitas denominações protestantes herdaram um conceito hierárquico da Trindade, então por que isso é uma razão para eu rejeitar a Ortodoxia Oriental, mas não as contrapartes protestantes? Uma razão é que não se pode ser Ortodoxo Oriental honesto a menos que se afirme os dogmas da Ortodoxia Oriental. Não se pode ser um Ortodoxo Oriental honesto se se rejeitar a doutrina de Deus da Ortodoxia Oriental.

Em contraste, há mais liberdade dentro do evangelicalismo. Eu posso ser um protestante honesto sem reafirmar cada transferência reflexiva da Ortodoxia Grega ou da teologia Latina.

15. Finalmente, adiro a uma cristologia de duas-mentes. A inter-relação delas é assimétrica. O Filho é independente da alma humana, enquanto a alma é contingente. O Filho controla a alma humana. O Filho tem acesso completo à alma humana. A alma não tem acesso à mente do Filho, exceto quando o Filho compartilha seu conhecimento com a alma humana de Cristo. Não tenho certeza de que uma cristologia de duas-mentes seja compatível com a cristologia ciriliana, mas também não me importo, porque não presto contas aos Padres Gregos.

terça-feira, 22 de março de 2022

A Aliança Evangélica Mundial já suspendeu as relações ecuménicas com a Igreja Ortodoxa Russa? (que nunca deviam ter começado)


https://worldea.org/news/15148/the-world-evangelical-alliance-has-appointed-an-ambassador-to-the-russian-orthodox-church/

Há dois tipos de critérios para manter relações ecuménicas ou comunhão espiritual com uma Igreja que se diz cristã: critérios morais e critérios doutrinais. A Igreja Ortodoxa Russa não cumpre nem uns nem outros.

Patriarca da Igreja ortodoxa apoia invasão russa da Ucrânia

domingo, 20 de março de 2022

sábado, 19 de março de 2022

Guerra civil na Igreja Ortodoxa Russa


A vida está a ficar difícil para os impérios e os imperialistas. 

Neste momento reina a confusão pelo mundo Ortodoxo (não é que tenha alguma vez sido muito pacífico).

1) Na Ucrânia, alguns sacerdotes ortodoxos russos pararam de evocar Cirilo I durante os seus serviços de culto, argumentando que as suas declarações sobre a guerra – que incluem referências a “forças do mal” na Ucrânia – equivalem a um endosso tácito ao ataque. Alguns pediram aos líderes ortodoxos russos regionais na Ucrânia que considerassem romper com a Igreja Ortodoxa Russa.

2) Mais de 285 sacerdotes e diáconos ortodoxos russos de todo o mundo assinaram uma carta aberta expressando a sua oposição à invasão da Ucrânia pela Rússia, desafiando o governo russo e rompendo com o apoio tácito à ação militar do seu líder, o Patriarca de Moscovo.

A carta pedia “a cessação da guerra fratricida” contra a Ucrânia, insistia que “o povo da Ucrânia deveria fazer sua escolha por conta própria” e lamentava o “julgamento ao qual nossos irmãos e irmãs na Ucrânia foram imerecidamente submetidos”. 

3) Um sacerdote ortodoxo russo, que está entre os signatários desta carta aberta, foi preso depois de pregar um sermão denunciando a invasão russa da Ucrânia. De acordo com uma reportagem da BBC citando ativistas russos, o sacerdote Ioann Burdin foi acusado de “desacreditar o uso das Forças Armadas” por causa do sermão que pregou no “Domingo do Perdão”. O sermão incluía, entre outras coisas, descrições da destruição infligida à Ucrânia pelas forças russas.

4) Vários académicos e clérigos do Centro de Estudos Cristãos Ortodoxos da Universidade de Fordham e da Academia Volos para Estudos Teológicos acusam o Patriarca de Moscovo, Cirilo I, de heresia, a que chamam heresia do "Mundo Russo".

5) Nos Países Baixos, uma igreja ortodoxa autónoma, até agora sob jurisdição russa, censura sem meios termos o Patriarca de Moscovo, e corta relações com a Igreja Ortodoxa Russa.  

Perante isto conclui-se que, mais depressa sacerdotes ortodoxos russos censuram o Patriarca de Moscovo e condenam claramente a Rússia e o presidente Putin pela guerra de invasão na Ucrânia, pondo o nome aos culpados e às vítimas, aos agressores e aos agredidos, e Igrejas Ortodoxas autónomas cortam relações com a Igreja Ortodoxa Russa, do que a Igreja de Roma e o Bispo de Roma o fazem. 

O que prende o Vaticano? Do que tem medo o Papa Francisco? Por que não denuncia pelo nome os culpados, limitando-se a censurar a guerra e as atrocidades na Ucrânia genericamente? 

Como se sentirão neste momento os greco-católicos ucranianos ao ver que o Papa mantém as relações ecuménicas intactas com alguém que até agora não demonstrou senão ser um fantoche de Putin? A Bíblia diz para não ter comunhão com aquele que se diz irmão mas é um iníquo e hipócrita, com um tal não se deve sequer comer. 

quinta-feira, 10 de março de 2022

Essa Igreja é minha!

Foto: (AP/Gregorio Borgia)

O que vale é que, agora, os cristãos da Ucrânia têm três proprietários: o Papa de Roma, o Patriarca de Moscovo e o Metropolita de Kiev. O primeiro e o segundo são grandes amigos, já o terceiro não se dá bem com o segundo. Não se sabe se o primeiro conhece o terceiro ou não. Apesar de ainda haver algumas desavenças com a partilha do território e de qual é a única verdadeira Igreja de Cristo, os cristãos da Ucrânia estão assim, por direito divino, entregues a estas três Suas Santidades, que nesta hora difícil, tudo estão a fazer para os proteger, diminuir o seu sofrimento e parar com a devastação da sua terra. Sabe-se que o Papa de Roma já mandou congelar qualquer conta ligada a oligarcas russos que possa existir no Banco do Vaticano e enviou ao Kremlin o Núncio Apostólico em Moscovo para exortar o presidente Putin a cessar de imediato as hostilidades, a respeitar o direito internacional e prosseguir com a sua política de grande lutador pela liberdade e defensor das minorias étnicas, religiosas e políticas no mundo, facto este que levou nos últimos anos o Vaticano a aproximar-se da Rússia e dos seus altos dignatários, enquanto o Patriarca de Moscovo condenou veementemente a atitude, tão inesperada como violenta, de invadir injustificadamente um país soberano do seu amigo dos tempos do KGB e ídolo, Vladimir Putin.

Também se sabe que o Papa de Roma e o Patriarca de Moscovo, como bons pastores que são, já estão a preparar em conjunto uma grande campanha humanitária para resgatar o seu rebanho bipartido (ou tripartido?) da Ucrânia.

segunda-feira, 7 de março de 2022

A guerra na Ucrânia e a politiquice eclesiástica (sob influência dos Estados Nacionais) das Igrejas Ortodoxas no Oriente


Este é o resultado de quando as igrejas se deixam capturar pelo poder político. Tornam-se igrejas de Estado, governadas pelos príncipes seculares e não pelo Príncipe da Paz.

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