Dada a afinação minuciosa das constantes da natureza, a evidência favorece igualmente a existência de um Afinador ou de um Multiverso? Farei uma analogia para se compreender melhor o que está em causa.
Suponha-se que o primeiro
prémio do Euromilhões (ou Mega-Sena para os amigos brasileiros) saía 50 vezes
seguidas à mesma pessoa. Se os números estivessem a sair aleatoriamente isto
seria tão improvável que a melhor explicação seria inferir que os números não
estavam a sair aleatoriamente. Algo de errado estava a acontecer no sorteio dos
números. Com base na impossibilidade estatística de acertar 50 vezes seguidas
no Euromilhões seria logicamente inferido que os números estavam a sair
escolhidos intencionalmente para aquela pessoa ganhar o primeiro prémio.
Ninguém acreditaria que fosse possível o primeiro prémio sair 50 vezes seguidas à mesma pessoa se os números estivessem a sair ao acaso.
Mas para evitar esta
conclusão, aparecia então alguém que especulava, sem nenhuma evidência, que
aquela pessoa acertava sempre no primeiro prémio porque apostava em todas as
chaves possíveis em cada sorteio. Esta explicação ad hoc tem a mesma probabilidade
de ser verdadeira do que a explicação de que os números não estão a sair
aleatoriamente? É claro que não. A evidência das probabilidades é real,
enquanto a suposição de que a pessoa está a apostar em todas as chaves possíveis
é apenas uma conjetura, uma especulação sem evidência que a suporte.
Por isso, a inferência com
melhor poder explicativo com base na evidência disponível é que os números não
estão a sair aleatoriamente, mas intencionalmente para aquela pessoa ganhar
sempre o primeiro prémio.
Transpondo isto por
analogia para o argumento da afinação minuciosa do universo, a inferência com
melhor poder explicativo é que, com base nas probabilidades, os valores das
constantes físicas não surgem de forma aleatória, mas há uma agência intencional
por trás deles, sendo a hipótese do multiverso uma especulação ad hoc, uma vez
que não há qualquer evidência substancial da sua existência, para evitar a
conclusão de um Afinador por trás dos valores das constantes físicas.
Há uma assimetria evidencial entre o Afinador e o multiverso.
O Afinador é inferido de evidência real, a impossibilidade estatística dos valores das contantes físicas serem resultado de um processo aleatório, enquanto a existência do multiverso não é inferida de nenhuma evidência real. É essencialmente formalismo matemático que precisa ser demonstrado que corresponde a alguma coisa do mundo real. Por isso, postular a existência do multiverso é uma falácia do apelo à ignorância, um argumento do naturalismo das lacunas.
Portanto, a evidência de afinação
minuciosa do universo favorece a existência de intencionalidade, de um agente
inteligente por trás dos valores das constantes da natureza em detrimento de um imaginário
multiverso.
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