sábado, 29 de maio de 2021

Como o perdão e o batismo estão ligados?

 

Pedro disse-lhes: “Arrependei-vos e sede imersos, cada um de vós, em nome de Jesus, o Messias, com base no perdão dos pecados ...” (Atos 2:38).

A preposição “para” (eis) na expressão “para o perdão dos pecados” levanta a questão da relação entre a imersão na água (batismo) e o perdão dos pecados. Alguns interpretam a preposição como expressando propósito (o propósito do batismo é o perdão dos pecados), alguns como expressando resultado (batismo resulta em perdão).

Uma interpretação contextualmente mais plausível assume um significado causal (o perdão dos pecados é a causa do batismo); os judeus que ouviram Pedro explicar que Jesus era o Messias crucificado, ressuscitado e exaltado e o Senhor que salva Israel nos “últimos dias” se arrependeram dos seus pecados e passaram a ter fé em Jesus. De outra forma, eles não estariam dispostos a ser imersos em água para purificação “em nome de Jesus o Messias”; eles foram imersos em água para purificação “com base no perdão dos pecados”, que receberam de Jesus.


E. Schnabel, Acts (Zondervan 2012), 164-65.

quinta-feira, 27 de maio de 2021

O batismo não pode ser uma burocracia


Uma maneira de refutar a regeneração batismal é colocar a seguinte questão: O batismo é absolutamente necessário para a salvação? 

Como a absoluta necessidade do batismo é indefensável, até mesmo os defensores da necessidade do batismo geralmente preveem sempre uma condição de salvação sem o batismo, o batismo revela-se uma burocracia, um capricho, uma exigência gratuita de Deus, pois Deus pode salvar e justificar sem o batismo, ele não é inerentemente necessário para a salvação.

A menos que se considere o batismo como absolutamente necessário para a salvação, o batismo como exigência para a salvação não faz sentido. Deus não é um burocrata.

terça-feira, 18 de maio de 2021

A arte como camuflagem

 

O interior das igrejas reformadas/evangélicas é tradicionalmente espartano. A simplicidade e ausência de luxos é uma das suas imagens de marca. Quem está acostumado a isso e entra numa catedral gótica ou numa basílica bizantina pela primeira vez pode ter um choque. O contraste é avassalador.

Esse impacto pode ter consequências diferentes em pessoas diferentes. Alguém com uma fé principalmente intelectual e teórica, que adere ao cristianismo pelo sentido estético da coisa, pode ficar fascinado e sentir-se atraído por toda a parafernália artística dessas igrejas. Essa é uma das razões pelas quais é um erro os evangélicos serem gratuitamente espartanos quando se trata de serviço de culto. Isso convida ao abandono de certas pessoas. 

Não estou a apelar para a ostentação nem para encher as igrejas com imagens ou pinturas. Isso certamente não seria boa arte, mas mau gosto disfarçado de piedade. Nada pior do que igrejas que mais parecem lojas de bugigangas. Porém, não custa nada ter um maior cuidado com os espaços do culto, a seleção da música sacra, a reverência no culto etc.

Mas a arte majestosa pode ser vista por um prisma diferente: é uma ótima maneira de camuflar o vazio. Se não se tem nada, faz-se com que pareça que há alguma coisa por meio de elementos externos. Se o vinho é apenas vinho, isso é disfarçado usando um cálice esplendoroso. Se a hóstia é apenas um pedaço de pão seco, dissimula-se isso colocando-a dentro de um tabernáculo magnificente, num altar magnificente, com muitos outros adornos cintilantes. Se o sacerdote na verdade não tem poderes transformativos, mas é apenas um homem como outro qualquer, mascara-se isso envolvendo-o com vestes extravagantes. Quanto menos se tem, mais se tem que compensar.

Os elementos externos, a sobrecarga sensorial, desviam a atenção do facto de que não há nada ali. Camadas sobre camadas para esconder o vazio no âmago. Arrebatar os sentidos é uma tática sagaz para desarmar as faculdades críticas.

Ou, para colocar isso ao contrário, se realmente houvesse alguma coisa ali, algo manifestamente sobrenatural, então toda a arte vistosa, arquitetura, música, ouro e brocado seria desnecessário. Na verdade, se realmente houvesse algo ali, todos os embrulhos faustosos o obscureceriam.

segunda-feira, 17 de maio de 2021

EQUÍVOCOS CANÓNICOS

 

Apologistas católicos e protestantes frequentemente chegam a um impasse nos debates sobre o cânon devido a equívocos. A igreja precede o cânon ou o cânon precede a igreja? A igreja nos deu o cânon?

Como resultado, conversam em círculos sem chegar a lugar nenhum. Para quebrar o impasse e esclarecer as questões, algumas distinções e definições são necessárias.

Escritura

Embora a Bíblia seja escritura, escritura não é sinónimo de Bíblia, visto que escritura pode ser apenas uma parte da Bíblia. Isaías é escritura, mas não é a Bíblia.

A Bíblia

A coleção total de escrituras.

Uma Bíblia

O AT é uma Bíblia, mas não a Bíblia. A Bíblia é o AT e o NT.

O cânon

i) Isso pode se referir ao cânon do AT, ao cânon do NT ou a todo o cânon.

ii) Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode estar aberto ou fechado, completo ou incompleto.

iii) Numa definição, o cânon está completo ou fechado de facto quando todas as escrituras estão escritas. Dito de outra forma, nesse momento a Bíblia realmente existe in toto. Esta é uma definição intrínseca.

iv) Isso é diferente da receção ou distribuição da Escritura, que pode ser desigual.

v) Escritura implica cânon porque escritura implica um contraste entre escritura e não-escritura. Portanto, o conceito de escritura contém implicitamente um princípio ou objetivo canónico: limites em princípio e/ou prática. Dependendo do período da história sagrada, o cânon pode não ter atingido o seu limite. Durante o período de revelação pública, há um cânon aberto. Isso é verdade tanto nos tempos do AT como nos tempos do NT.

vi) Os apologistas católicos negam que os cristãos do século I tivessem "A Bíblia". Dizem que a Igreja nos deu "A Bíblia". Dizem que Sola Scriptura é inconsistente com um cânon aberto ou incompleto. Dizem que a maioria dos primeiros cristãos não tinha acesso à "Bíblia" - porque os livros do NT não estavam todos escritos ou a distribuição era desigual.

Mas isso são equívocos. A Sola Scriptura pode operar com um cânon menor porque o princípio governante continua a ser a Escritura. A igreja pode ser governada por um cânon central - um cânon incompleto porque o ponto de contraste não é entre alguma escritura e toda a escritura, mas entre escritura e não-escritura. Colocado de outra forma, entre revelação e não revelação. A revelação divina é a autoridade final, não importa se está muito ou pouco disponível. Nada mais pode ser maior ou igual à revelação divina na teologia e ética cristã.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...