As razões são as seguintes:
1. Em primeiro lugar,
deseja-se contar com traduções feitas diretamente do idioma em que foram
escritos os livros originais. Uma tradução a partir do texto grego da
Septuaginta, tratar-se-ia de uma «tradução de uma tradução», o que aumenta a
probabilidade de imprecisões.
2. Os autores do Novo
Testamento escreviam em grego, por isso é normal que usassem uma versão grega
do Antigo Testamento quando o queriam citar, neste caso a Septuaginta a única
disponível no seu tempo. Não obstante, a forma em que o texto do Antigo
Testamento é citado no Novo Testamento não é uniforme (ver aqui).
3. Em terceiro lugar, não há nenhuma evidência que o texto da
Septuaginta seja melhor, ou mais «puro», que o texto Massorético. Antes,
pressupõe-se que o texto Massorético como uma transcrição é mais preciso do que
a Septuaginta como uma tradução. Além disso,
a Septuaginta, como outras versões antigas, tem a sua própria tradição
textual consideravelmente complexa.
Foi isto que levou
Jerónimo no século IV a procurar a «verdade hebraica» na sua tradução.
Foi isto que levou as
primeiras traduções impressas a serem baseadas nos textos gregos para o Novo
Testamento e hebraico para o Antigo Testamento.
Isto é o que explica que a
maior parte das traduções contemporâneas, tanto católicas como protestantes,
sigam esta prática.
No entanto, isso não
significa uma adesão incondicional ao texto Massorético. Apesar da sua
confiabilidade geral, há indícios de que a vocalização tradicional,
acrescentada aos manuscritos na Idade Média, pode refletir preconceitos
doutrinais.
A prática atual é como se
segue:
Se o texto Massorético e
as versões antigas (com a Septuaginta à cabeça) concordam, pode pressupor-se
razoavelmente que foi preservada a leitura original; isto é o que ocorre para a maior parte do texto do Antigo Testamento.
Se o texto Massorético
difere das versões, deve fazer-se uma escolha com base na crítica textual.
Em passagens onde o texto
Massorético é obscuro, pode recorrer-se às versões que em alguns casos
esclarecem o sentido.
Se tanto o texto
Massorético como as versões dão leituras pouco claras, pode ser necessária uma
conjetura (muito pouco frequente).
A isto se acrescenta
modernamente os manuscritos bíblicos de Qumran, que em geral confirmam a
tradição textual subjacente ao texto Massorético, ainda que em algumas ocasiões
diferem deste e apoiam a Septuaginta, ou diferem de ambos (em detalhes não
substanciais).
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