Os católicos romanos dizem que foi a Tradição apostólica que fez a Igreja discernir quais escritos constituem a lista dos Livros Santos. Esta lista integral é chamada "Cânon das Escrituras".
No entanto,
O bispo de Roma Inocêncio I, numa carta ao bispo de Tolosa, Exupério, dá em 405 uma lista de livros do AT que inclui os apócrifos/deuterocanónicos com 1 Esdras que não é considerado canónico pela Igreja de Roma.
Gregório Magno, bispo de Roma (590-604) insistia na distinção entre livros canónicos e eclesiásticos:
Em relação a tal particular não estamos a agir irregularmente, se dos livros, ainda que não canónicos, no entanto outorgados para a edificação da Igreja, extraímos testemunho. Assim, Eleázar na batalha feriu e derribou o elefante, mas caiu debaixo da própria besta que tinha matado [1 Macabeus 6:46].
Library of the Fathers of the Holy Catholic Church, 2:424; negrito acrescentado.
Portanto, estes dois bispos de Roma não conheciam a Tradição apostólica, que os católicos dizem que fez a Igreja discernir o cânon, que foi proclamado no Concílio de Trento.
Mas, a verdadeira Tradição apostólica está registada nas Escrituras, e diz o seguinte:
"Que vantagem, pois, tem o judeu? ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em todo sentido; primeiramente, porque lhes foram confiados os oráculos de Deus. Pois quê? Se alguns foram infiéis, porventura a sua infidelidade anulará a fidelidade de Deus? De modo nenhum; antes seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso; como está escrito: Para que sejas justificado em tuas palavras, e venças quando fores julgado" (Romanos 3:3-4).
Por conseguinte, a verdadeira Tradição apostólica, diz que foi aos Judeus que a revelação do Antigo Testamento foi confiada. Logo, as Escrituras do Antigo Testamento devem ser as do cânon hebraico. Mesmo que alguns bispos digam o contrário.
A Tradição apostólica que fez a Igreja Romana discernir o cânon é espúria, não veio dos apóstolos, e por isso o cânon do Antigo Testamento que discerniram não é o hebraico, como diz que deve ser a verdadeira Tradição apostólica.
O Códice Sinaítico não é do século II mas sim do século IV e inclui Tobite, Judite, 1 Macabeus e ambas as Sabedorias. Mas falta Baruc e 2 Macabeus, mas está presente 4 Macabeus e, no NT, está a Epístola de Barnabé e um fragmento de O Pastor de Hermas.
ResponderEliminarPortanto, pelo raciocínio do Jorge Luis o cânon da Igreja católica romana devia excluir Baruc e 2 Macabeus e incluir 4 Macabeus no Antigo Testamento e no cânon do Novo Testamento devia incluir a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas.
O que o Jorge Luís confunde deliberadamente ou por ignorância é que a presença dos livros eclesiásticos/deuteros/apócrifos em códices antigos ou em edições da Bíblia não é garantia da sua canonicidade. Uma coisa é os livros contidos num códice ou numa edição da Bíblia outra coisa é o cânon admitido de livros sagrados.
Por exemplo, as edições das Bíblias protestantes traziam até ao Século XIX os apócrifos incluídos, mas estes livros não eram considerados como pertencentes ao cânon de livros sagrados.
O mesmo se aplica à Bíblia de Gutemberg que não é mais do que a Vulgata Latina de Jerónimo o qual, também no Século IV, expressou o seu ponto de vista sobre o cânon do Antigo Testamento no prefácio aos livros de Samuel e Reis. Jerónimo enumera o cânon hebraico, e dá conta da dupla numeração como 24 ou 22, segundo se Rute e Lamentações se contassem por separado ou agregados, respectivamente, a Juízes e Jeremias: "E assim há também vinte e dois livros do Antigo Testamento; isto é, cinco de Moisés, oito dos profetas, nove dos hagiógrafos, embora alguns incluam Ruth e Kinoth (Lamentações) entre os hagiógrafos, e pensam que estes livros devem contar-se por separado; teríamos assim vinte e quatro livros da Antiga Lei". Os 22 ou 24 correspondem exactamente com o cânon hebraico e protestante; a diferença entre os 39 contados por este último se deve a que Esdras-Neemias, Samuel, Reis e Crónicas se contam como dois livros cada um (soma 4), e os Profetas menores, que se incluíam num só rolo na Bíblia hebraica, se contam por separado (soma 11).
Depois prossegue Jerónimo:
"Este prólogo às Escrituras pode servir como um prefácio com elmo [galeatus] para todos os livros que vertemos do hebraico para o latim, para que possamos saber – os meus leitores tanto como eu mesmo - que qualquer [livro] que esteja para lá destes deve ser reconhecido entre os apócrifos. Portanto, a Sabedoria de Salomão, como se a titula comummente, e o livro do Filho de Sirá [Eclesiástico] e Judite e Tobias e o Pastor não estão no Cânon."
Jerónimo traçou a diferença entre os livros canónicos e os eclesiásticos como se segue:
"Como a Igreja lê os livros de Judite e Tobite e Macabeus, mas não os recebe entre as Escrituras canónicas, assim também lê Sabedoria e Eclesiástico para a edificação do povo, não como autoridade para a confirmação da doutrina."
De igual modo, sublinhou que as adições a Ester, Daniel e Jeremias (o livro de Baruc) não tinham lugar entre as Escrituras canónicas.
Quem fez o cânon foi Deus ao inspirar os autores dos livros sagrados. O que a Igreja antiga fez (a autêntica igreja católica que compreendia toda a cristandade, não a igreja romana) foi reconhecer a extensão e limites deste cânon. Reconhecimento este que foi um processo histórico e não um acontecimento.
ResponderEliminarAo discernir o cânon a Igreja reconheceu a autoridade intrínseca das Escrituras que decorre do facto de serem divinamente inspiradas e por isso Palavra de Deus. A sua autoridade não depende pois de sanção humana em geral ou dum carimbo da igreja em particular. Se os livros da Bíblia são Palavra de Deus são-no com ou sem aprovação do Papa.
Na verdade, se se necessitasse da autoridade infalível da Igreja Católica Romana para conhecer o cânon do Antigo Testamento, todo o cristão teria permanecido no erro ou na dúvida até 1546, já que não houve nenhuma decisão explícita anterior de nenhum concílio ecuménico.
Eis como resume a situação dos livros apócrifos pouco antes do concílio de Trento a Enciclopédia Católica:
Na Igreja latina, através de toda a Idade Média achamos evidência de hesitação acerca do carácter dos deuterocanónicos. Há uma corrente amistosa para com eles, outra distintamente desfavorável para com a sua autoridade e sacralidade, enquanto oscilando entre ambas há um número de escritores cuja veneração por estes livros é temperada por certa perplexidade acerca da sua posição exacta, e entre eles encontramos São Tomás de Aquino. Encontram-se poucos que reconheçam inequivocamente a sua canonicidade. A atitude prevalecente dos autores ocidentais medievais é substancialmente a dos Padres gregos.
(George J. Reid, Canon of the Old Testament, em The Catholic Encyclopedia, 1913)
Conhecereis a verdade, veja o item 52 [Dois bispos de Roma(...)concílio de Trento? - Refutação] da heresioteca do Rafael. O sujeito pretende "refutar" mais um texto do blog.
ResponderEliminarhttp://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/deuterocanonicos
Parece que a refutação ainda está em preparação.
ResponderEliminarCom seguidores destes não é de admirar que o papa tenha feito as malas e abalado :-)