Antes de referir-nos ao artigo traduzido e publicado em apologeticacatolica.org com o título "Bíblia e Tradição...", convém resumir – para evitar mal-entendidos - o que os evangélicos entendem por Sola Scriptura. Digo isto porque embora "Sola Scriptura" – somente a Bíblia - possa tomar-se como uma declaração que não necessita de comentários, na realidade não é assim. Ocorre mais ou menos como com a teoria da Relatividade... que não significa que "tudo é relativo". Sola Scriptura significa:
1. Que a Bíblia é a única regra infalível da fé (doutrina) e da prática (costumes).
2. Que o ensino da Bíblia é suficiente para que as pessoas aceitem Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e fazendo o que ela diz, alcancem a vida eterna.
Corolários:
1. A Igreja de Jesus Cristo não necessita de revelações que não se achem explicitamente ou por lógica e clara implicação na Bíblia.
2. Não há outra regra infalível de fé fora das Escrituras.
Por outro lado, Sola Scriptura NÃO significa:
1. Que a Bíblia contenha absolutamente tudo o que Deus disse e fez.
2. Que a Palavra de Deus não se tenha transmitido oralmente em muitas ocasiões e situações históricas.
3. Que a Igreja careça de autoridade para interpretar, ensinar e defender a Palavra de Deus.
4. Que toda a tradição não escrita deva ser rejeitada a priori e a fortiori.
Os cristãos evangélicos crêem que a Igreja é coluna e fundamento da verdade, que deve ter mestres piedosos e conhecedores das Escrituras, e que muitas tradições são expressões válidas da fé cristã. Aceitam as expressões normativas dos Credos dos primeiros concílios ecuménicos, e levam a sério os ensinos dos Padres, assim como dos muitos e muito bons mestres, doutores e comentaristas que Deus deu à Igreja ao longo dos séculos. Não crêem que a Escritura seja de interpretação privada (livre interpretação), mas sustentam o princípio do Livre Exame.
Se aceitam algumas coisas e rejeitam outras, o fazem com base no que consideram ser os ensinos das Escrituras. O ensino da tradição – sim, mesmo da sua própria tradição - , dos concílios, dos Padres, etc, deve conformar-se às Escrituras, que são a Palavra final, inspirada e infalível de Deus.
Agora dirijamo-nos ao artigo em questão, e vejamos o quão firmemente estabelece a sua tese, e no final incluirei um resumo das razões bíblicas que nos obrigam a reafirmar o princípio de Sola Scriptura.
O autor (Armstrong) reconhece que os Protestantes não ignoram "a importância e validade da história da Igreja, da Tradição, dos Concílios ecuménicos, ou da autoridade dos Padres da Igreja e destacados teólogos. A diferença reside na relativa posição de autoridade mantida pela Escritura e pelas instituições e decretos da Igreja."
Note-se que o autor sabe perfeitamente que a diferença fundamental não é a rejeição de qualquer outra autoridade além das Escrituras, ainda que aquela se considere subordinada a estas. Contudo, depois se afirma que "A prevalência do sola Scriptura, de acordo ao pensamento católico, facilitou uma estendidíssima ignorância e desprezo da história da Igreja entre os protestantes comuns."
Suponho que a obscura referência aos protestantes "comuns" se referirá àqueles mais ignorantes. Deveria ser óbvio que ainda que tal coisa seja verdade, não é menos certo que os católicos "comuns" são tão ou mais ignorantes da história, e por acréscimo das Escrituras. Limitam-se a assentir sem examinar tudo quanto a sua Igreja diga que é certo. Quanto ao conhecimento da história entre os católicos, pois, deve referir-se aos católicos cultos, que então deveriam comparar-se com os protestantes instruídos; e neste caso o suposto desnível desaparece ou inclusive se inverte.
"O Catolicismo afirma que a sua Tradição é nem mais nem menos que a conservação do ensino de Cristo tal e como foi revelado e proclamado pelos Apóstolos. Existe um desenvolvimento, mas apenas no sentido de um aumento do entendimento que não na essência, desta Tradição apostólica. O Catolicismo afirma ser o guardião e custódio do depósito original da fé a qual foi uma vez entregue aos santos (Judas 3)."
Deve tomar-se cuidadosa nota deste parágrafo, segundo o qual, e em conformidade com a doutrina católica, se sustenta que a Tradição que a Igreja de Roma considera inspirada e portanto dotada de suprema autoridade não é toda a tradição que possa ter essa ou outras igrejas, mas aquelas que remontam directamente ao Senhor e aos Apóstolos.
"Deve anotar-se também que a palavra escrita e a massa enorme de literatura foi propagada amplamente apenas desde a invenção da imprensa por volta de 1440. Desse modo, essa palavra escrita não pôde ter sido a principal transmissora do evangelho durante pelo menos catorze séculos. Os cristãos anteriores no tempo à Reforma Protestante aprenderam sobretudo através das homilias, dos sacramentos, da liturgia e seu calendário anual, das festas cristãs, das práticas devocionais, instrução familiar, arquitectura eclesial e outro tipo de arte sacra que reflectia temas bíblicos. Para todos esses crentes, o sola Scriptura teria sido claramente uma absurda abstracção de impossível colocação em prática."
Eis aqui uma falácia repetida até à exaustão pelos apologistas católicos. É tão óbvia que deveria pelo menos dar-lhes vergonha de repeti-la. A existência de milhares de manuscritos bíblicos indica que, por muito tempo, os cristãos puderam fazer para si cópias de parte ou de toda a Bíblia, mas este não é o ponto.
Os protestantes não afirmam que a Palavra escrita tenha sido o principal veículo de transmissão, mas que é a fonte definitiva da Verdade revelada. Por ela é possível julgar as homilias, os sacramentos, a liturgia, etc. A questão é se a nossa pregação e as nossas práticas são conformes às Escrituras, não se cada cristão que existiu tinha uma Bíblia. Portanto, o argumento além de falacioso é irrelevante.
"Apenas um preconceito prévio contra tal noção ou uma indevida fixação na rejeição por parte de Cristo do corrupto, tradições humanas farisaicas, poderia cegar alguém perante a considerável força dos dados escriturais. Dito de outra forma, a Escritura não ensina o sola Scriptura, um conceito que se baseia no uso de um documento (a Bíblia) contrariamente ao que o próprio documento testemunha explícita e implicitamente."
A isto se responde no final.
"É absurdo para qualquer cristão desdenhar o que Deus ensinou a milhões de outros cristãos ao longo dos séculos."
Não posso interpretar este parágrafo senão como um profundo preconceito contra os evangélicos. Quem terá dito a este bom senhor que em conjunto desprezamos os santos e os sábios do passado? A questão não é essa, isto não é o que se discute. O que está em jogo é a norma final de autoridade: Bíblia ou Bíblia mais tradição apostólica.
Note-se que aqui se contrapõe Sola Scriptura com "o que Deus ensinou a milhões de outros cristãos ao longo dos séculos." Aqui deixa transparecer - involuntariamente, suponho - a verdadeira origem e natureza da tradição católica, a saber, a religiosidade popular das massas. Porém, esta tradição secular NÃO é a que nominalmente defende Roma, já que teoricamente esta última tradição não foi dada às massas nem ao longo de séculos, mas proviria directamente do Senhor e dos seus Apóstolos, que a receberam num intervalo de décadas. Contudo, na prática Roma confunde uma com outra, e de facto atribui sanção dominical e apostólica a coisas que provêm da religiosidade popular.
"No Novo Testamento, em primeiro lugar, encontramos um testemunho bem claro do facto de que a Escritura não contém todo o ensino de Cristo. Presumivelmente ninguém negaria isto, mas os Protestantes costumam negar que qualquer dos Seus ensinos não recolhidos na Escritura poderiam ter sido fielmente transmitidos oralmente pela primitiva tradição apostólica."
Não existe razão a priori para negar que alguns ensinos do Senhor que não estão nas Escrituras poderiam ter-se transmitido por tradição oral. Deus é soberano, e pode fazer as coisas como a Ele lhe aprouver. Não corresponde a nenhum ser humano dizer a Deus como fazer melhor as coisas... O problema surge quando queremos determinar a este respeito qual foi a vontade de Deus.
É certo que a investigação histórica sugere que alguns ditos de Jesus poderiam ter-se conservado fora do Novo Testamento (por exemplo, Joachim Jeremias, "Palabras desconocidas de Jesús", trad. cast., Salamanca: Sígueme, 1979). Mas isto é por sua própria natureza duvidoso, e em todo o caso não afecta as doutrinas centrais do cristianismo.
Por outro lado, a própria Bíblia dá testemunho do pouco confiável que é a tradição oral no médio ou longo prazo. "Por isso o dito se propagou entre os irmãos que aquele discípulo não morreria, mas Jesus não disse que não morreria..." (João 21:23). João obviamente corrige aqui, por escrito, uma tradição oral errónea.
Ora bem, segundo o dogma romano, o depósito da tradição apostólica oral ficou fixado no primeiro século, e não é possível tirar nem acrescentar nada a ele (ainda que se admita a noção de "desenvolvimento" tão habilmente proposta pelo Cardeal Newman). Ainda que a Igreja de Roma tenha apelado a tal suposta Tradição oral apostólica (como ao duvidoso "consenso unânime dos Padres) para definir alguns dogmas, o protestante se pergunta – e o católico deveria perguntar-se - o seguinte: por que estranha razão nos séculos decorridos desde o tempo dos Apóstolos, a Igreja de Roma não determinou e enunciou os limites precisos da tradição que diz zelosamente guardar? Por certo, as pretensões do romanismo poderiam levar-se mais a sério se o Papa por si ou mediante uma comissão realizasse tal tarefa. Até que se demonstre o contrário, cabe pensar que a tradição apostólica oral não é mais real do que o traje novo do imperador.
O nosso apologista romano apela depois aos seguintes "textos de prova":
"Marcos 4:33 E lhes anunciava a Palavra com muitas parábolas como estas . . .
Em outras palavras, como se entende, muitas parábolas não estão recolhidas na Escritura"
O Evangelho de Marcos não apresenta senão nove do total de 46 parábolas de Jesus que se encontram nos Evangelhos. Portanto, é lógico pensar que Marcos se refere às outras 35, e portanto a afirmação que "muitas parábolas não estão recolhidas na Escritura" é gratuita.
1. Que a Bíblia é a única regra infalível da fé (doutrina) e da prática (costumes).
2. Que o ensino da Bíblia é suficiente para que as pessoas aceitem Jesus Cristo como Senhor e Salvador, e fazendo o que ela diz, alcancem a vida eterna.
Corolários:
1. A Igreja de Jesus Cristo não necessita de revelações que não se achem explicitamente ou por lógica e clara implicação na Bíblia.
2. Não há outra regra infalível de fé fora das Escrituras.
Por outro lado, Sola Scriptura NÃO significa:
1. Que a Bíblia contenha absolutamente tudo o que Deus disse e fez.
2. Que a Palavra de Deus não se tenha transmitido oralmente em muitas ocasiões e situações históricas.
3. Que a Igreja careça de autoridade para interpretar, ensinar e defender a Palavra de Deus.
4. Que toda a tradição não escrita deva ser rejeitada a priori e a fortiori.
Os cristãos evangélicos crêem que a Igreja é coluna e fundamento da verdade, que deve ter mestres piedosos e conhecedores das Escrituras, e que muitas tradições são expressões válidas da fé cristã. Aceitam as expressões normativas dos Credos dos primeiros concílios ecuménicos, e levam a sério os ensinos dos Padres, assim como dos muitos e muito bons mestres, doutores e comentaristas que Deus deu à Igreja ao longo dos séculos. Não crêem que a Escritura seja de interpretação privada (livre interpretação), mas sustentam o princípio do Livre Exame.
Se aceitam algumas coisas e rejeitam outras, o fazem com base no que consideram ser os ensinos das Escrituras. O ensino da tradição – sim, mesmo da sua própria tradição - , dos concílios, dos Padres, etc, deve conformar-se às Escrituras, que são a Palavra final, inspirada e infalível de Deus.
Agora dirijamo-nos ao artigo em questão, e vejamos o quão firmemente estabelece a sua tese, e no final incluirei um resumo das razões bíblicas que nos obrigam a reafirmar o princípio de Sola Scriptura.
O autor (Armstrong) reconhece que os Protestantes não ignoram "a importância e validade da história da Igreja, da Tradição, dos Concílios ecuménicos, ou da autoridade dos Padres da Igreja e destacados teólogos. A diferença reside na relativa posição de autoridade mantida pela Escritura e pelas instituições e decretos da Igreja."
Note-se que o autor sabe perfeitamente que a diferença fundamental não é a rejeição de qualquer outra autoridade além das Escrituras, ainda que aquela se considere subordinada a estas. Contudo, depois se afirma que "A prevalência do sola Scriptura, de acordo ao pensamento católico, facilitou uma estendidíssima ignorância e desprezo da história da Igreja entre os protestantes comuns."
Suponho que a obscura referência aos protestantes "comuns" se referirá àqueles mais ignorantes. Deveria ser óbvio que ainda que tal coisa seja verdade, não é menos certo que os católicos "comuns" são tão ou mais ignorantes da história, e por acréscimo das Escrituras. Limitam-se a assentir sem examinar tudo quanto a sua Igreja diga que é certo. Quanto ao conhecimento da história entre os católicos, pois, deve referir-se aos católicos cultos, que então deveriam comparar-se com os protestantes instruídos; e neste caso o suposto desnível desaparece ou inclusive se inverte.
"O Catolicismo afirma que a sua Tradição é nem mais nem menos que a conservação do ensino de Cristo tal e como foi revelado e proclamado pelos Apóstolos. Existe um desenvolvimento, mas apenas no sentido de um aumento do entendimento que não na essência, desta Tradição apostólica. O Catolicismo afirma ser o guardião e custódio do depósito original da fé a qual foi uma vez entregue aos santos (Judas 3)."
Deve tomar-se cuidadosa nota deste parágrafo, segundo o qual, e em conformidade com a doutrina católica, se sustenta que a Tradição que a Igreja de Roma considera inspirada e portanto dotada de suprema autoridade não é toda a tradição que possa ter essa ou outras igrejas, mas aquelas que remontam directamente ao Senhor e aos Apóstolos.
"Deve anotar-se também que a palavra escrita e a massa enorme de literatura foi propagada amplamente apenas desde a invenção da imprensa por volta de 1440. Desse modo, essa palavra escrita não pôde ter sido a principal transmissora do evangelho durante pelo menos catorze séculos. Os cristãos anteriores no tempo à Reforma Protestante aprenderam sobretudo através das homilias, dos sacramentos, da liturgia e seu calendário anual, das festas cristãs, das práticas devocionais, instrução familiar, arquitectura eclesial e outro tipo de arte sacra que reflectia temas bíblicos. Para todos esses crentes, o sola Scriptura teria sido claramente uma absurda abstracção de impossível colocação em prática."
Eis aqui uma falácia repetida até à exaustão pelos apologistas católicos. É tão óbvia que deveria pelo menos dar-lhes vergonha de repeti-la. A existência de milhares de manuscritos bíblicos indica que, por muito tempo, os cristãos puderam fazer para si cópias de parte ou de toda a Bíblia, mas este não é o ponto.
Os protestantes não afirmam que a Palavra escrita tenha sido o principal veículo de transmissão, mas que é a fonte definitiva da Verdade revelada. Por ela é possível julgar as homilias, os sacramentos, a liturgia, etc. A questão é se a nossa pregação e as nossas práticas são conformes às Escrituras, não se cada cristão que existiu tinha uma Bíblia. Portanto, o argumento além de falacioso é irrelevante.
"Apenas um preconceito prévio contra tal noção ou uma indevida fixação na rejeição por parte de Cristo do corrupto, tradições humanas farisaicas, poderia cegar alguém perante a considerável força dos dados escriturais. Dito de outra forma, a Escritura não ensina o sola Scriptura, um conceito que se baseia no uso de um documento (a Bíblia) contrariamente ao que o próprio documento testemunha explícita e implicitamente."
A isto se responde no final.
"É absurdo para qualquer cristão desdenhar o que Deus ensinou a milhões de outros cristãos ao longo dos séculos."
Não posso interpretar este parágrafo senão como um profundo preconceito contra os evangélicos. Quem terá dito a este bom senhor que em conjunto desprezamos os santos e os sábios do passado? A questão não é essa, isto não é o que se discute. O que está em jogo é a norma final de autoridade: Bíblia ou Bíblia mais tradição apostólica.
Note-se que aqui se contrapõe Sola Scriptura com "o que Deus ensinou a milhões de outros cristãos ao longo dos séculos." Aqui deixa transparecer - involuntariamente, suponho - a verdadeira origem e natureza da tradição católica, a saber, a religiosidade popular das massas. Porém, esta tradição secular NÃO é a que nominalmente defende Roma, já que teoricamente esta última tradição não foi dada às massas nem ao longo de séculos, mas proviria directamente do Senhor e dos seus Apóstolos, que a receberam num intervalo de décadas. Contudo, na prática Roma confunde uma com outra, e de facto atribui sanção dominical e apostólica a coisas que provêm da religiosidade popular.
"No Novo Testamento, em primeiro lugar, encontramos um testemunho bem claro do facto de que a Escritura não contém todo o ensino de Cristo. Presumivelmente ninguém negaria isto, mas os Protestantes costumam negar que qualquer dos Seus ensinos não recolhidos na Escritura poderiam ter sido fielmente transmitidos oralmente pela primitiva tradição apostólica."
Não existe razão a priori para negar que alguns ensinos do Senhor que não estão nas Escrituras poderiam ter-se transmitido por tradição oral. Deus é soberano, e pode fazer as coisas como a Ele lhe aprouver. Não corresponde a nenhum ser humano dizer a Deus como fazer melhor as coisas... O problema surge quando queremos determinar a este respeito qual foi a vontade de Deus.
É certo que a investigação histórica sugere que alguns ditos de Jesus poderiam ter-se conservado fora do Novo Testamento (por exemplo, Joachim Jeremias, "Palabras desconocidas de Jesús", trad. cast., Salamanca: Sígueme, 1979). Mas isto é por sua própria natureza duvidoso, e em todo o caso não afecta as doutrinas centrais do cristianismo.
Por outro lado, a própria Bíblia dá testemunho do pouco confiável que é a tradição oral no médio ou longo prazo. "Por isso o dito se propagou entre os irmãos que aquele discípulo não morreria, mas Jesus não disse que não morreria..." (João 21:23). João obviamente corrige aqui, por escrito, uma tradição oral errónea.
Ora bem, segundo o dogma romano, o depósito da tradição apostólica oral ficou fixado no primeiro século, e não é possível tirar nem acrescentar nada a ele (ainda que se admita a noção de "desenvolvimento" tão habilmente proposta pelo Cardeal Newman). Ainda que a Igreja de Roma tenha apelado a tal suposta Tradição oral apostólica (como ao duvidoso "consenso unânime dos Padres) para definir alguns dogmas, o protestante se pergunta – e o católico deveria perguntar-se - o seguinte: por que estranha razão nos séculos decorridos desde o tempo dos Apóstolos, a Igreja de Roma não determinou e enunciou os limites precisos da tradição que diz zelosamente guardar? Por certo, as pretensões do romanismo poderiam levar-se mais a sério se o Papa por si ou mediante uma comissão realizasse tal tarefa. Até que se demonstre o contrário, cabe pensar que a tradição apostólica oral não é mais real do que o traje novo do imperador.
O nosso apologista romano apela depois aos seguintes "textos de prova":
"Marcos 4:33 E lhes anunciava a Palavra com muitas parábolas como estas . . .
Em outras palavras, como se entende, muitas parábolas não estão recolhidas na Escritura"
O Evangelho de Marcos não apresenta senão nove do total de 46 parábolas de Jesus que se encontram nos Evangelhos. Portanto, é lógico pensar que Marcos se refere às outras 35, e portanto a afirmação que "muitas parábolas não estão recolhidas na Escritura" é gratuita.
"Marcos 6:34 . . . e começou a ensinar-lhes muitas coisas.
Nenhuma destas muitas coisas está reflectida aí
João 16:12 Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora.
Talvez, este muito foi falado durante as suas aparições depois da Ressurreição, às quais se alude em Actos 1:2-3 (ver mais abaixo). Muito poucos destes ensinos se guardaram por escrito, e aqueles que o foram, contêm apenas mínimos detalhes."
Se o Novo Testamento concluísse com os Evangelhos, o argumento baseado nestes textos e em Actos 1:2-3 teria algum mérito. Contudo, os Apóstolos evidentemente receberam e ensinaram "muitas coisas" que não se encontram nos Evangelhos mas estão registadas nos Actos, nas Epístolas e no Apocalipse. Em outras palavras, cerca da metade do Novo Testamento é dedicado a estes ensinos. O romanista vê-se obrigado a ocultar este facto tão evidente para buscar apoio para a sua tese.
"João 20:30 Jesus realizou em presença dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro."
Aqui esqueceu-se do contexto, ao qual reconhece tanta importância na hora de refutar os evangélicos. O versículo 31 continua: "Mas estes foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome." Nem o propósito de João nem o de nenhum dos Sinópticos parece ser proporcionar um registo exaustivo. O mesmo vale para João 21:25. Ao que parece o Espírito Santo não o considerou necessário. Além disso, a afirmação de João refere-se somente ao quarto Evangelho, que como é bem sabido é muito parco quanto aos milagres do Senhor, enquanto os sinópticos contêm muitos outros sinais que fez Jesus.
"Se a qualquer protestante evangélico instruído se lhe pede que defina, segundo a Bíblia, qual é a coluna e fundamento da verdade, seguramente responderia: "a própria Bíblia, claro". Mas no entanto a Escritura não se pronuncia assim; declara, em perfeito acordo com o Catolicismo e em oposição ao sola Scriptura:
. . . a Igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade. (1 Timóteo 3:15)
Outras traduções da Bíblia vertem fundamento como bastião, baluarte, ou pilar."
Os evangélicos instruídos conhecem certamente esta passagem, como também aquela de Efésios que diz que a Igreja é edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Jesus Cristo a sua pedra angular. De modo que não ignoram que a Igreja de Deus é coluna (stylos) e baluarte (edraioma) da verdade. Antes o afirmam. A igreja deve defender a Verdade, que se encontra na Palavra de Deus. Não há contradição alguma com o princípio de Sola Scriptura.
"É bastante evidente que esta passagem [2 Timóteo 3:16] não fornece nenhum argumento acerca de que a Sagrada Escritura, sem a Tradição, é a única regra de fé; porque ainda que a Sagrada Escritura seja útil para estes fins, não obstante não se diz que seja suficiente."
Aqui o apologista romano se enreda com as suas palavras, pois ele já reconheceu que os protestantes em conjunto NÃO ensinam que as Escrituras sejam a única regra de fé. Do contrário, rejeitaríamos todos os credos, concílios, catecismos, e de facto tudo o que não fosse o próprio texto da Escritura. O que afirmamos, sustentamos e defendemos é que é a regra suprema, final, inapelável. Todas as demais devem conformar-se às Escrituras e subordinar-se a elas.
"O Apóstolo busca a ajuda da Tradição (2ª Tessalonicenses 2:15)."
Significativamente, este texto menciona-se mas não se cita: "Assim que, irmãos, estai firmes e retende a doutrina que haveis aprendido, seja por palavra ou por carta nossa."
Paulo não busca aqui uma ajuda extra da tradição, mas exorta os tessalonicenses a reter a doutrina que receberam oralmente ou por escrito. Não há nenhuma razão para pensar que o que Paulo ensinava oralmente fosse diferente do que expressou por escrito no conjunto das suas epístolas. Por exemplo, quando fala do homem do pecado uns versículos antes, no mesmo contexto, pergunta: "Não vos lembrais que quando eu estava convosco vos dizia isto?" Em outros termos, está a colocar por escrito o que já tinha ensinado oralmente. Além disso, naquelas coisas que não resultam óbvias das epístolas – por exemplo, o que detém o "mistério da iniquidade", v. 5-7 – os intérpretes católicos não se encontram em melhor posição do que os protestantes. Por exemplo, Lorenzo Turrado escreve: "Quanto ao «obstáculo» a problemática é ainda maior. Não é possível precisar a natureza desse obstáculo ou impedimento que está a deter a manifestação do Anticristo" (Profesores de Salamanca - Biblia Comentada; Madrid: BAC, 2ª Ed., 1975, vol. VI b, p. 360). Mas esta afirmação é incompreensível se, como afirma a Igreja Católica, ela conservou os ensinos não escritos dos Apóstolos!!! Bastaria olhar para o depósito da tradição apostólica em vez de fazer ociosas conjecturas. Mas a Tradição oral falha miseravelmente justamente onde seria mais necessária.
"Mais ainda, o Apóstolo faz aqui referência às Escrituras que Timóteo tinha aprendido na sua infância. Ora, uma boa parte do Novo Testamento não foi escrito na sua meninice: algumas das Epístolas Católicas nem sequer tinham sido escritas quando São Paulo escreveu isto, e nenhum dos livros do Novo Testamento estavam postos então no cânon dos livros da Escritura. Ele se refere, então, às Escrituras do Antigo Testamento, e se o argumento desta passagem prova alguma coisa, é que as Escrituras do Novo Testamento não eram necessárias para a regra de fé. É necessário sublinhar que esta passagem não fornece prova alguma da inspiração de vários dos livros da Sagrada Escritura, inclusive dos que são admitidos como tais.. porque não se nos diz.. quais são os livros ou porções da Escritura inspirados."
Não há muita dúvida de que Paulo se refere primariamente ao Antigo Testamento. No entanto, o nosso amigo católico confunde as coisas – suponho que involuntariamente – com o seu argumento. A declaração de Paulo diz respeito à natureza das Escrituras. Não é uma declaração respeitante ao cânon, ou seja, à lista dos livros que se consideram inspirados. À semelhança de Jesus, quando disse aos judeus que esquadrinhassem as Escrituras, dá-se por adquirido que existia um conjunto definido e conhecido de livros que eram inspirados. De novo, Paulo se refere ao valor da Escritura. Na medida em que aos livros que preservam o ensino apostólico e hoje formam o nosso Novo Testamento se lhes reconhece o status de Escritura, se lhes aplica igualmente e sem nenhuma dificuldade o dito por Paulo a Timóteo.
Todo o resto do argumento, como o apelo a Efésios 4:11-15, se assanha inutilmente com uma noção alheia ao princípio de Sola Scriptura, a saber, que a norma única e exclusiva e que o ministério docente da Igreja carece de valor. O apologista perde o seu tempo ao tentar convencer-nos do que já cremos... porque o ensina a Escritura. Isso não significa, como injustificadamente conclui, que o ministério docente e a Escritura estejam ao mesmo nível: aquele deve submeter-se a esta.
"1ª Coríntios 4:6 . . . para que aprendais de nós mesmos a "não ir além do que está escrito", e para que ninguém se ensoberbeça a favor de um contra outro.
... o significado parece bastante claro quando se leva em consideração todo o contexto (pelo menos os versículos 3-6). Este princípio básico da interpretação bíblica (o contexto) é frequentemente abandonado, inclusive por bons eruditos, presumivelmente devido a preconceitos prévios.
Tem-se simplesmente que ler a frase que se segue ao "texto de prova" para ver o que é que São Paulo está a querer dizer. Toda a passagem é uma exortação ética para evitar o orgulho, a arrogância e o favoritismo, e desta maneira, não tem nada que ver com a ideia da Bíblia e da palavra escrita como algum tipo de padrão global de autoridade acima da Igreja.
... Assumindo que ele se está referindo ao Antigo Testamento (tal é a interpretação mais directa), isto não provaria, de novo, nada, porque ele não estaria incluindo todo o Novo Testamento, cujo cânon não foi determinado até 397 A.D."
Sobre esta passagem comenta o P. Lorenzo Turrado:
"Quanto a «não ir além do que está escrito» parece ser uma expressão proverbial para indicar que em nossas apreciações não se deve ir além da norma objectiva, e, neste caso, do que exige a natureza do ministério apostólico. Alguns autores, no entanto, crêem que se trata de uma citação bíblica, aludindo a toda a Escritura em geral, ou a algum dos textos citados anteriormente (cf. 1,19.31; 3,19). Cremos mais provável a primeira explicação." (o.c, p. 42).
O contexto da passagem está claramente relacionado com as facções existentes em Corinto, e Paulo estabelece aqui como princípio a validade superior do escrito sobre as opiniões humanas ("carnais" segundo 3:1-4).
Ao dirigir-se aos coríntios a propósito das contendas entre facções, São Paulo recomenda que, "como está escrito, o que se gloria, glorie-se no Senhor" (1:31, cf. Jer 9:23-24). E mais adiante, no mesmo contexto, aconselha "não ir além do que está escrito" (4:6). Seja como for que se veja este versículo, parece claro que para São Paulo o escrito tinha um carácter normativo que ia para lá dos pareceres individuais. O facto de que o NT estivesse então em processo de escrita não nega a sua autoridade quando tal processo se completou.
"Apesar de nenhuma maneira ser evidente que toda a verdade religiosa está num número de obras, ainda que sejam sagradas, as quais foram escritas em diferentes épocas, e nem sempre formaram um livro; de facto, essa é uma doutrina muito difícil de provar . . . É uma presunção estabelecida tão profundamente no sentir popular dos protestantes, que é um trabalho de grande dificuldade o obter deles um reconhecimento de que é uma presunção."
Não há razão para pensar que a Bíblia tem "tudo"; os evangélicos afirmam que tem tudo o que necessitamos saber em ordem à salvação. Não existe inconveniente em reconhecer o que é um facto histórico, a saber, que durante as suas primeiras décadas desde o baptismo de Jesus até às primeiras epístolas, o cristianismo se proclamou de maneira predominantemente oral (ainda que com base no Antigo Testamento). Também é evidente que "toda a verdade religiosa" (que incluiria grandes mistérios sobre o ser de Deus, por exemplo) não se encontra em nenhuma "obra", nem sequer na Bíblia, já que aí está escrito "as coisas secretas pertencem a Yahweh". A questão é se realmente existe outra fonte igualmente confiável que suplemente o que à Bíblia lhe falta. Os católicos dizem que sim, mas na hora de mostrar a evidência de tais supostas tradições apostólicas, tudo fica em declarações vagas e insubstanciais. É difícil evitar a impressão de que estamos simplesmente perante uma tentativa não de estabelecer a verdade, mas de sustentar a posição romana.
Breve reafirmação do princípio de Sola Scriptura
É curioso que os nossos irmãos católicos, que frequentemente nos criticam quando recorremos a "textos de prova", neste tema em particular utilizem precisamente esse enfoque. No entanto, o conjunto do ensino do Novo Testamento nos mostra que:
[1] Jesus advertiu muito seriamente contra invalidar as Escrituras – obrigatórias e inspiradas - por causa da tradição oral (Mar. 7:8-9 e par.). Não falamos aqui de quaisquer tradições, mas das tradições religiosas piedosamente transmitidas e conservadas pelos mestres do seu tempo.
[2] Além da Sua própria Palavra de plena autoridade, o Senhor recorreu sempre às Escrituras para decidir qualquer controvérsia.
[3] Jesus Cristo nunca acusou os judeus de ignorar as tradições orais, mas de não compreender que as Escrituras davam testemunho d`Ele (João 5:39).
[4] Aos Saduceus, que rejeitavam a tradição oral dos fariseus, o Senhor não lhes reprovou isso, mas sim o desconhecer "as Escrituras e o poder de Deus" (Mar. 12:24-27 e par.).
[5] Os Apóstolos e alguns dos seus condiscípulos (como Marcos ou Lucas) consideraram apropriado – inspirados seguramente pelo Espírito Santo - pôr por escrito os seus ensinamentos, como Moisés, Isaías e o resto dos autores humanos do AT puseram por escrito os seus.
[6] São Paulo afirma a natureza essencialmente inspirada das Escrituras e a sua absoluta suficiência quando escreve a Timóteo (2 Tim 3:15-17); o facto de o Apóstolo se referir ao AT não modifica o seu juízo sobre a natureza da Escritura quanto ao seu carácter normativo.
[7] Os escritos apostólicos são considerados "Escritura" (2 Pedro 3:15-16; 1 Tim 5:18 comparado com Lucas 10:7).
[8] Considera-se louvável que os que ouviam os Apóstolos vissem por si mesmos se a pregação era consistente com o já revelado por escrito no AT (Actos 17:11).
[9] Ao dirigir-se aos Coríntios a propósito das contendas entre facções, São Paulo recomenda que, "como está escrito, o que se gloria, glorie-se no Senhor" (1:31, cf. Jer 9:23-24). E mais adiante, no mesmo contexto, aconselha "a não ir além do que está escrito" (4:6). Seja como for que se veja este versículo, parece claro que para São Paulo o escrito tinha um carácter normativo que ia para lá dos pareceres individuais.
[10] A própria Bíblia dá testemunho do pouco confiável que é a tradição oral no médio ou longo prazo. "Por isso o dito se propagou entre os irmãos que aquele discípulo não morreria, mas Jesus não disse que não morreria..." (João 21:23). São João obviamente corrige aqui, por escrito, uma tradição oral errónea.
Durante um intervalo de cerca de mil anos, o tempo que demorou a formar-se o Antigo Testamento, Deus falou de muitas maneiras e em repetidas ocasiões, mas foi inculcando no povo judeu o valor das Escrituras. No caso do Novo Testamento, o intervalo entre os ensinos divinos e a sua colocação por escrito foi vinte vezes menor. A quantidade e qualidade de informação histórica, doutrinal e prática do Novo Testamento não pode comparar-se com as tradições orais, muitas vezes duvidosas, que se encontram nos escritos dos Padres. O apelo válido à tradição nos Padres refere-se à compreensão e aplicação da doutrina estabelecida firmemente nas Escrituras. E, naturalmente, sabemos hoje que apelaram a esta tradição interpretativa... porque eles próprios o puseram por escrito.
"Não crêem que a Escritura seja de interpretação privada (livre interpretação), mas sustentam o princípio do Livre Exame." Como assim?
ResponderEliminarQual a diferença entre "interpretação privada e livre exame"?
Qualquer um pode livremente interpretar o que quiser!?
O livre exame é um perigo para infiltração de heresias! Livre exame não!!!! Exame à luz da Hermenêutica sim!!!! Diversas seitas utilizam o "livre exame" para justificar suas heresias!
Os católicos,na maioria dos blogs,acusam o protestantismo da propagação de diversas seitas por causa do "livre-exame",pois para eles a interpretação só pode ser feita à luz do Magistério de Roma!
Eles utilizam este versículo abaixo para fundamentar que a Igreja Romana é coluna e sustentáculo da Verdade!Trocam a palavra Igreja por Roma!
Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade.(Versão NVI)
1 Timóteo 3:15
Você está um pouco equivocado quanto ao que significa "Livre Exame". Liberdade para examinar a Escritura não quer dizer liberdade para interpretar a Escritura à vontade do freguês, muito pelo contrário. Livre exame não é exame arbitrário, ele pressupõe busca séria e responsável pela interpretação correta da Escritura, e para isso não dispensa ferramentas hermenêuticas, exegéticas, históricas, gramaticais, etc, para chegar a esse fim.
ResponderEliminarO "Livre Exame" não é a caricatura que dele apresentam os sites de apologética católica. Leia este post para compreender o que é o princípio do "Livre Exame" como é entendido pelos protestantes.
http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2010/08/sola-scriptura-e-livre-interpretacao.html
A diversidade de doutrinas e de costumes no meio evangélico,inclusive falsas doutrinas, também é o alvo de ataque dos sites católicos devido ao "livre exame" que eles atribuem!
ResponderEliminarRecentemente,eu recebi esse texto de um católico:
"Em quem eu devo acreditar?Nos adventistas que creem que a morte é um sono ou nos que creem na imortalidade da alma?Nos pré-tribulacionistas ou pós-tribulacionistas? Nas congregações que ordenam mulheres ao sacerdócio ou nas que não ordenam?Sem falar daquelas que casam homossexuais e praticam diversas práticas anti-bíblicas"Tudo isto é fruto do livre-exame!!!!(trecho de um comentário de um "católico")
O livre-exame é uma doutrina caricaturada e difamada por estes sites que só iludem os incautos...
Entristeço-me quando essas diversidades de doutrinas é atribuída somente ao povo evangélico. Entretanto, tais confrontos existiam desde a Era Apostólica. Temos como exemplo a briga entre judeus e samaritanos. E, na Era Apostólica, o Apóstolo S. Paulo teve que lhe dar com discussões entre cristãos judeus e gentios. Levando também o pequeno incidente em Antioquia entre S. Pedro e S. Paulo. Logo mais tarde a Igreja Romana se dividiu surgindo a Igreja Ortodoxa. Logo depois tem a Igreja Copta que não apresenta nenhuma comunhão com a Igreja Católica e nem com a Ortodoxa. Logo depois veio a Reforma Protestante e seus movimentos luteranos, calvinistas, anglicanos, etc. Em seguida veio a briga católica entre a Missa Tridentina e a Missa Nova. Mais tarde surgiu a ICAB (Igreja Católica Brasileira) uma igreja católica excomungada pelo Vaticano. E logo veio o surgimento da RCC (Renovação Carismática Católica) que são fortemente criticados pelos católicos tradicionais. Enfim, tais confrontos não existem somente no Protestantismo. Mas deve-se ressaltar que Deus escreve certo em linhas tortas. No livro de Apocalipse fala da igreja que está em Sardes que é uma igreja morta, porém mesmo sendo uma igreja morta Deus encontrou algumas pessoas que não se contaminaram com tais erros e que serão salvos (Ap. 3:4).
ResponderEliminarJO 20, 30. Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que NÃO ESTÃO escritos neste livro.(maiúsculo acrescentado)
ResponderEliminar1 Cor 11,2, “Eu vos felicito por vos lembrar desde mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como euvo-las transmiti”
2 Ts 2,15, “Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de VIVA VOZ ou por carta”.
JO 21,25. Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se FOSSEM ESCRITAS uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.
Onde os apóstolos afirmaram na Bíblia que a tradição apostólica seria uma autoridade inferior às escrituras ?
Esta é a diferença entre os nossos credos porque tu pões a Bíblia como úniga regra de fé infalível e a tradição como algo inferior e secundário,mas isto não existiu antes de Lutero.
É comum as citações(inclusive em outro post deste blog tem...) em que Jesus condena as tradições farisaicas,mas comparar as tradições farisaicas com as tradições orais apostólicas é leviano e anacrônico.
E,por último, não há nenhuma caricatura do livre exame,mas sim uma exposição dos resultados nefastos trazidos por tal doutrina. Os apostólos empre recorriam a autoridade de Cristo....o e o próprio eunuco recorreu a autoridade de Filipe dentre diversos exemplos:
E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês?
E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.
Atos 8:30-31(Versão protestante NVI)
A verdade é que o livre-exame difundiu um conjunto de doutrinas e Igrejas heréticas,genéricas e amorfas em que o protestante é a própria autoridade da sua salvação....
[apologista católico] JO 20, 30. Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que NÃO ESTÃO escritos neste livro.(maiúsculo acrescentado)
ResponderEliminar1 Cor 11,2, “Eu vos felicito por vos lembrar desde mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como euvo-las transmiti”
2 Ts 2,15, “Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de VIVA VOZ ou por carta”.
JO 21,25. Jesus fez ainda muitas outras coisas. Se FOSSEM ESCRITAS uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se deveriam escrever.
[Resposta] O que pretende demonstrar com estas citações bíblicas? Que nem tudo foi escrito na Bíblia? Pois isso é uma coisa óbvia e nenhum protestante tem problemas em reconhecer isso.
Que o ensino apostólico se transmitiu de forma oral em muitas ocasiões? Pois também nenhum protestante tem alguma dificuldade em reconhecer algo tão óbvio.
[apologista católico] Onde os apóstolos afirmaram na Bíblia que a tradição apostólica seria uma autoridade inferior às escrituras?
Obviamente em lado nenhum. A tradição apostólica está conservada de modo inteiramente confiável somente nas Escrituras.
[apologista católico] Esta é a diferença entre os nossos credos porque tu pões a Bíblia como úniga regra de fé infalível e a tradição como algo inferior e secundário,mas isto não existiu antes de Lutero.
Exatamente, a Bíblia é a única regra de fé infalível porque é a única fonte da verdade revelada por Deus, e a tradição, seja ela qual for, é secundária e subordinada às Escrituras. Mas não posso concordar quando afirma que esta crença não existiu antes de Lutero. Pois não só existiu, como existiu muito antes de Lutero. O princípio da autoridade suprema das Escrituras (Sola Scriptura) foi sustentado por Jesus e os Apóstolos, e depois unanimemente pelos Padres da Igreja. Para eles a autoridade das Escrituras é indiscutida e axiomática, ao passo que não o é a existência de um corpo de ensinamentos orais que marchasse pari passu com as Escrituras, que devesse aceitar-se obrigatoriamente e que portanto tivesse carácter igualmente normativo.
A doutrina da tradição oral como outra fonte de revelação ao mesmo nível que as Escrituras, essa sim, é uma doutrina tardia, foi originalmente sustentada pelos gnósticos no tempo de Ireneu de Lyon, e surgiu na Igreja Católica pouco antes do concílio de Trento.
[apologista católico] É comum as citações(inclusive em outro post deste blog tem...) em que Jesus condena as tradições farisaicas,mas comparar as tradições farisaicas com as tradições orais apostólicas é leviano e anacrônico.
[Resposta] Mas aqui ninguém comparou as tradições farisaicas com as tradições orais apostólicas. As primeiras são espúrias (os fariseus sustentavam que estas tradições teriam sido dadas por Deus a Moisés no monte Sinai e se tinham transmitido unicamente de forma oral, qualquer semelhança com a suposta tradição apostólica oral que a Igreja Romana diz conservar não deverá ser mera coincidência) e encontram-se conservadas no Talmude, as segundas encontram-se com precisão, clareza, incorruptibilidade e confiabilidade somente no Novo Testamento.
[apologista católico] E,por último, não há nenhuma caricatura do livre exame,mas sim uma exposição dos resultados nefastos trazidos por tal doutrina. Os apostólos empre recorriam a autoridade de Cristo....o e o próprio eunuco recorreu a autoridade de Filipe dentre diversos exemplos:
ResponderEliminarE, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês?
E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse.
Atos 8:30-31(Versão protestante NVI)
[Resposta] É óbvio que Cristo tem uma autoridade superior pela sua própria natureza de ser quem é - O Cristo, o filho de Deus -. Além disso, nós também recorremos à autoridade de Cristo quando recorremos à sua Palavra conservada fiel e perpetuamente nas Escrituras.
Sola Scriptura não significa que a Igreja careça de autoridade para interpretar, ensinar e defender a Palavra de Deus.
Portanto, nada impede que os cristãos peçam ajuda a outros cristãos para compreenderem a Bíblia. Um dos ministérios previstos no Novo Testamento é inclusive o de Doutor. O Doutor tem como função ensinar a sã doutrina com precisão a outros cristãos. Nada disto é contra o princípio da Sola Scriptura, pelo contrário, é essencial para quem é fiel a Sola Scriptura que haja bons mestres na Igreja que exponham fielmente o ensino das Escrituras.
[apologista católico] A verdade é que o livre-exame difundiu um conjunto de doutrinas e Igrejas heréticas,genéricas e amorfas em que o protestante é a própria autoridade da sua salvação....
[Resposta] A verdade é que a história mostra-nos que os grupos manifestamente heréticos que negam e distorcem a fé bíblica e histórica são precisamente os que NÃO aceitam a validade do princípio de Sola Scriptura e do livre exame.
O cristianismo nunca foi um corpo monolítico, sem diferenças, guiado pela autoridade suprema do bispo de Roma em paz e harmonia, como este apologista católico parece pressupor que foi até à Reforma Protestante. Na verdade, a Igreja católica antiga nada tem a ver com o papado medieval, e a Igreja de Roma apenas pôde manter a sua unicidade no Ocidente, na Idade Média, durante uns poucos de séculos através da proibição da leitura da Bíblia, do conluio com o poder temporal, da perseguição dos “hereges”, da opressão e do derramamento de sangue pela “santa Inquisição”. Foram estes os resultados nefastos trazidos por quem defende a necessidade de uma autoridade absoluta (que não fornece nenhuma garantia superior ao Livre Exame para preservar do erro) que decida sobre o verdadeiro significado das Escrituras.
O livre exame apenas dá a liberdade de cada um poder examinar por si as Escrituras sem estar obrigado a submeter-se à interpretação incontestável de um magistério eclesiástico.
É claro que o livre exame como outro qualquer princípio está sujeito a abusos, mas o abuso não invalida o uso.
A que conjunto de doutrinas e Igrejas heréticas, genéricas e amorfas se está a referir? Com que critério declara uma Igreja herética, genérica e amorfa? Com base na sua própria autoridade?
(Protestante)"Que o ensino apostólico se transmitiu de forma oral em muitas ocasiões?"
ResponderEliminarEntão,passemos adiante.
(Protestante)
"Obviamente em lado nenhum. A tradição apostólica está conservada de modo inteiramente confiável somente nas Escrituras."
Então aqui começa a divergência,pois NEM MESMO A PRÓPRIA BÍBLIA RESTRINGE a Tradição somente ao que está escrito.Se tradição oral apostólica fosse somente o que está escrito não seria Tradição.
E a fuga da minha pergunta (pode ter sido apenas um artíficio retórico,mas continuemos...) é a apenas confirmação do que eu digo.Nem os apóstolos,nem Cristo colocaram a tradição de maneira secundária e inferior,mas sim em IGUALDADE com as escrituras.
Irei focar somente aqui...depois continuo com o resto das perguntas..
Em primeiro lugar devia definir o que entende por “Tradição”.
ResponderEliminarAssumindo que estamos a falar da Tradição Apostólica, isto é, do Ensino apostólico (em grego “paradosis” significa “o que se transmite” e pode ser traduzido como “ensino” ou “doutrina”), enquanto os apóstolos eram vivos transmitiam o seu ensino oralmente e por escrito, por isso enquanto viviam a Tradição Apostólica, ou Ensino Apostólico, não se podia restringir somente ao escrito, embora as Escrituras do AT tivessem já uma autoridade suprema em relação a qualquer outra tradição não escrita, como demonstra as disputas com os fariseus a respeito das suas tradições.
Ora bem, não é necessário supor à priori que a Tradição Apostólica ficou restringida à própria Bíblia, a questão é que depois que os apóstolos morreram a única fonte que ficou disponível e que possuímos onde se preserva de modo inteiramente confiável os seus ensinos são os seus escritos, aos quais reconhecemos o status de Escritura inspirada por Deus. E como ensina o apóstolo Paulo não devemos ir além do que está escrito, isto é, além do que ensina a Escritura. Por isso toda a tradição está subordinada e deve ser julgada pela Escritura.
Se você alega que outros ensinos apostólicos se preservaram fora das Escrituras do Novo Testamento, devia estar em condições de nos enumerar precisamente quais ensinos são esses, em outras palavras, definir o conteúdo dessa tradição oral apostólica extra-escritural, para que possamos submetê-la a um teste escritural e histórico para aferir da sua autenticidade apostólica. Mas quando você alega que a Igreja de Roma preserva uma tradição apostólica extra-escritural, refere-se apenas a algo vago e insubstancial sem nada concretizar.
De modo que não se pode levar a sério a sua alegação.
[apologista católico] Se tradição oral apostólica fosse somente o que está escrito não seria Tradição.
Porquê? Esta sua frase não tem nenhum sentido. A maior parte do que está escrito na Bíblia são tradições orais que foram postas por escrito. Uma tradição originariamente oral é passível de ser posta por escrito, e uma tradição originariamente escrita é passível de ser transmitida oralmente.
Além disso, você não pode demonstrar o contrário. Que a tradição oral apostólica (autêntica) não se conserva somente nos escritos do Novo Testamento.
[apologista católico] E a fuga da minha pergunta (pode ter sido apenas um artíficio retórico,mas continuemos...) é a apenas confirmação do que eu digo.Nem os apóstolos,nem Cristo colocaram a tradição de maneira secundária e inferior,mas sim em IGUALDADE com as escrituras.
Admira-me que volte a repetir este erro. Já foi demonstrado à saciedade que a Escritura para Jesus Cristo e os Apóstolos, tinha um valor supremo e inapelável, era canónica, obrigatória e normativa, ao passo que a tradição não se equiparava ao valor das Escrituras e estava subordinada a estas.
"Não fazemos injustiça a Cipriano quando fazemos uma distinção entre as suas epístolas e a autoridade canónica das Escrituras divinas. Fora das Sagradas Escrituras canónicas, podemos livremente emitir juízo sobre os escritos de crentes e incrédulos por igual [...] Por tal razão as epístolas de Cipriano, as quais carecem de autoridade canónica, devem ser julgadas de acordo com a sua conformidade com a autoridade dos escritos divinos. Assim que podemos aceitar de Cipriano só o que concorda, e seguramente rejeitar o que não concorda, com a Escritura" (Agostinho de Hipona; Contra Cresconium 2, 39-40)
ResponderEliminar“Pois os raciocínios de qualquer homem que seja, mesmo que ele seja Católico, e de alta reputação, não devem ser tratados por nós da mesma forma como as Escrituras canônicas são tratadas. Temos liberdade, sem fazer qualquer tipo de violência em relação ao respeito que estes homens merecem, para condenar e rejeitar qualquer coisa nos seus escritos, se por acaso virmos que eles mantêm opiniões divergentes daquelas que outros ou nós mesmos, com a ajuda divina, descobrimos ser a verdade. Eu lido assim com os escritos de outros, e gostaria que os meus inteligentes leitores lidassem assim com os meus.” (NPNF1, Vol.I, Augustin, Letters of St. Augustine, Letter 148, Section 15.)