sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Roma locuta est; causa finita est

 
Os apologistas católicos dizem que os padres da Igreja ensinaram que não era possível ter qualquer certeza do significado objetivo de um texto bíblico determinado, sem recorrer à interpretação do Magistério. Na fundamentação desta afirmação referem-se à alegada citação de Santo Agostinho "Roma locuta est, causa finita est".
 
Esta declaração é dita provir do Sermão 131 de Agostinho proferido em 23 de setembro de 417. Primeiro, estas palavras não aparecem em nenhuma das obras de Agostinho, ele simplesmente não disse estas palavras ... pelo menos todas elas. Ele disse "Causa finita est" em Sermo 131:10 [1]. Segundo, estas palavras não têm nada a ver com a interpretação de Roma da Bíblia.

Ironicamente, estas palavras são frequentemente usadas por apologistas católicos para demonstrar que Agostinho acreditava que as declarações de Roma eram a palavra final em assuntos doutrinários, mas Agostinho disse estas palavras num contexto que diretamente contradiz este uso apologético delas.

Agostinho e os bispos de Cartago excomungaram Pelágio e o seu principal seguidor Celéstio num Sínodo. O papa Inocêncio I concordou com esta decisão e oficialmente apoiou-a. O sucessor de Inocêncio, Zósimo, enganado por confissões de fé ambíguas, revogou as decisões de Inocêncio e exigiu a Agostinho e aos bispos Cartagineses que aprovassem esta revogação. Agostinho e os Cartagineses responderam com outro Sínodo de cerca de 200 bispos que ignoraram a revogação das decisões de Inocêncio e condenaram Pelágio. Após indagações posteriores, Zósimo revogou a sua revogação e apoiou a decisão dos Cartagineses. Antes de todas estas reviravoltas Agostinho tinha dito o seguinte:

Sermão 131 de Migne, PL 38:734:

"Jam enim de hac causa duo concilia missa sunt ad sedem apostolicam; inde etiam rescripta venerunt; causa finita est: Utinam aliquando finiatur error."

Tradução =

"Já sobre esta causa dois concílios foram enviados à Sé Apostólica, donde também rescritos chegaram. A causa está terminada. Que o erro possa igualmente terminar."

Para dar um pouco mais de credibilidade à minha extremamente sucinta descrição do evento ...

Como o historiador católico romano Hefele disse,

"No início de 417, ele (Inocêncio) enviou respostas para os bispos que se tinham reunido em Cartago e os que se tinham encontrado em Milevi ... Ele concordou plenamente com a sentença pronunciada contra Celéstio e Pelágio pelos bispos Cartagineses, elogiou os africanos pelo seu discernimento, confirmou a sentença de excomunhão pronunciada contra Celéstio, ameaçando com a mesma punição todos os seus adeptos, e encontrou na obra de Pelágio muitas blasfémias e doutrinas censuráveis. O sucessor de Inocêncio, Zósimo, que no início do seu reinado em 417 foi enganado pela ambígua confissão de fé de Pelágio e Celéstio, adotou outra linha. Ele tinha há não muito tempo assumido o seu posto quando Celéstio ... deu-lhe uma confissão de fé ... Zósimo imediatamente reuniu um Sínodo Romano, em que Celéstio em termos gerais condenou o que o Papa Inocêncio já tinha condenado. Ele influenciou tanto o Papa em seu favor, que, numa carta aos bispos Africanos, declarou Celéstio ortodoxo, censurou a conduta deles anterior, e representou Heros e Lázaro, os principais opositores de Celéstio, como homens extremamente malvados, a quem ele punia com a excomunhão e deposição. Pouco depois disto Zósimo também recebeu a confissão de fé que Pelágio já tinha enviado, juntamente com uma carta, ao Papa Inocêncio I. Zósimo ... imediatamente enviou uma segunda carta aos africanos, para dizer que tanto Pelágio como Celéstio, se tinham completamente justificado, e que ambos reconheceram a necessidade da graça. Heros e Lázaro, pelo contrário, eram homens malvados, e os africanos eram bastante culpados por se terem deixado influenciar por tais caluniadores desprezíveis." (1)

A propósito da reação dos africanos à primeira revogação de Zósimo...

"Os africanos estavam demasiado certos da sua causa, para aceitar submeter-se a um tão fraco juízo, que, aliás, estava em manifesto conflito com o de Inocêncio. Num concílio em Cartago, em 417 ou 418, eles protestaram, respeitosamente mas decididamente, contra a decisão de Zósimo, e lhe deram a entender que ele estava a deixar-se ser grandemente enganado pelas indefinidas explicações de Celéstio. Num concilio geral Africano realizado em Cartago, em 418, os bispos, mais de 200 em número, definiram a sua oposição aos erros pelagianos, em oito (ou nove) Cânones, que são inteiramente conformes à visão agostiniana.... Estas coisas produziram uma mudança nas opiniões de Zósimo, e a meio do ano 418, ele emitiu uma carta encíclica para todos os bispos do Oriente e do Ocidente, pronunciando o anátema sobre Pelágio e Celéstio… e declarando a sua concordância com as decisões do concílio de Cartago na doutrina da corrupção da natureza humana, do batismo e da graça. Quem se recusasse a subscrever a encíclica, devia ser deposto, expulso da sua igreja, e privado dos seus bens" (2)

A eclesiologia de Agostinho

O exposto acima prova sem sombra de dúvida que a visão eclesiológica de Agostinho é precisamente a que W.H.C. Frend diz que é:

A sua visão de governo da Igreja é que as questões menos importantes devem ser resolvidas por concílios provinciais, e os assuntos de maior dimensão em concílios gerais. (3)

A conclusão a que chegamos à luz dos factos sobre a eclesiologia de Agostinho demonstrada pela sua exegese e pela sua prática é que no seu entendimento, e para os bispos norte-africanos como um todo, a mais alta autoridade e tribunal de apelação não é o bispo de Roma, mas um concílio plenário e geral. Como vimos com a controvérsia pelagiana, Agostinho e os bispos norte-africanos não viram o decreto do bispo de Roma ser o juízo final e vinculativo para a Igreja universal. Quando Zósimo, o bispo de Roma, revogou a decisão da Igreja norte-africana e a do seu antecessor, o Papa Inocêncio I, os norte-africanos opuseram-se a Zósimo e recusaram submeter-se aos seus decretos. Demasiado para Roma locuta est, causa finita est.

Agostinho decisivamente não é defensor de uma eclesiologia papal como a do Vaticano I.

Conclusão

Como mencionado acima o famoso dito atribuído a Santo Agostinho: Roma locuta est, causa finita est, é uma completa invenção. Ele nunca disse isso. A única parte da frase que ele disse é causa finita est (o caso está encerrado). Os apologistas romanos, no entanto, continuam a deturpar este eminente padre da Igreja atribuindo falsamente esta declaração a ele.

Em lado nenhum nos escritos de Agostinho ou na sua prática se encontra a crença no bispo de Roma como critério último da ortodoxia, ou que o seu juízo era a autoridade final em qualquer controvérsia. A controvérsia com o papa Zósimo e Pelágio prova isso sem qualquer sombra de dúvida. Abbé Guettée aponta que na controvérsia pelagiana a sentença do bispo de Roma não era a autoridade final. 
Guettée faz o seguinte resumo da controvérsia com Zósimo e a atitude de Agostinho e dos bispos norte-africanos:

"Além de tudo isso, outra prova de que mesmo em Roma, bem como em outras partes da igreja, a sentença de Inocêncio I não foi considerada como encerrando o caso encontra-se no facto de, após a sua sentença, o caso ter sido reexaminado na própria Roma por Zósimo, o sucessor de Inocêncio, por várias igrejas num grande número de sínodos, e finalmente pelo Concílio Ecuménico de Éfeso, que julgou o caso e confirmou a sentença dada em Roma e em todos os outros lugares onde havia sido examinado.

Quando é dito como o Papa Inocêncio I foi chamado para dar uma opinião no caso de Pelágio, vemos claramente que os teólogos romanistas aplicaram erradamente o texto.

Os bispos Africanos condenaram os erros de Pelágio em dois concílios, sem pensar em Roma ou na sua doutrina. Os Pelagianos então expuseram, para opor-se a eles, a alegada fé de Roma, a qual diziam harmonizava-se com a sua. Em seguida, os bispos Africanos escreveram a Inocêncio, a perguntar-lhe se a afirmação dos pelagianos era verdadeira. Eles foram levados a isso porque os pelagianos tinham grande influência em Roma. Eles não escreveram ao Papa para lhe pedir uma sentença que devesse guiá-los, mas para que pudessem silenciar aqueles que afirmavam que a heresia era defendida em Roma. Inocêncio condenou-a e, portanto, Agostinho diz: "Tu fingiste que Roma estava contigo; Roma te condena, tu também foste condenado por todas as outras igrejas, por isso o caso está terminado". Em vez de pedir uma decisão de Roma, os bispos Africanos apontaram ao Papa o percurso que ele devia seguir nesta questão" (4)

Se os Cartagineses tivessem subscrito o uso popular das palavras "Roma locuta est; causa finita est" eles teriam concordado com a condenação de Inocêncio, a seguir com a revogação de Zósimo, e se por qualquer razão Zósimo revogasse isto sem o desprezo norte-africano, concordariam com esta revogação. Não foi isso o que aconteceu.


Notas

[1] Apesar de tudo, ainda se pode encontrar defensores do papado que argumentam que, apesar de Agostinho não ter dito: "Roma locuta est," ele disse "Causa finita est" (a causa está terminada). Isso é verdade.

Eis a parte relevante do Sermão 131 no contexto: 

"Já dois concílios sobre esta causa escreveram à Sé Apostólica. Donde também rescritos chegaram. A causa está terminada: que o erro possa um dia terminar! Portanto, nós admoestamos para que eles possam prestar atenção, nós ensinamos para que eles possam ser instruídos, oramos para que o seu caminho mude."

Embora ele tenha dito "a causa está terminada", este slogan na verdade não ajuda o defensor papal, por pelo menos as seguintes três razões:

1) O apelo é para a autoridade conciliar estabelecida não para a autoridade papal como tal. De modo que, "Roma falou, o caso está encerrado" não é um resumo muito preciso. Um resumo mais exato seria "dois concílios falaram - o caso está encerrado". Isto não significa que os rescritos não eram de Roma – eles eram.

2) A referência aos rescritos é uma referência a uma resposta de Roma a respeito das decisões dos concílios. O rescrito como tal, não tem a sua própria infalibilidade, nem dá infalibilidade aos decretos dos concílios, sejam eles considerados pelos moldes romanos daquele tempo ou de hoje.

3) Note-se que houve dois concílios, e não apenas um. Isso é parte do ponto de Agostinho. O seu ponto é que, em termos de processo judicial da igreja, continuar este debate é ficar a bater em cavalo morto. Agostinho não está a dizer que dois concílios é um número mágico, assim como não está a dizer que obter uma resposta de Roma magicamente torna as decisões conciliares corretas.

Bibliografia

(1) Charles Joseph Hefele, A History of the Councils of the Church (Edinburgh: Clark, 1895), Volume II, pp. 456-457.

(2) Philip Schaff, History of the Christian Church (Grand Rapids: Eerdmans, 1910), Volume Three, p. 798-799).

(3) W.H.C. Frend, The Early Church (Philadelphia: Fortress, 1965), p. 222).

(4) Abbé Guettée, The Papacy (Blanco: New Sarov, 1866) pp. 180-181).

15 comentários:

  1. Rafael Rodrigues ataca de novo...

    “Roma Locuta est, Causa Finita Est” – Santo Agostinho não disse isto?

    http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/controversias/562-roma-locuta-est-causa-finita-est-santo-agostinho-nao-disse-isto

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  2. Passo para aqui parte de um outro post por se relacionar com o mesmo assunto.

    Papa Inocêncio I

    "Ao buscar as coisas de Deus . . . Vocês reconheceram que todo o juízo deve ser remetido a nós [o papa], e demonstraram saber que é devido à Sé Apostólica [Roma], já que todos os que estamos neste lugar desejamos seguir o próprio apóstolo [Pedro] de quem este episcopado e toda a autoridade deste nome surgiram" (Epístolas 29:1 [A.D. 408]).

    Esta citação é muito interessante, pois esta carta do bispo de Roma Inocêncio I é a resposta à solicitação de ratificação da condenação dos erros pelagianos feita pelos bispos africanos, encabeçados nada menos que por Agostinho de Hipona.

    De novo, é necessário examinar o fundo histórico, que é o da heresia pelagiana. Pelágio era um monge que provavelmente provinha das Ilhas Britânicas, mas iniciou a sua carreira em Roma pelo ano 400. Alto, imponente, conhecedor da teologia e capaz de expressar-se fluidamente em latim e em grego, rapidamente adquiriu boa reputação por sua austeridade. Desenvolveu uma antropologia e soteriologia heréticas, já que entre outras coisas negava a absoluta necessidade da graça para a salvação. Durante anos pregou em Roma a sua doutrina, junto com o seu seguidor, o advogado Celéstio. Deve notar-se que não houve oposição alguma a esta actividade por parte dos bispos de Roma.

    Mesmo se as suas intrigas secretas ou abertas não passaram desapercebidas, todavia os dois amigos não foram importunados pelos círculos oficiais romanos. Mas as coisas mudaram quando em 411 deixaram o hospitaleiro solo da metrópole, a qual havia sido saqueada por Alarico, (410) e rumaram para o Norte de África.

    Joseph Pohle, Pelagius and Pelagianism em The Catholic Encyclopedia (1911), vol. 11.

    Enquanto Pelágio continuou viajando para a Palestina, Celéstio tentou ser feito presbítero em Cartago. No entanto, os seus ensinamentos foram denunciados perante o bispo dessa cidade, Aurélio, que convocou um sínodo (411) que além de negar-lhe a ordenação condenou os seus ensinamentos. Celéstio viajou então para Éfeso, onde conseguiu ser ordenado.

    Entretanto, os ensinamentos de Pelágio se tinham difundido no norte de África e motivaram os primeiros escritos de Agostinho contra esta heresia. No entanto, Pelágio se encontrava na Palestina, como um estimado hóspede do bispo João de Jerusalém, e continuava propagando as suas ideias. Tanto Jerónimo como Agostinho se opunham a ele, e aliou-se a eles o bispo Orósio, que acusou Pelágio. Houve um sínodo na Palestina em 415 que, perante a sólida defesa de Pelágio, não chegou a nenhuma conclusão, mas dada a origem do suposto heresiarca, resolveu deixar o juizo aos latinos. No mesmo ano dois bispos ocidentais exilados, Heros de Arles e Lázaro de Aix, acusaram Pelágio perante o bispo Eulógio de Cesareia. Graças a uma série de circunstâncias afortunadas para Pelágio, um sínodo reunido em Diospolis o exonerou dos cargos. De modo que pela segunda vez consecutiva, Pelágio havia triunfado no Oriente.

    (continua)

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  3. Estes factos causaram profunda inquietação entre os bispos norte-africanos, os quais condenaram as doutrinas pelagianas em dois sínodos, o primeiro com 67 bispos da África proconsular em Cartago (415) e o segundo com 59 bispos de Numídia em Milevi (416), província à qual pertencia a sede de Agostinho. Ambos os sínodos solicitaram a ratificação da sede romana, e cinco bispos (Agostinho, Aurélio, Alípio, Evódio e Posídio) escreveram ao bispo romano Inocêncio expondo a doutrina ortodoxa. Que se solicitasse a ratificação da sede romana era natural dada a confusão reinante no Oriente, a importância da Igreja de Roma e o facto de a heresia ter surgido nessa cidade.

    O bispo de Roma ratificou com gosto o efectuado pelos africanos, não sem perder a oportunidade de sublinhar os direitos e privilégios de que se cria credor, segundo a citação que está mais acima, e que se reproduz em Denzinger # 100, seguida pelos ensinamentos de Cartago e Milevi (Denzinger# 101-106). É claro que os bispos africanos se alegraram de que Roma ratificasse o efectuado e aderisse aos seus ensinamentos.

    Em África, onde a decisão foi recebida com verdadeiro entusiasmo, toda a controvérsia foi agora considerada como encerrada, e Agostinho, a 23 de setembro de 417 anunciou desde o púlpito (Serm., cxxxi, 10 em P. L., XXXVIII, 734), "Jam de hac causa duo concilia missa sunt ad Sedem apostolicam, inde etiam rescripta venerunt; causa finita est". (Tendo dois sínodos escrito à Sé Apostólica sobre este assunto, chegou a resposta; a questão está concluída). Mas estava enganado; o assunto não estava concluído.

    Pohle, o.c.

    Esta citação de Agostinho é o mais próximo que conheço da frase supostamente dita por ele: Roma locuta, causa finita est. E, como diz Pohle, o bispo de Hipona se enganava. A condenação definitiva do pelagianismo teve de aguardar até o Concílio de Éfeso de 431. Curiosamente, foi um bispo de Roma quem retardou o fim da controvérsia. Inocêncio I morreu a 12 de Março de 417 e foi sucedido por Zósimo, que foi convencido pelos heresiarcas de que eles tinham sido injustamente acusados. O papa Zósimo se convenceu da inocência dos pelagianos, censurou os bispos Heros e Lázaro por actuar contra Pelágio, e acusou os bispos africanos de actuar precipitadamente.

    A solicitação de ratificação por parte da sede romana indica a sua importância mas não demonstra de modo algum o primado de jurisdição, nem a infalibilidade, como se pode ver na reacção dos bispos africanos perante as exigências de Zósimo. Eles se mantiveram firmes nas suas decisões, e no final foi o papa Zósimo quem teve de ceder.

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  4. O copiador de internet, Rafael Rodriques, tem um problema grave. É que não sabe escolher aquilo que copia e nem sequer entende o que copia.

    Original: http://www.philvaz.com/apologetics/num16.htm

    Resposta: http://vintage.aomin.org/Sermo131.html

    Agora percebe-se o verdadeiro motivo da demissão do papa. Entrou no www.apologistascatolicos.com.br, e outros sites semelhantes de apologética católica, e ao ver as sandices dos seus seguidores entrou em depressão e demitiu-se.

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKk!!!!!!! Muito engraçada essa da depressão do Papa Bento XVI.

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  5. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk....boa Conhecereis a Verdade!!!!!!!!!!!!! Fatality!!!!!!!!!!!!! Uma aula de Eclesiologia;de Soteriologia;de História da Igreja....muito bom!!!!!!Altíssimo nível...

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    1. Amigo, vc acredita mesmo nas "verdades" deste blog? No minimo não conhece patristica, patrologia e fica escorando em blogs como este e do Sr. Lucas Rizoli. Para que se colocar como um apologista protestante se não argumenta? Se coloque como um torcedor dos apologistas protestantes, pois é isto que faz. Que Deus o Abençõe

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  6. Algumas semanas depois de Agostinho ter anunciado que a causa da heresia pelagiana estava encerrada em África, (o processo tinha chegado ao fim com a concordância de Roma com as decisões dos dois concílios africanos anteriores), eis que morre o bispo de Roma Inocêncio I. O novo bispo de Roma Zósimo desdiz o seu predecessor, põe-se do lado dos pelagianos e invetiva os africanos, com a autoridade da sé apostólica, a retirarem a condenação aos pelagianos.

    Que fizeram os bispos africanos, com Agostinho incluído? Proclamaram "Roma locuta est; causa finita est"? Não.

    Convocaram um concílio em finais de 417 e decidiram manter a sua posição de condenação dos pelagianos, fizeram saber a Zósimo que meteu a pata na poça, e rejeitaram a sua autoridade e as suas conclusões. Como a questão não acabou aqui, em 418 voltou-se a reunir outro concílio em Cartago. O cálculo dos assistentes foi de 212 prelados, não só de África mas de todo o Ocidente. Resolveram apelar ao imperador e informá-lo do mau exemplo que dava o bispo romano apoiando os hereges Celéstio e Pelágio. O imperador Honório decreta a expulsão de Roma mediante desterro dos que eram a cabeça dos pelagianos.

    E neste momento o que acontece? Zósimo, temendo o imperador, mudou o seu parecer e se retratou. De modo que, quando é que Zósimo foi infalível. Antes, ou depois?

    Condenou Pelágio e Celéstio mediante um documento chamado Tractoria que teve a desfaçatez de enviar a todos os bispos para que o assinassem. Só que 19 bispos italianos se opuseram e apelaram a um concílio ecuménico. Pelos vistos, até em Itália, todo o episcopado ignorava que o papa fosse um pastor e mestre supremo, cuja autoridade era final e inapelável.

    Assim que, quem afirma que Agostinho sustentava o axioma «Roma (César) locuta, causa finita» no sentido do direito romano, a verdadeira origem desta expressão, aplicado ao bispo romano é um ignorante ou simplesmente tem uma fé muito cega.

    A FACTO AD JUS NON DATUR CONSEQUENTIA

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  7. Conhecereis a Verdade, este texto seria, por ventura, de sua autoria?

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  8. Olá Victor

    O texto é uma tradução do post

    http://truthishonest.blogspot.pt/2011/01/roma-locuta-est-causa-finita-est.html

    com algumas adaptações e acréscimos feitos por fim.

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  9. Objeção alguma. Na verdade, minha intenção era testar sua honestidade intelectual, pois eu já havia me deparado com o texto original em inglês, e percebi que fora transcrito e traduzido para cá sem fazê-lo referência (a menos que eu não tenha visto). E a julgar pela sua acusação de "copiador da internet", pressupus que não era de sua índole fazer o mesmo.
    Pois bem, tudo explicado. Abstenho-me do debate.

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  10. Pode procurar à vontade que não há nenhum texto que não seja meu assinado com o meu nome (que não aparece em parte nenhuma deste blogue). Estou mais interessado em publicar conteúdos sérios e de qualidade independentemente de quem seja o autor.

    Mas é bom que teste tudo, principalmente os argumentos e dados apresentados em cada post.

    A acusação de "copiador da internet" não partiu de mim mas do Rafael Rodriques que na página linkada no primeiro comentário se referiu a "protestantes copiadores de internet" como se ele não copiasse nada da internet. (Ele até já copiou textos deste blogue).

    Aliás copiar não é nenhuma desonestidade intelectual, a menos que se faça passar pelo autor do que copia e obtenha algum benefício com isso. Aqui apenas partilho informação anonimamente sem obter qualquer benefício pessoal com isso. Portanto quanto a honestidade intelectual estamos conversados.

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  11. Ah, sim. A questão é que quando não se remete à fonte original, é possível implicar-se que o dono blog é quem assina o texto. Mas isso é mera interpretação. Constato sua honestidade intelectual. Deus o abençoe.

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  12. "No caso do Norte de África, é interessante notar a atitude de uma Igreja auto-confiante e organizacionalmente intacta para com Roma. O dito do bispo Agostinho de Hipona (396-430), Roma locuta, Causa finita ("Roma falou, o assunto está encerrado") tem sido citado repetidamente. No entanto, a citação é na verdade uma reformulação ousada das palavras desse Padre da Igreja tomadas completamente fora do contexto. ... Tanto o contexto desta declaração como a sua continuidade com o resto do pensamento de Agostinho não permitem outra interpretação senão de que o veredicto de Roma apenas não é decisivo ; pelo contrário, ele acaba com todas as dúvidas depois de tudo o que o precedeu. Isto acontece porque não resta nenhuma outra autoridade eclesiástica de alguma consequência para a qual os pelagianos possam recorrer e, em particular, a própria autoridade da qual eles podiam mais facilmente esperar uma decisão favorável, ou seja, Roma, pronunciou-se claramente contra eles." (p. 34)

    "A Igreja Africana estava ainda mais determinada a defender a sua autonomia jurisdicional. Os Concílios de Cartago em 419 e 424 proibiram quaisquer apelos a Roma ... Os norte-africanos reagiram, proporcionando um tribunal de apelo, mesmo para presbíteros ordinários do veredicto do seu próprio bispo ao concílio Norte Africano de Cartago. Isso parecia satisfazer as exigências de justiça. Por sua vez eles tomaram uma posição firme contra a intervenção romana ..." (p. 35)

    "Portanto, os bispos Norte Africanos proibiram quaisquer apelos 'ultramarinos'. Em contraste com Sardica, aplicaram esta proibição até mesmo aos bispos. Esta decisão particular tinha sido precedida por um caso semelhante envolvendo um bispo que havia rompido com a sua congregação, mas foi protegido por Roma; em que, até Agostinho de Hipona ameaçou demitir-se. A partir de agora, o único tribunal de recurso devia ser o concílio Norte Africano de Cartago. Este caso será levantado várias vezes, no futuro, como um exemplo de resistência por parte do episcopado de uma Igreja nacional contra o centralismo romano." (p. 36)

    Klaus Schatz, Papal Primacy: From Its Origins to the Present (Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996).

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