Deus ama-me porque eu aceito o seu amor. Mas eu aceito o seu amor porque ele me amou primeiro. Esse é o paradoxo.
27 de outubro de 2018
29 de agosto de 2018
Sobre o anonimato dos Evangelhos
É popular afirmar que os evangelhos inicialmente circularam
anonimamente, mas aqui estão algumas das razões para pensar o contrário:
- Havia vários evangelhos e documentos semelhantes a
circular já em meados do século I (Lucas 1:1-4; para evidências de que Lucas
foi escrito em meados do século I, ver https://triablogue.blogspot.com/2016/12/more-reason-to-date-synoptics-and-acts.html). Havia uma necessidade de distinguir esses documentos. A prevalência, a partir do
século II, da distinção entre eles por meio dos nomes dos autores, acompanhada
de nenhum meio concorrente de distinção entre eles, sugere que eles estavam a ser distinguidos pelos nomes dos autores já em meados do século I.
- Embora não houvesse necessidade de identificar um autor no
corpo principal de um texto, uma vez que relatos orais, etiquetas documentais e
outros meios podiam ser usados para identificar o autor, os autores dos evangelhos mostraram interesse em se identificarem mesmo no corpo principal dos
seus textos (João 21:24, Atos 16:10).
- No início do século II, Papias demonstra interesse na
autoria dos evangelhos, nomeia os autores de pelo menos três dos quatro
evangelhos e cita uma fonte anterior que ele chama "o ancião"
(provavelmente o apóstolo João) demonstrando interesse na autoria dos evangelhos
e nomeando também um dos autores (em Eusébio, História da Igreja, 3:39). Tanto
Papias como o ancião que ele cita estavam vivos e ativos nos círculos cristãos
do século I, e estavam interessados na autoria dos evangelhos e nomearam os
autores.
- O cristianismo não era um sistema filosófico de ideias que
estava a ser promovido independentemente de figuras de autoridade. Pelo
contrário, era um sistema baseado na autoridade de indivíduos com nome, começando
com Jesus e prosseguindo para os apóstolos e outros indivíduos que eram
nomeados (Mateus 10:1-3, Marcos 3:13-19, Efésios 2:20, etc.). O evangelho de
Lucas abre com uma referência à importância das testemunhas oculares (1:2), um
conceito que requer distinção entre fontes (diferenciando entre aquelas que
eram testemunhas oculares e aquelas que não eram), o que incluiria a distinção
entre os autores de fontes escritas.
- A ampla aceitação das atribuições de autoria tradicionais na
antiguidade, incluindo entre fontes heréticas e fontes que nem sequer se diziam
cristãs, faz muito mais sentido se as atribuições de autoria se tivessem
originado num período primitivo. Se os evangelhos tivessem inicialmente
circulado anonimamente, esperaríamos uma combinação de anonimato e autores
nomeados mais tarde, e esperaríamos que os nomes citados na nomenclatura dos
autores variassem e variassem muito. Não é isso o que observamos.
Para muitos académicos (especialmente Ehrman), é
deliberadamente enganoso o uso de um significado altamente técnico de "anónimo".
Ou seja, que o nome não aparece no texto. Nesse sentido, os evangelhos ainda hoje
circulam anonimamente. Mas obviamente não é isso o que a maioria das pessoas
pensa que “anónimo” significa. Elas pensam equivocadamente que ninguém sabia quem os escreveu
por um longo tempo.
23 de junho de 2018
Tu és fiel, Senhor
Tu és fiel, Senhor, nosso Pai celeste:
Pleno poder aos Teus filhos darás.
Nunca mudaste: Tu nunca faltaste:
Tal como eras, Tu sempre serás.
Flores e frutos, montanhas e mares,
Flores e frutos, montanhas e mares,
Sol, lua, estrelas no céu a brilhar:
Tudo criaste na terra e nos ares.
Todo o Universo vem pois Te louvar!
Refrão
Tu és fiel, Senhor! Tu és fiel, Senhor!
Todo o Universo vem pois Te louvar!
Refrão
Tu és fiel, Senhor! Tu és fiel, Senhor!
Dia após dia, com bênçãos sem fim,
Tua mercê me sustenta e me guarda.
Tu és fiel, Senhor, fiel a mim.
2 de junho de 2018
Uma breve introdução ao Design Inteligente. O que está em causa?
A IRREDUZÍVEL COMPLEXIDADE DA VIDA
Num artigo publicado na revista Science
há mais de quatro décadas, Michael Polanyi chamava a atenção sobre a semelhança formal entre a
complexidade das máquinas feitas pelo homem e os processos vitais. Em ambos os casos,
existe uma diversidade de partes que interagem entre si.
"A estrutura das máquinas e o seu funcionamento é assim formado pelo homem, embora os seus materiais e as forças que as operam obedeçam às leis da natureza inanimada. Ao construir uma máquina e fornecê-la com energia, aproveitamos as leis da natureza que trabalham no seu material e na energia que a impulsiona e as fazemos servir o nosso propósito... Assim, a máquina em conjunto funciona sob o controle de dois princípios diferentes. O superior é o princípio do desenho da máquina, e este aproveita o inferior, que consiste nos processos físico-químicos nos quais se baseia a máquina".
(Polanyi, M. Life´s irreducible structure. Science 160: 1308-1312, 1968; página 1308).
São precisamente os limites que a máquina impõe à forma em que nela podem operar as leis naturais o que a torna útil. Igualmente, as leis naturais não suspendem as suas operações nos sistemas biológicos, mas existe neles um princípio superior de organização que aproveita estas leis. Assim, a existência dos ácidos nucleicos sem dúvida obedece a leis químicas, mas neles encontra-se um vasto conteúdo de informação cuidadosamente especificada que não poderia existir só pela operação das leis químicas.
"Suponha-se que a estrutura real de uma molécula de DNA fora devida ao facto das ligações entre as suas bases serem muito mais fortes do que seriam para qualquer outra distribuição de bases; então tal molécula de DNA não teria conteúdo informativo ... Podemos notar que tal é realmente o caso de uma molécula comum. Uma vez que a sua estrutura ordenada é devida a um máximo de estabilidade, correspondente a um mínimo de energia potencial, o seu ordenamento carece da capacidade de funcionar como um código... À luz da atual teoria da evolução, a estrutura codificada do DNA deve ser assumida como tendo surgido por uma sequência de variações ao azar estabelecida por seleção natural. Mas este aspecto evolutivo é irrelevante aqui; qualquer que seja a origem de uma configuração de DNA, ela pode funcionar como código somente se a sua ordem não for devida às forças da energia potencial... Vimos que a fisiologia interpreta o organismo como uma complexa rede de mecanismos, e que um organismo é - como uma máquina - um sistema sob controle dual. A sua estrutura é a de uma condição de contorno que aproveita as substâncias físico-químicas do organismo, ao serviço das funções fisiológicas ... E posso acrescentar que o DNA é tal tipo de sistema, já que todo o sistema que traz informação está debaixo de controle dual, pois qualquer sistema deste tipo restringe e ordena, ao serviço do transporte da sua informação, recursos extensos de particulares que de outro modo seriam abandonados ao azar, e portanto age como uma condição de contorno"
(Polanyi, l.c., página 1309).
Precisamente, a investigação bioquímica encontrou, repetidamente, sistemas cuja complexidade intrínseca e interdependência entre as suas partes desafia todo o intento de imaginá-los como o produto de uma evolução gradual a partir de sistemas mais simples.
A força deste argumento foi percebida por George C. Williams, um dos originadores da teoria de seleção de genes popularizada por Richard Dawkins no seu livro O gene egoísta. Não obstante, Williams posteriormente declarou:
"Os biólogos evolucionistas não se deram conta de que trabalham com dois domínios mais ou menos incomensuráveis: o da informação e o da matéria ... Estes dois domínios nunca de forma alguma podem ser reunidos pelo que habitualmente se designa por ‘reducionismo’ ... O gene é um bloco de informação, não um objeto. O padrão de pares de bases numa molécula de DNA especifica o gene. Mas a molécula de DNA é o meio, não a mensagem. Manter esta distinção entre o meio e a mensagem é absolutamente indispensável para pensar com clareza acerca da evolucão... Em biologia, quando você fala de coisas como genes, genótipos e grupos de genes, está a falar acerca de informação, não de uma realidade física objetiva".
(Entrevista em John Brockman, Ed. The Third Culture: Beyond the Scientific Revolution. Simon & Schuster, New York, 1995, p. 42-43).
Quatro exemplos de sistemas complexos
Poderia abundar-se em exemplos, mas nos limitaremos a citar alguns dos mais óbvios. A propósito do desenvolvimento de órgãos complexos, menciono a extraordinária complexidade da fotossensibilidade, ou propriedade de certas células de responder à luz. Tal processo envolve uma cadeia de reações catalizadas enzimaticamente, variações em concentrações de intermediários, mudanças de permeabilidade iónica nas membranas, libertação de mensageiros químicos e processos de recuperação.
Um segundo exemplo o constitui o mecanismo de transporte intracelular de proteínas. Quando uma proteína é produzida, tem de ser colocada no sítio correto da célula. Este direcionamento exige um complexo sistema de membranas, passos intermédios, enzimas e cofatores, a maioria dos quais são imprescindíveis, de modo que o processo falha se faltar ou estiver alterado um deles.
Outro exemplo o constitui o mecanismo de hemostasia, ou detenção da hemorragia de uma ferida, através da coagulação do sangue. Trata-se de uma cascata de reações que envolvem precursores de enzimas, enzimas e cofatores. A falta ou alteração de um só deles ocasiona, por exemplo, a hemofilia. Outros defeitos podem ocasionar o transtorno oposto, uma excessiva coagulabilidade do sangue, de graves consequências. Em consequência, a coagulação deve ser precisamente regulada tanto para que o sangue coagule quando isso é favorável ao organismo, como para que não coagule quando isso é prejudicial.
Um quarto exemplo o constitui o sistema imunitário, com a sua capacidade de produzir anticorpos contra substâncias estranhas (antígenos) com a consequente destruição, através de outra cascata enzimática chamada complemento, das células estranhas ao organismo. De novo, é essencial que o organismo possua mecanismos de defesa contra as infeções, mas ao mesmo tempo é vital que tais mecanismos não reajam contra as próprias células do hóspede.
Estes últimos dois sistemas, da coagulação e do complemento caracterizam-se portanto, além da sua complexidade, pela necessidade de uma rigorosa regulação que impeça a sua ativação em condições inapropriadas. Tanto a ativação do mecanismo da coagulação como a de mecanismos imunológicos são imprescindíveis para conservar a vida, mas podem pô-la em perigo se não forem cuidadosamente regulados.
Chamativamente, não existem explicações adequadas, no quadro neodarwinista, sobre a aparição destes sistemas; a sua existência não pode negar-se, mas o modo em que vieram à existência não está de todo claro. Como sublinha Michael Behe:
"A impotência da teoria darwinista para dar conta das bases moleculares da vida é evidente não só das análises deste livro, mas também da ausência completa, na literatura científica profissional, de quaisquer modelos detalhados pelos quais poderão ter-se produzido sistemas bioquímicos complexos... Perante a enorme complexidade que a moderna bioquímica descobriu na célula, a comunidade científica está paralisada. Ninguém na Universidade de Harvard, ninguém nos Institutos Nacionais de Saúde, nenhum membro da Academia de Ciências, nenhum ganhador do prémio Nobel - ninguém em absoluto consegue dar um relato detalhado de como o cílio [complexo órgão motor], ou a visão, ou a coagulação do sangue, ou qualquer processo bioquímico complexo pode ter-se desenvolvido ao modo darwiniano. Mas estamos aqui. As plantas e os animais estão aqui. Os sistemas complexos estão aqui. Todas estas coisas chegaram aqui de alguma maneira; se não ao modo darwiniano, como?" (Behe MJ. Darwin's Black Box. The biochemical challenge to evolution New York, The Free Press, 1996; página 187).
Desenho sem desenhador?
O argumento do desenho, de longa data, foi apresentado nos tempos modernos por William Paley na sua Teologia Natural e foi ridicularizado por décadas pelos partidários do dogma evolutivo. Talvez a mais conhecida tentativa seja a de Richard Dawkins no seu O relojoeiro cego. Este cientista britânico explica que pode considerar-se um ateu intelectualmente satisfeito graças a Darwin e define a biologia como o estudo de coisas complicadas que dão a impressão, ou melhor criam a ilusão, de terem sido criadas com um propósito.
"O problema do biólogo é o problema da complexidade. O biólogo tenta explicar o funcionamento, e o início da existência, de coisas complexas em termos de coisas mais simples...
A seleção natural é o relojoeiro cego, cego porque não pode ver o que há por diante, não planeja as consequências, não tem propósito em vista. No entanto, os resultados vivos da seleção natural nos impressionam avassaladoramente com a aparência de desenho e planificação"
(Richard Dawkins, The Blind Watchmaker, 3rd Ed. W.W. Norton, New York, 1996, página 15,21)
Paley defendia a noção de desenho com base na presumida perfeição da criação, e os seus adversários foram capazes de assinalar muitas imperfeições, verdadeiras ou supostas. No entanto, a noção de desenho não traz implícita a ideia de perfeição. Podemos perceber desenho quando num sistema ou objeto se deteta uma disposição deliberada, significativa e inteligente das suas partes. Uma tosca ferramenta neolítica é considerada prova de desenho inteligente em arqueologia. Além disso, deve sublinhar-se que a ideia de desenho inteligente não contradiz de modo algum a operação das leis naturais, nem nos diz nada diretamente sobre a identidade do desenhador.
A deteção de desenho inteligente é usada continuamente pelos arqueólogos para a deteção de restos de atividade humana. Mais ainda, se projetos como o da "deteção de inteligência extraterrestre" (SETI) detetasse uma mensagem (informação) proveniente do espaço exterior, por mais simples que esta fosse, isso seria considerado evidência em favor da existência de inteligência extraterrestre. De igual modo, é difícil evitar a conclusão de que a deteção de desenho inteligente nos sistemas biológicos implica que, conforme a nossa experiência, a ideia de um desenhador está longe de ser absurda, ainda que não soubéssemos nada acerca da sua identidade. De facto, fora da biologia tal como esta é entendida pelos neodarwinistas, a existência de um verdadeiro desenho não explicável pela simples operação de forças físicas é considerada evidência irrefutável da existência de um desenhador inteligente.
É a seleção natural um fracasso?
A crítica anterior sobre a validade da seleção natural como mecanismo da evolução não implica de modo algum negar a realidade da seleção natural; mas salienta que é altamente improvável que tal mecanismo possa ser responsável pela diversidade de espécies.
A seleção natural parece ser um importante mecanismo na microevolução. Um exemplo famoso é o das populações da chamada borboleta do abedul (Biston betularia). Este inseto é normalmente de cor clara, embora ocasionalmente surgem, por mutação, exemplares escuros. Antigamente tais exemplares escuros eram eliminados rapidamente pelos predadores, pois a sua cor os tornava muito visíveis sobre o tronco das árvores. Quando a revolução industrial em Inglaterra fez que as árvores se escurecessem pela fuligem, a população de Biston tornou-se predominantemente escura. Em tempos recentes, as medidas ecológicas clarificaram os troncos, e os insetos claros voltaram a predominar.
É importante observar 1) que havia borboletas claras e escuras durante todo o período, e até hoje e 2) que o predomínio de uns exemplares ou outros não envolve o surgimento de uma nova espécie. Apesar disso, muitos pensam que estes mecanismos seletivos são similares aos envolvidos na especiação. No entanto, o que é verdade numa escala não necessariamente o é em outra. Por exemplo, a temperaturas de muitos milhares de graus, como as existentes no interior das estrelas, produzem-se reações termonucleares. Os fenómenos de combustão também elevam a temperatura. No entanto, não se podem produzir reações termonucleares com um fogareiro ou um forno de padaria. A escala é muito diferente. O facto da seleção natural modificar o equilíbrio de populações, por exemplo, de bactérias resistentes a um antibiótico, não implica que possa transformar umas espécies em outras, nem que seja o mecanismo responsável pela fantástica diversidade dos seres vivos.
De facto, ainda que não o digam nos seus tratamentos do tema dirigidos à opinião pública, a comunidade científica evolucionista está dolorosamente consciente destes problemas.
"Passou aproximadamente meio século desde que foi formulada a síntese neodarwiniana. Realizou-se muita investigação dentro do paradigma que ela define. No entanto, os êxitos da teoria limitam-se às minúcias da evolução, como mudanças adaptativas na cor das borboletas; ao passo que tem notavelmente pouco que dizer sobre as perguntas que nos interessam mais, como por exemplo, de como chegou a haver borboletas em primeiro lugar" (Ho, M.W.; Saunders, P. Beyond Neo-Darwinism - An epigenetic approach to evolution. Journal of Theoretical Biology 78: 589, 1979).
Os artrópodes, invertebrados de patas articuladas que incluem crustáceos, quelicerados, miriápodes e insetos, constituem mais de metade de todas as espécies conhecidas. No entanto,
"...para lá desta rudimentar taxonomia, há pouco acordo sobre como se relacionam os artrópodes, existentes e extintos ... Permanece a pergunta evolucionista central: Como, em termos tanto de padrão como de processo, veio à existência a incomparável diversidade e persistência dos artrópodes? ... Os estudos de morfologia e embriologia comparativa somente polarizaram ainda mais o debate... por agora, os dados moleculares são muito escassos, e a diversificação demasiado rápida e antiga para permitir a reconstrução de filogenias não ambíguas... Mesmo se a filogenia historicamente correta pudesse ser decifrada..., só teríamos a metade de uma resposta à pergunta evolucionista central. Permaneceria o desafio de reconciliar o padrão filogenético com o processo evolutivo".
(Grosberg, R.K.: Out on a limb: Arthropod origins. Science 250: 632-633, 1990; ver também Lemarchand, F. Les premiers insectes. La Recherche 296: 85, Mar. 1997).
"A estrutura das máquinas e o seu funcionamento é assim formado pelo homem, embora os seus materiais e as forças que as operam obedeçam às leis da natureza inanimada. Ao construir uma máquina e fornecê-la com energia, aproveitamos as leis da natureza que trabalham no seu material e na energia que a impulsiona e as fazemos servir o nosso propósito... Assim, a máquina em conjunto funciona sob o controle de dois princípios diferentes. O superior é o princípio do desenho da máquina, e este aproveita o inferior, que consiste nos processos físico-químicos nos quais se baseia a máquina".
(Polanyi, M. Life´s irreducible structure. Science 160: 1308-1312, 1968; página 1308).
São precisamente os limites que a máquina impõe à forma em que nela podem operar as leis naturais o que a torna útil. Igualmente, as leis naturais não suspendem as suas operações nos sistemas biológicos, mas existe neles um princípio superior de organização que aproveita estas leis. Assim, a existência dos ácidos nucleicos sem dúvida obedece a leis químicas, mas neles encontra-se um vasto conteúdo de informação cuidadosamente especificada que não poderia existir só pela operação das leis químicas.
"Suponha-se que a estrutura real de uma molécula de DNA fora devida ao facto das ligações entre as suas bases serem muito mais fortes do que seriam para qualquer outra distribuição de bases; então tal molécula de DNA não teria conteúdo informativo ... Podemos notar que tal é realmente o caso de uma molécula comum. Uma vez que a sua estrutura ordenada é devida a um máximo de estabilidade, correspondente a um mínimo de energia potencial, o seu ordenamento carece da capacidade de funcionar como um código... À luz da atual teoria da evolução, a estrutura codificada do DNA deve ser assumida como tendo surgido por uma sequência de variações ao azar estabelecida por seleção natural. Mas este aspecto evolutivo é irrelevante aqui; qualquer que seja a origem de uma configuração de DNA, ela pode funcionar como código somente se a sua ordem não for devida às forças da energia potencial... Vimos que a fisiologia interpreta o organismo como uma complexa rede de mecanismos, e que um organismo é - como uma máquina - um sistema sob controle dual. A sua estrutura é a de uma condição de contorno que aproveita as substâncias físico-químicas do organismo, ao serviço das funções fisiológicas ... E posso acrescentar que o DNA é tal tipo de sistema, já que todo o sistema que traz informação está debaixo de controle dual, pois qualquer sistema deste tipo restringe e ordena, ao serviço do transporte da sua informação, recursos extensos de particulares que de outro modo seriam abandonados ao azar, e portanto age como uma condição de contorno"
(Polanyi, l.c., página 1309).
Precisamente, a investigação bioquímica encontrou, repetidamente, sistemas cuja complexidade intrínseca e interdependência entre as suas partes desafia todo o intento de imaginá-los como o produto de uma evolução gradual a partir de sistemas mais simples.
A força deste argumento foi percebida por George C. Williams, um dos originadores da teoria de seleção de genes popularizada por Richard Dawkins no seu livro O gene egoísta. Não obstante, Williams posteriormente declarou:
"Os biólogos evolucionistas não se deram conta de que trabalham com dois domínios mais ou menos incomensuráveis: o da informação e o da matéria ... Estes dois domínios nunca de forma alguma podem ser reunidos pelo que habitualmente se designa por ‘reducionismo’ ... O gene é um bloco de informação, não um objeto. O padrão de pares de bases numa molécula de DNA especifica o gene. Mas a molécula de DNA é o meio, não a mensagem. Manter esta distinção entre o meio e a mensagem é absolutamente indispensável para pensar com clareza acerca da evolucão... Em biologia, quando você fala de coisas como genes, genótipos e grupos de genes, está a falar acerca de informação, não de uma realidade física objetiva".
(Entrevista em John Brockman, Ed. The Third Culture: Beyond the Scientific Revolution. Simon & Schuster, New York, 1995, p. 42-43).
Quatro exemplos de sistemas complexos
Poderia abundar-se em exemplos, mas nos limitaremos a citar alguns dos mais óbvios. A propósito do desenvolvimento de órgãos complexos, menciono a extraordinária complexidade da fotossensibilidade, ou propriedade de certas células de responder à luz. Tal processo envolve uma cadeia de reações catalizadas enzimaticamente, variações em concentrações de intermediários, mudanças de permeabilidade iónica nas membranas, libertação de mensageiros químicos e processos de recuperação.
Um segundo exemplo o constitui o mecanismo de transporte intracelular de proteínas. Quando uma proteína é produzida, tem de ser colocada no sítio correto da célula. Este direcionamento exige um complexo sistema de membranas, passos intermédios, enzimas e cofatores, a maioria dos quais são imprescindíveis, de modo que o processo falha se faltar ou estiver alterado um deles.
Outro exemplo o constitui o mecanismo de hemostasia, ou detenção da hemorragia de uma ferida, através da coagulação do sangue. Trata-se de uma cascata de reações que envolvem precursores de enzimas, enzimas e cofatores. A falta ou alteração de um só deles ocasiona, por exemplo, a hemofilia. Outros defeitos podem ocasionar o transtorno oposto, uma excessiva coagulabilidade do sangue, de graves consequências. Em consequência, a coagulação deve ser precisamente regulada tanto para que o sangue coagule quando isso é favorável ao organismo, como para que não coagule quando isso é prejudicial.
Um quarto exemplo o constitui o sistema imunitário, com a sua capacidade de produzir anticorpos contra substâncias estranhas (antígenos) com a consequente destruição, através de outra cascata enzimática chamada complemento, das células estranhas ao organismo. De novo, é essencial que o organismo possua mecanismos de defesa contra as infeções, mas ao mesmo tempo é vital que tais mecanismos não reajam contra as próprias células do hóspede.
Estes últimos dois sistemas, da coagulação e do complemento caracterizam-se portanto, além da sua complexidade, pela necessidade de uma rigorosa regulação que impeça a sua ativação em condições inapropriadas. Tanto a ativação do mecanismo da coagulação como a de mecanismos imunológicos são imprescindíveis para conservar a vida, mas podem pô-la em perigo se não forem cuidadosamente regulados.
Chamativamente, não existem explicações adequadas, no quadro neodarwinista, sobre a aparição destes sistemas; a sua existência não pode negar-se, mas o modo em que vieram à existência não está de todo claro. Como sublinha Michael Behe:
"A impotência da teoria darwinista para dar conta das bases moleculares da vida é evidente não só das análises deste livro, mas também da ausência completa, na literatura científica profissional, de quaisquer modelos detalhados pelos quais poderão ter-se produzido sistemas bioquímicos complexos... Perante a enorme complexidade que a moderna bioquímica descobriu na célula, a comunidade científica está paralisada. Ninguém na Universidade de Harvard, ninguém nos Institutos Nacionais de Saúde, nenhum membro da Academia de Ciências, nenhum ganhador do prémio Nobel - ninguém em absoluto consegue dar um relato detalhado de como o cílio [complexo órgão motor], ou a visão, ou a coagulação do sangue, ou qualquer processo bioquímico complexo pode ter-se desenvolvido ao modo darwiniano. Mas estamos aqui. As plantas e os animais estão aqui. Os sistemas complexos estão aqui. Todas estas coisas chegaram aqui de alguma maneira; se não ao modo darwiniano, como?" (Behe MJ. Darwin's Black Box. The biochemical challenge to evolution New York, The Free Press, 1996; página 187).
Desenho sem desenhador?
O argumento do desenho, de longa data, foi apresentado nos tempos modernos por William Paley na sua Teologia Natural e foi ridicularizado por décadas pelos partidários do dogma evolutivo. Talvez a mais conhecida tentativa seja a de Richard Dawkins no seu O relojoeiro cego. Este cientista britânico explica que pode considerar-se um ateu intelectualmente satisfeito graças a Darwin e define a biologia como o estudo de coisas complicadas que dão a impressão, ou melhor criam a ilusão, de terem sido criadas com um propósito.
"O problema do biólogo é o problema da complexidade. O biólogo tenta explicar o funcionamento, e o início da existência, de coisas complexas em termos de coisas mais simples...
A seleção natural é o relojoeiro cego, cego porque não pode ver o que há por diante, não planeja as consequências, não tem propósito em vista. No entanto, os resultados vivos da seleção natural nos impressionam avassaladoramente com a aparência de desenho e planificação"
(Richard Dawkins, The Blind Watchmaker, 3rd Ed. W.W. Norton, New York, 1996, página 15,21)
Paley defendia a noção de desenho com base na presumida perfeição da criação, e os seus adversários foram capazes de assinalar muitas imperfeições, verdadeiras ou supostas. No entanto, a noção de desenho não traz implícita a ideia de perfeição. Podemos perceber desenho quando num sistema ou objeto se deteta uma disposição deliberada, significativa e inteligente das suas partes. Uma tosca ferramenta neolítica é considerada prova de desenho inteligente em arqueologia. Além disso, deve sublinhar-se que a ideia de desenho inteligente não contradiz de modo algum a operação das leis naturais, nem nos diz nada diretamente sobre a identidade do desenhador.
A deteção de desenho inteligente é usada continuamente pelos arqueólogos para a deteção de restos de atividade humana. Mais ainda, se projetos como o da "deteção de inteligência extraterrestre" (SETI) detetasse uma mensagem (informação) proveniente do espaço exterior, por mais simples que esta fosse, isso seria considerado evidência em favor da existência de inteligência extraterrestre. De igual modo, é difícil evitar a conclusão de que a deteção de desenho inteligente nos sistemas biológicos implica que, conforme a nossa experiência, a ideia de um desenhador está longe de ser absurda, ainda que não soubéssemos nada acerca da sua identidade. De facto, fora da biologia tal como esta é entendida pelos neodarwinistas, a existência de um verdadeiro desenho não explicável pela simples operação de forças físicas é considerada evidência irrefutável da existência de um desenhador inteligente.
É a seleção natural um fracasso?
A crítica anterior sobre a validade da seleção natural como mecanismo da evolução não implica de modo algum negar a realidade da seleção natural; mas salienta que é altamente improvável que tal mecanismo possa ser responsável pela diversidade de espécies.
A seleção natural parece ser um importante mecanismo na microevolução. Um exemplo famoso é o das populações da chamada borboleta do abedul (Biston betularia). Este inseto é normalmente de cor clara, embora ocasionalmente surgem, por mutação, exemplares escuros. Antigamente tais exemplares escuros eram eliminados rapidamente pelos predadores, pois a sua cor os tornava muito visíveis sobre o tronco das árvores. Quando a revolução industrial em Inglaterra fez que as árvores se escurecessem pela fuligem, a população de Biston tornou-se predominantemente escura. Em tempos recentes, as medidas ecológicas clarificaram os troncos, e os insetos claros voltaram a predominar.
É importante observar 1) que havia borboletas claras e escuras durante todo o período, e até hoje e 2) que o predomínio de uns exemplares ou outros não envolve o surgimento de uma nova espécie. Apesar disso, muitos pensam que estes mecanismos seletivos são similares aos envolvidos na especiação. No entanto, o que é verdade numa escala não necessariamente o é em outra. Por exemplo, a temperaturas de muitos milhares de graus, como as existentes no interior das estrelas, produzem-se reações termonucleares. Os fenómenos de combustão também elevam a temperatura. No entanto, não se podem produzir reações termonucleares com um fogareiro ou um forno de padaria. A escala é muito diferente. O facto da seleção natural modificar o equilíbrio de populações, por exemplo, de bactérias resistentes a um antibiótico, não implica que possa transformar umas espécies em outras, nem que seja o mecanismo responsável pela fantástica diversidade dos seres vivos.
De facto, ainda que não o digam nos seus tratamentos do tema dirigidos à opinião pública, a comunidade científica evolucionista está dolorosamente consciente destes problemas.
"Passou aproximadamente meio século desde que foi formulada a síntese neodarwiniana. Realizou-se muita investigação dentro do paradigma que ela define. No entanto, os êxitos da teoria limitam-se às minúcias da evolução, como mudanças adaptativas na cor das borboletas; ao passo que tem notavelmente pouco que dizer sobre as perguntas que nos interessam mais, como por exemplo, de como chegou a haver borboletas em primeiro lugar" (Ho, M.W.; Saunders, P. Beyond Neo-Darwinism - An epigenetic approach to evolution. Journal of Theoretical Biology 78: 589, 1979).
Os artrópodes, invertebrados de patas articuladas que incluem crustáceos, quelicerados, miriápodes e insetos, constituem mais de metade de todas as espécies conhecidas. No entanto,
"...para lá desta rudimentar taxonomia, há pouco acordo sobre como se relacionam os artrópodes, existentes e extintos ... Permanece a pergunta evolucionista central: Como, em termos tanto de padrão como de processo, veio à existência a incomparável diversidade e persistência dos artrópodes? ... Os estudos de morfologia e embriologia comparativa somente polarizaram ainda mais o debate... por agora, os dados moleculares são muito escassos, e a diversificação demasiado rápida e antiga para permitir a reconstrução de filogenias não ambíguas... Mesmo se a filogenia historicamente correta pudesse ser decifrada..., só teríamos a metade de uma resposta à pergunta evolucionista central. Permaneceria o desafio de reconciliar o padrão filogenético com o processo evolutivo".
(Grosberg, R.K.: Out on a limb: Arthropod origins. Science 250: 632-633, 1990; ver também Lemarchand, F. Les premiers insectes. La Recherche 296: 85, Mar. 1997).
19 de março de 2018
Poema para Galileo
Estou olhando o teu
retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que
toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça
desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção
de pano.
Aquele retrato da Galeria
dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não
disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos
Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria
dos Ofícios da requintada Florença.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria…
Eu sei… eu sei…
As margens doces do Arno
às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo
Galilei!
Olha. Sabes? Lá em
Florença
está guardado um dedo da
tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que
pensa
que entraste no
calendário.
Eu queria agradecer-te,
Galileo,
a inteligência das coisas
que me deste.
Eu,
e quantos milhões de
homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate,
Galileo!
- e jurava a pés juntos e
apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto
mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente,
Galileo?
Quem acredita que um
penedo caia
com a mesma rapidez que um
botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência
que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me,
Galileo,
daquela cena em que tu
estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos,
hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar
contigo,
que parecia impossível que
um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num
perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e
comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de
piedade,
os rostos impenetráveis
daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à
observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas
alturas
e poisaram, como aves
aturdidas - parece-me que estou a vê-las -,
nas faces grávidas
daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo
que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era
quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e
entoavam
à meia-noite louvores à
harmonia universal.
E juraste que nunca mais
repetirias
nem a ti mesmo, na própria
intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis
heresias
que ensinavas e descrevias
para eterna perdição da
tua alma.
Ai Galileo!
Mal sabem os teus doutos
juízes, grandes senhores deste pequeno mundo
que assim mesmo,
empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar
pelos espaços
à razão de trinta
quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo
Galilei.
Por isso eram teus olhos
misericordiosos,
por isso era teu coração
cheio de piedade,
piedade pelos homens que
não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de
buscar a verdade.
Por isso estoicamente,
mansamente,
resististe a todas as
torturas,
a todas as angústias, a
todos os contratempos,
enquanto eles, do alto
incessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do
quadrado dos tempos.
António Gedeão (1906-1997)
2 de março de 2018
O "Não" Problema do Mal
O problema do mal geralmente
assume a forma de um tétrade inconsistente:
i) Deus é omnipotente
ii) Deus é omnisciente
iii) Deus é benevolente
iv) O mal existe
Este problema costuma ser usado por ateus como argumento contra a existência de Deus. Um ateu tenta mostrar que estes pontos são
mutuamente inconsistentes, gerando assim um dilema para o cristão. Para evitar a inconsistência, um cristão tem de prescindir de pelo menos uma das
proposições. Se, no entanto, (i-iii) não são negociáveis, então o seu sistema
de crenças falha. Como é um sistema de tudo ou nada, se for
inconsistente em qualquer ponto, então tem que abandonar-se o todo.
Mas um problema com o
argumento do mal é que ele ataca uma versão muito abstrata de teísmo. Algo derivado
da teologia filosófica. Teísmo clássico ou teologia do ser perfeito.
Normalmente, o argumento
do mal não é formulado em referência a uma religião histórica viva, como o
judaísmo do AT ou o cristianismo do NT.
Por exemplo, seria muito
mais difícil mostrar que o argumento do mal refuta a existência de Yahweh, uma vez que Yahweh não é
"benevolente" no sentido em que os ateus normalmente definem a
benevolência ao formular o argumento do mal. Na verdade, muitos incrédulos
rejeitam o teísmo bíblico porque pensam que Yahweh, Jesus e/ou Deus, o Pai, não é benevolente como eles veem a benevolência. Eles ficam melindrados com várias ações divinas, ordens e proibições na
Escritura.
Mas aonde isso leva o
argumento do mal? Se, pela sua própria admissão, o teísmo bíblico não se conforma
com as suas noções preconcebidas de benevolência, então a existência do mal
está em consonância com a existência de uma Deidade como essa.
Além disso, a existência do mal é uma pressuposição necessária do teísmo bíblico. Se vivêssemos num mundo desprovido de mal moral e natural, a ausência, em vez da presença do mal, falsificaria a descrição bíblica da realidade. A história da Bíblia está repleta de mal. A salvação e o juízo escatológico são o remédio final.
Além disso, a existência do mal é uma pressuposição necessária do teísmo bíblico. Se vivêssemos num mundo desprovido de mal moral e natural, a ausência, em vez da presença do mal, falsificaria a descrição bíblica da realidade. A história da Bíblia está repleta de mal. A salvação e o juízo escatológico são o remédio final.
3 de fevereiro de 2018
OS FINAIS DO EVANGELHO DE MARCOS
Os manuscritos gregos e de
antigas versões (traduções) do Novo Testamento apresentam cinco finais diferentes para o Evangelho de Marcos, a saber:
1. Alguns finalizam no
versículo 16:8 e simplesmente omitem os vv. 9-20: “Elas saíram fugindo do
sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e não disseram nada a
ninguém, porque tinham medo”. São assim os códices Sinaítico e Vaticano, L*, o manuscrito
k da Antiga Versão Latina, a Siríaca sinaítica, e diversos manuscritos das
versões antigas arménia, georgiana e etíope. Eusébio e Jerónimo notaram que a
maioria dos manuscritos gregos que conseguiram examinar careciam do final
longo. Aparentemente, nem Clemente nem Orígenes conheceram tal final.
Finalmente, ainda alguns dos manuscritos que o possuem, apresentam observações
ou marcas dos escribas indicando que se trata de uma adição.
2. Outros acrescentam o
seguinte texto: “Mas [as mulheres] relataram resumidamente a Pedro e aos que estavam
com ele tudo quanto lhes tinha sido dito. E depois disto o próprio Jesus enviou
por meio deles, do Oriente ao Ocidente, a sagrada e imperecível proclamação da
salvação eterna”. Entre eles apenas este versículo no códice Bobbiensis (k) do
século IV ou V.
3. Ainda outros intercalam
o versículo acima citado antes do final longo (16:9-20) em unciais dos séculos
VII ao IX (L, Psi, 099, 0112), alguns minúsculos e cópias de versões antigas.
4. Muitos manuscritos contêm
o final longo que inclui os versículos 9-20, alguns com o acréscimo do texto
recém-mencionado. É o que se encontra no chamado Textus Receptus, e é atestado pelos unciais A C D L W Delta Sigma
Theta 047, pela maioria dos manuscritos minúsculos e da Antiga Latina, da
Vulgata, da siríaca curetoniana e Peshitta (“vulgata” siríaca), e da versão
copta. Além de outros testemunhos posteriores, Ireneu e Hipólito o conheciam;
aparentemente é citado pela Epistula
Apostolorum e Taciano o incluiu na sua harmonia ou Diatessaron de finais do século II.
5. Finalmente, existe uma
versão ampliada do final “longo” que imediatamente depois do versículo 14
(“..porque não haviam crido nos que o tinham visto já ressuscitado”)
acrescenta: “E eles se desculparam dizendo «Esta era de iniquidade e
incredulidade está debaixo de Satanás, que não permite que a verdade e o poder
de Deus prevaleçam sobre a impureza dos espíritos. Portanto, revela agora a tua
justiça». Assim falaram a Cristo. E Cristo lhes respondeu, «O fim de anos do
poder de Satanás se cumpriu, mas outras terríveis coisas se aproximam. E por
aqueles que pecaram eu fui entregue à morte, para que possam voltar à verdade e
não pecar mais; para que possam herdar a glória espiritual e incorruptível de
justiça que está no céu»”. Esta adição foi notada por Jerónimo, e é atestada
pelo códice W adquirido em 1906 por Charles L. Freer, que data da última parte
do século IV ou princípios do seguinte.
É claro que, nem todos
estes finais têm o mesmo peso. É extremamente improvável que Marcos, com seu
estilo simples, tenha escrito algo tão altissonante como “a sagrada e
imperecível proclamação da salvação eterna”, ou “a glória espiritual e
incorruptível de justiça”, expressões que delatam influências helenistas
posteriores. Este facto, somado ao número e idade dos testemunhos, praticamente
isenta de maiores considerações os finais listados (2) (3) e (5).
Apesar de alguns terem sustentado – por exemplo Lohse, p. 144-145 - que o Evangelho finalizava
originalmente no versículo 8, isto também é pouco provável, em parte porque constitui um final anticlimático, muito pouco apropriado para concluir “o
evangelho de Jesus Cristo” (1:1).
Mais importante é a
evidência fornecida pela última cláusula do versículo 8, “porque tinham medo” (grego
efobounto gar). Metzger nota que “de
um ponto de vista estilístico, terminar uma frase grega com a palavra gar é
extremamente incomum e raríssimo – só se acharam relativamente poucos exemplos
em toda a vasta gama de obras literárias gregas, e não se achou nenhum caso no
qual gar se encontre no final de um
livro. Mais ainda, é possível que no versículo 8 Marcos use o verbo efobounto para significar «estavam
assustadas com...» algo (como o faz em quatro das outras aparições deste verbo
no seu Evangelho [ver Marcos 9:32, 11:32, 12:12 e especialmente 11:18, “efobounto gar auton”, eles o temiam]).
Em tal caso, obviamente é preciso algo para concluir a frase” (p. 228). Em
suma, estes factos sugerem que falta algo do que Marcos originalmente escreveu,
e que tal ausência motivou mais tarde a aparição de diferentes conclusões.
A versão que aparece nas
nossas Bíblias como os versículos 16:9-20 também não parece a original, apesar
de ser atestada por muitos manuscritos. Para começar, há uma transição muito
abrupta entre o v. 8 e o 9; o sujeito do primeiro versículo (8) são as
mulheres, enquanto Jesus é obviamente o sujeito no segundo (9). No entanto, no
texto grego o sujeito está tácito: “E tendo ressuscitado cedo no primeiro [dia]
da semana, apareceu primeiro a Maria a Madalena...” Este facto não é evidente em muitas versões em português porque os tradutores incluem
habitualmente o nome de Jesus nesta frase.
Em segundo lugar, no v. 9
se fala de Maria Madalena como se não tivesse sido mencionada antes, quando já
se falou dela no relato marcano da crucificação, sepultura e ressurreição. O
resto das mulheres desaparece da cena, ainda que tivessem sido comissionadas
para relatar a ressurreição no v. 7. No mesmo versículo o anjo anuncia que
verão Jesus na Galileia, mas as manifestações do Ressuscitado dão a impressão
de ocorrer na área de Jerusalém; pelo menos, não é mencionada a Galileia.
O estilo destes versículos
difere também da linguagem habitual de Marcos. Das 101 palavras gregas dos
versículos 9-20, há 75 significativas (excluídos conjunções, artigos e nomes
próprios), das quais 15 não aparecem no resto do Evangelho e 11 que aparecem,
usam-se com um sentido diferente. Mesmo considerando a diferença do tema, a
linguagem se apresenta prima facie
como não própria de Marcos.
Também não há no resto do
segundo Evangelho nenhuma recriminação tão severa como a indicada no versículo
14. Por outro lado, a promessa de imunidade diante das serpentes e do veneno
não só é alheia a Marcos, mas aos outros três evangelhos, e ao resto do Novo
Testamento.
Há quem pense que os
versículos 9-20 são uma tentativa de harmonizar o relato de Marcos com os dos
outros Evangelhos canónicos; são desta opinião por exemplo Bruce e Linnemann
(citado por Kümmel). Por outro lado tal “conclusão foi contestada, com muito
acerto” (Leon-Dufour), por Joseph Hug, numa tese doutoral publicada em 1978.
Esta análise literária indicaria que os versículos 9-20 seriam um acréscimo
original que deve datar-se entre finais do século primeiro e antes de meados do segundo (Metzger, p. 297). O acréscimo teria tido como
propósito fornecer instruções missionárias à comunidade cristã de fala grega
com tendências carismáticas. Deste ponto de vista, Marcos 16:9-20 seria um
testemunho muito primitivo proveniente da Igreja subapostólica.
Em suma, considerada toda
a evidência, aparentemente o texto autêntico e original de Marcos, tal como
este Evangelho foi conservado, termina em 16:8. Portanto, não é prudente basear
doutrinas nos versículos 9-20.
Bibliografia
Bruce, Frederick Fyvie: Answers to questions. The Paternoster Press, 1972 (p. 155).
Kümmel, Werner Georg. Introduction to the New Testament. Rev. English Ed. Trad. Howard
Clark Kee. Nashville: Abingdon Press, 1975 (p. 98-101).
Ladd, George Eldon. Crítica del Nuevo Testamento: Una perspectiva evangélica. Trad.
Moisés Chávez. El Paso: Mundo Hispano, 1990 (p. 56-59).
Leon-Dufour, Xavier. Los evangelios sinópticos. Em Augustin
George e Pierre Grelot (Dirs.), Introducción
Crítica al Nuevo Testamento. Trad. J. Cabanes e M. Villanueva. Barcelona:
Herder, 1982 (pp. 293-295).
Metzger, Bruce M. The
text of the New Testament: Its transmission, corruption and restoration, 3ª
Ed. New York: Oxford University Press, 1992 (p. 226-228, 296-297).
Wessel, Walter W.. Mark. Em Frank E. Gaebelein
(Gen.Ed.), The Expositor’s Bible
Commentary. Grand Rapids: Zondervan, 1984 (8:791-793).
19 de novembro de 2017
Uma sucessão apostólica… inverificável
Afirma a New Catholic Encyclopedia:
«Deve admitir-se
francamente que o viés ou deficiências nas fontes torna impossível determinar,
em certos casos, se os pretendentes eram papas ou antipapas... Os autores
calculam variavelmente o número de antipapas: Baümer conta 33 colocando três
outros entre parêntesis como papas legítimos; Amanieu, 34; Frutaz, 36 mais alguns duvidosos e nove designados impropriamente; Moroni, 39. Desde 1947 o
Anuário Pontifício do Vaticano tem publicado a lista de papas de Mercati que
inclui 37 antipapas no texto. Todas as listas estão sujeitas a reservas, e o
catálogo Mercati tem provocado divergências».
New Catholic Encyclopedia (CUA, 2nd ed., 2003), 1:530b.
Portanto, se a sucessão apostólica servisse para alguma coisa, a igreja hoje estaria numa situação de
impraticabilidade, sem saber exatamente quem são os legítimos sucessores dos apóstolos, uma vez que é impossível determinar a validade da sucessão
apostólica que os bispos reclamam.
Por exemplo, o atual papa Francisco pode descender tanto de
uma linha válida como inválida da sucessão apostólica. Simplesmente não há possibilidade de
saber.
Quando alguém diz que o papa Francisco é o sucessor de Pedro, através de uma linha ininterrupta de bispos, faz uma afirmação no vazio que não pode de modo algum ser sustentada documentalmente. É um completo salto no escuro.
O caricato é que as
prerrogativas atribuídas ao papa, incluindo a sua infalibilidade ex cathedra, dependem da validade da sua sucessão apostólica, a qual não só não
pode ser determinada infalivelmente, como é mesmo impossível determiná-la através dos dados da
história.
15 de novembro de 2017
Arqueologia Bíblica
Mais uma forte evidência da confiabilidade geral do Texto Massorético aqui
Dezenas de artigos sobre Arqueologia Bíblica podem ser encontrados aqui:
http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/0
http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/1
http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/2
http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/3
7 de novembro de 2017
FÉ NA BÍBLIA OU FÉ CEGA NO MAGISTÉRIO?
A
Igreja Católica Romana está dividida entre o Magistério, constituído pelo clero, principalmente o Papa e os bispos em comunhão com ele, e os Leigos que são os crentes comuns. Os Leigos estão obrigados a acreditar no
que o Magistério ensina, porque o Magistério é considerado a voz autorizada da verdade. Esta situação cria uma bizarria epistemológica na
relação entre Leigos e Magistério, uma vez que o leigo vê os ensinos do Magistério
como leis a ser obedecidas juridicamente.
Em questões do âmbito da «verdade» isto
redunda no absurdo de para um leigo a verdade ser estabelecida «por decreto» do
Magistério. Os Leigos estão como num estado niilista. A única forma
de chegarem ao conhecimento de uma verdade de fé e moral é através do ensino
do Magistério.
No
caso particular da Bíblia é comum os leigos católicos, mais aqueles doutrinados
pelos sites de apologética católica, dizerem que acreditam na Bíblia porque a “Igreja”,
leia-se Magistério Romano, manda acreditar na Bíblia, ou que acreditam na
inspiração da Bíblia porque o Magistério diz que os livros da Bíblia são
inspirados, só e apenas por isto. Na cosmovisão de um leigo não há outra forma
de dar crédito à Bíblia ou de saber que a Bíblia é inspirada por Deus a não ser
«por decreto» do Magistério. Ou seja, a confiabilidade e a inspiração da Bíblia
é estabelecida «por decreto», não interessa se o Magistério tem bons ou maus argumentos, aliás, está fora do alcance do leigo ajuizar se os argumentos do Magistério são bons ou maus.
Por exemplo, este católico, com quem tive um breve diálogo, além de se ter suicidado epistemologicamente à segunda mensagem, nem sabe que o fundamento do seu Magistério para ensinar que os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, é porque os considera inspirados por Deus. Para ele, os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, porque simplesmente o Magistério diz que são. E, na verdade, para o leigo católico o fundamento que o Magistério possa ter para ensinar uma doutrina é irrelevante. O que conta é o «ditame» do Magistério. Não é por acaso que acreditam em coisas tão infundadas como a imaculada conceição, a transubstanciação, ou a infalibilidade papal.
Por exemplo, este católico, com quem tive um breve diálogo, além de se ter suicidado epistemologicamente à segunda mensagem, nem sabe que o fundamento do seu Magistério para ensinar que os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, é porque os considera inspirados por Deus. Para ele, os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, porque simplesmente o Magistério diz que são. E, na verdade, para o leigo católico o fundamento que o Magistério possa ter para ensinar uma doutrina é irrelevante. O que conta é o «ditame» do Magistério. Não é por acaso que acreditam em coisas tão infundadas como a imaculada conceição, a transubstanciação, ou a infalibilidade papal.
Estamos,
portanto, perante uma situação epistemologicamente bizarra que conduz a uma
equivocada visão do que é a Bíblia por parte do leigo.
A
Bíblia não é um documento legal emitido por uma autoridade eclesiástica, que
confere «por decreto» autoridade àqueles determinados livros que doutra forma
não a teriam, e a que se tem que obedecer por força de lei.
A Bíblia são relatos históricos, ensinamentos e testemunhos de vários autores transmitidos
ao longo de gerações que nós recebemos e aos quais podemos dar crédito ou
não - sim, podemos, a razão e os sentidos ajudam-nos a discernir a verdade e a dar passos de fé plausíveis, o niilismo filosófico não é cristão. Uma vez dado crédito ao conteúdo da Bíblia, segue-se logicamente que temos
de considerá-la como inspirada por Deus, porque ela mesma reclama ser de origem
divina. A seguir, a experiência pessoal e o testemunho do Espírito Santo no
crente também lhe confirmam a sua inspiração divina.
Na vida real podemos observar que quando uma pessoa recebe uma Bíblia, ela vai considerá-la
autorizada ou não, na medida em que achar o seu conteúdo confiável, e segundo o
que ela vai experimentar através dela na sua vida, e não porque um grupo
qualquer no passado, que ela nem conhece, «decretou» que a Bíblia tem autoridade
e é inspirada por Deus. Seria realmente absurdo que tal pessoa acreditasse que a
Bíblia tem autoridade e é inspirada por Deus só e por este motivo. Implicaria
acreditar que a verdade se estabelece «por decreto».
Portanto, para o crente na Bíblia, ela tem uma autoridade intrínseca que vem do seu autor e não depende de sanção humana em geral nem eclesiástica em particular.
Em suma, a autoridade da Bíblia é independente da autoridade da Igreja. Ser
verdadeira é a única condição necessária e suficiente para a Bíblia ter
autoridade. É a verdade que é autoritativa e obriga.
Os
cristãos confessam a Bíblia, exercem fé nela e proclamam a sua verdade, não obedecem ex nihilo a um magistério eclesiástico autocrático.
5 de novembro de 2017
LUTERO E A CIÊNCIA
Os
seguintes extratos são do artigo intitulado "Lutero e a Ciência" de
Donald Kobe, professor de física na Universidade do Texas:
Sem
a Reforma, a ciência moderna se teria provavelmente desenvolvido mesmo assim por causa do ethos da racionalidade e da doutrina da criação que conduz a
ela. A Reforma, porém, acelerou o desenvolvimento pela sua crítica do
escolasticismo e pela sua ênfase na observação direta da natureza. Lutero foi
chamado o Copérnico da teologia enquanto, por outro lado, Copérnico foi chamado
o Lutero da astronomia... Na filosofia natural ou ciência, as perguntas acerca
da natureza já não se respondiam primariamente mediante citações de Aristóteles
e dos escolásticos, mas atentando para a observação e para a experimentação na
própria natureza. Similarmente, depois da Reforma, os protestantes já não
respondiam perguntas de teologia primariamente através da citação de filósofos e
teólogos escolásticos, mas voltando-se diretamente para a Bíblia. Lutero
interpretou a Escritura perguntando: Qual é o significado claro e direto do
texto? Os cientistas interpretam a natureza da forma mais simples possível
usando o mínimo número de hipóteses.
Lutero
acreditava que o mundo estava no começo de uma nova era, a qual traria não
somente uma reforma na religião mas também um novo apreço pela natureza. Nas
suas informais “Conversas à Mesa” disse:
«Estamos
no amanhecer de uma nova era, pois estamos começando a recuperar o conhecimento
do mundo externo que foi perdido pela queda de Adão. Agora observamos
apropriadamente as criaturas... Mas pela graça de Deus já reconhecemos na mais
delicada flor as maravilhas da divina bondade e omnipotência [paráfrase de
Romanos 1:20]».
Lutero
estava aberto aos autênticos avanços científicos da sua época. Apreciava as
invenções mecânicas do seu tempo.
Aceitou
o uso de medicamentos para tratar as doenças ... A alguém que disse que não é
permissível para um cristão usar medicamentos, Lutero lhe replicou
retoricamente, “Você come quando está esfomeado?” Segundo Andrew White, esta
atitude de Lutero fez que as cidades protestantes da Alemanha estivessem mais
dispostas do que outras a admitir a investigação e dissecção anatómica.
Lutero
aceitou a astronomia como ciência, mas rejeitou a astrologia como uma
superstição pois não pode ser confirmada por uma demonstração... por exemplo,
Lutero estava disposto a aceitar a conclusão dos astrónomos de que a lua é o
mais pequeno e baixo dos “astros”. Interpretava a Escritura que chamava o sol e
a lua “grandes luminárias” como acomodada à aparência dos fenómenos.
...
Em
conclusão, a influência luterana sobre o desenvolvimento da ciência foi
geralmente positiva. Lutero, e também Calvino, rejeitaram a ideia de que as
vocações religiosas são superiores às seculares. Os homens e as mulheres devem
servir a Deus realizando um trabalho honesto e útil com diligência e
integridade. O trabalho científico revela a obra de Deus num universo que é tanto
racional como ordenado. Também proporciona resultados que podem ser usados para
o benefício da humanidade.
...
Lutero
não estava primariamente interessado na ciência. Mas a Reforma criou um clima
de abertura e aceitação de novas ideias, que em geral alentaram o
desenvolvimento científico. Depois do julgamento de Galileu em 1633, as áreas
protestantes da Europa dominaram os descobrimentos científicos [Owen Gingerich,
"The Galileo Affair", Scientific American 247 (August 1982):
132-143].
http://www.leaderu.com/science/kobe.html
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