É popular afirmar que os evangelhos inicialmente circularam
anonimamente, mas aqui estão algumas das razões para pensar o contrário:
- Havia vários evangelhos e documentos semelhantes a
circular já em meados do século I (Lucas 1:1-4; para evidências de que Lucas
foi escrito em meados do século I, ver https://triablogue.blogspot.com/2016/12/more-reason-to-date-synoptics-and-acts.html). Havia uma necessidade de distinguir esses documentos. A prevalência, a partir do
século II, da distinção entre eles por meio dos nomes dos autores, acompanhada
de nenhum meio concorrente de distinção entre eles, sugere que eles estavam a ser distinguidos pelos nomes dos autores já em meados do século I.
- Embora não houvesse necessidade de identificar um autor no
corpo principal de um texto, uma vez que relatos orais, etiquetas documentais e
outros meios podiam ser usados para identificar o autor, os autores dos evangelhos mostraram interesse em se identificarem mesmo no corpo principal dos
seus textos (João 21:24, Atos 16:10).
- No início do século II, Papias demonstra interesse na
autoria dos evangelhos, nomeia os autores de pelo menos três dos quatro
evangelhos e cita uma fonte anterior que ele chama "o ancião"
(provavelmente o apóstolo João) demonstrando interesse na autoria dos evangelhos
e nomeando também um dos autores (em Eusébio, História da Igreja, 3:39). Tanto
Papias como o ancião que ele cita estavam vivos e ativos nos círculos cristãos
do século I, e estavam interessados na autoria dos evangelhos e nomearam os
autores.
- O cristianismo não era um sistema filosófico de ideias que
estava a ser promovido independentemente de figuras de autoridade. Pelo
contrário, era um sistema baseado na autoridade de indivíduos com nome, começando
com Jesus e prosseguindo para os apóstolos e outros indivíduos que eram
nomeados (Mateus 10:1-3, Marcos 3:13-19, Efésios 2:20, etc.). O evangelho de
Lucas abre com uma referência à importância das testemunhas oculares (1:2), um
conceito que requer distinção entre fontes (diferenciando entre aquelas que
eram testemunhas oculares e aquelas que não eram), o que incluiria a distinção
entre os autores de fontes escritas.
- A ampla aceitação das atribuições de autoria tradicionais na
antiguidade, incluindo entre fontes heréticas e fontes que nem sequer se diziam
cristãs, faz muito mais sentido se as atribuições de autoria se tivessem
originado num período primitivo. Se os evangelhos tivessem inicialmente
circulado anonimamente, esperaríamos uma combinação de anonimato e autores
nomeados mais tarde, e esperaríamos que os nomes citados na nomenclatura dos
autores variassem e variassem muito. Não é isso o que observamos.
Para muitos académicos (especialmente Ehrman), é
deliberadamente enganoso o uso de um significado altamente técnico de "anónimo".
Ou seja, que o nome não aparece no texto. Nesse sentido, os evangelhos ainda hoje
circulam anonimamente. Mas obviamente não é isso o que a maioria das pessoas
pensa que “anónimo” significa. Elas pensam equivocadamente que ninguém sabia quem os escreveu
por um longo tempo.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.