Quanto ao número de livros
que foram traduzidos em Alexandria não é possível saber com exatidão. Os livros
que compõem o cânon hebraico foram com toda a certeza, outros livros religiosos
hebraicos que se misturaram com os livros canónicos e que aparecem nos códices
da Septuaginta dos séculos IV e V (em número variável conforme o manuscrito)
podem ter tido origem na obra de tradução dos sábios alexandrinos mas isso é
duvidoso.
Quanto ao cânon do AT
reconhecido pelos judeus de Alexandria, não há nenhuma evidência que indique
que fosse diferente daquele dos judeus da Palestina, cuja extensão se tornou
consensual entre os judeus pela época dos macabeus, ou seja, na segunda metade
do século II a.C., quando a Septuaginta ainda estava em preparação. A partir
daí, houve ocasionalmente discussões sobre se se devia excluir algum ou outro
livro mas nunca de incluir algum.
Isto é suportado pelas
seguintes razões:
1. Exceto para alguns
fragmentos, os manuscritos existentes da Septuaginta são de origem cristã. O
mais antigo data de aproximadamente 350 d.C., ou seja, cinco séculos mais tarde
da finalização da tradução. É simplesmente impossível saber se as cópias
hebraicas incluíam os mesmos livros que as cópias cristãs. Segundo a Encyclopedia Britannica, «É igualmente
possível que as adições às Escrituras hebraicas sejam de origem cristã».
2. Nos diversos
manuscritos existentes da Septuaginta, os livros apócrifos incluídos variam em
número e nomes. Por exemplo, o manuscrito Vaticano não inclui Macabeus. O
manuscrito Alexandrino inclui o apócrifo/pseudoepígrafo 1 Esdras, além de 3
e 4 Macabeus, e no NT 1 e 2 Clemente. No códice Sinaítico falta Baruc,
considerado canónico pelo Concílio de Trento, mas está incluído 4 Macabeus e,
no NT, a Epístola de Barnabé e o Pastor de Hermas. Existem outras variantes,
que levantam a questão de quantos livros apócrifos realmente incluía a
Septuaginta original. É perfeitamente possível que não incluísse nenhum deles.
3. Filão um filósofo judeu
aproximadamente contemporâneo de Cristo que viveu precisamente em Alexandria
(aprox. 20 a.C.-50 d.C.) nunca usou os deuterocanónicos/apócrifos, apesar de
ter escrito muito.
4. Durante o segundo
século da nossa era, e a partir da apropriação da Septuaginta por parte dos
cristãos, os judeus de Alexandria adotaram a versão de Áquila, feita a partir
do cânon palestino e que manifestamente não incluía os
deuterocanónicos/apócrifos.
Se tivessem existido diferenças
acerca do cânon, seria improvável que os judeus alexandrinos recebessem esta
versão sem mais.
5. A isto deve somar-se o
testemunho de Orígenes, que viveu na mesma cidade e foi o máximo erudito
bíblico pré-niceno, que escreveu «Não se
deve ignorar que os livros testamentários, tal como os transmitiram os hebreus,
são vinte e dois, tantos como o número de letras que há entre eles». Cita a
lista do cânon palestino com os seus nomes e acrescenta: «Os [livros] dos
Macabeus estão fora destes» (Eusébio, História
Eclesiástica VI, 25, 1-2).