domingo, 28 de julho de 2013

Algumas questões a reter sobre a Bíblia


Pode provar-se que a Bíblia é inspirada por Deus?
A inspiração divina da Bíblia não pode ser provada positivamente através de uma dedução matemática ou um teste em laboratório, porque é algo do âmbito espiritual e apenas se pode discernir espiritualmente através do testemunho do Espírito Santo. Portanto, a prova ou certeza da sua inspiração somente pode tê-la quem já creu em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador.
No entanto, a inspiração pode ser corroborada através de factos acerca da Bíblia.
Entre as principais razões, menciono:
A. Consistência interna. Apesar de ter sido escrita num longo intervalo, em diferentes lugares e por pessoas de condição diferente, a Bíblia possui uma coerência notável nos seus ensinamentos acerca de Deus, do homem e da salvação. Nas suas páginas pode notar-se um progresso tanto na revelação como na obra de salvação.
B. Ensinamentos. Se mais pessoas obedecessem aos ensinamentos da Bíblia não há dúvida que este mundo seria um melhor lugar para todos.
C. Profecia preditiva cumprida. A Bíblia contém muitas profecias cujo cumprimento está registado na história. Há outras que ainda não se cumpriram, mas a fidelidade das predições anteriores nos levam a crer que tudo será cumprido.
D. Milagres. Muitos milagres bíblicos foram corroborados mesmo por testemunhas hostis. Significativamente, na Bíblia os milagres estão concentrados em três épocas cruciais: o tempo do Êxodo, o dos profetas do século IX, e o de Jesus e dos Apóstolos. Os maiores milagres são, desde logo, a encarnação de nosso Senhor e a sua ressurreição.
E. Confiabilidade histórica. Tanto documentos extrabíblicos como a arqueologia fazem pensar que a história que a Bíblia narra é correta. Ainda que existam lacunas (como em outras áreas do conhecimento da antiguidade) nenhuma das afirmações históricas da Bíblia foi refutada com êxito.
F. Transmissão e conservação providencial do texto bíblico. Tanto o texto hebraico do Antigo Testamento como o texto grego do Novo Testamento foi preservado com notável exatidão em comparação com qualquer outro documento antigo.
G. Resultados nas vidas transformadas daqueles que puseram a sua fé em Cristo e seguem os ensinamentos da Bíblia. Numa ocasião um mestre cristão foi confrontado por um ateu militante que proclamava que o homem melhorava quando rejeitava a religião e admitia a inexistência de Deus. Sem hesitar, o pastor lhe respondeu que com gosto traria no dia seguinte cem pessoas cujas vidas tinham sido transformadas para melhor pelo Evangelho, desde que o seu interlocutor se comprometesse a trazer outras tantas pessoas cujas vidas tivessem sido mudadas para melhor pelo ateísmo... ou pelo menos dez. Obviamente isso não ocorreu.
Quais foram os critérios adotados pela Igreja cristã para a canonização de um livro?
Os critérios que é possível inferir a partir da história da Igreja são:
1. Autoridade apostólica. Devem ser livros escritos por um Apóstolo ou por um dos seus colaboradores (tal é o caso de Lucas, companheiro de Paulo, e de Marcos, intérprete de Pedro).
2. Antiguidade. Este critério, como o que se segue, é subsidiário do primeiro. Se a obra em questão não era antiga, não podia dever-se a um dos Apóstolos ou seus discípulos.
3. Ortodoxia. Conformidade da doutrina com a de outros livros já reconhecidos e com o ensino da Igreja.
4. Universalidade. O livro em questão devia em princípio ser amplamente reconhecido; isto atrasou, embora não tenha impedido, por exemplo, a inclusão de Hebreus (posto em dúvida pela Igreja de Roma). Os escritos apostólicos, mesmo os dirigidos a congregações locais, tiveram na sua maioria ampla circulação e difusão. Estreitamente relacionado está o critério do uso antigo e generalizado.
5. Inspiração divina. O reconhecimento generalizado, guiado pelo Espírito Santo, de que certos livros e não outros foram inspirados por Deus.
Note-se que o cânon bíblico não é fruto de uma decisão arbitrária de algum concílio ou decreto papal, mas obedece a critérios objetivos, baseados em características singulares, pelas quais, os livros canonizados se impuseram a si mesmo à Igreja.
O apóstolo Paulo menciona na sua carta a Timóteo que "Toda Escritura é Inspirada por Deus ...." mas esta citação refere-se ao que os judeus entendiam por Escritura, o Antigo Testamento. Como então aplicar o que diz ao Novo Testamento?
O ensinamento de Paulo não é uma declaração sobre a delimitação da extensão do cânon das Sagradas Escrituras mas uma ajuda para entender a natureza da Escritura como Palavra de Deus. Portanto, se bem que ele se refira primariamente ao Antigo Testamento (embora Paulo também parece chamar Escritura ao Evangelho de Lucas), o que diz é igualmente válido para as Escrituras do Novo Testamento.
Dizes que a declaração de Paulo diz respeito à natureza ou valor das Escrituras. Aceitemos então isso. Ora, quem é que tem autoridade para discernir a natureza ou valor de um texto escrito de forma que passe a ser considerado como parte da Escritura? A IGREJA.

A Igreja, por intermédio dos Apóstolos e alguns dos seus discípulos mais próximos, deu à luz o Novo Testamento, expressão escrita do que eles ensinaram oralmente. Uma vez concluído, o Novo Testamento teve uma autoridade intrínseca que não depende de uma concessão graciosa da Igreja. Em outras palavras, a Igreja não “autoriza” a Palavra de Deus. A reconhece, confessa e proclama (ou deveria).

Uma consideração importante é se se concebe o cânon como uma lista inspirada de livros ou como uma lista de livros inspirados. Em outras palavras, neste segundo caso, se o termo "cânon" é considerado em sentido ativo, em relação aos livros que constituem a norma da vida e fé cristãs; ou, pelo contrário, em sentido passivo, como a lista de livros que foi fixada pela Igreja como normativos.

Os cristãos acreditam que as Escrituras do NT são a norma que governa (norma normans), isto é, um conjunto de livros inspirados com uma autoridade intrínseca que a Igreja se limitou a reconhecer e proclamar. Ou em outras palavras, a Igreja não autorizou o cânon, mas reconheceu que estes livros e não outros eram autorizados por terem sido inspirados por Deus.

A história diz-nos de que foram necessários pelo menos cerca de 4 séculos de discussões durante os quais todos e cada um dos livros que compõem o Novo Testamento foram devidamente questionados num ou noutro momento. Porquê tanta indefinição?
Na realidade o problema que menciona é mais patente em relação ao Antigo Testamento. Com efeito, os livros chamados Deuterocanónicos pelos católicos e Apócrifos pelos protestantes, permaneceram num estado de indefinição (apesar de algumas decisões de sínodos locais) até que, pelo menos para a Igreja de Roma, foram incorporados explicitamente no Concílio de Trento (1546).
Além disso, exagera a situação em mais de um sentido. Não é verdade, por exemplo, que todos e cada um dos livros que compõem o Novo Testamento fossem questionados.
Já na segunda metade do século II existia um consenso indiscutível para os autores ortodoxos acerca dos quatro Evangelhos canónicos, Atos, as epístolas de Paulo, 1 João e 1 Pedro. Acerca do resto dos livros havia opiniões diversas.
Após 4 séculos de discussão foi um concílio CATÓLICO sob a autoridade de um papa que definiu o cânon Bíblico. Como um crente Evangélico que nega qualquer autoridade ao romano pontífice pode ter certeza que o seu cânon bíblico é o correto?
Isto é absolutamente errado; a realidade histórica é muito diferente.
A primeira lista dos 27 livros do NT tal como hoje aparecem em todas as bíblias cristãs a deu Atanásio de Alexandria em 367.
Existe um documento supostamente escrito no século VI, o Decretum Gelasii, segundo o qual em 382 um sínodo de Roma presidido pelo seu bispo, Dámaso, teria sancionado a mesma lista. Mas se isso fosse verdade - e é duvidoso que o seja - o tal decreto não teve nenhum eco na Igreja Católica Antiga (da qual Roma era só uma parte).
O primeiro concílio cuja realidade histórica é indubitável que formulou uma lista dos 27 livros do NT foi o de Cartago de 397, um sínodo local que certamente nem foi convocado pelo bispo de Roma nem contou com a sua sábia opinião.
Nenhum Concílio verdadeiramente ecuménico (isto é, com participação da Igreja Universal) nem nenhum bispo de Roma dos primeiros quinze séculos do cristianismo sancionou o cânon do NT. As listas coincidentes de Atanásio, de Dámaso (se se aceitar a sua autenticidade) e de Cartago, simplesmente mostram o consenso que a Igreja universal alcançou em finais do século IV.
Na Igreja Ocidental, aceitou-se o cânon de 27 livros tal como Jerónimo os tinha incluído na Vulgata, sem maior discussão.
A primeira declaração dogmática documentada da Igreja de Roma a este respeito foi produzida em 1546, pelo que se os pobres cristãos de todo o mundo tivessem tido que esperar que Roma se despachasse, teriam passado quinze séculos sem cânon.
O próprio Lutero na sua tradução da Bíblia para o alemão retirou do Cânon do N.T. alguns livros que colocou no fim da sua Bíblia como livros interessantes e de recomendada leitura para os crentes mas negando a sua Canonicidade,
Lutero pôs em dúvida a canonicidade de Hebreus, Tiago, Judas e Apocalipse. No entanto, não os excluiu da sua edição do Novo Testamento. Além disso, embora tenha expressado livremente as suas reservas, salientou que não desejava impor a outros as suas opiniões, e explicitamente declarou que não desejava tirar estes escritos do NT.
É muito interessante que sempre se repita este passo em falso do reformador alemão, e ao mesmo tempo se ignore o contexto histórico, já que durante o Renascimento ressurgiram dúvidas sobre a canonicidade de alguns livros do NT. E dado que não existia ainda uma declaração dogmática de assentimento obrigatório por parte de todos os fiéis de Roma, diversos eruditos dessa Igreja fizeram uso da liberdade que se questiona a Lutero.
Por exemplo, o Cardeal Tomás de Vio (1469-1534), mais conhecido como Caetano, escreveu comentários bíblicos nos quais colocava em dúvida a autoria paulina de Hebreus e expressava dúvidas acerca da autoridade apostólica de Tiago, Judas e 2 e 3 João. Não sabemos o que opinava do Apocalipse, já que declinou comentá-lo e se limitou a declarar-se incapaz de penetrar nos seus mistérios.
Pela mesma época, o humanista Erasmo de Roterdão (m. 1536) que nunca abandonou a comunhão romana, questionou na primeira edição do seu NT grego (1516) a autoria tradicional de Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João e Judas; declarou que Apocalipse não era devido ao autor do quarto Evangelho (mais tarde tornou-se mais cauteloso, e declarou que estava disposto a submeter-se ao juízo da Igreja se esta dissesse outra coisa).
Mesmo depois do Concílio de Trento, o dominicano Sisto de Siena, na sua obra Bibliotheca Sancta dedicada ao Papa Pio V, dividia os livros do Novo Testamento em Proto e Deuterocanónicos; entre estes últimos incluía Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e o Apocalipse.
Portanto, não vejo que Lutero tenha procedido de maneira diferente de outros seus contemporâneos, fiéis católicos.
Além disso, os protestantes não atribuem ao Dr. Lutero a infalibilidade que negam ao papa.
posteriormente Calvino incluiu de novo esses livros.
Também não é verdade. Houve alguma confusão acerca da extensão do cânon do NT pela época da Reforma, mas por último todas as Igrejas protestantes admitiram o cânon que tinha sido fixado por consenso no século IV.
Calvino não teve que "incluir de novo" os livros em questão pela simples razão de que nunca os retirou antes. Com efeito, em todas as edições da Bíblia publicadas pelos reformadores genebrinos os livros do NT se apresentam do modo tradicional.
As Confissões Protestantes históricas reconheceram também o cânon histórico do NT:
Francesa de 1559;
Belga de 1561;
Trinta e Nove Artigos Anglicanos (1563)
Westminster (1647)
Se um dos critérios de canonização de um livro que os cristãos que determinaram o cânon seguiram era que o seu autor fosse reconhecido como membro dos apóstolos ou diretamente relacionado com eles, como explicar a epístola aos Hebreus caso claro de autor desconhecido e outros muitos livros do N.T. cujo autor conhecido não o é pela certeza de quem o escreveu mas pela Tradição da Igreja que atribui tais escritos a determinados autores, 1ª de João não menciona quem é o seu autor mas a tradição e o estilo segundo eruditos cristãos o atribuem ao apóstolo João, é suficiente isto para declará-los Palavra de Deus, se é assim também a Tradição é Palavra de Deus não achas?? Não terá razão a igreja Romana?
Os protestantes não têm nenhum problema em admitir como válida uma tradição que atribui a autoria de um livro sagrado a determinado autor, desde que seja confiável e não haja evidências para pensar que essa tradição é falsa.
Apesar das dúvidas sobre a autoria, Hebreus foi por fim reconhecido unanimemente pela sua antiguidade e ortodoxia. Dificilmente tem razão a Igreja de Roma, já que ela teve um papel importante em atrasar a canonização de Hebreus, mas por fim aderiu ao consenso das demais igrejas.
Não houve dúvidas sérias acerca de 1 João; pelo contrário sim acerca de 2 e 3 João.
Por certo os primeiros cristãos que são exemplo para nós pelo menos assim se nos manifesta no livro de Atos não tinham mais escritura inspirada que o A.T. e posteriormente até que se conciliou um cânon unânime para a cristandade, as diversas igrejas continuavam usando as Escrituras do A.T. como Palavra de Deus ajudando-se com as diversas cartas e evangelhos que circulavam pela época mas que não sabemos se as consideravam Palavra de Deus ou livros de recomendada leitura como fez Lutero com alguns. Se fossem considerados como Palavra de Deus pensais que de verdade teriam desaparecido todos e cada um dos textos originais, não é muita casualidade que dos 27 livros do N.T. não se tenha conservado nem um só deles?? e a cópia mais antiga esteja datada para lá do século III.
É errado dizer que os primeiros cristãos não tinham mais escritura inspirada que o AT até que se conciliou um cânon unânime para a cristandade, pois o próprio Novo Testamento tem evidência de que os escritos apostólicos eram tidos como Escritura pelos próprios apóstolos: 2 Pedro 3:15-16 e 1 Timóteo 5:18 citando Lucas 10:7.
Os papiros do NT mais antigos datam da primeira metade do século II. Que os originais não se tenham conservado se deve a que provavelmente foram escritos em papiro, um material muito menos resistente ao uso contínuo que o pergaminho.
O texto do NT grego é confiável em mais de 99%, e as dúvidas que persistem são principalmente variantes leves que não modificam o significado nem afetam nenhuma doutrina cristã.
Muitos livros do Novo Testamento não foram considerados como canónicos até muitos séculos depois de Cristo? Foi a Igreja Católica que "tirou" as dúvidas sobre esses livros e nos deu o cânon do Novo Testamento.
O reconhecimento do cânon, sem dúvida, é um processo histórico (como foi a redação da Bíblia). A Igreja universal (católica em sentido antigo) efetuou tal reconhecimento em finais do século IV, manifestamente sem precisar de intervenção nem sanção da Igreja de Roma, a qual se limitou a aceitar e reconhecer o que outros tinham determinado – principalmente os bispos africanos. Não foi preciso nenhuma definição ex cathedra ou decreto de algum concílio romano para delimitar o cânon do Novo Testamento, o que é uma sorte pois do contrário o processo levaria uns bons séculos mais.

4 comentários:

  1. Olá, usei alguns pequenos trechos do seu artigo para montar um artigo sobre a confiabilidade da Bíblia: http://catena-aurea.blogspot.com.br/2013/08/confiabilidade-da-biblia.html

    Espero que não se importe. Até mais.

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  2. Interessante saber também que um estudo promovido pela Universidade Baylor, no Texas, Estados Unidos, e coordenada pelo pesquisador Aaron Franzen, divulgou em setembro que a leitura frequente da Bíblia Sagrada desenvolve a consciência social das pessoas, resultando na preocupação com a pobreza e no tratamento mais humano dos criminosos, e ainda, segundo as informações da pesquisa, a leitura da Bíblia também está ligada a melhores atitudes em relação à Ciência.

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  3. Dez fatos básicos sobre o Cânon do NT que cada cristão deve memorizar:

    http://michaeljkruger.com/the-complete-series-ten-basic-facts-about-the-nt-canon-that-every-christian-should-memorize/

    Excelente trabalho!

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