Na sua História Eclesiástica do século IV, Eusébio de Cesareia relata a
seguinte tradição proveniente do bispo Papias de Hierápolis:
"E o presbítero dizia isto: Marcos, intérprete que foi de
Pedro, pôs cuidadosamente por escrito, ainda que não com ordem, quanto
recordava do que o Senhor havia dito e
feito. Porque ele não tinha ouvido o Senhor nem o havia seguido, mas, como disse, Pedro mais tarde, o qual
transmitia os seus ensinamentos segundo
as necessidades e não como quem faz uma composição das sentenças do Senhor, mas de sorte que Marcos em nada se
enganou ao escrever algumas coisas
tal como as recordava. É que pôs toda a sua preocupação numa só coisa: não descuidar nada de quanto havia
ouvido nem enganar-se na mais pequena coisa"
(H.E. III, 39:15; Edição de Argimiro Velasco Delgado. Madrid: BAC, 1973,
1:194).
A questão da ordem provavelmente aparece por causa de acusações contra ter
alterado a cronologia precisa de alguns acontecimentos.
Apesar de outras tradições conservadas por Papias merecerem realmente pouco
crédito, esta em particular parece confiável.
De facto, além de Papias, Ireneu, Clemente de Alexandria, Orígenes,
Jerónimo, e provavelmente o chamado cânon de Muratori (uma lista romana do
segundo século) aceitaram que Marcos pôs por escrito as coisas acerca da vida
do Senhor que ouviu de Pedro enquanto atuava como seu intérprete (grego hermêneutês), talvez uma espécie de
secretário.
Uma evidência que corrobora esta tradição é que no Evangelho Marcos (que
aparentemente não esteve presente durante a maior parte do ministério terrenal
do Senhor) em várias partes escreve como o faria uma testemunha presencial:
Marcos 1:21,29; 5:1,38; 6:53-54; 8:22; 9:14, 30, 33; 10:32, 46; 11:1, 12,
15, 20, 27; 14:18, 22, 26, 32.
Em conclusão, embora a noção de que Marcos escreveu
os feitos de Jesus tal como os pregava Pedro não seja um dogma de fé, parece
muito provável do ponto de vista histórico.
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