Há um (aparentemente)
interminável debate entre teólogos e pastores sobre a forma apropriada de
governo para a igreja. Por gerações, os cristãos têm discordado sobre que
estrutura de liderança a igreja deve usar. Desde os bispos-condutores Anglicanos às igrejas dos Irmãos informais,
há uma grande diversidade.
E um dos pontos fundamentais
neste debate é a prática da igreja primitiva. Qual a forma de governo que os
primeiros cristãos tinham? Evidentemente, a organização cristã primitiva é um
assunto vasto e complexo, com muitas questões diferentes em jogo. Mas, desejo
me focar num aspecto restrito: Eram as primeiras igrejas governadas por uma
pluralidade de anciãos ou um único bispo?
Ora, deve notar-se desde já que
pelo final do século II, a maioria das igrejas eram governadas por um único
bispo. Por um qualquer conjunto de razões, o monoepiscopado tinha surgido. Muitos estudiosos atribuem este desenvolvimento a Inácio de Antioquia.
Mas, como era anteriormente?
Havia uma estrutura de único-bispo no primeiro e princípio do segundo século?
A evidência do Novo Testamento em
si parece favorecer uma pluralidade de anciãos como o modelo padrão. O livro de
Atos diz-nos que à medida que os apóstolos plantavam igrejas, nomeavam
"anciãos" (do termo grego πρεσβυτέρος)
para supervisioná-las (Atos 11:30; 14:23; 15:2; 20:17). Da mesma forma, em
Tito é dito para "estabelecer anciãos em cada cidade" (Tito 1:5).
Uma palavra muito semelhante, ἐπι,σκoπος (“bispo” ou “supervisor”), é utilizada em
outros contextos para descrever o que parece ser o mesmo ofício de governo
(Fil. 1:1; 1 Tim 3:1-7). A sobreposição entre estes dois termos é evidente
em Atos 20:28 quando Paulo, dirigindo-se
aos "anciãos" (πρεσβυτέρους)
de Éfeso, declara que “O Espírito Santo vos constituiu supervisores (ἐπισκόπους)”. Portanto, os escritos do Novo Testamento
indicam que o ofício de ancião/bispo é funcionalmente a mesma coisa.
Mas, o que ocorre com a igreja
após o Novo Testamento? Será que manteve o modelo de vários anciãos? Três
breves exemplos sugerem que manteve esta estrutura pelo menos por um tempo:
1. A certa altura, a Didaqué
aborda a questão do governo da igreja diretamente, “E assim, elejam para vós
mesmos bispos (ἐπισκόπους) e diáconos que sejam
dignos do Senhor, homens gentis que não amem o dinheiro, que sejam verdadeiros
e aprovados” (15.1). É interessante notar que o autor menciona bispos no plural
— não um único bispo governando — e que
ele coloca esses bispos a par com o ofício de diácono, como o próprio Paulo
faz (e.g., Fil. 1:1; 1 Tim 3:1-13).
Portanto, como mencionado acima, parece que os bispos aqui descritos são
essencialmente equivalentes ao ofício de "ancião".
2. Uma carta conhecida como 1
Clemente (c.96) também diz muito sobre a governação da igreja
primitiva. Esta carta é atribuída a “Clemente” — cuja identidade permanece
incerta — que representa a igreja em Roma e escreve à igreja de Corinto para
tratar das repercussões de uma recente alteração na liderança. O autor escreve
para convencer (não ordenar) os Coríntios a restabelecer os seus bispos
(anciãos) que foram injustamente depostos. A carta afirma o testemunho do livro
de Atos quando nos diz que os apóstolos inicialmente nomearam “bispos (ἐπισκόπους) e diáconos” nas várias igrejas que
visitaram (42.4). Depois do tempo dos apóstolos, os bispos eram nomeados “por outros homens de boa reputação, com toda
a igreja dando a sua aprovação” (44.3). Este é um eco da Didaqué, que indica
que os bispos eram eleitos pela igreja.
3. O Pastor de Hermas (c.150)
fornece outra confirmação desta estrutura de governo no século II. Depois de
Hermas escrever a visão angelical num livro, é-lhe dito, “tu o lerás para esta
cidade, na presença dos presbíteros que dirigem a Igreja” (Vis. 8.3). Aqui nos
é dito que a estrutura de liderança da igreja é uma pluralidade de
"presbíteros" (πρεσβυτέρων)
ou anciãos. O autor também usa o termo "bispo", mas sempre no plural
e, frequentemente a par do ofício de diácono (Vis. 13.1; Sim. 104.2).
Em suma, os textos do NT e textos do princípio do século II indicam que uma pluralidade de anciãos era a
estrutura padrão na fase inicial. Mas, como mencionado acima, a ideia de
um bispo singular começou a predominar pelo final do século II.
O que levou a esta transição? A
maioria dos estudiosos argumenta que foram as batalhas travadas pela igreja com
os heréticos no século II que a levou a voltar-se para os principais líderes
para defender e representar a igreja.
Esta transição é descrita notavelmente
bem pelo próprio Jerónimo:
O presbítero é o mesmo que o
bispo, e antes dos partidos terem sido levantados na religião pelas provocações
de Satanás, as igrejas eram governadas pelo Senado dos presbíteros. Mas como
cada um procurou apropriar-se daqueles que haviam batizado, em vez de levá-los
a Cristo, foi designado que um dos presbíteros, eleito pelos seus colegas,
devia ser estabelecido sobre todos os outros, e ter a supervisão principal
sobre o bem-estar geral da comunidade... Sem dúvida é dever dos presbíteros ter
em mente que pela disciplina da Igreja estão subordinados a ele que lhes foi
dado como sua cabeça, mas é conveniente que os bispos, por seu lado, não se
esqueçam que se eles estão estabelecidos sobre os presbíteros, é resultado da
tradição, e não pelo facto de uma instituição particular do Senhor (Comm.Tit. 1.7).
Os comentários de Jerónimo
proporcionam um grande resumo deste debate. Enquanto o modelo de único-bispo se
pode ter desenvolvido por razões práticas, o modelo da pluralidade de anciãos
parece remontar ao princípio.
Michael J. Kruger
Artigo online retirado desta página