sexta-feira, 25 de março de 2022

Por que não sou Ortodoxo Oriental

 

1. Eu tenho estudado o Catolicismo Romano com muito mais profundidade do que a Ortodoxia Oriental, e tenho uma visão clara do que o Catolicismo representa. Acho mais difícil entrar no mundo conceptual da Ortodoxia Oriental. Isso em parte porque, na minha leitura, a exposição é muitas vezes metafórica. Portanto, a questão é o que significa a linguagem figurativa.

2. Dito isso, mesmo que eu não tenha claro o que algo é, posso ter bastante claro o que não é. Seja o que for que a Ortodoxia Oriental represente, não é o cristianismo do NT. Quando comparo os dois, são paradigmas diferentes e divergentes.

3. A Ortodoxia Oriental rejeita o conceito forense penal da salvação difundido nas Escrituras. A salvação bíblica não se resume a isso. Há também a santificação. Mas a Ortodoxia Oriental rejeita um elemento central da soteriologia bíblica. Ele não está confinado à teologia paulina ou à sola fide. O modelo sustentado da expiação no NT (prenunciado no AT) é penal e sacrificial. O pecado viola a justiça divina. O pecado é culpável e censurável. Isso não é tudo o que o pecado é. O pecado também é corrupção moral. Mas na minha leitura, a Ortodoxia Oriental apaga o modelo primário de expiação do NT.

4. A alternativa é o conceito Ortodoxo Oriental de theosis. Não tenho inteiramente a certeza do que isso significa. Pelo que entendi, a salvação Ortodoxa Oriental é uma categoria metafísica. O pecado envolve alienação da vida de Deus. A salvação envolve a participação na vida de Deus. Somos libertos do pecado quando somos levados à própria vida de Deus. Compartilhamos, não a sua essência, mas as suas energias.

5. Ora, há um sentido em que a salvação do NT também tem uma dimensão ontológica: santificação e glorificação. E há um sentido em que os cristãos participam na vida de Deus. Mas Deus e o homem não se estendem ao longo de um continuum metafísico comum. Há uma diferença qualitativa e categórica entre o modo de subsistência necessário, incomparável e transcendente de Deus e a existência de agentes contingentes, finitos, limitados no tempo e corporificados. O nosso modo de subsistência nunca interseta com o modo de subsistência de Deus. Deus compartilha a sua vida conosco no sentido de que ele é a fonte de nosso ser e bem-estar. Toda a bondade flui dele.

6. Dá-me a impressão de que a Ortodoxia Oriental cria uma salvaguarda postulando a dicotomia/distinção essência/energia. Isso parece-me uma distinção ad hoc e instável. As energias são Deus ou não são Deus? Idênticas com Deus ou algo diferente de Deus? Se for diferente de Deus, então as energias fazem parte do mundo. Elas caem do lado da criação.

7. Na soteriologia do NT, a Encarnação é uma precondição necessária da expiação, mas não expia por si mesmo. É a morte sacrificial de Cristo que é redentora. E a necessidade de renovação moral/psicológica é suprida pela agência do Espírito Santo.

8. Pelo que li, os teólogos Ortodoxos às vezes falam como se a Encarnação não fosse apenas uma relação confinada a um indivíduo único (Jesus), mas que de alguma forma a Encarnação une Deus e o homem a um nível universal. Como se todos os humanos estivessem ligados à vida de Deus em virtude do Filho Encarnado.

9. Dessa forma, isso está em tensão com a particularidade dos sacramentos. Presumivelmente, os teólogos Ortodoxos têm estratégias para suavizar essa tensão, mas ela pode ser solucionada?

10. A propósito de (9), em 4. há um sacramentalismo sufocante, onde a salvação é canalizada através dos sacramentos. Isso, por sua vez, necessita de sacerdócio. Assim como o Catolicismo, a Ortodoxia Oriental opera com um paradigma sacerdote-sacramento, enquanto a teologia evangélica opera com um paradigma Palavra-Espírito.

11. Depois, há o papel supersticioso dos ícones, que parecem funcionar como projeções ou extensões da Encarnação.

12. Em cima disso está a ficção de uma igreja infalível.

Todo o sistema está muito distante da teologia e da piedade do NT. É claro que os teólogos Ortodoxos tentam provar a posição deles a partir das Escrituras, mas, pelo que observo, a sua exegese é deficiente, forçada e circular, pois apelam para a autoridade dos padres gregos para alavancar as suas interpretações das Escrituras (por exemplo, a luz do Tabor como luz incriada).

13. Tenho outras objeções, não exclusivas para a Ortodoxia Oriental. Eu sou predestinacionista enquanto a Ortodoxia Oriental é libertarianista.

14. Discordo da doutrina de Deus da Ortodoxia Oriental. Rejeito o seu conceito hierárquico da Trindade, onde o Pai é o Deus primário e a fonte metafísica do Filho e do Espírito.

Pode-se objetar que, tradicionalmente, muitas denominações protestantes herdaram um conceito hierárquico da Trindade, então por que isso é uma razão para eu rejeitar a Ortodoxia Oriental, mas não as contrapartes protestantes? Uma razão é que não se pode ser Ortodoxo Oriental honesto a menos que se afirme os dogmas da Ortodoxia Oriental. Não se pode ser um Ortodoxo Oriental honesto se se rejeitar a doutrina de Deus da Ortodoxia Oriental.

Em contraste, há mais liberdade dentro do evangelicalismo. Eu posso ser um protestante honesto sem reafirmar cada transferência reflexiva da Ortodoxia Grega ou da teologia Latina.

15. Finalmente, adiro a uma cristologia de duas-mentes. A inter-relação delas é assimétrica. O Filho é independente da alma humana, enquanto a alma é contingente. O Filho controla a alma humana. O Filho tem acesso completo à alma humana. A alma não tem acesso à mente do Filho, exceto quando o Filho compartilha seu conhecimento com a alma humana de Cristo. Não tenho certeza de que uma cristologia de duas-mentes seja compatível com a cristologia ciriliana, mas também não me importo, porque não presto contas aos Padres Gregos.

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