domingo, 31 de outubro de 2021

Dia da Reforma

 

A Reforma teve um grande impacto no mundo, nos nossos sistemas políticos, na nossa literacia, no nosso sentido de responsabilidade pessoal, nas nossas crenças e aspirações, etc. Aqui estão alguns comentários sobre o assunto do historiador protestante Philip Schaff:

"A Reforma regressou aos primeiros princípios para seguir em frente. Lançou as suas raízes profundamente no passado e deu ricos frutos para o futuro. Surgiu quase simultaneamente em diferentes partes da Europa e foi saudada com entusiasmo pelas principais mentes da época na igreja e no Estado. Nenhum grande movimento na história - exceto o próprio Cristianismo - foi tão ampla e meticulosamente preparado como a Reforma Protestante. Os Concílios reformatórios de Pisa, Constança e Basileia; o conflito dos Imperadores com os Papas; a piedade contemplativa dos místicos com a sua sede de comunhão direta com Deus; o renascimento da literatura clássica; o despertar intelectual geral; os estudos bíblicos de Reuchlin e Erasmo; o espírito crescente de independência nacional; Wycliffe e os Lolardos na Inglaterra; Hus e os Hussitas na Boémia; Johannes von Goch, Johann von Wesel e Johann Wessel na Alemanha e nos Países Baixos; Savonarola na Itália; os Irmãos da Vida Comum, os Valdenses, os Amigos de Deus, - contribuíram com a sua parte para a grande mudança e aplanaram o caminho para uma nova era do Cristianismo. A vida mais interior da igreja avançava para uma nova era. Quase não existe um princípio ou doutrina da Reforma que não tenha sido antecipado e defendido nos séculos XIV e XV. Lutero fez a observação de que seus opositores poderiam acusá-lo de ter copiado tudo de Johann Wessel se ele tivesse conhecido os seus escritos mais cedo. O combustível era abundante em toda a Europa, mas precisava de uma faísca que o colocasse em chamas. Paixões violentas, intrigas políticas, a ambição e avareza dos príncipes e todos os tipos de motivos egoístas e mundanos foram misturados com a guerra contra o papado. Mas tudo contribuiu da mesma forma para a introdução do cristianismo entre os bárbaros pagãos. 'Onde quer que Deus construa uma igreja, o diabo constrói uma capela por perto'. A natureza humana é terrivelmente corrupta e deixa as suas manchas nos movimentos mais nobres da história. Mas, apesar disso, os líderes religiosos da Reforma, embora não estivessem livres de falhas, eram homens com motivos mais puros e objetivos mais elevados, e não há nação que não tenha sido beneficiada pela mudança que eles introduziram... A Reforma foi um grande ato de emancipação da tirania espiritual e uma reivindicação dos sagrados direitos de consciência em matéria de crença religiosa. A posição ousada de Lutero na Dieta de Worms, em face do papa e do imperador, é um dos eventos mais sublimes na história da liberdade, e a eloquência do seu testemunho ressoa através dos séculos. Para quebrar a força do papa, que se autodenominava e acreditava ser o vigário visível de Deus na terra, e que tinha nas suas mãos as chaves do reino dos céus, era necessário mais coragem moral do que lutar cem batalhas, e isso foi feito por um humilde monge com a força da fé. Se a liberdade, tanto civil como religiosa, desde então progrediu, isso se deve em grande medida à inspiração desse ato heróico. Mas o progresso foi lento e passou por muitos obstáculos e reações. 'Os moinhos de Deus moem lentamente, mas maravilhosamente bem'."

(Philip Schaff, in The Master Christian Library [Albany, Oregon: AGES Software, 1998], History Of The Christian Church, Vol. 7, pp. 20-21, 48)

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

"Sem a Igreja católica não há Bíblia. Foi ela que decretou o cânon da Bíblia"


Apologista Católico: Sem a autoridade da Igreja não se pode saber quais livros pertencem ao cânon da Bíblia. Foi ela que decretou o cânon da Bíblia.

Eu: Quando fala em autoridade da Igreja a que entidade se está a referir? A São Paulo, a Marcião, ao concílio de Laodiceia, a Agostinho, a Jerónimo, aos Padres da Igreja, a Gregório Magno, ao cardeal Caetano, a Lutero, ao concílio de Trento, à Confissão de Fé de Westminster ou aos biblistas católicos modernos? É que todas estas entidades não são concordes quanto à extensão de livros que reconhecem como Escritura e sobre o que pensam dos diversos textos da Bíblia.

Apologista Católico: Refiro-me ao Magistério da Igreja Católica, única Igreja verdadeira fundada por Cristo.

Eu: Apelar simplesmente para a autoridade do Magistério da Igreja Católica para justificar o cânon é circular. Primeiro tem que argumentar por que razão reconhece autoridade ao Magistério da sua Igreja para decretar o cânon da Bíblia. Eu não reconheço autoridade ao Magistério da sua Igreja para estabelecer por decreto quais livros pertencem ao cânon e quais não. O reconhecimento do cânon bíblico não é uma questão de "autoridade", mas uma questão de razão e evidência. Aceitação da apostolicidade, antiguidade, ortodoxia, intertextualidade e inspiração divina dos textos. Por isso, de vez em quando, a sua extensão pode sofrer pequenas alterações ao longo do tempo precisamente porque não é uma arbitrariedade.

Há um sentido legítimo em que se pode dizer que a Igreja contribuiu para sabermos a extensão do cânon bíblico, se entendermos por "Igreja" a Igreja cristã dos primeiros dois séculos do cristianismo como testemunha histórica dos livros que compõe o cânon, mas não porque ela tivesse alguma autoridade intrínseca para determinar o cânon.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Não há nenhuma evidência para o ateísmo

 

O debate entre ateísmo e teísmo cristão tem uma forma tão estereotipada que é fácil negligenciar a disparidade radical: quando se pensa sobre isso, não há nenhuma evidência positiva para o ateísmo. A defesa do ateísmo resume-se a um argumento do silêncio.

Ora, não há nada de intrinsecamente errado com um argumento do silêncio, mas esse é um argumento muito vulnerável. Os ateus na verdade não apresentam nenhuma evidência positiva para o ateísmo; em vez disso, eles argumentam contra o teísmo.

A defesa do ateísmo resume-se à alegada falta de evidências de um Deus intervencionista. Afirmar que podemos explicar a origem do universo naturalisticamente. Podemos explicar a origem da vida naturalisticamente. Podemos explicar todas as doenças e recuperações naturalisticamente.

Ou considere-se a afirmação de que as respostas às orações são aleatórias. Igualmente, o argumento do mal é um apelo ao acaso. A distribuição de felicidade e desgraça parece ser aleatória. Da mesma forma, a extinção em massa parece ser aleatória. Quais espécies sobrevivem ou perecem parece ser aleatório.

Alguns ateus alegam que os organismos biológicos apresentam falhas de design. Adaptações subótimas. Essa alegação é refutável por diferentes motivos, mas, em qualquer caso, não é um argumento positivo para o ateísmo.

Alguns ateus dizem que falar de Deus não tem sentido. Isso representa um certo dilema, na medida em que não está mais claro o que o ateu está negando. Em qualquer caso, esse não é um argumento positivo para o ateísmo.

Alguns ateus ambiciosos dizem que a existência de Deus não é meramente improvável, mas impossível: a própria ideia de Deus é incoerente (por exemplo, "paradoxos da omnipotência"). Isso geralmente depende de definições arbitrárias e estipulativas dos atributos divinos, ou postulados duvidosos sobre um melhor mundo possível. E, em qualquer caso, esse não é um argumento positivo para o ateísmo.

Muitos ateus acham que a Bíblia é moralmente repugnante. Mas muitos ateus rejeitam o realismo moral, porque o naturalismo não o consegue justificar. Portanto, eles não podem levantar objeções morais objetivas à Bíblia. Em qualquer caso, esse não é um argumento positivo para o ateísmo.

Se se prosseguir na lista, os ateus não oferecem nenhuma evidência para o ateísmo, exceto no sentido indireto de que se não há nenhuma evidência para Deus, então o ateísmo ganha por defeito.

Em alguns aspectos, o argumento a favor do ateísmo é decididamente estranho. Mais uma vez, considere-se o argumento do mal. Como o mal enfraquece o teísmo cristão? Afinal, o teísmo cristão é baseado na existência do mal, então como o mal pode ser inconsistente com o teísmo cristão? Não é a presença do mal, mas a ausência do mal, que falsificaria o teísmo cristão. Na melhor das hipóteses, o argumento do mal pode enfraquecer o "mero teísmo" ou o teísmo filosófico.

Da mesma forma, como pode o argumento do mal refutar ou mesmo enfraquecer o teísmo bíblico quando o teísmo bíblico concede a existência do mal? Não é como se a Bíblia retratasse um mundo utópico. A Bíblia é uma crónica do mal.

Portanto, não há realmente nenhuma evidência direta para o ateísmo. Em contraste, académicos e filósofos cristãos reúnem resmas de evidências a favor do cristianismo. E é importante estar atento ao ónus da prova. Se a defesa do ateísmo é um argumento do silêncio, então não é preciso quase nada para derrubá-lo. Suponha-se que 99% das evidências apresentadas para um Deus intervencionista sejam naturalmente explicáveis. Se apenas 1% (na verdade, até menos de 1%) não for, então o ateísmo é falso. O ateísmo não pode permitir que um único contra-exemplo passe pela sua peneira.

terça-feira, 12 de outubro de 2021

Peregrinações da infalibilidade

 

De acordo com a apologética católica tradicional, Roma fornece interpretações infalíveis de um livro infalível, enquanto os protestantes fornecem apenas interpretações falíveis de um livro infalível. No entanto, no Vaticano II, Roma rebaixou para limitada a inerrância bíblica, portanto a apologética católica agora defende a posição anómala de que Roma fornece interpretações infalíveis de um livro falível!

domingo, 10 de outubro de 2021

Celso, o Pagão vs. Orígenes, o Cristão

 

Celso, o Pagão, nota que Cristãos e Judeus não têm imagens religiosas, mostrando que nisto eles são bárbaros:

"Eles não toleram templos, altares ou imagens. Nisto eles são como os Citas, as tribos nomádicas da Líbia, os Seres que não cultuam deuses e algumas das mais bárbaras e ímpias nações do mundo" (Contra Celso, Livro 7, Cap. 62)

Orígenes, o Cristão, responde explicando que, apesar desses povos não terem imagens, a razão de ser destes é distinta da razão dos Judeus e dos Cristãos:

"Os Citas, os Líbios nomádicos, os Seres ateístas e os Persas todos concordam nisto com Judeus e Cristãos, mas eles são motivados por princípios diferentes. Porque nenhum dos primeiros abomina altares e imagens com base no seu medo de degradar o culto a Deus e reduzi-lo ao culto de coisas materiais feitas pelas mãos de homens. Nem eles se opõe a elas pela crença de que demónios tomam formas e lugares [...]. Mas os Cristãos e Judeus estimam este mandamento: 'Adorarás o Senhor teu Deus e somente a Ele servirás' e ainda 'Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; não te encurvarás a elas, nem as servirás' e novamente 'Adorarás o Senhor teu Deus e somente a Ele servirás'. É por consideração destes e de muitos outros mandamentos que nós não apenas evitamos templos, altares e imagens, mas estamos dispostos a enfrentar a morte se necessário, ao invés de rebaixar com tamanha impiedade o conceito que nós temos do Deus Altíssimo" (Contra Celso, Livro 7, Cap. 64).

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