domingo, 19 de novembro de 2017

Uma sucessão apostólica… inverificável


Afirma a New Catholic Encyclopedia:

«Deve admitir-se francamente que o viés ou deficiências nas fontes torna impossível determinar, em certos casos, se os pretendentes eram papas ou antipapas... Os autores calculam variavelmente o número de antipapas: Baümer conta 33 colocando três outros entre parêntesis como papas legítimos; Amanieu, 34; Frutaz, 36 mais alguns duvidosos e nove designados impropriamente; Moroni, 39. Desde 1947 o Anuário Pontifício do Vaticano tem publicado a lista de papas de Mercati que inclui 37 antipapas no texto. Todas as listas estão sujeitas a reservas, e o catálogo Mercati tem provocado divergências».

New Catholic Encyclopedia (CUA, 2nd ed., 2003), 1:530b.

Portanto, se a sucessão apostólica servisse para alguma coisa, a igreja hoje estaria numa situação de impraticabilidade, sem saber exatamente quem são os legítimos sucessores dos apóstolos, uma vez que é impossível determinar a validade da sucessão apostólica que os bispos reclamam.

Por exemplo, o atual papa Francisco pode descender tanto de uma linha válida como inválida da sucessão apostólica. Simplesmente não há possibilidade de saber.

Quando alguém diz que o papa Francisco é o sucessor de Pedro, através de uma linha ininterrupta de bispos, faz uma afirmação no vazio que não pode de modo algum ser sustentada documentalmente. É um completo salto no escuro.

O caricato é que as prerrogativas atribuídas ao papa, incluindo a sua infalibilidade ex cathedra, dependem da validade da sua sucessão apostólica, a qual não só não pode ser determinada infalivelmente, como é mesmo impossível determiná-la através dos dados da história. 

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Arqueologia Bíblica


Mais uma forte evidência da confiabilidade geral do Texto Massorético aqui

Dezenas de artigos sobre Arqueologia Bíblica podem ser encontrados aqui:

http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/0

http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/1

http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/2

http://protestantedigital.com/l/tag/Arqueologia/3

terça-feira, 7 de novembro de 2017

Fé na Bíblia ou fé cega no Magistério?


A Igreja Católica Romana está dividida entre o Magistério, constituído pelo clero, principalmente o Papa e os bispos em comunhão com ele, e os Leigos que são os crentes comuns. Os Leigos estão obrigados a acreditar no que o Magistério ensina, porque o Magistério é considerado a voz autorizada da verdade. Esta situação cria uma bizarria epistemológica na relação entre Leigos e Magistério, uma vez que o leigo vê os ensinos do Magistério como leis a ser obedecidas juridicamente.

Em questões do âmbito da «verdade» isto redunda no absurdo de para um leigo a verdade ser estabelecida «por decreto» do Magistério. Os Leigos estão como num estado niilista. A única forma de chegarem ao conhecimento de uma verdade de fé e moral é através do ensino do Magistério.

No caso particular da Bíblia é comum os leigos católicos, mais aqueles doutrinados pelos sites de apologética católica, dizerem que acreditam na Bíblia porque a “Igreja”, leia-se Magistério Romano, manda acreditar na Bíblia, ou que acreditam na inspiração da Bíblia porque o Magistério diz que os livros da Bíblia são inspirados, só e apenas por isto. Na cosmovisão de um leigo não há outra forma de dar crédito à Bíblia ou de saber que a Bíblia é inspirada por Deus a não ser «por decreto» do Magistério. Ou seja, a confiabilidade e a inspiração da Bíblia é estabelecida «por decreto», não interessa se o Magistério tem bons ou maus argumentos, aliás, está fora do alcance do leigo ajuizar se os argumentos do Magistério são bons ou maus.  

Por exemplo, este católico, com quem tive um breve diálogo, além de se ter suicidado epistemologicamente à segunda mensagem, nem sabe que o fundamento do seu Magistério para ensinar que os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, é porque os considera inspirados por Deus. Para ele, os livros da Bíblia são sagrados e canónicos, porque simplesmente o Magistério diz que são. E, na verdade, para o leigo católico o fundamento que o Magistério possa ter para ensinar uma doutrina é irrelevante. O que conta é o «ditame» do Magistério. Não é por acaso que acreditam em coisas tão infundadas como a imaculada conceição, a transubstanciação, ou a infalibilidade papal.  

Estamos, portanto, perante uma situação epistemologicamente bizarra que conduz a uma equivocada visão do que é a Bíblia por parte do leigo.

A Bíblia não é um documento legal emitido por uma autoridade eclesiástica, que confere «por decreto» autoridade àqueles determinados livros que doutra forma não a teriam, e a que se tem que obedecer por força de lei.

A Bíblia são relatos históricos, ensinamentos e testemunhos de vários autores transmitidos ao longo de gerações que nós recebemos e aos quais podemos dar crédito ou não - sim, podemos, a razão e os sentidos ajudam-nos a discernir a verdade e a dar passos de fé plausíveis, o niilismo filosófico não é cristão. Uma vez dado crédito ao conteúdo da Bíblia, segue-se logicamente que temos de considerá-la como inspirada por Deus, porque ela mesma reclama ser de origem divina. A seguir, a experiência pessoal e o testemunho do Espírito Santo no crente também lhe confirmam a sua inspiração divina.

Na vida real podemos observar que quando uma pessoa recebe uma Bíblia, ela vai considerá-la autorizada ou não, na medida em que achar o seu conteúdo confiável, e segundo o que ela vai experimentar através dela na sua vida, e não porque um grupo qualquer no passado, que ela nem conhece, «decretou» que a Bíblia tem autoridade e é inspirada por Deus. Seria realmente absurdo que tal pessoa acreditasse que a Bíblia tem autoridade e é inspirada por Deus só e por este motivo. Implicaria acreditar que a verdade se estabelece «por decreto».

Portanto, para o crente na Bíblia, ela tem uma autoridade intrínseca que vem do seu autor e não depende de sanção humana em geral nem eclesiástica em particular.

Em suma, a autoridade da Bíblia é independente da autoridade da Igreja. Ser verdadeira é a única condição necessária e suficiente para a Bíblia ter autoridade. É a verdade que é autoritativa e obriga.

Os cristãos confessam a Bíblia, exercem fé nela e proclamam a sua verdade, não obedecem ex nihilo a um magistério eclesiástico autocrático.

domingo, 5 de novembro de 2017

LUTERO E A CIÊNCIA


Os seguintes extratos são do artigo intitulado "Lutero e a Ciência" de Donald Kobe, professor de física na Universidade do Texas:

Sem a Reforma, a ciência moderna se teria provavelmente desenvolvido mesmo assim por causa do ethos da racionalidade e da doutrina da criação que conduz a ela. A Reforma, porém, acelerou o desenvolvimento pela sua crítica do escolasticismo e pela sua ênfase na observação direta da natureza. Lutero foi chamado o Copérnico da teologia enquanto, por outro lado, Copérnico foi chamado o Lutero da astronomia... Na filosofia natural ou ciência, as perguntas acerca da natureza já não se respondiam primariamente mediante citações de Aristóteles e dos escolásticos, mas atentando para a observação e para a experimentação na própria natureza. Similarmente, depois da Reforma, os protestantes já não respondiam perguntas de teologia primariamente através da citação de filósofos e teólogos escolásticos, mas voltando-se diretamente para a Bíblia. Lutero interpretou a Escritura perguntando: Qual é o significado claro e direto do texto? Os cientistas interpretam a natureza da forma mais simples possível usando o mínimo número de hipóteses.

Lutero acreditava que o mundo estava no começo de uma nova era, a qual traria não somente uma reforma na religião mas também um novo apreço pela natureza. Nas suas informais “Conversas à Mesa” disse:

«Estamos no amanhecer de uma nova era, pois estamos começando a recuperar o conhecimento do mundo externo que foi perdido pela queda de Adão. Agora observamos apropriadamente as criaturas... Mas pela graça de Deus já reconhecemos na mais delicada flor as maravilhas da divina bondade e omnipotência [paráfrase de Romanos 1:20]».

Lutero estava aberto aos autênticos avanços científicos da sua época. Apreciava as invenções mecânicas do seu tempo.

Aceitou o uso de medicamentos para tratar as doenças ... A alguém que disse que não é permissível para um cristão usar medicamentos, Lutero lhe replicou retoricamente, “Você come quando está esfomeado?” Segundo Andrew White, esta atitude de Lutero fez que as cidades protestantes da Alemanha estivessem mais dispostas do que outras a admitir a investigação e dissecção anatómica.

Lutero aceitou a astronomia como ciência, mas rejeitou a astrologia como uma superstição pois não pode ser confirmada por uma demonstração... por exemplo, Lutero estava disposto a aceitar a conclusão dos astrónomos de que a lua é o mais pequeno e baixo dos “astros”. Interpretava a Escritura que chamava o sol e a lua “grandes luminárias” como acomodada à aparência dos fenómenos.
...
Em conclusão, a influência luterana sobre o desenvolvimento da ciência foi geralmente positiva. Lutero, e também Calvino, rejeitaram a ideia de que as vocações religiosas são superiores às seculares. Os homens e as mulheres devem servir a Deus realizando um trabalho honesto e útil com diligência e integridade. O trabalho científico revela a obra de Deus num universo que é tanto racional como ordenado. Também proporciona resultados que podem ser usados para o benefício da humanidade.
...
Lutero não estava primariamente interessado na ciência. Mas a Reforma criou um clima de abertura e aceitação de novas ideias, que em geral alentaram o desenvolvimento científico. Depois do julgamento de Galileu em 1633, as áreas protestantes da Europa dominaram os descobrimentos científicos [Owen Gingerich, "The Galileo Affair", Scientific American 247 (August 1982): 132-143].

http://www.leaderu.com/science/kobe.html
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