Os homens da Reforma não
foram argutos políticos ou clarividentes revolucionários sociais ou apoiantes
da liberdade da cultura. Foram terrivelmente ingénuos e simples: acharam que
era preciso procurar primeiro o reino dos Céus e que tudo o resto seria acrescentado:
não hesitaram em crer uma coisa tão absurda, à vista humana pelo menos, que o
grão de mostarda do Evangelho pudesse crescer até se tornar árvore gigante e
abrigar debaixo da sua sombra pássaros de todo o género. Nós fomos, até agora
pelo menos, mais realistas, mais astutos, mais doutos: procuramos o reino desta
terra. A história nos demonstrou que a simples fé da Reforma era capaz de mover
montanhas seculares e abater muros mais firmes do que aqueles de Jericó: nos
demonstrou ao contrário que a nossa sabedoria serve apenas para levantar
frágeis casas expostas a ruir ao primeiro adensar da tempestade e ao primeiro
sopro de ventos adversos. Ainda hoje, a tanta distância de séculos, a mensagem
da Reforma é sinal de contradição ou de salvação: mensagem de escândalo ou de
loucura, como ela suou a primeira vez, na face dos poderes coligados do
pontificado romano, do império de Carlos V, da banca dos Fugger. Como há tantos
séculos, essa mensagem não nos chega do alto de um trono, nem nos vem imposta
com exércitos armados ou tesouros de financeiros. Vem-nos apenas da quebrada
voz de um humilde testemunho, desamparado e sozinho diante dos poderes deste
mundo, que nos repete: «Não posso fazer de outro modo. Que Deus me ajude».
*Giorgio Spini (1916
-2006) foi um dos mais importantes historiadores italianos do século XX.
Eu gosto muito de teu blog
ResponderEliminar❤❤❤Parabéns❤❤❤
Obrigado. Já estás a falar com sotaque português.
Eliminar☺❤
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