quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Gregório Magno: O Papa que condenou o primado


A Igreja de Roma alega que o primado papal pode ser validado pelos factos da história em que era a prática universal da igreja desde o início. Esta alegação é falsa; os factos da história contradizem-na. As atitudes e práticas dos Padres e concílios revelam que a igreja nunca viu os bispos de Roma como sendo dotados de autoridade suprema para governar a igreja universal. E nunca houve um governante humano supremo na igreja. 

Este conceito foi repudiado pelo Papa Gregório Magno (590-604), quando censurou o bispo de Constantinopla por tentar pretender para si o título de "bispo universal". Gregório insistiu que tal posição e título são ilegítimos na igreja de Jesus Cristo.

Em 587, Maurício, o imperador do Império Bizantino concedeu a João o Jejuador, Patriarca de Constantinopla, o título de "Patriarca Ecuménico", que foi mal interpretado e incompreendido pelos Romanos que o entenderam como "Patriarca Universal", pensando que significava "Patriarca Supremo" ou "Bispo Universal" de todas as igrejas.

O Papa Gregório Magno repudiou qualquer sugestão de que ele fosse um "bispo universal" e se opôs fortemente ao uso do mesmo título por João IV.

Gregório advertiu que o uso do título de "Bispo Universal", por parte de João, era um sinal de que o anticristo estava próximo! Referia-se a este versículo: "Ninguém de maneira alguma vos engane; porque [a segunda vinda] não virá sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se exalta acima de tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus" (2 Tess. 2:3-4).

O ponto mais importante aqui, é que, quando João IV, Patriarca de Constantinopla, começou a chamar-se "Bispo Universal", Gregório I, Patriarca de Roma, não disse: "Ei, esse título é meu, tu não tens direito de usá-lo", como se João estivesse a roubar o título e a autoridade de Gregório. Em vez disso, Gregório disse que nenhum homem devia considerar-se o "Bispo Universal", chamando-o sinal que o "anticristo" estava próximo.

William Webster comenta:

"... Gregório [Magno] atacou João por reivindicar para si o título de Bispo Universal de toda a Igreja, por Constantinopla ser a cidade capital do império atual. A sua cólera não era por causa das prerrogativas que supostamente pertenciam exclusivamente a Roma estarem a ser roubadas por um impostor, mas porque, de acordo com Gregório, esse título era uma inovação, uma expressão de orgulho diabólico que promovia a desunião e não devia ter lugar na Igreja. Gregório repudiou a ideia de que qualquer bispo pudesse ser o chefe supremo na Igreja, e explicitamente afirmou que todos os bispos eram iguais".

William Webster, The Church of Rome at the Bar of History (Carlisle, Pennsylvania: The Banner of Truth Trust, 1995), p.61.

O título dado por Maurício a João o Jejuador, não era um título que reivindicava primazia, embora tenha sido mal interpretado como se reivindicasse, e quisesse dizer: "Eu estou acima de todos os bispos", a que Gregório respondia: "nós somos iguais".

O título de "Bispo Universal", que papas posteriores vieram a adotar, foi por Gregório Magno, chamado de tolo, orgulhoso, blasfemo, profano, ímpio, uma usurpação diabólica; a ambição de alguém que supunha ser como a de Satanás, e a sua assunção um sinal da aproximação do rei do orgulho, ou seja, do Anticristo. Os seus argumentos são extremamente fortes para impedir que ele mesmo e outros assumissem tal título ou autoridade.

Gregório estava determinado, e escreveu várias cartas protestando contra a concessão do título de “Pastor Universal” tanto a si como a qualquer outro prelado. Por exemplo, escreveu ao imperador Maurício para que proibisse ao patriarca de Constantinopla a adoção deste título: “Uma vez que não é a minha causa, mas a de Deus, uma vez que as leis piedosas, uma vez que os veneráveis sínodos, uma vez que os próprios mandamentos de nosso Senhor Jesus Cristo são transtornados pela invenção de uma certa orgulhosa e pomposa expressão que seja o piedosíssimo senhor a cortar o lugar da chaga... Mas longe dos corações cristãos esteja esse nome blasfemo, por meio do qual é tirada a honra de todos os sacerdotes, no momento em que é loucamente arrogado para si por um (só).” [Epístola XX a Maurício César (NPNF 2 12:170-171)] 

No final pronunciou a dura frase... de que quem desejasse ser chamado bispo universal é precursor do anticristo. 

Henry Wace informa-nos:

"Nesta altura, ele (Gregório) parece ter ganho um apoiante, se não para o seu protesto, pelo menos para a suma dignidade da sua própria sé, em Eulógio de Alexandria, a quem ele tinha antes abordado sem resultado. Pois em resposta a uma carta desse patriarca, ele reconhece, com satisfação a dignidade atribuída por ele à Sé de São Pedro, e expressa habilmente uma visão curiosa do seu correspondente, bem como do patriarca de Antioquia, sendo um participante na mesma. "Quem não sabe", diz ele, "que a igreja foi construída e estabelecida sobre a firmeza do príncipe dos apóstolos, em cujo próprio nome está implícita uma rocha? Assim, embora houvesse vários apóstolos, há uma única Sé Apostólica, essa do príncipe dos apóstolos, que adquiriu grande autoridade; e essa sé está em três lugares, em Roma, onde ele morreu, em Alexandria, onde foi fundada pelo seu discípulo São Marcos, e em Antioquia, onde ele próprio viveu sete anos. Estes três, portanto, são uma única sé, e nessa única sé sentam-se três bispos, que são um n`Aquele que disse, Eu estou em meu Pai, e vós em Mim, e Eu em vós". Mas quando Eulógio numa segunda carta denominou o bispo de Roma papa universal, Gregório veementemente rejeitou tal título, dizendo: "Se você dá mais a mim do que me é devido, você rouba a si mesmo do que é devido a você. Nada pode redundar em minha honra o que redunda em desonra de meus irmãos. Se você me chama papa universal, você, desse modo, confessa não ser nenhum papa. Que nenhum desses títulos sejam mencionados ou ouvidos entre nós".

(Henry Wace, A Dictionary of Christian Biography, Gregorius, 51, I, p. 425)

O sacerdote Ortodoxo Nicholas R. Alford da St. Gregory the Great Orthodox Church afirma:

"ele (Gregório) rejeitou a noção de supremacia universal para qualquer bispo e repreendeu o Patriarca de Constantinopla por usar o título de "Patriarca Ecuménico", que tinha sido dado a ele pelo Imperador. Gregório escreveu diretamente ao Imperador para explicar por que era errado qualquer bispo pretender estar acima de todos os outros, dizendo que "todo aquele que se chama a si mesmo, ou deseja ser chamado, Bispo Universal, é na sua exaltação o precursor do Anticristo, porque orgulhosamente se coloca acima de todos os outros". Às vezes Gregório é citado fora do contexto sobre o papado, mas quando os seus escritos são tomados como um todo, ele claramente não acreditava na jurisdição universal, mas em todos os bispos sendo iguais dentro do seu próprio território". 

Em linha: http://www.stgregoryoc.org/about-us/who-was-st-gregory-the-great/

E outro sacerdote Ortodoxo, Gregorio Cognetti diz:

São João, o Jejuador, Patriarca de Constantinopla (festa: 02 de setembro) foi contemporâneo de São Gregório. São João era muito piedoso e ascético. Ele rezava longamente durante a noite, e, a fim de evitar ser vencido pelo sono, ele costumava espetar pregos na cera de uma vela: o barulho dos pregos a cair num prato de metal colocado debaixo da vela acordavam-no se ele adormecesse. Ao longo da sua vida S. João não era alguém que buscasse a glória humana. No entanto, no ano 587 o Imperador Maurício deu-lhe oficialmente o título de "Patriarca Ecuménico". Hoje, este título soa um pouco pomposo, mas não era esse o caso no século VI. Ecuménico vem da palavra grega oikoumene, que significa literalmente "o mundo habitado". Devido em parte à falta de conhecimento geográfico e, em parte, ao orgulho típico dos conquistadores, os romanos identificaram o "mundo habitado" com o Império Romano, e, portanto, nessa época, "ecuménico" não era nada mais do que um sinónimo de "imperial". Constantinopla era a cidade "ecuménica". O chefe bibliotecário de Constantinopla, por exemplo, era chamado de "bibliotecário Ecuménico". Mas isso apenas implicava que ele era o bibliotecário da cidade imperial, e não que ele tinha autoridade sobre todos os bibliotecários do império. "Patriarca Ecuménico", portanto, em grego, era entendido apenas como "o Patriarca da cidade Imperial": somente um sinónimo de Patriarca de Constantinopla. Na verdade, este título é atestado em uso esporádico muito antes.

Todo o problema começou quando o título foi comunicado ao Papa de Roma: foi traduzido para o Latim como Patricharcha Universalis, ou seja, "Patriarca Universal". O Papa Gregório reagiu porque pensou que João estava pretendendo a supremacia na Igreja. É claro que este não era o objetivo do Patriarca João. Alguns escritores católicos romanos afirmam que Gregório estava reivindicando a supremacia para si mesmo. Mas não estava. As cartas de São Gregório Magno estão disponíveis para quem quiser lê-las. Os leitores podem julgar por si mesmos. Comecemos com esta carta que dirigiu ao Patriarca João:

"Considera, peço-te, que nesta presunção imprudente a paz de toda a Igreja está perturbada, e que [o título de Patriarca Ecuménico] está em contradição com a graça que é derramada sobre todos em comum; em cuja graça, sem dúvida, tu mesmo terás poder de crescer na medida em que determinares contigo mesmo a fazê-lo. E tornar-te-ás tanto maior quanto impeças a ti mesmo a usurpação de um título orgulhoso e tolo: e avançarás na proporção em que não estiveres empenhado na arrogância pela derrogação de teus irmãos ...

"Certamente Pedro, o primeiro dos apóstolos, ele próprio um membro da Igreja santa e universal, Paulo, André, João - o que eram eles senão cabeças de comunidades particulares? E, no entanto todos eram membros debaixo de uma única Cabeça ... os prelados desta Sé Apostólica, que pela providência de Deus eu sirvo, tiveram a honra lhes oferecida de ser chamados universal pelo venerável Concílio de Calcedónia. Mas, ainda assim, nenhum deles jamais quis ser chamado por tal título, ou apoderou-se deste nome desaconselhável, para que, se em virtude do ranking do pontificado ele tomasse para si a glória da singularidade, não parecesse tê-la negado a todos os seus irmãos..." (Livro V, Epístola XVIII)

Não conhecemos a resposta de S. João o Jejuador. Provavelmente ele nem chegou a responder, porque morreu cerca de um ano depois da carta de São Gregório (o correio era muito lento naquela época, e um ano não era um tempo irrazoável para uma carta viajar de Roma até Constantinopla). Mas São Gregório continuou a expressar a sua opinião sobre o Episcopado Universal. Ele escreveu a Eulógio, bispo de Alexandria e Anastácio, bispo de Antioquia, em tais termos: "Este nome de Universalidade foi oferecido pelo Santo Sínodo de Calcedónia ao pontífice da sé apostólica, que pela providência de Deus eu sirvo. Mas nenhum dos meus antecessores jamais consentiu em usar um título tão profano, já que, em verdade, se um Patriarca é chamado Universal, o nome de Patriarca no caso dos restantes é revogado. Mas longe esteja da mente de um Cristão qualquer atitude que possa diminuir a honra de seus irmãos, por pouco que seja...." (Livro V: Epístola XLIII) 

Ao Imperador Maurício:

"Eu afirmo com confiança que todo aquele que se chama a si mesmo, ou deseja ser chamado, Bispo Universal, é na sua exaltação o precursor do Anticristo, porque orgulhosamente se coloca acima de todos os outros.” (Livro VII: Epístola XXXIII)

E de novo a Eulógio, Bispo de Alexandria:

"Vossa Bem-aventurança… se dirige a mim dizendo, «Como tu o ordenaste». Esta palavra, ordenar, lhe rogo que a afaste dos meus ouvidos, já que sei quem sou eu e quem sois vós.  Pois em posição sois meus irmãos, em caráter meus pais... e eis que no prefácio da epístola que me dirigiu a mim que me recuso a aceitá-lo, considerou apropriado fazer uso de um apelido orgulhoso, chamando-me Papa Universal. Mas rogo à sua dulcíssima Santidade que não volte a fazer tal coisa, já que o que é concedido a outro para lá do que a razão exige é subtraído de você mesmo ... Pois se Vossa Santidade me chama a mim Papa Universal, nega que seja você o que me chama a mim universalmente." (Livro VIII: Epístola XXX)

E, certamente, naquele tempo, alguém perguntou por que Deus permitia que uma coisa tão má acontecesse na Sua Igreja. A resposta hoje é clara. O Espírito Santo permitiu este mal-entendido, para que a oposição de um eminente Papa à autoridade papal ficasse bem documentada. Sem estas cartas não teríamos a evidência impressionante que, mesmo em Roma o direito de reclamar um primado não era reconhecido.

Todas as citações são de: A Selected Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church (1894), P. Schaff and H. Wace eds. Vol. 12. Eerdmans Publishing Co., Grand Rapids, Michigan. O destaque é do autor. Reimpresso com permissão de The Dawn, julho 1993.

Em linha: http://www.roca.org/OA/126-127/126e.htm

44 comentários:

  1. Seu texto é muito interessante, mas acho que você devia fazer uma pequena correção: Gregório não condenou o "primado", mas um tipo específico de primado. Por exemplo, ele não condenou o primado de honra que Roma gozava naquela época.

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    1. Não preciso de fazer nenhuma correção, porque não disse em momento algum que Gregório condenou algum primado de honra. Ainda que Gregório rejeitasse inclusive toda a honra exagerada que lhe fosse conferida a ele mesmo, para não diminuir a honra dos outros bispos.

      O primado de que se fala no texto é só e evidentemente o primado papal como bispo universal e como foi definido pelo Concílio Vaticano I, que Gregório Magno rejeitou.

      E naquela época, segundo o cânon 28 de Calcedónia, o bispo de Constantinopla também tinha um primado de honra e os mesmos privilégios que tinha o bispo de Roma, visto ser ele agora o bispo da capital do império.

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    2. De fato ele, Gregório Magno(Gregório Dialogista para o Ortodoxos), condenou a suposição de Supremacia e Jurisdição Universal de qualquer Bispo, ao mesmo tempo em que não a arrogou para si e para a sua Cátedra, o Trono Episcopal de Roma. Posteriormente a Igreja Roma que já acumulava funções civis em Roma(Prefeitura), passou a exercer o Poder Espiritual do Episcopado junto ao Poder Temporal enquanto Rei-Soberano do Estado Pontifício(Doação de Pepino), pedra de Tropeço da Igreja de Roma, e daí pra diante Roma cresceu em arrogância, terminando por reivindicar a Supremacia Papal em lugar da Primazia Papal(de Honra), como oque terminou por apartar-se das demais Igrejas irmãs partes da Igreja Católica, porém conservou o rótulo "Católica" por pura presunção.

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  2. Excelente artigo.

    Interessante, encontramos na citação de Gregório, que Pedro "morreu em Roma."

    O romanismo insiste que Pedro foi Papa neste lugar por vários anos.

    "em Roma, onde ele(Pedro) morreu, em Alexandria, onde foi fundada pelo seu discípulo São Marcos, e em Antioquia, onde ele próprio viveu sete anos."

    Excelente artigo.

    Deus seja louvado.

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  3. Já reparou que Gregório reconhece Alexandria e Antioquia igualmente como sés (sedes) de Pedro a par com a de Roma, de modo que os três lugares, por assim dizer, constituem apenas um única sé com igual autoridade?

    Que o fato de Gregório ser sucessor de Pedro na Igreja de Roma não lhe conferia nenhuma autoridade superior?

    E que, portanto, não há um bispo a reinar sobre todos os outros com base em prerrogativas transferidas diretamente do apóstolo Pedro para ele, através de uma sucessão apostólica ininterrupta, mas sim um trio de bispos que, sentando-se todos na sé de Pedro, têm todos uma mesma autoridade?

    O que demonstra claramente que não existia algum papado naquela época.

    A Reforma Protestante, do Século XVI, não foi a invenção de uma nova religião, mas a REJEIÇÃO definitiva na Europa Ocidental de uma nova religião – o Papado!

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    1. O papado é uma ideia forjada na pessoa do humilde Apóstolo Pedro, que nunca, nem Ele e nem os demais, publicaram ou praticaram essa ideia.
      Não encontramos o papado na era Apostólica, essa mentalidade não fazia parte da Igreja nascente, ela é tardia a era Apostólica, só os desavisados, para caírem no engodo desse.

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  4. Ótimo texto. Você consegue identificar qual encíclica ou concílio impôs a supremacia do bispo de Roma -- como sucessor de Pedro -- como dogma absoluto nas igrejas?

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  5. As pretensões de primazia dos bispos de Roma são muito antigas, já vêm pelo menos desde Leão Magno no século V, mas os papas nunca a conseguiram impor à igreja universal.

    Depois do Cisma entre oriente e ocidente, os papas a conseguiram impor no Ocidente a muito custo e começaram a tratar abertamente e a teorizar esta sua primazia (Veja-se a Dictatus Papae de Gregório VII em 1075).

    Mas a definição oficial da natureza do primado do papa nunca foi feita até ao Concílio Vaticano I no século XIX.

    Mesmo dentro da própria Igreja de Roma houve uma tensão ao longo do tempo sobre a natureza da primazia papal.

    Por exemplo, o Concílio de Constança (1414-1418) realizado para tentar acabar com o grande cisma (1378-1417), quando a Igreja latina se dividiu em lealdades a dois, e durante algum tempo a três, papas distintos, afirmou que a autoridade suprema eclesiástica estava no concílio ecuménico independentemente do papa, e que o concílio era superior a ele.

    Constança, em concreto, considera o seu poder como derivado diretamente de Deus, e não por mediação do papa.

    E, por conseguinte, acabou com o cisma depondo três papas rivais e elegendo outro papa no lugar deles.

    No entanto, esta teoria «conciliarista» foi derrotada dentro da Igreja de Roma e a definição dogmática da natureza do primado papal fez-se finalmente no Concílio Vaticano I (18 de Julho de 1870) na Constituição Dogmática I sobre a Igreja de Cristo, no capítulo 3 intitulado "Da natureza e razão do primado do Romano Pontífice".

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  6. Note-se que as pretensões de primazia dos papas, no seu auge, não eram somente sobre a Igreja Universal, mas também sobre o poder temporal. A Igreja de Roma foi obrigada pelas circunstâncias a renunciar ao poder temporal, mas ainda mantém as suas pretensões desmedidas de poder espiritual.

    Gregório VII no seu Dictatus Papae, amparado nas Falsas decretais Pseudo-Isidorianas, onde se diz que o Imperador Constantino tinha dado todo o império do Ocidente ao bispo de Roma, afirma, nada mais nada menos, que só o papa tem direito a usar as Insígnias Imperiais (auto-convertendo-se em Imperador) e que todos os príncipes têm a obrigação de beijar-lhe os pés.

    O seu colega Inocêncio III afirmou: Que era soberano não somente da Igreja mas também do Mundo; aliás não se conformou apenas com todo o Mundo, visto que continuou afirmando: "todas as coisas na terra, no céu e no inferno estão sujeitas ao Vigário de Cristo".

    Tudo isto culminou com outro papa que queria ainda mais: Pio IX que a tudo isso acrescentou a infalibilidade.

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  7. Portanto, senhor Anônimo, São Gregório Magno explica que, oito anos antes, nos tempos do Papa Pelágio, o bispo João de Constantinopla convocou um sínodo no qual tentou se proclamar "Bispo Universal". E que Pelágio, quando soube deste fato, enviou cartas anulando os atos do referido sínodo. Como poderia Pelágio anular qualquer coisa que fosse se Roma não tivesse poder sobre as demais, se Roma fosse igual as demais sedes? E o que afirma São Gregório Magno? Que Pelágio anulou este sínodo espúrio justamente pela AUTORIDADE DO SANTO APÓSTOLO PEDRO. Certo ou errado, senhor Anônimo? É isso o que diz São Gregório Magno ou não é?

    Depois ele afirma que Pelágio adotou medidas referentes a disciplina eclesiástica de João, o que é próprio de um superior, não é mesmo? Continua dizendo que também ele, Gregório, tem o mesmo pensamento de seu predecessor e que espera resolver tudo de forma tranquila, mas que caso isso não seja possível medidas mais severas deverão ser adotadas.

    Pergunto-lhe: mas que medidas mais contundentes são estas que Magno diz que poderá adotar? Mas Roma não é igual as demais sedes? Como então Gregório afirma que poderia adotar medidas mais severas?

    Finalizando o trecho que coloco, o glorioso Papa São Gregório Magno vai então citar Concílio de Calcedônia, reafirmando a doutrina deste, dizendo que "este nome da universalidade foi oferecido pelo Santo Sínodo de Calcedônia ao Pontífice da Sé Apostólica, que pela providência de Deus eu sirvo”.

    Ou seja, São Gregório Magno faz exatamente aquilo que você diz que ele não faz: afirma a doutrina da universalidade do papado, assumindo a doutrina do Concílio de Calcedônia, afirmando que ninguém pode desejar por si mesmo receber este título, pois que nem os apóstolos o quiseram por si mesmos, embora lhes fosse concedido.

    E o Concílio de Calcedônia ensinou o seguinte sobre o papado, desmentindo também outras afirmações suas a respeito do tema:

    “Está é a fé dos Padres! Está é a fé dos apóstolos! Devemos crê-la! Seja anátema quem não crê! Pedro nos fala por meio de Leão... está é a verdadeira fé!” (Concilio de Calcedônia, Atas do Concilio, Sessão 2.)

    “Por que o Santíssimo e bem aventurado Leão, Arcebispo da grande e Antiga Roma,através de nós, e através deste presente Sacrossanto Sínodo, junto com o três vezes bem aventurado e glorioso Pedro, o Apóstolo que é a Rocha e fundação da Igreja Católica, e a fundação da fé ortodoxa... ” (Concilio de Calcedônia, Atas do Concilio, Sessão 3.)

    Depois iremos ver ainda outras afirmações de São Gregório afirmando exatamente isso: que Pedro é a rocha da Igreja, o príncipe dos apóstolos, e que recebeu de Cristo as chaves para governar os fiéis, ligando-os e desligando-os....

    Sandro Pelegrineti de Pontes

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  8. [Sandro] Portanto, senhor Anônimo, São Gregório Magno explica que, oito anos antes, nos tempos do Papa Pelágio, o bispo João de Constantinopla convocou um sínodo no qual tentou se proclamar "Bispo Universal". E que Pelágio, quando soube deste fato, enviou cartas anulando os atos do referido sínodo. Como poderia Pelágio anular qualquer coisa que fosse se Roma não tivesse poder sobre as demais, se Roma fosse igual as demais sedes? E o que afirma São Gregório Magno? Que Pelágio anulou este sínodo espúrio justamente pela AUTORIDADE DO SANTO APÓSTOLO PEDRO. Certo ou errado, senhor Anônimo? É isso o que diz São Gregório Magno ou não é?

    [Resposta] Errado, não, não é. Em primeiro lugar, Pelágio, embora o quisesse, não conseguiu com todo o seu poder de papa anular os atos do sínodo de Constantinopla. Foi neste sínodo de Constantinopla em 588 que foi concedido o título de “ecuménico” ou “bispo universal” ao patriarca de Constantinopla João IV o Jejuador. Mas João IV só começou a usá-lo no ano 595 já no tempo de Gregório Magno.

    A propósito, neste sínodo de Constantinopla foi rejeitado o decreto do imperador Romano Justiniano I de 533, que proclamava o bispo de Roma cabeça suprema de todas as igrejas. Em resposta o Papa Pelágio II imediatamente protesta o sínodo de 588.

    [Sandro] Depois ele afirma que Pelágio adotou medidas referentes a disciplina eclesiástica de João, o que é próprio de um superior, não é mesmo? Continua dizendo que também ele, Gregório, tem o mesmo pensamento de seu predecessor e que espera resolver tudo de forma tranquila, mas que caso isso não seja possível medidas mais severas deverão ser adotadas.

    Pergunto-lhe: mas que medidas mais contundentes são estas que Magno diz que poderá adotar? Mas Roma não é igual as demais sedes? Como então Gregório afirma que poderia adotar medidas mais severas?

    [Resposta] Gregório tentou convencer o patriarca de Constantinopla, o Imperador e a Imperatriz, mas mais uma vez com todo o seu poder de papa não conseguiu demover os bizantinos do uso do título que ele condenava. Foi então após o fracasso das suas diligências em Constantinopla, que irritado radicalizou a sua linguagem e qualificou o título de bispo universal com todos aqueles nomes pejorativos. Virou-se então para os outros patriarcas do Oriente, Eulógio de Alexandria, e Anastásio de Antioquia. No entanto, também não os convenceu a agir, porque estes patriarcas perceberam que o título era apenas um título honorífico, adequado para o patriarca da cidade imperial; a controvérsia continuou após a morte do patriarca João IV, sem que Gregório com toda a sua autoridade pudesse impor a sua vontade aos orientais.

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  9. (Continua)

    [Sandro] Finalizando o trecho que coloco, o glorioso Papa São Gregório Magno vai então citar Concílio de Calcedônia, reafirmando a doutrina deste, dizendo que "este nome da universalidade foi oferecido pelo Santo Sínodo de Calcedônia ao Pontífice da Sé Apostólica, que pela providência de Deus eu sirvo”.

    Ou seja, São Gregório Magno faz exatamente aquilo que você diz que ele não faz: afirma a doutrina da universalidade do papado, assumindo a doutrina do Concílio de Calcedônia, afirmando que ninguém pode desejar por si mesmo receber este título, pois que nem os apóstolos o quiseram por si mesmos, embora lhes fosse concedido.

    [Resposta] Em primeiro lugar, não há nenhuma evidência de que o concílio de Calcedónia tenha oferecido esse título ao bispo de Roma. Provavelmente Gregório estava equivocado.

    Em segundo lugar, ele usou esse mesmo argumento diante dos orientais sem os ter impressionado.

    Em terceiro lugar, Gregório através desse argumento não afirma nenhuma doutrina de universalidade do papado. Simplesmente diz que se alguém podia usar o título de bispo universal era ele, uma vez que tinha sido oferecido aos bispos de Roma por um concílio ecuménico. Mas nenhum bispo de Roma o tinha usado por o considerarem inadequado. E este título que ele recusa é apenas honorífico, não significa nenhum poder de jurisdição universal.

    Se contextualizasse e interpretasse as coisas à luz de tudo o que Gregório Magno escreveu, e não fizesse viagens seletivas aos seus escritos ia entender isso facilmente.

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  10. (Continua]

    [Sandro] E o Concílio de Calcedônia ensinou o seguinte sobre o papado, desmentindo também outras afirmações suas a respeito do tema:

    “Está é a fé dos Padres! Está é a fé dos apóstolos! Devemos crê-la! Seja anátema quem não crê! Pedro nos fala por meio de Leão... está é a verdadeira fé!” (Concilio de Calcedônia, Atas do Concilio, Sessão 2.)

    “Por que o Santíssimo e bem aventurado Leão, Arcebispo da grande e Antiga Roma, através de nós, e através deste presente Sacrossanto Sínodo, junto com o três vezes bem aventurado e glorioso Pedro, o Apóstolo que é a Rocha e fundação da Igreja Católica, e a fundação da fé ortodoxa... ” (Concilio de Calcedônia, Atas do Concilio, Sessão 3.)

    Depois iremos ver ainda outras afirmações de São Gregório afirmando exatamente isso: que Pedro é a rocha da Igreja, o príncipe dos apóstolos, e que recebeu de Cristo as chaves para governar os fiéis, ligando-os e desligando-os....

    [Resposta] Agora dá um passo atrás até ao concílio de Calcedónia … parece-me bem.

    A única coisa que o Concílio de Calcedónia ensinou sobre o papado, foi que tal coisa era inexistente no século V, e que as pretensões e alegações dos bispos de Roma são espúrias.

    O bispo de Roma foi o indiscutível campeão da ortodoxia no Concílio de Calcedónia, coisa que não tinha ocorrido nos anteriores concílios gerais. Sem dúvida, Leão representou adequadamente a posição ortodoxa em Calcedónia. Dito isto, passo a fazer notar que a declaração que triunfalmente cita com a referência «(Concilio de Calcedônia, Atas do Concilio, Sessão 3)»
    não foi sancionada pelos bispos de Calcedónia. Aquilo que transcreve é parte do discurso lido PELOS LEGADOS DE ROMA, que seguindo as instruções de Leão não davam ponto sem nó no seu desejo por fazer avançar o poder papal. Não é parte das decisões do concílio.

    Três dados que indicam que as pretensões de supremacia de Leão estavam longe de ser aceites em Calcedónia foram, em primeiro lugar, que os ensinamentos de Leão não tiveram força de lei até o Concílio os ter ratificado e sancionado. Segundo, que contra a sua vontade, o Concílio reuniu-se no Oriente e não em Itália como Leão queria. Terceiro, o famoso cânon 28, contra o qual Leão protestou tão violenta como infrutuosamente:

    “Nós, seguindo em tudo os decretos dos santos padres, e tomando em consideração o cânon dos 150 bispos [Cânon 3 de Constantinopla] ... decretamos e votamos as mesmas prerrogativas quanto à santíssima Igreja de Constantinopla, a nova Roma, por ser a cidade imperial; e os 150 bispos, ... levados pelas mesmas considerações, concederam igual autoridade ao santíssimo trono da nova Roma, julgando com razão que a cidade honrada com o governo e o senado, deve gozar de igual privilégio ao da antiga cidade rainha, Roma...”

    De nada valeu o apelo de Roma contra esta decisão, quando por critérios romanos seria precisamente o bispo de Roma quem teria a palavra final, com assentimento do concílio ou sem ele. Mas isso não era assim no século V.

    Mais sobre o cânon 28 de Calcedónia:

    http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2010/11/o-canon-28-de-calcedonia.html

    Nota final: Sei que é típico dos defensores do papado, mas exijo-lhe que não nos volte a tentar enganar com citações fraudulentas dos concílios.

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  11. Senhor Anônimo, salve Maria, a mãe do meu Senhor (São Lucas 1, 43).

    A sua resposta não é para ser levada a sério, e o senhor sabe disso! Você acha mesmo que me respondeu? Ora, a questão não é se os ortodoxos aceitaram ou não o papado (é claro que eles aceitaram, e isso podemos debater em um segundo momento), MAS A QUESTÃO É SE GREGÓRIO AGIA COMO PAPA, se ele agia ou não como chefe e superior aos demais, se ele tratava os outros bispos como iguais ou não. Foi isso que você negou neste seu trabalho. Veja suas próprias palavras:

    "(...) As atitudes e práticas dos Padres e concílios revelam QUE A IGREJA NUNCA VIU OS BISPOS DE ROMA COMO SENDO DOTADOS DE AUTORIDADE SUPREMA PARA GOVERNAR A IGREJA UNIVERSAL. E nunca houve um governante humano supremo na igreja. ESTE CONCEITO FOI REPUDIADO PELO PAPA GREGÓRIO MAGNO (590-604), quando censurou o bispo de Constantinopla por tentar pretender para si o título de "bispo universal". ELE INSISTIU QUE TAL POSIÇÃO e título são ilegítimos na igreja de Jesus Cristo”.

    Bom, veja como você não conseguiu refutar aquilo que eu lhe coloquei objetivamente. E o que eu lhe coloquei objetivamente? Que Gregório se portava como superior dos demais bispos. E após ler as palavras de Gregório que lhe enviei, você já mudou o foco: passou a insistir que os orientais não aceitaram o que Gregório lhes impunha! Veja suas próprias palavras:

    “(...) Em primeiro lugar, não há nenhuma evidência de que o concílio de Calcedónia tenha oferecido esse título ao bispo de Roma. PROVAVELMENTE GREGÓRIO ESTAVA EQUIVOCADO”.

    Senhor Anônimo, é para rir isso que você colocou, não é mesmo? Gregório que estava lá na época dos fatos se equivocou, e você que está aqui 1500 anos depois não se equivoca? Ele não conhecia o Concílio? E outra coisa: ele se equivocaria a citar o Concílio a outros homens de renome dentro da Igreja? Ah, tenha dó, para de se enganar...e você:

    “(...) Em segundo lugar, ele usou esse mesmo argumento diante dos orientais sem os ter impressionado (sic). Em terceiro lugar, Gregório através desse argumento não afirma nenhuma doutrina de universalidade do papado. SIMPLESMENTE DIZ QUE SE ALGUÉM PODIA USAR O TÍTULO DE BISPO UNIVERSAL ERA ELE, uma vez que tinha sido oferecido aos bispos de Roma por um concílio ecuménico”.

    Nossa, você está realmente confuso, pois lá atrás você afirmou justamente o contrário: que ao condenar João o papa Gregório estaria dizendo que ninguém poderia usar este título, NEM JOÃO E NEM ELE PRÓPRIO.

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    1. Nas atas do Concílio de Calcedónia em lado nenhum aparece que tal concílio ofereceu o título de bispo universal aos bispos de Roma. Daí que Gregório devia estar equivocado.

      E este Concílio realizou-se dois séculos e meio antes de Gregório ser bispo de Roma - Gregório não estava lá na época dos fatos.

      Depois de tentar enganar com uma citação dos legados romanos como se fosse uma declaração sancionada pelos bispos conciliares de Calcedónia, agora cita-me de forma truncada. O que eu disse foi:

      "Simplesmente diz que se alguém podia usar o título de bispo universal era ele, uma vez que tinha sido oferecido aos bispos de Roma por um concílio ecuménico. Mas nenhum bispo de Roma o tinha usado por o considerarem inadequado. E este título que ele recusa é apenas honorífico, não significa nenhum poder de jurisdição universal."

      Quem está confuso ou quer confundir os outros é você.

      Apesar do título, segundo Gregório, ter sido oferecido aos bispos de Roma, ele achava que tal título não se adequava a nenhum bispo e portanto nenhum bispo o poderia usar.

      Quem não o leva mais a sério sou eu :)

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  12. Veja suas palavras:

    “(...) O título de ‘Bispo Universal’, que papas posteriores vieram a adotar, FOI POR GREGÓRIO MAGNO, chamado de tolo, orgulhoso, blasfemo, profano, ímpio, uma usurpação diabólica; a ambição de alguém que supunha ser como a de Satanás, e a sua assunção um sinal da aproximação do rei do orgulho, ou seja, do Anticristo. OS SEUS ARGUMENTOS SÃO EXTREMAMENTE FORTES PARA IMPEDIR QUE ELE MESMO E OUTROS ASSUMISSEM TAL TÍTULO OU AUTORIDADE. Gregório estava determinado, e escreveu várias cartas protestando contra a concessão do título de ‘Pastor Universal’ TANTO A SI COMO A QUALQUER OUTRO PRELADO”.

    E então, responda-me, senhor Anônimo: ele concedeu o titulo a si mesmo, como você admitiu neste domingo, 17 de agosto, ao afirmar que Gregório disse que “se alguém podia usar o título de bispo universal ERA ELE”, ou Gregório não aceitou este título “diabólico”, como você escreveu em seu trabalho publicado no dia 07 de agosto?

    Enfim, só esta carta que lhe coloquei prova que Gregório não apenas agia como papa como igualmente reconhecia que o título de Bispo Universal deveria ser aplicado aos bispos de Roma, porque este título foi dado pelo Concílio de Calcedônia, que você deforma, afirmando que Gregório se equivocou, mas que, é claro, que você não se equivoca.
    Não me interessa, em um primeiro momento, se os ortodoxos rejeitaram o papado, porque não é este o escopo de seu texto. O que me interessa provar, e isso eu o fiz, é que Gregório AGIA COMO PAPA e que ACEITAVA O TÍTULO DE BISPO UNIVERSAL, algo que você afirmou ser mais uma mentira dos malvados romanistas...

    Então, onde está o erro? Claro que o erro está com os protestantes, que leem e não entendem. O erro está em você não entender que Gregório condenou o uso da expressão “Bispo Universal” no sentido em que João queria usa-lo, e depois podemos falar sobre isso.

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    1. Não, ele não concedeu o título a si mesmo, precisamente por o considerar "diabólico".

      E não reconhecia que o título de Bispo Universal deveria ser aplicado aos bispos de Roma, caso contrário não tinha dito que quem usasse tal título era o precursor do anticristo. :)

      Hello, está aí alguém?

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  13. Naquela época o título de papa não era exclusivo do bispo de Roma, nem significava primazia jurisdicional e doutrinal sobre a Igreja universal. Daí que é normal que Gregório se afirme como papa :).

    Agindo como Papa? Onde? Ele na sua argumentação apenas apela para argumentos morais e decisões conciliares. Em momento algum invoca algum privilégio petrino de jurisdição universal, ou que tem a palavra final em virtude da sua autoridade superior como sucessor de Pedro, e portanto todos deviam se submeter a ele.

    Afirma que Pedro era papa? Onde?

    Que Pedro era superior aos demais? Segundo a tradição dos padres gregos e latinos a Pedro era reconhecida uma primazia de honra entre os Doze apóstolos.

    Portanto, o bispo de Roma era superior aos demais? Onde diz isso? Ele bate-se pela igualdade de todos os bispos. É precisamente o contrário que está nas suas cartas.

    O que se reconhece no texto que cita é que:

    1) A pedra de Mateus 16:18 é Pedro pessoalmente, que a sede romana e os bispos romanos como sucessores de Pedro na Igreja de Roma, têm uma dignidade ímpar, por segundo a lenda em vigor na época, se acreditar que a Igreja de Roma tinha sido fundada por Pedro e que Pedro foi o primeiro bispo de tal Igreja.

    Gregório se comportava como um bispo da sede mais importante do Ocidente, mas sem se colocar acima dos demais bispos que ele qualifica como iguais.

    Nunca invoca a sua investidura como argumento para ser obedecido.

    O bispo de Alexandria também era chamado de Papa e nessa época de modo exclusivo no Oriente

    Então boa noite e bons sonhos.

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  14. [Sandro] Na sequência da carta anteriormente citada e novamente colocada Gregório conclui triunfalmente a sua linha de raciocínio nos seguintes termos:

    “(...) Wherefore though there are many apostles, yet with regard to THE PRINCIPALITY ITSELF THE SEE OF THE PRINCE OF THE APOSTLES ALONE HAS GROWN STRONG IN AUTHORITY, which in three places is the See of one.

    Portanto, Senhor Anônimo, embora existam muitos apóstolos, a sede principal é uma só, a romana, cuja autoridade é fortalecida com três pilares, que na mente dele deve ser a Bíblia, a Tradição e o Magistério.

    [Resposta] Hehehehe. Esta foi boa. Só mesmo na sua mente é que isso se verifica.

    Das palavras de Gregório não se seguem as suas conclusões.

    Essa passagem eu mesmo a traduzi e está no artigo publicado.

    A principalidade da sede de Pedro não significa direito de jurisdição universal sobre todas as Igrejas, mas antes uma dignidade especial em virtude de ter sido fundada pelo apóstolo Pedro, o príncipe dos apóstolos. Príncipe dos apóstolos significa que Pedro tinha um lugar de honra entre os doze apóstolos. Nada de primazia jurisdicional e doutrinal sobre a Igreja universal.

    Não deve ler os termos dos antigos com o significado que atualmente Roma atribui a esses mesmos termos, porque significam coisas diferentes.

    E a Sede de Pedro, segundo essa carta, é uma só mas não é a romana. O patriarca de Alexandria com o qual Gregório concorda considera que a sede de Pedro está em três lugares. Roma, Alexandria e Antioquia. E todas com uma mesma autoridade. Sem dúvida grande mas não suprema ou absoluta ou incondicional.

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  15. [Sandro] Finalizando, coloco ainda mais uma carta dele. Para acessá-la, favor clicar neste link:

    http://www.newadvent.org/fathers/360203030.htm

    Pois bem, Gregório abre a sua carta ao subdiácono João dizendo o seguinte:

    “(...) Inasmuch as it is manifest that the Apostolic See is, by the ordering of God, set over all Churches, (…)”.

    Ou seja, Gregório diz claramente que a Sé Apostólica Romana está, por ordem divina, estabelecida sobre todas as Igrejas, colocada sobre todas as igreja, posta sobre todas as igrejas, etc...

    [ Resposta] Mais uma citação fraudulenta. Quem clicar no link poderá ver que as Igrejas sobre as quais está estabelecida a sede Apostólica Romana, são somente as igrejas de Itália, sobre as quais já de longa data a Igreja de Roma tinha jurisdição e não as de todo o mundo.

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  16. [ Sandro] Finalizo com duas citações de teólogos protestantes, que não deixaram de reconhecer o óbvio, que é aquilo que você nega. Vejamos o que eles dizem sobre Gregório e o primado romano. Primeiro, o luterano Jaroslav Pelikan:
    “As igrejas da Grécia Oriental, também, juraram uma aliança especial a Roma (...) Uma Sé após outra capitulou nessa ou naquela controvérsia com a heresia. Constantinopla deu lugar a vários hereges durante o quarto e quinto séculos, destacadamente Nestório e Macedônio, e as outras Sés também ficaram conhecidas por se afastarem da fé verdadeira ocasionalmente. Mas Roma tinha posição especial. O BISPO DE ROMA TINHA O DIREITO POR SUA PRÓPRIA AUTORIDADE DE ANULAR OS ATOS DE UM SÍNODO. De fato, quando se falava de um concílio para sanar controvérsias, Gregório estabeleceu o princípio no qual “SEM A AUTORIDADE E O CONSENTIMENTO DA SÉ APOSTÓLICA, nenhum dos assuntos definidos [por um concílio] tem qualquer poder de obrigar” (The Emergence of the Catholic Tradition (100-600), Univ. of Chicago Press, 1971, 354; cita a Epístola 9.156 de Gregório).

    Fonte extraída deste blog que não existe mais:

    http://socrates58.blogspot.com.

    [ Resposta] Deve ser por isso que Gregório Magno aceitou o cânon 28 de Calcedónia, ainda que a contragosto. Porque o que ele gostava de vincar era o lugar de honra especial da sede romana, e isso o cânon de 28 punha em causa, porque igualava Roma a Constantinopla.

    Está consciente que Jaroslav Pelikan converteu-se à Igreja Ortodoxa?

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  17. [Sandro] E citamos também o anglicano J.N.D Kelly, que escreveu o seguinte sobre Gregório:

    "... FOI INCANSÁVEL NA DEFESA DO PRIMADO ROMANO, E CONSEGUIU MANTER COM SUCESSO A COMPETÊNCIA JURISDICIONAL DE ROMA, no oriente .... Gregório argumentou que a missão de São Pedro [por exemplo, em Mateus 16:18 f] fez todas as igrejas, incluindo Constantinopla, sujeitas a roma "(The Oxford Dictionary of Popes, página 67).

    Teriam estes dois protestantes como o senhor se enganado? Quem é, então, que nunca se engana?

    [Resposta] Não. Quem se enganou foi quem traduziu isto. Quem terá sido?

    O Primado Romano a que aqui J.N.D Kelly se refere que Gregório foi incansável em defender, é o primado de honra do bispo de Roma, e o que Gregório manteve com sucesso no Oriente foi “Rome's appellate jurisdiction.”, ou seja, o direito de Roma receber apelos de casos de disciplina eclesiástica julgados no oriente. Nem tinha sentido que fosse de outra forma, porque Roma nunca mandou nada no Oriente, conforme o próprio J.N.D Kelly diz noutro lugar:

    “Embora demonstrassem imensa deferência pela sé romana e dessem grande valor aos seus pronunciamentos, as igrejas orientais jamais trataram Roma como o centro constitucional e a cabeça da Igreja, muito menos como oráculo infalível em assuntos de fé e moral; por vezes não tinham o menor constrangimento de resistir à sua vontade expressa." (Doutrinas Centrais da Fé Cristã, p. 308 - J. N. D. Kelly)”

    Mais uma vez Constantinopla está sujeita a Roma no sentido que Roma é a primeira no ranking dos patriarcados e Constantinopla a segunda. Da mesma forma que a Igreja de Jerusalém estava sujeita a Constantinopla. Não é que Roma tivesse uma jurisdição imediata sobre Constantinopla, como é fácil de perceber pelos factos da história que falam mais alto que qualquer outra coisa.

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  18. Sandro Pelegrineti de Pontes

    Obs.: sobre o cânone 28 do Concílio de Calcedônia, lamento lhe informar, mas vai ser muito fácil refutar aquilo que você defende. Aliás, não lhe passa pela cabeça o motivo pelo qual este ensinamento tão anti-romanista estar justamente exposto no último cânone do Concílio? Não está nem no número 01, nem no 08, nem no 17, mas foi inserido justamente após o último cânone, após o 27, depois que todo mundo já tinha ido embora? Ah......

    [ Resposta] Eu lamento lhe informar que o concílio de Calcedónia, segundo NPNF2, tem 30 cânones e não 28, e que os únicos que não estavam presentes, por se terem querido retirar, aquando da aprovação do cânon 28 foram os legados de Roma. Todos os bispos conciliares sancionaram o cânon 28 apesar dos protestos dos legados romanos no dia a seguir, em que foram refutados em todas as acusações, insinuações e objeções - os legados romanos entre outras coisas invocaram o cânon 6 de Niceia segundo uma versão romana manifestamente adulterada - e o concílio terminou com esse cânon aprovado. O patriarca de Constantinopla exerceu a partir daí as prerrogativas lhe concedidas mesmo sem o assentimento de Leão.

    O que não me passa pela cabeça é continuar-lhe a dar corda. É que não acerta uma.

    Adeus

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  19. Senhor Anônimo, salve Maria.

    Calma lá com seu adeus, você não se verá livre de mim tão facilmente.

    Existem pessoas que estão procurando conhecer a verdade, e elas não são empedernidas como você, que já permitiu que o demônio tomasse conta da sua alma. São elas que estão lendo e que lerão os meus argumentos e os seus, e então poderão decidir.

    Sobre o cânone 28 do Concílio, posso ter me equivoca no acidental, que foi sobre o número exato de canônes, mas não errei no essencial: que tal ensinamento foi "aprovado" no apagar das luzes, aos 45 minutos do segundo tempo, etc...embora eu ainda creia que eram 28 cânones, de modo que se em outros locais constam 30 deva ser pela forma diferente de contar...

    É típico de protestantes agiram assim, pegar um equívoco insignificante, se é que houve, e comemorar como se fosse um título de copa do mundo....

    Sandro de Pontes

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    1. Hehehehe, muito bom.

      Você é humorista? kkkkkkk

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    2. "Existem pessoas que estão procurando conhecer a verdade, e elas não são empedernidas como você, que já permitiu que o demônio tomasse conta da sua alma. São elas que estão lendo e que lerão os meus argumentos e os seus, e então poderão decidir"

      Sandro deveria mandar currículo para o Stand Up Comedy, eu sinceramente senti vergonha alheia agora!

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    3. Sandro, suas palavras são apenas sonhos delirantes de onipotência, já que vive sob a égide da opressão demoníaca no ego fragilizado pela legião que te domina.

      Deus tenha piedade da sua alma!

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  20. Bem, depois do Sandro argumentar que o cânon 28 foi aprovado já no tempo de descontos e em fora de jogo, vejamos o que dizem os especialistas de arbitragem, que dizer, os historiadores e académicos sobre o papado.

    The papacy did not come into existence at the same time as the church. In the words of John Henry Newman, “While Apostles were on earth, there was the display neither of Bishop nor Pope.” Peter was not a bishop in Rome. There were no bishops in Rome for at least a hundred years after the death of Christ. The very term “pope” (papa, daddy) was not reserved for the bishop of Rome until the fifth century – before then it was used of any bishop (S. 89). ….

    Wills, Garry. Why I am a Catholic. Boston, Houghton, Mifflin and Company, 2002. p. 54


    The word "pope" was not used exclusively of the bishop of Rome until the ninth century, and it is likely that in the earliest Roman community a college of presbyters rather than a single bishop provided the leadership.”

    Joseph F. Kelly in his The Concise Dictionary of Early Christianity (The Liturgical Press, 1992), p. 2, notes


    “While Clement's position as a leading presbyter and spokesman of the Christian community at Rome is assured, his letter suggests that the monarchical episcopate had not yet emerged there, and it is therefore impossible to form any precise conception of his constitutional role (p. 8).

    Kelly, J N D. Oxford Dictionary of Popes. England, Oxford University Press, 1986. p. 8


    The new status of the apostolic see was reflected in the emergence of a new term, apparently first used by Clement I in 1047: papacy, papatus. Constructed on the analogy of bishopric, episcopatus, it expressed the idea that there existed a rank or order higher than that of bishop.

    Morris, Colin. The Papal Monarchy: The Western Church from 1050 to 1250. Oxford University Press, 1989, reprinted 2001.
    P. 107.


    The time when popes would seek to exercise any sort of general administrative supervision over Latin Christendom was still remote, but some important steps in that direction were to be taken in the pontificate of Gregory VII.” Morris, ibid. Pp. 107-108.


    “The study of the history of the Roman primacy has shown that Catholics must resign themselves to the fact that the New Testament does not support claims for Peter’s position of primacy, nor for succession to that position, nor for papal infallibility…Consequently, no historical foundation exists in the New Testament to justify the papal primacy. The concept of this primacy is, rather, a theological justification of a factual situation which had come about earlier and for other reasons.”

    Ohlig, Karl-Heinz. Why We Need the Pope: The Necessity and Limitations of Papal Primacy. Trans. Dr. Robert C. Ware. St. Meinrad, Indiana, USA. Abbey Press, 1975. Trans. of Braucht die Kirche einen Papst?. Germany, 1973. Pp. 91-92

    (Continua)

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  21. “Peter was a figure of central importance among the disciples of the Lord…Nevertheless, the terms primacy…and jurisdiction…are probably best avoided when describing Peter’s role in the New Testament. They are postbiblical, indeed, canonical, terms.”

    Richard P. McBrien, Crowley-O'Brien Professor of Theology, University of Notre Dame



    “A judicial superiority of one church over another, or certainly anything like papal primacy of jurisdiction, was completely foreign to Ignatius or Irenaeus [in the second century], or even Augustine [in the fourth]…In particular, all kinds of thinking in categories of hierarchical subordination or superiority will lead us astray”.

    Fr. Klaus Schatz, S.J. Papal Primacy. Tr. James Sievert. Liturgical Press, 1996).


    . A synod of bishops, 254, addressed an epistle to the Spanish churches, affirming the validity of the consecration of Sabinus and Felix. They ignore the papal decision, but exculpate Stephen on the ground of ignorance. It does not look as if either the church of Spain or the church of Africa took the Roman see as more than one among other influential sees; or held recourse to Rome to be of any more consequence than recourse to Carthage.

    Kidd, B. J. The Roman Primacy to A.D. 461. New York: The MacMillan Company, 1936. Pp. 29-30

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  22. Particularmente interessante a definição e origem do termo papado:

    "O novo status da Sé Apostólica refletiu-se no surgimento de um novo termo, aparentemente usado pela primeira vez por Clemente I em 1047: papado, papatus. Construído sobre a analogia do bispado, episcopatus, expressava a ideia que existia ali um nível ou ordem superior à de bispo."

    Morris, Colin. The Papal Monarchy: The Western Church from 1050 to 1250. Oxford University Press, 1989, reprinted 2001.

    Portanto, se quisermos identificar um período para o surgimento da moderna noção de papado ele está no início do segundo milénio.

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  23. Sandro,

    O papado é uma invenção modernista, ao início não era assim. :-)

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  24. Gregório nessa passagem está a falar exclusivamente do Apóstolo Pedro. Tudo isso é atribuído somente a Pedro pessoalmente.

    Gregório não diz que "O CUIDADO DE TODA A IGREJA FOI CONFIADO AO SANTO APÓSTOLO e PRÍNCIPE DE TODOS OS APÓSTOLOS, Pedro .... E AOS SEUS SUCESSORES NA FIGURA DOS BISPOS DE ROMA."

    A propósito, a interpretação das chaves com o significado de abrir ou fechar as portas da salvação por parte dos bispos e em particular do papa data do segundo milénio e é devido, claro está, a um bispo de Roma, Gregório VII (1073-1085).

    Isto está-se a tornar enfadonho...

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  25. Além disso, isso é parte da carta ao imperador Maurício que eu próprio traduzi aqui

    http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2010/10/mateus-1618-nos-padres-da-igreja.html

    E diz no seguimento da mesma:

    A ele se diz, «Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E eu te darei as chaves do reino do céu; e o que ligares na terra será também ligado no céu; e o que desligares na terra, será desligado também no céu».
    Eis que ele recebeu as chaves do reino celestial, e lhe é dado poder para ligar e desligar, lhe é confiado o cuidado e a principalidade de toda a Igreja, e AINDA ASSIM ELE NÃO É CHAMADO APÓSTOLO UNIVERSAL; enquanto o santíssimo homem, o meu companheiro sacerdote João, pretende ser chamado bispo universal. Estou forçado a gritar e dizer Oh tempos, oh costumes!

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  26. É um erro comum este cometido pelo Sandro! É igual a história da citação de que "Roma preside na caridade",ou seja,desta citação já se pode afirmar superioridade jurisdicional,mutatis mutandis,os elogios e os títulos honoríficos e o seu papel de liderança para eles já definem a estrutura básica do papado consecutiva e ininterrupta. Não basta demonstrar apenas que Pedro tinha uma primazia de honra e um papel de proeminência,pois nenhum teólogo protestante (sério) nega isto,mas deve se demonstrar a primazia jurisdicional consequentemente com a comprovação de sucessão interrupta até desbancar na pessoa do Senhor Bergoglio e deve-se demonstrar que isto EXISTIA na Igreja primitiva dos primeiros séculos à luz da literatura patrística.

    É Sr Sandro...não é o protestantismo que é uma "invenção tardia",pelo contrário somos um resgaste do evangelho vivo,mas é o papado que é uma invenção...

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  27. Parece que você está bastante confundido. E a razão é simples: Não distingue o Ministério Apostólico do Episcopal, nem o Apóstolo Pedro do Bispo de Roma.

    Nunca neguei nos últimos anos que Pedro, como um dos Doze Apóstolos de Jesus Cristo, tivesse o poder de governar todas as Igrejas. De fato, a Igreja de Cristo está edificada sobre o fundamento dos Apóstolos e dos profetas, sendo a pedra angular o próprio Jesus Cristo.

    Qualquer protestante pode subscrever as palavras de Gregório em relação ao Apóstolo Pedro, se admitir que Pedro tinha um primado entre os doze Apóstolos, questão que é, diga-se de passagem, bizantina, anacrónica, e totalmente irrelevante.

    O que se discute não é se Pedro tinha algum primado na Igreja primitiva, mas se os seus supostos sucessores, os bispos de Roma têm direito a exercer em exclusivo o primado jurisdicional e doutrinal na Igreja universal.

    Ora bem, Gregório neste texto fala do Apóstolo Pedro em particular para argumentar que, apesar de tudo o que lhe foi conferido no Evangelho, nem sequer ele tem o direito de se chamar universal.

    Ou seja, Gregório abominava o título em si, uma vez que o considerava impróprio de qualquer cristão, ATÉ DOS APÓSTOLOS. Isto, obviamente, o incluía a ele mesmo.

    O fato de Gregório dizer que a Pedro foi confiado o “CUIDADO DE TODA A IGREJA”, não implica que reconhecesse que Pedro tinha um primado de jurisdição exclusivo sobre toda a Igreja.

    De fato, a autoridade conferida aos Apóstolos em geral, e a Pedro de forma destacada e pessoal no Evangelho (o que deve matizar-se porque o contexto é a reabilitação de Pedro depois das três negações), permite-lhes cuidar de toda a Igreja, porque era superior à autoridade de qualquer bispo local.

    Mas é precisamente isto que os protestantes defendem. Que o cuidado de toda a Igreja cabe à autoridade apostólica que não está restrita a nenhuma congregação local, enquanto a do bispo sim. OS BISPOS SÃO POR DEFINIÇÃO AUTORIDADES DA IGREJA LOCAL, como claramente se vê em Atos 20 e também 1 Timóteo 3, etc.

    É por esta razão que não pode haver outro BISPO UNIVERSAL SENÃO O PRÓPRIO JESUS CRISTO, o Sumo Pastor, como o próprio Pedro deixa bem claro em 1 Pedro 5:1-4.

    Nós não temos nenhuma objeção a nos deixarmos governar por Pedro, que na verdade continua fazendo-o, através das suas epístolas. Muito diferente é reconhecer a autoridade de Pedro ao bispo de Roma que a usurpou.

    E para terminar vou-lhe dar uma novidade. Descobri por que razão Gregório diz que o Concílio de Calcedónia ofereceu o título de “universal” aos bispos romanos.

    Adivinhe quem está por detrás disso... O Grande Leão, que dois séculos antes falsificou um cânon do Concílio de Calcedónia, e enganou Gregório Magno!!!

    No século V, Leão Magno surripiou para si tal título, embora somente no Ocidente pois os orientais nunca o teriam admitido, falsificando um cânon de Calcedónia onde, como outros bispos de sedes importantes, era chamado "arcebispo ecuménico" (oikoumenikos archiepiskopos). Na sentença contra Dióscoro, patriarca de Alexandria partidário do monofisismo, dizia nas atas conciliares "Leão, santíssimo e beatíssimo ARCEBISPO DA GRANDE E ANTIGA ROMA". Em contrapartida, nas atas em latim enviadas pelo ambicioso bispo de Roma aos bispos da Gália (França) o título tinha mudado para "Leão, santo e beatíssimo Papa, CABEÇA DA IGREJA UNIVERSAL".

    É por esta e por outras, que o bispo de Roma não tem nenhuma autoridade para proclamar-se o sucessor de Pedro, e isso já o provamos até à saciedade.

    Até sempre

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  28. O PAPA E A UNIDADE DA IGREJA

    Graças ao papa produziram-se os dois maiores cismas da história do cristianismo:

    1. O grande cisma entre as Igrejas do Oriente e a do Ocidente, quando o papa quis impor aos orientais a extra e anti-bíblica doutrina do primado romano, e como os orientais a desconheceram, os quis excomungar.

    2. O grande cisma do Ocidente, quando outro papa, mais interessado nas artes e na caça do que nos seus labores pastorais, subestimou o clamor da Reforma e deixou que a Igreja se dividisse.

    Como curiosidade, ambos tinham tomado para si o mesmo nome:

    Leão IX (papa 1049-1054)

    Leão X (papa 1513-1521)

    Depois de terem tido um papel principal em dividir a cristandade, os papas se dedicaram a manter a unidade do que lhes restou, censurando, castigando ou expulsando os que dissentem.

    Onde está o Espírito há unidade. Da verdadeira, da autêntica, da que vem de Deus.

    Durante séculos a Igreja manteve a sua unidade sem primado de jurisdição nem de magistério do bispo de Roma. Quando quis impô-los, precipitou o cisma.

    Obs. Cuidado com os papas de nome Leão

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  29. Lendo tudo que foi dito, a conclusão que chego é que Gregório apenas defendeu um primado de honra ou tentou em alguns momentos prestigiar sua cadeira apelando para algumas ideias de outros pais da Igreja.

    É evidente que os Evangelhos dão um destaque a Pedro que pode ser interpretado como um "primado", mas é evidente também que a Igreja nunca girou em torno dessa "primazia" de Pedro.

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    1. Na Igreja antiga, as sedes das Igrejas mais importantes, que correspondiam às principais metrópoles do Império Romano, estavam classificadas num ranking de honra. Este ranking trazia privilégios para as Igrejas (daí haver uma competição entre elas para subir ou descer no ranking, agravada pela queda do Império Romano do Ocidente, porque passou haver uma competição também política entre o Ocidente e o Oriente), mas nunca o privilégio de jurisdição imediata de uma sede sobre todas as outras.

      Gregório defendeu o estatuto da Igreja de Roma como primeira neste ranking, e contribuiu assim bastante para afirmar o papado no Ocidente, mas nunca chegou ao ponto de defender que o bispo de Roma (ou outro qualquer) tinha o direito de jurisdição universal. Antes pelo contrário, como o demonstra a sua rejeição horrorizada do título de "bispo universal" para si e para qualquer outro colega.

      Roma era a primeira no ranking porque derivava do direito romano que a Igreja da capital do império devia ser a primeira em honra.

      Acreditava-se que cada uma destas sedes importantes tinham sido fundadas por um Apóstolo, até a Igreja de Constantinopla tinha como fundador o apóstolo André, e daí serem chamadas de sedes apostólicas. Tudo isto tem um caráter mitológico e bastante anacrónico.

      Como se acreditava que a Igreja de Roma tinha sido fundada por Pedro, o príncipe dos apóstolos, isto trazia uma dignidade especial para esta Igreja e para o seu bispo. Mas, novamente, não o direito de exercer um primado jurisdicional e doutrinal sobre a Igreja universal.

      A primazia de Pedro entre os Doze Apóstolos era uma coisa que os padres da Igreja desde cedo reconheceram, muito fruto do seu próprio contexto cultural, mas nunca aplicavam essa primazia aos bispos de Roma.

      Foram os bispos de Roma os primeiros que começaram a defender que a primazia de Pedro devia ser aplicada a eles próprios, e quanto maior fosse a natureza dessa primazia, obviamente mais poder e privilégios eles teriam.

      O facto da autoridade que alguns bispos de Roma pretendiam ter não ter sido reconhecida pelos colegas tanto ou mais santos e sábios que eles demonstra que ao longo da história e desde o princípio não houve nenhum bispo que reinasse acima dos demais.

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    2. Interessante, agradeço. Uma sugestão que faço é criar um artigo sobre a evolução da liturgia, vestimentas, hábitos, costumes e outros pormenores na igreja.

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    3. Isso é um tema muito vasto.

      A primeira coisa a fazer seria restringir a evolução da liturgia a uma determinada região geográfica, e depois a uma determinada Igreja local, uma vez que na Igreja antiga a liturgia (e também a doutrina) variava não só temporalmente como espacialmente. A liturgia em Alexandria não era igual à de Roma, e a de Antioquia nada tinha a ver com ambas e por aí fora.

      Eu não tenho grande interesse por esta área. Quem se interessa bastante por estas questões, de práticas litúrgicas e afins, são as igrejas tradicionalistas, como a Romana e as Ortodoxas orientais, que transformaram o seu culto num labirinto jurídico de regras e leis previamente codificadas, das quais não é lícito o mínimo desvio, e onde se chega ao ponto de discutir se o pão eucarístico deve ser dado na boca ou na mão, ou se se deve dizer determinada palavra em detrimento de outra, se em latim ou em grego etc. E note-se que isto é causa de divisões e discussões absurdas entre eles.

      Não é que eu defenda que não deve haver organização no culto cristão. Deve haver, mas também deve haver liberdade para o Espírito Santo poder agir, e não estar tudo codificado previamente, o que reduz o culto a uma recitação de um guião, e transforma o culto numa terapia para quem sofre de insónias.

      Entretanto, deixo algumas notas relacionadas com liturgia que são do meu conhecimento:

      1) Até ao século IV o culto cristão era baseado na improvisação, sem haver fórmulas litúrgicas escritas. O primeiro cânon litúrgico romano é elaborado já no século V, e era uma oração eucarística.

      2) “A Tradicição Apostólica” de Hipólito de Roma, é uma obra cujo conteúdo é essencialmente litúrgico, e é muito importante para conhecer a liturgia romana de finais do século II, já que Hipólito escreveu em Roma,

      É de particular interesse a sua referência eucarística aos “símbolos” que “representam” o corpo e sangue do Senhor

      Pode ver aqui algumas citações da sua obra:

      http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2010/07/citacoes-eucaristicas-primitivas-2_13.html.

      3) O uso religioso da cruz como símbolo da obra redentora de Cristo não está testificado na Igreja sub-apostólica mas já estava em uso em finais do século II. O uso cultual das imagens em geral, e de Jesus Cristo em particular, é posterior a Constantino, e não anterior ao século V.

      4) A mitra que usam os bispos em algumas igrejas, foi desconhecida na Igreja até ao século XI.

      5) As vestimentas do clero das Igrejas tradicionalistas sofreram influências de culturas e religiões pagãs.

      6) Alguns Padres antigos reclamavam que determinadas práticas litúrgicas remontavam ao tempo dos Apóstolos. Mas nenhuma dessas práticas é hoje realizada em alguma Igreja cristã, com exceção da tríplice imersão praticada pelas Igrejas Ortodoxas no ritual do batismo, que foi defendida por Tertuliano de Cartago como sendo uma tradição apostólica.

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    4. Aqui está um artigo sobre liturgia.

      Confirma-se que a liturgia padronizada apenas começa no século IV.

      http://calvinistinternational.com/2014/02/24/quest-historic-liturgy/

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  30. Amigos, o Sandro foi pedir ajuda à turminha do Rafael Rodrigues, vejam o comentário que ele postou por lá:

    "Assim, defender que, por exemplo, os papas romanos eram reconhecidos como superiores pelos demais patriarcas orientais é, a meu ver, um trabalho mais do que urgente." sic

    http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/controversias/582-o-concilio-de-niceia-e-a-supremacia-de-roma-no-canon-vi

    Ps.: Acho que o blog "Conhecereis a Verdade" é o mais visitado pelos mais populares apologistas católicos.

    = )

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    1. Já dá para comentar outra vez nesse site? Há uns tempos atrás numa página desse site fecharam os comentários e apagaram os meus comentários (e de outros).

      O Sandro tem razão, é um trabalho mais que urgente para as necessidades apologéticas romanas mas condenado ao fracasso. Os papas romanos nunca foram reconhecidos como superiores pelos orientais no seu conjunto.

      Mas como são bons humoristas pode ser que nos proporcionem umas boas gargalhadas. :-)

      A propósito, essa página sobre o cânon 6 de Niceia, causou duras baixas na legiões romanas depois deste artigo do Gustavo.

      http://www.e-cristianismo.com.br/padres-pos-nicenos/265-a-jurisdicao-de-roma-no-concilio-de-niceia

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    2. Nada como um bom historiador católico para refutar os apologistas católicos.

      Klaus Schatz sobre a Primazia Papal extraído do livro Papal Primacy: From Its Origins to the Present (Collegeville, Minnesota: Liturgical Press, 1996).

      http://contra-gentes.blogspot.pt/2008/02/papal-primacy-by-klaus-schatz.html

      O papado não pode ser fundamentado com os factos da história, a única saída que resta é convocar os sábios e os mágicos da corte para resolver o dilema e achar um fundamento mágico que permita afirmar que o primado do papa é de instituição divina.

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