terça-feira, 10 de junho de 2014

Tomás de Aquino deturpou a filosofia aristotélica


É arqui-sabido que Tomás de Aquino usou a distinção aristotélica entre substância e acidente para tentar explicar como, após a consagração eucarística, o pão e o vinho se transformam no corpo e no sangue de Cristo, embora continuem a ver-se, a saber e a cheirar como pão e como vinho.

O que não é tão sabido é que Tomás de Aquino deturpou a filosofia aristotélica que postulava que os acidentes nunca podiam deixar de acompanhar as respetivas substâncias e vice-versa. Para Aristóteles, substância e acidente, eram mutuamente dependentes e inseparáveis.

Garry Wills em "Why Priests," (p. 45) descrevendo o desenvolvimento da teologia Eucarística na Idade Média diz: 

“Embora Aristóteles tenha distinguido substância de acidente, ele não (não podia) os separou. Um cão não pode existir sem acidentes como tamanho. E não pode haver "um volume" ou "um branco" a subsistir sozinho sem uma substância. Tem de ser um volume ou um branco de alguma coisa. Um acidente "vem junto com" (symbainei) a coisa que é a sua essência. Tomás admitiu esta verdade natural: "Um acidente assume o que é da sua substância" (ST 3.77 a1r). Mas, para a Eucaristia, ele postulou uma rutura milagrosa da ordem natural. Ele deu o passo radical de afirmar que uma substância pode existir sem os seus próprios acidentes, e os acidentes podem existir sem a sua própria substância, embora apenas por uma ação especial realizada por Deus cada vez que o sacerdote diz as palavras da consagração”.

Assim, Tomás usou a filosofia de Aristóteles de uma forma que este nunca imaginou. A transubstanciação produz milagrosamente algo que é contranatura, segundo a própria filosofia aristotélica.

Como Deus não pode operar milagres que produzam oximoros (coisas logicamente impossíveis de existir na realidade), a doutrina da transubstanciação é portanto falsa.

22 comentários:

  1. É a primeira vez que leio uma contestação clara e objetiva, a esta afirmação católica ( distinção entre substância e acidente segundo Aquino) largamente difundida. = )

    Deus o abençoe.

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  2. Tomás de Aquino, assim como toda a Escolástica, helenizaram o cristianismo tentando fazer uma síntese entre a filosofia grega e as Escrituras.

    Neste aspecto particular da transubstanciação, Tomás de Aquino, fez uma paródia da distinção entre substância e acidente da metafísica de Aristóteles.

    Na verdade, a filosofia aristotélica refuta a transubstanciação, pois para esta é inconcebível que possam existir os acidentes do pão sem a presença da substância pão a suportá-los, como também que possa haver uma mudança de substância do pão na substância do corpo e sangue de Cristo sem que esta última traga consigo os acidentes do corpo e sangue de Cristo, pois substância e acidentes são partes inseparáveis de uma mesma coisa ou entidade.

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  3. Tomaas de Aquino foi um imitador barato e um plagiador de Aristoteles .Trabalahva a favor de Roma e seus interesses futeis para a defesa inocua a transubstanciação .OS Catolicos coitados, IDOATRAM uma hostia .Triste constatação ver tanta gente ignorante sendo enganadas.

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  4. Tomás de Aquino, assim como o resto da escolástica, tem o seu mérito e contribuiu significantemente para a apologética. Tem os seus erros, assim como Lutero vacilou em adotar uma posição fideísta. Discursos do tipo "Agostinho e Aquino foram os plagiadores de Platão e Aristóteles, pois estes últimos eram pagãos e a igreja romana precisava manter o seu controle cristianizando a filosofia..." são movidos pela antireligiosidade.

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    1. Não percebo em que aspecto Lutero assumiu uma posição fideísta. É famosa a sua frase - "A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. " - Ora isto é tudo menos fideísmo. Nem percebo em que medida afirmar que Tomás de Aquino plagiou e ainda deturpou a filosofia de Aristóteles seja antireligioso. Talvez queira elaborar mais.

      De resto, não há dúvidas que o catolicismo é em grande parte uma soma de direito romano e de filosofia grega, e alguns católicos até assumem isto com orgulho, como um factor identitário que distingue a sua Igreja das demais.

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    2. Devo ter me confundido. Acho que ele apenas condenou o racionalismo. Outros exemplos poderiam ter sido dados, como o antissemitismo e hostilidade ao copernicanismo, tenho certeza que você não considera Lutero infalível.

      Em suma, apenas queria alertar que seria pueril da nossa parte desdenho a Aquino, como tinha visto explícito no comentário acima de mim. Pois se tratando de teologia natural, ele tem grande peso na apologética cristã. (isso não significa que a informação do texto deveria ter sido omitida)

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    3. Muito bem, Agora ficou mais claro.

      É óbvio que o fato de Tomás de Aquino cometer um erro. não significa que não tenha escrito outras coisas boas e proveitosas. E isso aplica-se a qualquer um.

      Eu particularmente não sou adepto de Tomás de Aquino nem de teologia natural. A teologia natural é especulação a partir só de dados naturais e do intelecto humano sobre o divino. É o mesmo que faziam os filósofos gregos acerca dos seus deuses.

      A teologia natural tem tanto peso na apologética cristã como na apologética de outra religião qualquer monoteísta. Ela apenas corrobora a existência de Deus. Mas como lhe falta os dados da revelação, esse Deus pode ser tanto o Deus de Israel, Alá, ou outro qualquer.

      Ela conduz apenas ao Deus abstrato dos filósofos ou pode dar uma satisfação intelectual a quem já crê num Deus.

      Por exemplo, as 5 provas da existência de Deus de Tomás de Aquino, podem ser aplicadas a qualquer Deus.

      A teologia natural sem a teologia revelada é manca, pois não conduz ninguém a conhecer plenamente o Deus verdadeiro, porque só pela razão natural Deus não pode ser plenamente conhecido. É preciso que Deus se revele aos homens, e é por isso que se revelou na história e nos providenciou as Sagradas Escrituras, pelas quais temos acesso a essa Revelação.

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  5. A propósito de Dominicanos...

    Esses aí resolveram transubstanciar a música "Bad Romance" de Lady Gaga.
    A substância é diferente mas o acidente é o mesmo :)

    Veja-se aqui:

    http://youtu.be/aP74qJBWsKY

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  6. Cristo disse "Isto é meu corpo"! Tomás só tratou de explicar como isso é possível. Para Aristóteles, há substâncias sem acidentes sim, as substâncias suprassensíveis, que são puros atos (para o Estagirita há mais de uma, sendo o Motor Imóvel apenas a "maioral"). É preciso ler Aristóteles todo. De fato, a ideia de acidentes sem uma substância é um milagre, e disso precisamente se trata. Não é Aristóteles quem explica a Eucaristia, mas Tomás, ao fazer uso dos conceitos de substância e acidente de um modo que Aristóteles não fez, para explicar o que Cristo disse e fez, e o que fazem os padres na missa.

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    1. Obrigado pela lição de filosofia Aristotélica, e por confirmar que Tomás a deturpou ao usar os seus conceitos de um modo inconcebível para explicar como na Eucaristia o pão e vinho se convertiam no corpo e sangue de Cristo.

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    2. Fazendo um desenho:

      A explicação de Tomás é equivalente à explicação de alguém que usa a teoria da gravidade da física newtoniana para explicar por que um avião voa, e afirma que é porque nesse momento a força da gravidade que atrai o avião para a terra é suspensa.

      Isto é uma explicação que deturpa os conceitos da física newtoniana, pois em momento algum a força da gravidade entre dois corpos com massa pode ser suspensa.

      Tomás de Aquino fez algo semelhante com a metafísica de Aristóteles.

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  7. PRESENÇA REAL E TRANSUBSTANCIAÇÃO

    Enquanto a crença na presença real de Cristo na Eucaristia é comum a várias tradições cristãs (e atrever-me-ia mesmo a dizer que a todas as tradições cristãs, uma vez que uma presença simbólica ou espiritual não é menos real que uma presença física), a transubstanciação como formulada por Aquino e sancionada em Trento é uma doutrina exclusiva da Igreja de Roma.

    Por exemplo, as interpretações católica, luterana, ortodoxa e calvinista têm em comum a aceitação da presença real, mas também diferem entre si em relação a como é produzida.

    Segundo o dogma católico da transubstanciação, em virtude das palavras da consagração o pão e o vinho tornam-se o corpo, o sangue, a alma e a divindade de Cristo, embora persistam os “acidentes” (forma, cor, odor, sabor e provavelmente composição química) do pão e do vinho. Esta mudança é permanente, o que torna a hóstia em objeto de culto de adoração (latria).

    O Luteranismo aceita a distinção aristotélica entre substância e acidente, mas não que o pão deixe de ser pão e o vinho deixe de ser vinho, mas que pelas palavras da consagração Cristo se faz verdadeiramente presente “em, com e sob” as espécies (consubstanciação).

    Por seu lado os ortodoxos orientais rejeitam as controvérsias ocidentais e afirmam a presença real como símbolo (“pôr junto com”) e mistério, sem tentar explicar a forma em que é produzida; segundo uma página ortodoxa, “São o pão e o vinho molecularmente alterados para tornar-se carne e sangue físicos? É claro que não. Mas como o pão e o vinho, quando são ingeridos, se convertem como alimento na nossa própria carne e sangue de um modo desconhecido para nós, assim o pão e o vinho da Eucaristia tornam-se (também de um modo desconhecido para nós) os reais corpo e sangue de Cristo na aparência e forma de pão e vinho.”

    O Calvinismo ensina que Cristo está verdadeiramente presente na Eucaristia, mas de maneira espiritual – em oposição a uma presença física - e que portanto o pão e o vinho são fontes de poder e santidade para aqueles que participam dignamente deles.

    Algumas Igrejas evangélicas sustentam que o pão e o vinho são exclusivamente símbolos e, portanto, uma presença simbólica do corpo e sangue de Cristo nos elementos Eucarísticos, mas nem por isso menos real.

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  9. Aristóteles não separou simplesmente porque ele não supunha um milagre, um milagre é de ordem sobrenatural, e Aristóteles fala cada ordem natural. Aristóteles nunca disse que seria contrário a razão a mudança de substância, enquanto permanecem os acidentes, pelo contrário pode-se deduzir a possibilidade em sua obra como já citado na imagem o próprio Santo Tomás:


    "Ob. 1. 1. Com efeito, uma vez que se retira o ser anterior, se remove também o que o segue. Ora, a substância é por natureza anterior ao acidente, como demonstra ARISTÓTELES.
    Logo, já que após a consagração não permanece a substância do pão neste sacramento, parece que os acidentes não podem permanecer.

    (...)

    1. Como se diz no LIVRO SOBRE AS CAUSAS, o efeito depende mais da causa primeira que da causa segunda. Portanto, DEUS, QUE É A CASUA PRIMEIRA DE TODOS OS SERES, pode, pelo seu poder, fazer que permaneçam os seres posteriores após o desaparecimento dos anteriores."


    http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1207%3Aos-acidentes-do-pao-e-do-vinho-permanecem-no-sacramento-da-eucaristia&catid=110%3Asao-tomas-responde&Itemid=455

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  10. Segundo a metafísica de Aristóteles a transubstanciação é uma impossibilidade ontológica.

    Os acidentes não podem existir sem a substância que os suporta nem uma substância pode existir sem os seus acidentes. Isto significa que segundo Aristóteles é impossível que o corpo de Cristo tenha os acidentes da hóstia e os acidentes da hóstia existam sem a substância da hóstia presente.

    Deus não pode operar milagres que sejam logicamente impossíveis como impossibilidades ontológicas. Por exemplo, Deus não pode fazer um milagre que transforme um quadrado num triângulo mantendo-se a figura geométrica com quatro lados. Porque uma figura geométrica com quatro lados nunca poderá ser ontologicamente um triângulo.

    Tomás de Aquino simplesmente deturpou a filosofia aristotélica para explicar o inexplicável e criou uma impossibilidade ontológica ficcional.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. A expressão "Deus opera coisas impossíveis" precisa de ser qualificada.

      Deus opera coisas impossíveis segundo a ordem natural das coisas, intervindo sobrenaturalmente nelas. Mas Deus não opera coisas logicamente ou ontologicamente impossíveis.

      Por exemplo, Deus não pode fazer uma pedra tão pesada que ele não a possa levantar. Porque sendo na realidade Deus omnipotente esta pedra não pode existir na realidade. Qualquer pedra que Deus faça ele a pode levantar. Portanto, é logicamente impossível que esta pedra exista na realidade.

      O problema da transustanciação é como o desta pedra, ela é uma impossibilidade ontológica, não pode existir na realidade.

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  11. A TRANSUBSTANCIAÇÃO É ANTICIENTÍFICA

    A transubstanciação é contrária à ciência, porque a ciência é capaz dos elementos físicos tirar conclusões metafísicas.

    A ciência pode perfeitamente dizer aquilo que os elementos da eucaristia depois de consagrados são, analisando fisicamente a matéria de que são feitos e tirando a conclusão metafisica (ontológica) do que são.

    Isto está sempre a ser feito, por exemplo, em análises laboratoriais. Quando se quer saber o que uma substância (aqui uso o termo substância no sentido de matéria) é, analisa-se a sua composição física e tira-se a conclusão metafísica do que é (ontologicamente) essa substância.

    É por isso que cientificamente uma molécula constituída fisicamente por dois átomos de hidrogénio e um átomo de oxigénio é sempre metafisicamente água. Dizer o contrário é anticientífico.

    Portanto, a transubstanciação é não só absurda filosoficamente, como também cientificamente.

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    1. O problema todo, é HERMENÊUTICO, está na interpretação, pois Aquino, sabendo que o suposto "milagre" da transubstanciação, NÃO PODE SER VERIFICADO, ele diz que NÃO PRECISAMOS VER, VISTO QUE JESUS JÁ DISSE QUE É. Partindo deste princípio, fica fácil para ele justificar todo o seu sofisma e engodo filosófico.

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    2. O problema não é o milagre não poder ser verificado, vai além disso. O problema é que o milagre da transubstanciação é uma impossibilidade ontológica. Implica a suspensão da realidade tal como ela é.

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