Em
1 Coríntios 15:29, no contexto do seu ensino sobre a ressurreição de Jesus Cristo e a nossa, o Apóstolo Paulo
pergunta:
Doutra maneira, que
farão os que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não
ressuscitam, por que se batizam eles então pelos mortos?
Este
versículo pode também ser literalmente traduzido como se segue: “Doutra maneira, que
farão os que são batizados em nome (‘por’
ou ‘sobre’; grego hyper) dos mortos (grego nekrôn)? Se [os]
mortos (nekroi) não são ressuscitados
de nenhuma maneira, por que se batizam eles então pelos (ou sobre os) mortos?
Este
é o único versículo de toda a Bíblia que menciona um ‘batismo pelos mortos’.
Entender o seu significado provável exige que primeiro examinemos o contexto, e
só então estudemos a própria expressão.
Em
relação ao contexto, Paulo está refutando alguns membros da igreja de Corinto
que rejeitavam a doutrina da ressurreição física (v. 12). Ele afirma que se é
impossível que os mortos possam ressuscitar, então Cristo não foi
verdadeiramente ressuscitado (v. 13). E se isso fosse verdade, então todo o
Evangelho está baseado sobre uma gigantesca mentira e não é senão lixo: Ninguém
pode realmente salvar-se, e os mortos simplesmente se foram para sempre,
cessaram de existir (v. 14-19).
No entanto, continua Paulo, já que certissimamente confirmado por numerosas
testemunhas, incluindo-se ele próprio, Cristo ressuscitou dentre os mortos,
este facto garante que todos os crentes haverão de ser ressuscitados no momento
propício. Jesus Cristo é as primícias que garantem a colheita completa! (v.
20-28).
Neste ponto Paulo faz menção do ‘batismo pelos mortos’. Através dos séculos propuseram-se
muitas possíveis interpretações sobre esta prática. Eis aqui algumas das
principais:
1.
Com ligeiras mudanças na pontuação, o texto pode significar que já que o batismo
é um símbolo da morte e da ressurreição do crente (ver Romanos 6) é inútil batizar-se
se não há ressurreição.
2.
Se ‘batismo’ é tomado aqui como figurativo, como na expressão ‘batismo de fogo’
para um soldado, o texto significaria que é néscio enfrentar todos os perigos a
que estão expostos os cristãos, se realmente não existe esperança de
ressurreição. O seguinte versículo (30) em que Paulo continua falando das suas
próprias tribulações, apoiaria este ponto de vista).
3.
Outros pensam que, dado o significado usual da preposição grega hyper,
ou seja, “em nome de”, Paulo alude a uma prática de ser batizado em nome de
algum defunto. Esta é a posição dos mórmones. Há evidência de que no segundo
século, um grupo herético conhecido como os marcionitas (seguidores de Marcião)
faziam isto, mas não está documentado no primeiro século. Seja como for, Paulo
de modo algum está recomendando este costume. Aparentemente, tratava-se de um
argumento ad hominem, como sugere o facto de ele se referir “aos que se
batizam pelos mortos” na terceira pessoa, como se não pertencessem à igreja ou fossem
uma fação dentro dela.
4.
Alguns estimam que, dado o significado básico de hyper, trata-se de uma
referência à prática, também não documentada no primeiro século, que tinham alguns
cristãos de batizar-se nos cemitérios, sobre os túmulos de crentes falecidos.
5.
Também, hyper ton nekrôn pode significar por causa, por respeito, ou por
gratidão para com os crentes falecidos que marcaram o caminho da fé.
6.
Outro matiz de significado poderia ser uma referência aos que se batizam
seguindo o exemplo dos crentes já falecidos.
7.
Ainda outra possibilidade é que se trate de uma alusão aos cristãos que passam
pelo batismo com a esperança de ver de novo os que já faleceram (o que seria
ridículo se não há ressurreição).
8.
Também foi proposto que se refere a que alguns cristãos consideravam o seu próprio
batismo como um modo em que eles ‘substituíam’, no Corpo de Cristo sobre a
terra, os que já tinham partido para estar com o Senhor.
9.
Finalmente, já que o batismo é a identificação do crente com a morte e a
ressurreição do Senhor, e realizava-se sob a sua autoridade e mandato, seria inútil
se Jesus fosse simplesmente um mais de tantos mortos.
É
extremamente imprudente e perigoso desenvolver qualquer doutrina com base numa
única passagem da Escritura, e em particular numa cujo próprio significado está
longe de ser claro. Os coríntios seguramente sabiam do que Paulo estava a falar, mas nós não podemos sabê-lo com certeza.
A
Bíblia não manda que os cristãos se batizem pelos mortos; na verdade, nem sequer
menciona esta prática em alguma outra parte. O ensino bíblico é que cada crente
seja batizado ele próprio. Não há a mínima indicação de que um cristão possa
ser batizado a favor de outro crente vivo; muito menos que possa batizar-se por
algum defunto. Em contrapartida, a Escritura ensina claramente que o destino
eterno de cada um fica determinado inexoravelmente com a morte (Hebreus 9:27).
Não está em nós o poder de salvar outros por nossa própria vontade; somente
podemos interceder em oração para que outros recebam a salvação, nunca aceitá-la
em representação deles. Ademais, a Bíblia explicitamente proíbe qualquer relação com
os mortos.
Finalmente,
há que recordar que embora o batismo seja uma ordenança cristã ou sacramento e
cada crente deva ser batizado num ato de obediência para com o mandamento de
nosso Senhor e como uma testemunha d`Ele, o batismo não é imprescindível nem
suficiente para a salvação; só a fé em Cristo pode salvar (ver o caso do ladrão
arrependido no Calvário, Lucas 23:42-43 e o que Paulo diz em 1 Coríntios 1:14-17).