sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A heresia do "método histórico-crítico" na interpretação da Bíblia

 

 

Texto completo da palestra: aqui
 

O testemunho de Eta Linnemann

Se pensássemos em termos de lógica humana, a teóloga alemã Eta Linnemann (1926 – 2009) jamais se tornaria uma crente autêntica, tampouco uma defensora da inerrância bíblica. Nascida e criada no seio da Igreja Luterana da Alemanha, durante a infância frequentava uma pequena comunidade, precariamente atendida por jovens pastores iniciantes, e na adolescência teve aulas de confirmação com um ministro o qual, segundo a própria Eta, “não era nascido de novo”. Ao final da Segunda Guerra Mundial, profundamente insatisfeita com a frieza na igreja da qual era membro, a jovem Eta Linnemann teve seu primeiro contato com um pastor verdadeiramente crente, que lhe falou sobre conversão. Aquele ensino a despertou para o Evangelho, levando-a a ler a Bíblia diariamente, e logo sentiu desejo de estudar Teologia. Com isso, matriculou-se na Universidade de Marburg, onde vivenciou experiências que afetariam radicalmente a sua vida.
 
Marburg significava “Rudolf Bultmann”, conforme ela mais tarde sintetizou. O pensamento de Bultmann, famoso teólogo da neo-ortodoxia (na verdade, neoliberalismo) que rompera com Karl Barth, imperava naquela Universidade, como em muitas na Alemanha. Ou, em outros termos, ali reinava o método histórico-crítico de interpretação bíblica, e naquele ambiente Eta Linnemann teve sua formação teológica, sendo aluna dos mais renomados teólogos adeptos desta corrente interpretativa, notavelmente liberal. Um momento marcante para a jovem aluna foi a aula em que o próprio Rudolf Bultmann, comentando 1Coríntios 15:3-4 (“que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”), afirmou: “aqui, Paulo não está no normal de sua teologia, porque está falando da ressurreição de Jesus Cristo como se fosse um fato histórico”. Com tais palavras, o mestre procurava retirar do coração de Eta e demais alunos a crença na ressurreição do Senhor Jesus! Nos anos seguintes, os teólogos de Marburg, incluindo Bultmann, desconstituíram o ensino sobre vários outros pontos cruciais das Escrituras, afirmando claramente que diversas passagens eram mitos, ou adições indevidas de homens motivados por questões particulares de sua época e circunstância histórica. O lema era “ler a Bíblia como se Deus não existisse”!
 
Eta Linnemann foi aluna brilhante, concluindo seu doutorado sob a orientação de Rudolf Bultmann, tendo como tema uma crítica no Evangelho de Marcos, e em seguida tornou-se professora de Teologia, vindo a ser admitida na seleta Sociedade para Estudos do Novo Testamento, organização composta por destacados teólogos de orientação liberal. Porém, diante de um aparente sucesso, a teóloga Eta vivia em crescente frustração, convencida de que todo o seu estudo não a conduzira ao Senhor, nem sequer tinha utilidade na pregação do Evangelho. Então, ainda em Marburg, orientando alunos nas dissertações de conclusão de curso, teve o coração novamente aquecido ao ler a tese de um aluno que relatava milagres recentes acontecidos em igrejas na África. Como foi estarrecedora aquela notícia, para uma mulher que já não acreditava em milagres!
 
Alguns meses depois, ministrando em uma turma na qual alguns realmente demonstravam evidências de conversão, a professora Eta foi surpreendida com a notícia de que um pequeno grupo de alunos começara a orar por ela. Pouco depois, diante de insistentes convites de alunos para que participasse de reuniões de oração, Eta Linnemann compareceu a um desses encontros, onde percebeu um claro mover de Deus, que ela reconheceu como sendo a realidade da justificação pela fé em Cristo. Ela continuou frequentando reuniões como aquela, cada vez mais tocada pela mensagem da graça de Deus, até que, numa delas, diante do apelo feito pelo ministrante, para que, se alguém desejasse entregar a vida a Jesus, erguesse a mão, Eta percebendo a voz do Senhor, converteu-se ali mesmo. E, sinceramente arrependida de toda a sua experiência como teóloga bultmanniana adepta do método histórico-crítico, uma Eta Linnemann já convertida e totalmente transformada passou a frequentar a Escola Bíblica Dominical de uma igreja cristã, como aluna, com outros crentes de dezesseis a setenta anos de idade, disposta a aprender as verdades fundamentais do Evangelho!
 
Eta Linnemann foi expulsa da Sociedade para Estudos do Novo Testamento, o grupo de intelectuais de cunho liberal da Alemanha. Mas não deixou de ser professora universitária de Teologia. Desde sua conversão, a teóloga Eta, crente em Cristo Jesus, passou a defender a veracidade, confiabilidade e inerrância das Escrituras, tendo como um de seus alunos de doutorado o Rev. Augustus Nicodemus Lopes, pastor, professor e teólogo brasileiro igualmente defensor da supremacia bíblica. Além disso, Eta Linnemann escreveu livros nos quais reafirma a inerrância da Bíblia e contesta o método histórico-crítico. Duas de suas obras foram lançadas em português pela Editora Cultura Cristã: “A crítica bíblica em julgamento” e “Crítica histórica da Bíblia”.
 
A história de Eta Linnemann é um poderoso testemunho da graça de Deus e do poder do Evangelho para a salvação de pecadores. Desde a infância, frequentando uma denominação fria, burocrática, onde se vivia um cristianismo meramente formal, passando por uma escola de Teologia que, sem exagero, poderia ser descrita como um cemitério da fé cristã, esta mulher de Deus trilhou caminhos errantes, mesmo em um meio teoricamente cristão. Foi tentada em seu ego, o que é uma das mais formas de tentação mais perigosas e difíceis de se resistir. Tudo indicava que seria mais uma famosa e arrogante teóloga liberal, cercada por admiradores, aplaudida entre os intelectuais alemães e destinada à condenação eterna. Mas, pela sublime bondade do Senhor, tornou-se crente e fervorosa defensora da Palavra de Deus. Glórias sejam dadas ao Todo-Poderoso, que nos surpreende com Sua maravilhosa graça!
 
Fonte: novomanifestoreformado.blogspot.com

4 comentários:

  1. UMA CHAMADA DE ATENÇÃO

    Não se deve confundir o que é denominado por método histórico-crítico ou "alta crítica", com as suas hipóteses infundadas sobre, por exemplo, a origem e autoria do Pentateuco, com a crítica textual (“baixa crítica”) que simplesmente tenta estabelecer, mediante critérios consensuais com base científica, o texto bíblico mais próximo dos originais.

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  2. Um apontamento interessante:

    Bruce Waltke, um estudioso do Antigo Testamento, revela o motivo por que a erudição crítica não está disposta a aceitar a data real da composição do livro de Daniel, no século VI aC, mesmo depois da evidência linguística e arqueológica a ter confirmado.

    «Se a evidência para uma data de composição no século VI é tão segura, por que razão há académicos que a rejeitam em favor de uma insustentável hipótese Macabeia? A razão é que a maioria dos académicos abraçam uma filosofia liberal, naturalista e racionalista. Naturalismo e racionalismo são, em última análise, baseados na fé e não na evidência; por isso esta fé não lhes permite aceitar as predições sobrenaturais.»

    Bruce K. Waltke, “The Date of the Book of Daniel,” 194–203 em Vital Apologetic Issues, editado por Roy B. Zuck (Grand Rapids, Mich.: Kregel, 1995), 203.

    Portanto, é importante entender que a “re-datação” das profecias do Antigo Testamento (que os críticos tentam fazer) é arbitrária não impulsionada pela evidência histórica, mas por pressuposições anti-sobrenaturais.

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  3. PORQUE É QUE O MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO É FUNDAMENTALMENTE HERÉTICO (OU ERRADO)?

    Porque para o aplicar tem que se prescindir do pressuposto que o texto bíblico é a Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo.

    Há um problema epistemológico na base do método histórico-crítico.

    Para um intérprete crítico o que está escrito é verdadeiro se for conforme à razão humana. Para um cristão o que está escrito é verdadeiro porque é a Palavra de Deus. A Palavra de Deus tem um valor epistémico superior à razão humana e não é criticável por esta.

    Obviamente que a Palavra de Deus e a razão humana não se podem contradizer. A primeira revela coisas que excedem a segunda sem contradição e as duas complementam-se.

    O intérprete crítico é racionalista por natureza. O seu único critério de verdade é a razão. Por isso, dado que não podem ser explicados somente pela razão, o crítico nega que os eventos sobrenaturais relatados na Bíblia sejam verdadeiros. Ou são erros, mitos e lendas ou significam qualquer coisa perfeitamente explicável racionalmente.

    Assim, por exemplo, para um cristão a Torá foi escrita por Moisés, porque nos Evangelhos Jesus afirma que a Torá foi escrita por Moisés. Mas para um intérprete crítico o que está escrito não tem mais valor do que as suas próprias teorias.

    O texto bíblico é apenas um reflexo da ignorância dos Judeus em geral e de Jesus em particular.

    O crítico não reconhece a natureza divina de Jesus, para ele isso é um devaneio posterior dos discípulos de Jesus. Os textos bíblicos que a afirmam são apenas reflexo deste devaneio.

    Portanto, partindo do pressuposto de que o que Jesus disse não é a Palavra de Deus, mas simplesmente um reflexo da crença dos judeus do séc. I que estavam errados, o intérprete crítico pode afirmar que Moisés não escreveu a Torá, dado que quem decide quem escreveu a Torá são as várias teorias modernas existentes sobre o assunto (de base racionalista e naturalista).

    Outro exemplo. A ressurreição física de Jesus, para um intérprete crítico, se for verdadeira não é porque está escrito nos evangelhos, mas porque é a melhor explicação para o que está escrito. E, claro está, a melhor explicação do que está escrito para um crítico racionalista, na grande maioria das vezes não é a veracidade da ressurreição física de Jesus mas teorias naturalistas.

    O crítico não se limita a extrair o sentido literal ou filológico do texto, como faz o método histórico-gramatical, mas está sempre a «criticá-lo», segundo os seus próprios pressupostos.

    Mas é absurdo para um cristão pôr-se a criticar a Palavra de Deus.

    Não é, pois, de admirar que este método, como qualquer outra heresia, destrua tantas igrejas.

    É claro que não há o mesmo problema epistémico quando se aplica o método histórico-crítico a outras obras da antiguidade, uma vez que para estas obras não existe o pressuposto de que o texto é a Palavra de Deus. Logo, aquilo que afirmam, está epistemicamente ao mesmo nível da razão humana e pode logicamente ser criticado por esta.

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