quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Isaías 7:14 não prediz o nascimento virginal do Messias?


A passagem citada diz: «O mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel». Segundo o Evangelho de Mateus, este anúncio profetizava o nascimento de Jesus (Mt. 1:22ss). Evidentemente, o judaísmo rejeita tal aplicação. Sobre o texto profético de Isaías 7:14 diz o rabino Eliezer Gervitz:

«A pessoa não familiarizada poderá pensar que se trata de uma profecia do relato do nascimento de Jesus no Novo Testamento. No entanto, aquele que estuda o versículo no original hebraico poderá observar que o termo usado é “almá” que significa “mulher jovem” e não “virgem”. A palavra hebraica correspondente a virgem é “betulá” segundo é mencionado em Vaikrá [Lv.] 21:3». [1]

Segundo este argumento, se Isaías quisesse referir-se a uma virgem, teria usado o vocábulo bêtulâ em vez de escrever alma. No entanto, esta objeção carece de força porque no tempo do Tanach nenhuma das duas palavras era um termo técnico para designar uma virgem, mas ambas admitiam esse significado.

Por exemplo, bêtulâ usa-se em relação a virgens, mas também pode designar uma mulher jovem. Prova disso é que é usada juntamente com alusões a homens jovens. [2]

Em Ester 2:17 são mencionadas as betulot que estavam com o rei Assuero, que certamente não eram virgens. Em Joel 1:8 fala-se da jovem (bêtulâ) que chora a seu esposo; portanto trata-se de uma mulher casada e presumivelmente não virgem. O uso desta palavra como termo técnico para referir uma virgem é um desenvolvimento tardio no hebraico e no aramaico, que estava difundido no começo da era presente. É um anacronismo atribuir-lhe especificidade sete séculos antes, no tempo de Isaías.

O professor Bruce K. Waltke, cuja autoridade em hebraico bíblico é mundialmente reconhecida, diz:

«É claro que não se pode arguir que se Isaías [7:14] no seu famoso oráculo a Acaz quisesse significar uma virgem, poderia ter usado bêtulâ como um termo mais preciso que “alma”» [3]

Por outro lado, a palavra alma jamais se aplica na Bíblia a uma mulher casada. Por isso, é mais preciso que bêtulâ como termo para referir uma virgem. No Cântico dos Cânticos há uma referência a três tipos de mulheres, e usa-se o termo alma para o terceiro tipo; a tradução natural seria «rainhas… concubinas… virgens» (Cnt. 6:8). Em resumo, pode aduzir-se em favor da interpretação tradicional cristã o seguinte:

1) Embora alma signifique etimologicamente «mulher jovem», se presume como um dos seus atributos a virgindade.

2) Nas Escrituras hebraicas, a palavra nunca se aplica a uma mulher casada (à diferença de bêtulâ).

3) Em nenhum dos textos em que aparece alma pode provar-se com segurança que se aplica a uma mulher que não é virgem.

4) Os sábios judeus que produziram a versão Septuaginta verteram alma com o termo grego parthenos, virgem, apenas em duas ocasiões: em relação a Rebeca, a noiva virgem de Isaque (Gn. 24:13, cf. v. 16, 43) e no oráculo de Isaías 7:14.

5) José foi convencido a não repudiar a virgem Maria precisamente com base nesta profecia, facto que seria inexplicável se José não entendesse alma como «virgem» (Mt. 1:18-25). [4]

Notas

[1] Eliezer Gervitz, A guide to Torah hashkofoh: questions and answers on Judaism, Feldheim Publishers, [n.1], p.146, 1980.

[2] Dt. 32:25; 2Cr. 36:17; Sal. 148:12; Is. 62:5; Jer. 51:22; Lm. 1:18; 2:21; Zac. 9:17.

[3] Bruce K. Waltke, Art. bêtulâ, nº 295 em TWOT 1:138.

[4] Cf. Allan A. MacRae, Art. almâ, nº 1630 em TWOT 2:672.

Siglas

TWOT: Theological Wordbook of the Old Testament (R. Laird Harris, Gleason L. Archer, Jr. e Bruce K. Waltke, Dir.; Moody Press, Chicago, 1980; dois volumes)
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