sábado, 23 de junho de 2012

Resposta às observações de um católico ao artigo “O culto às imagens”


Os comentários do católico ao artigo “O culto às imagens” encontram-se a negrito a que se segue a respetiva resposta.
Muito bem, o autor nos inicia no que ele chama "culto às imagens", qual culto?... o ignoramos. Como católico, creio que às imagens se lhes deve culto relativo de dulia, e sinceramente, não creio que a ESSE culto se refira o autor.
Suponho que este é um rudimentar artifício retórico, pois não esperará uma definição precisa a partir do título, e suspeito que você prudentemente terá lido o artigo que comenta.
Caso contrário, a declarada ignorância se esclarecerá mais à frente.
De novo nos perguntamos, que classe de culto às imagens estava proibido?.. considerando o fundamentalismo evangélico, que não admite mais que um tipo de culto, e considerando as proibições de idolatria feitas anteriormente, creio que o autor quer dar-nos a entender que está proibida a idolatria às imagens. Correto, a doutrina católica PROÍBE a idolatria às imagens, embora admita um culto relativo de dulia às imagens.
A distinção que pretende estabelecer é artificial e tardia por razões que estão claras no artigo.
Além disso, neste caso você omitiu a definição da expressão "fundamentalismo evangélico".
Em que consiste este culto? Em cuidar a imagem, protegê-la e exibi-la, em considerá-la um objeto que representa Deus ou uma criação de Deus (A Virgem, os santos, os anjos...), o culto de acender velas à imagem significa devoção não pela própria imagem material, mas, pela pessoa QUE REPRESENTA a imagem. Até esse momento, não vejo idolatria em nenhum ponto do culto católico às imagens, porque não se atribui à imagem nenhum poder nem significado próprio.
Coisa que, como notaram os mestres cristãos antigos, também não faziam os pagãos mais ou menos inteligentes.
Obrigado pela lição, embora duvido que muitos dos que leem este blog ignorem coisas tão básicas. Esse é um dos tipos de culto que a Escritura proscreve de maneira inequívoca, como o entenderam corretamente os cristãos dos primeiros séculos.
Êxodo 20, 4-5, diz claramente:
"Não farás para ti escultura nem imagem alguma do que há em cima no céu, nem do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante delas, nem lhes darás culto; porque eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus zeloso, que castigo a iniquidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam"
O rigorismo indica que está proibido FAZER IMAGENS, e PRESTAR-LHES CULTO. Isto implica considerar DUAS partes: a feitura de imagens e o culto prestado a elas.
Antes de tudo, a ordem rigorista foi para os judeus e NÃO para os cristãos.
Que a ordem foi dada primeiramente aos hebreus (por então não eram conhecidos como judeus) não cabe dúvida. Não obstante, em nenhuma parte se insinua que a proibição não continue debaixo do Novo Pacto.
Em primeiro lugar porque seria o único mandamento do decálogo que carece de vigência para os cristãos. Mas a revogação certamente não aparece em nenhuma parte do Novo Testamento e resplandece pela sua ausência qualquer ordem positiva neste sentido.
Na verdade, o Magistério da Igreja de Roma reconhece a vigência do Decálogo como expressão perpétua da vontade de Deus para os seus filhos em todos os tempos, como o demonstra o facto do Catecismo da Igreja Católica dedicar a segunda Secção da 3a Parte precisamente aos Dez Mandamentos (que tente evadir as implicações da proibição do culto às imagens é outro assunto).
O autor  diz: "...não está proibida para os cristãos a feitura de imagens...".
Ou seja, o autor derroga a primeira parte do mandamento (feitura de imagens), mas NÃO derroga a segunda (prestar-lhes culto, de qualquer tipo). Não entendo por que o autor derroga um ponto do mandamento, e mantém um segundo ponto. O autor diz que a feitura não está proibida (primeiro ponto), mas o culto sim (segundo ponto). Que argumentos dá para derrogar o primeiro ponto e manter o segundo? Nenhum. Alguma objeção até o momento por parte do autor para a derrogação do segundo ponto? Nenhuma. Apenas silêncio.
Você subdivide arbitrariamente o mandamento em dois, quando na realidade é um só: não fazer imagens com o objetivo de prestar-lhes culto.
Isto o pode fazer mediante a arte da citação seletiva, como pode notar-se se se considera a frase imediatamente anterior do meu escrito:
Deve sublinhar-se que o que se proíbe de maneira absoluta é que o homem faça imagens por sua própria iniciativa com o objetivo de prestar-lhes culto.
Aqui o autor admite que a proibição de imagens era relativa, porque atribui aos judeus a interpretação ABSOLUTA.
O autor, novamente, não explica que pontos do mandamento completo (Êxodo 20, 4-5), eram absolutos, e que pontos eram relativos. Até ao momento NÃO há argumento que demonstre que o primeiro ponto é relativo, e o segundo absoluto.
De facto, não achei necessário estender-me sobre este ponto porque acreditava que estava suficientemente claro, e que haveria acordo geral sem necessidade de mais justificação nem argumento. Admito o meu erro.
Bom, eis o que diz Êxodo 20:4, o mais literalmente possível:
Não farás para ti ídolo nem imagem (do) que está nos céus em cima nem na terra em baixo nem nas águas debaixo da terra, não te inclinarás a elas nem as servirás.
A palavra hebraica que aqui se traduz "ídolo" é pésel que também significa "imagem talhada".
Em hebraico, a segunda palavra ou mandamento do Decálogo é uma só frase que não é correto subdividir como você o faz.
Repito que o texto e o contexto deixam claro que o que se proíbe taxativamente é a feitura de estátuas ou representações com o objetivo de prestar-lhes culto, como o indica a expressão "inclinar-se diante delas e servi-las". Isto cobre tanto a dulia como a latria.
Que este texto e o seu paralelo em Deuteronómio causam muita comichão à Igreja de Roma (entre outras que prestam culto às imagens) o mostra o facto de este ponto do Decálogo ter sido suprimido durante muito, muito tempo. Certamente não o aprenderam nos Colégios Católicos aqueles que foram educados na década de 1960, coisa que provavelmente ignora a geração “pós-conciliar”.
O Catecismo da Igreja Católica teve pelo menos a decência de reproduzir o Decálogo em três versões, duas bíblicas (Êxodo 20 e Deuteronómio 5) e uma terceira cuja fonte não se indica, mas que foi o "Decálogo" apócrifo que nos ensinaram:
1º Amarás a Deus sobre todas as coisas.
2º Não tomarás o Nome de Deus em vão.
3º Santificarás as festas.
4º Honrarás a teu pai e a tua mãe.
5º Não matarás.
6º Não cometerás atos impuros. (versão politicamente correta)
7º Não roubarás.
8º Não dirás falso testemunho nem mentirás.
9º Não desejarás a mulher do teu próximo.
10º Não cobiçarás os bens alheios.
Nesta versão manipulada, alegremente se suprimiu o mandamento sobre as imagens e para manter o número de dez se desdobrou o último.
Aqui sim, o Catecismo omite a indicação da fonte e da data do pseudo-decálogo da terceira coluna. Terá tido as suas razões. De facto, no texto explica o decálogo apócrifo e não o bíblico.
O autor não se estende sobre a Serpente de Bronze. Yahvé mandou pôr a Serpente de Bronze (uma imagem FEITA), para que olhando-a, os israelitas mordidos por serpentes se curassem. Em minha humilde opinião, se o culto (de qualquer tipo) às imagens, estivesse proibido, Yahvé não recorreria a ela para que fosse instrumento de seu poder curativo.
Mera conjetura. Deus certamente pode fazer coisas que estão vedadas ao homem. O homem NÃO pode fazer imagens para prestar-lhes culto, mas Deus SIM pôde mandar erigir uma imagem como meio de cura. Não há a menor insinuação de que buscar a cura olhando para a serpente fosse algum tipo de culto.
Com isso Yahvé se arriscava a uma má interpretação por parte dos israelitas. Se Yahvé autorizou que a imagem fosse intermediário entre o seu poder e os homens, fica claro que a imagem pode ser um intermediário, e desse modo, ser digna de um apreço mais alto que a outra imagem, isso é o culto relativo de dulia que entendem os católicos: uma estima alta.
Naturalmente que Deus corre "riscos" com os homens, desde Adão a esta parte.
A imagem foi certamente um meio escolhido pelo próprio Deus, em sua sabedoria e soberania, para um fim determinado. Não obstante, parece claro que nunca quis que se prestasse à serpente nenhum tipo de culto. De facto, como indiquei antes, quando a serpente de bronze se tornou um objeto de culto, o correto foi destrui-la (mesmo quando era um tipo ou prefiguração do próprio Senhor Jesus Cristo).
Para os católicos, as imagens RARAMENTE são intermediários diretos entre Deus e os homens (como foi o caso da Serpente de Bronze), para nós são intermediários MUITO indiretos, porque são simples representações, ao passo que a Serpente de Bronze foi mais um instrumento do que uma simples representação.
Correto, disse bem: um instrumento divinamente ordenado, não um objeto de culto.
Suponho que deve falar de católicos que vivem muito longe dos santuários de Guadalupe, Fátima, Lourdes, Pilar, etc. Porque para os que aí concorrem - e são muitos - não parecem tão distantes como obviamente quer fazer-nos crer.
O autor fala sobre as imagens cristãs dos primeiros séculos, e pela primeira vez menciona que há mais de um tipo de culto, porque diz "nenhum tipo de culto". Obviamente, o autor omite (ignoro por quê), o tipo de culto que ensina a Igreja Católica (como prática e não como dever), para com as imagens.
Se alguma vez escreveu um artigo, saberá que é impossível dizer tudo ao mesmo tempo. O convencional e didático é ir do geral para os particulares. De novo, é bastante tosco usar esta objeção como recurso retórico.
Mas isto não é tudo. É patentemente falso que o tipo de culto que ensina a Igreja Católica seja uma simples prática e não um dever.
O Concílio de Trento, na sua Sessão 25 de 3 e 4 de Dezembro de 1563, estabeleceu:
...devem ser absolutamente condenados, como muito antigamente os condenou, e agora também os condena a Igreja, os que afirmam que não se devem honrar, nem venerar as relíquias dos santos; ou que é em vão a adoração que estas e outros monumentos sagrados recebem dos fiéis; e que são inúteis as frequentes visitas às capelas dedicadas aos santos com o fim de alcançar o seu socorro. Além disso, declara que se devem ter e conservar, principalmente nos templos, as imagens de Cristo, da Virgem mãe de Deus, e de outros santos, e que se lhes deve dar a correspondente honra e veneração...
(negrito acrescentado; omito as explicações porque delas trata o artigo).
Não se trata, pois, de uma simples prática opcional; é um dever religioso.
Ou seja, o autor fala de uma veneração, NÃO explica que a Igreja Católica entende que há diferenças entre Adoração e Veneração... vejamos.
Agradeço-lhe o crédito pela confusão, mas não posso aceitá-lo. Quem criou a ambiguidade foi a própria Igreja de Roma ao falar da veneração às imagens como sinónimo de prestar-lhes alguma espécie de culto, relativo, é certo, mas culto no fim de contas.
TODAS as citações patrísticas citadas pelo autor, condenam a IDOLATRIA, é de notar que nessa época ainda imperava o paganismo clássico, por isso, os cristãos não concebiam ainda o culto relativo de dulia às imagens, embora sim aos santos (mártires), e às relíquias. O autor se guarda de explicar que a Igreja Católica considera distintos o culto de Adoração a Objetos (Idolatria), e Veneração aos mesmos.
Sem dúvida que se trata de denúncias dirigidas contra a idolatria dos pagãos, que se manifestava de maneira bastante ostensiva no culto a imagens. O que não pode ignorar-se é que os Padres antigos viam claramente que pela sua natureza intrínseca tais práticas não eram suscetíveis de ser adotadas pelos cristãos. Por ex., reproduzo aqui parte do que diz Orígenes (já citado):
se necessita ser ignorante e escravo para supor que as mãos vis de uns artesãos possam modelar a semelhança da Divindade; vos asseguramos que o mais humilde dos nossos se vê livre de tamanha ignorância e falta de discernimento.
Ou seja, o que você atribui a falta de luz (conceber o “culto relativo” de dulia) no século III se atribuía a uma ignorância e falta de discernimento que não era concebível no mais rústico dos cristãos.
A invenção do “culto relativo” não foi, portanto, nenhum avanço mas antes um retrocesso grave que contribuiu para a sobrevivência do paganismo e da superstição até aos nossos dias.
Mas o próprio autor reconhece ANTES, que o facto simples de utilizar imagens como representações, não é nenhum problema porque a ordem era RELATIVA. Portanto, se os autores cristãos antigos condenavam as simples representações, devemos entender que estavam ao mesmo nível do judaísmo tardio que entendia como ABSOLUTA a proibição das imagens.
Este argumento é um mero sofisma baseado na ambiguidade dos termos. Como disse antes, a proibição era absoluta quanto à confeção de imagens com propósito de prestar-lhes culto, e nunca foi revogada para os que acreditam que os Dez Mandamentos são uma expressão perpétua da lei moral de Deus. Tal proscrição taxativa não exclui, naturalmente, o uso de imagens com fins não cultuais (didáticos, estéticos, identificativos, etc).
Disto tiramos como conclusão que esses autores antigos estavam ao mesmo nível que o judaísmo tardio, pelo menos no que a feitura e culto de imagens se refere. Não é uma grande base cristã, a opinião de quem estava ao mesmo nível que os judeus.
Este comentário, além de emitir certo cheiro a judeofobia, chega a uma conclusão errada por basear-se numa premissa falsa, que supõe uma genuína e lícita evolução na ideia de que é lícito e bom para os cristãos prestar culto às imagens desde que se estabeleçam certas condições. Portanto, devo insistir em que os cristãos dos primeiros séculos mostraram uma compreensão mais perfeita que o judaísmo do tempo de Jesus e que o cristianismo posterior.
Aqui vemos que se tem que evitar a ADORAÇÃO das imagens, isto é, igual ao que manda o catolicismo oficial.
Pela primeira vez o autor admite que o catolicismo considera dois tipos de culto, o de latria e o de dulia, ANTES não o fez, para dar a impressão, em minha opinião, de que o culto unicamente pode ser de latria. Não explica que a Igreja Católica considera distintos os dois tipos de culto, nem explica que o dado às imagens é de DULIA.
É você livre de opinar como queira acerca de minha forma de expor o problema. Francamente, creio que recorre repetidamente a este duvidoso argumento à falta de elementos mais sólidos.
O que proíbe o “catolicismo oficial” (sic) é o óbvio até ao ridículo: que se adore a imagem em si mesma, como diferente daquele a quem a imagem representa. Esta distinção não requer um magistério infalível, pois qualquer pagão com dois dedos de testa poderia entender isto.
Por outro lado, parece óbvio que as proibições “oficiais” não são muito insistentes, a julgar pelas massas católicas que se amontoam em santuários determinados para prestar culto a determinada advocação da Virgem ou a um Santo particular.
Diz o autor que na época de São Gregório Magno (600 D.C.), ainda "não se inventava" a distinção entre ambos os cultos, mas isto É FALSO.
Sobre o culto de Dulia (este como absoluto se presta aos anjos e aos santos), o testemunho mais antigo data de 156 D.C., no Martyrium Policarpi, onde o autor diz: "A este (Cristo), o adoramos por ser o Filho de Deus; e aos mártires os amamos com razão como discípulos e imitadores do Senhor, pela sua adesão exímia ao seu rei e mestre" (17, 3). Isto seria redundante se não se desse aos mártires um tipo de culto DISTINTO ao que se dava a Cristo, porque tal explicação seria desnecessária em caso contrário.
Julgue o leitor a diferença entre factos e conjeturas. O meu interlocutor nem sequer tenta mostrar que Gregório Magno estabeleceu alguma exceção às suas proibições.
Lamentavelmente, a sua ousada afirmação não é apoiada pelo texto que apresenta como prova, no qual não aparece nem a expressão latreia nem tampouco o termo dulia.
A passagem do Martyrium Polycarpi (assim se escreve) a que apela usa em relação a Cristo o verbo proskyneö, que deve corretamente ser traduzido “adorar”. Em relação aos mártires, usa-se “amar” (grego agapaö). Naturalmente que qualquer cristão pode concordar com tal declaração, que não oferece o mínimo apoio ao culto às imagens nem à dulia dos santos.
São Jerónimo, nas suas lutas com Vigilâncio, defendeu este tipo de culto, diferenciando-o da Adoração a Deus (Ep. 109, I, Contra Vigil. 6).
Santo Agostinho também defende o culto aos mártires refutando a objeção de que com isso se adorava a homens (Contra Faustum XX, 21).
"Veneramos os servos para que os resplendores DESSE CULTO glorifiquem ao Senhor", palavras de São Jerónimo em Ep. 109, I, cf. Cat. Rom. III, 2, 14).
Sobre o culto relativo de dulia (às relíquias), o Martyrium Policarpi recolhe também dados, referindo como os cristãos de Esmirna recolheram os ossos do bispo mártir "mais valiosos que as pedras preciosas e mais estimáveis que o ouro" (18, 2).
Antes de ver o que dizem Jerónimo e Agostinho, cabem aqui duas observações. A primeira é que o meu interlocutor está, segundo a sua própria confissão, tentando estabelecer que a distinção entre “latria” e “dulia” estava estabelecida muito antes do tempo de Gregório Magno.
A segunda é que apela a autores que escreveram em latim, quando os termos que pretende distinguir são, como é sabido, gregos. Deveria pois demonstrar quais são os termos latinos que correspondem aos respetivos gregos, e que eles foram usados por Jerónimo e Agostinho de maneira consistente com a sua tese. Alternativamente, deveria mostrar como minimo minimorum que as noções a que se referem Jerónimo e Agostinho refletem a distinção posterior entre “latria” e “dulia”.
Agora sim, vejamos o que diz Jerónimo:
Nós, é verdade, nos recusamos a prestar culto ou adorar, digo não só as relíquias dos mártires, mas também o sol e a lua, os anjos e os arcanjos, os querubins e serafins, e “todo [outro] nome que se nomeie, não somente neste mundo, mas também no que há de vir”. Pois não podemos “servir a criação em vez do Criador, que é bendito para sempre". Não obstante, honramos as relíquias dos mártires para poder adorar Aquele de quem os mártires são. Honramos os servos para que a sua honra possa refletir-se sobre o seu Senhor, que diz Ele próprio: "o que vos recebe, me recebe a mim”.
É evidente que este texto não diz uma palavra acerca do uso das imagens no culto, que é o tema tratado. E o que diz sobre os mártires parece plenamente compreensível e aceitável para qualquer cristão. Finalmente, diz que não presta nenhum tipo de culto ou adoração nem aos mártires, nem aos anjos.
Agora leiamos Agostinho contra Fausto, o maniqueu:
É verdade que os cristãos rendem honra religiosa à memória dos mártires, para excitar-nos a imitá-los, e para obter parte dos seus méritos, e a assistência das suas orações. Mas não construímos altares a nenhum mártir, mas ao Deus dos mártires, ainda que seja para a memória dos mártires (...) A oferta se faz a Deus, que deu a coroa do martírio, enquanto é em memória dos assim coroados (...) Consideramos os mártires com a mesma intimidade afetuosa que sentimos pelos homens santos de Deus nesta vida, quando sabemos que os seus corações estão preparados para suportar o mesmo sofrimento pela verdade do evangelho. Há mais devoção nos nossos sentimentos pelos mártires, porque sabemos que a sua luta terminou; e podemos falar com mais confiança em louvor daqueles já vencedores no céu, que dos que ainda combatem aqui. O que é culto propriamente divino, que os gregos chamam latria, e para o qual não há palavra em latim, tanto na doutrina como na prática, o damos só a Deus. A este culto corresponde a oferta de sacrifícios; como vemos na palavra idolatria, que significa dar este culto a ídolos. Consequentemente, nunca oferecemos, nem exigimos de ninguém que ofereça, um sacrifício a um mártir, ou a uma alma santa, ou a algum anjo. Qualquer que caia neste erro é instruído pela doutrina, quer seja como correção ou como advertência. Pois os próprios seres santos, sejam santos ou anjos, se recusam a aceitar o que sabem que se deve só a Deus (...) Sacrificar aos mártires, mesmo jejuando, é pior que voltar a casa intoxicado da festa; sacrificar aos mártires, digo, o que é muito diferente que sacrificar a Deus em memória dos mártires, como o fazemos constantemente, da maneira requerida desde a revelação do Novo testamento, pois isso pertence ao culto ou latria que se deve só a Deus.
Como pode ver-se, Agostinho traça a distinção entre latria e a honra que se dá aos mártires, mas não menciona de modo nenhum a dulia, que deixa claro que tal honra é qualitativamente similar à que se deve às pessoas santas ainda vivas. O que corrobora a afirmação de que a suposta distinção entre latria e dulia é posterior.
Como se fosse pouco, nem a citação do Martyrium Polycarpi, nem a de Jerónimo nem a de Agostinho dizem palavra sobre o tema em questão, que se por acaso alguém está esquecido, é o culto às imagens.
Tudo isto nos indica CLARAMENTE que muito antes de São Gregório Magno JÁ se conhecia, amplamente, que o culto de Adoração a Deus, e o culto de Veneração a Relíquias e Santos era diferente, por isso, São Gregório Magno não podia ignorar que existiam distintos tipos de culto.
Como acabo de observar, o que você proclama como tão claro e amplamente conhecido não o é de modo algum.
O autor já fala aqui do desenvolvimento do culto às imagens, embora a sua comparação não seja tão acertada, em praticamente todos os templos católicos, há imagens de Cristo, e cruzes. O autor diz acertadamente que o culto às imagens não remonta aos tempos primitivos. Isto é exato, o culto relativo de dulia às imagens não remonta aos tempos primitivos, por causa do paganismo e do perigo que era o culto às imagens naqueles tempos em que o cristianismo convivia com o paganismo.
Menos mal ... assim que a proibição podia ignorar-se se já não houvesse perigo... O facto é que o perigo da idolatria nunca desapareceu, como o demonstram os frequentes abusos que neste sentido se toleram dentro da grei católica.
Neste sentido é muito ilustrativa a obra de J. Seznec The Survival of Pagan Gods. The Mythological Tradition and its place in Renaissance Humanism and Art (New York: Princeton University Press, 1953).
De qualquer modo, pelo menos admite que o culto às imagens (o nosso tema) não existia em tempos primitivos, ou seja – acrescento eu - durante os primeiros quatro séculos da nossa era. A irrupção do culto às imagens foi contrabandeada para o cristianismo quando este se tornou a religião do império.
O que existia nos tempos primitivos era o culto relativo de dulia aos santos e às relíquias, o que indica distinções: no paganismo, embora se conhecesse o culto látrico às imagens, NÃO se dava nenhum tipo de culto a "santos" ou "relíquias", por isso, no que se refere a santos e relíquias, o cristianismo tinha diferenças grandes em relação ao paganismo, o que permitiu que os Padres antes mencionados reconhecessem outros tipos de culto.
Esta parte é confusa, possivelmente pela sua repetida tentativa de igualar a veneração para com os que nos precederam na fé com o tipo de culto que mais tarde se chamou dulia.
Nos escritos clássicos e nos Padres mais antigos, latreia e douleia e vocábulos afins se usavam de forma intercambiável. Ambas as palavras se relacionam com “servir”. Isto é também evidente no Novo Testamento:
Outrora, quando não conhecíeis a Deus, servíeis (edouleusate) aos que por natureza não são deuses. (Gálatas 4:8).
Porque eles mesmos anunciam de nós qual a entrada que tivemos entre vós, e como vos convertestes dos ídolos a Deus, para servirdes (douleuein) ao Deus vivo e verdadeiro,... (1 Tessalonicenses 1:9).
Daí que deve ficar claro que a veneração de que se falava desde o Martyrium Polycarpi não é o mesmo nem justifica o culto às imagens sancionado em II Niceia.
Mais de 300 bispos concorreram a um concílio convocado em Hieria por Constantino V, filho e sucessor de Leão III em 754. Ali após escutar e discutir os argumentos dos partidários das imagens, se estabeleceu que os únicos símbolos do culto cristão eram o pão e o vinho da Eucaristia.” O autor não nos dá o Denzinger do Concílio que estabeleceu tal coisa, de modo que estou à espera de que nos proporcione o dado. Seria interessante determinar quem estabeleceu que o Pão e o Vinho eram "símbolos".
Outro recurso retórico, por duas razões:
1) Se alguém alguma vez teve um Denzinger nas suas mãos, saberá que o material está disposto em ordem cronológica, de modo que não é realmente necessária numeração alguma para localizar um texto se se conhece o ano em que foi sancionado.
2) Obviamente este Concílio nunca foi incluído no Denzinger, que é uma compilação contemporânea do que a Igreja de Roma hoje crê e ensina.
Em todo o caso, reproduzo abaixo o parágrafo relevante:
A única figura admissível da humanidade de Cristo, no entanto, é o pão e o vinho na Santa Ceia. Esta e nenhuma outra forma, este e nenhum outro tipo, elegeu ele para representar a sua encarnação. Pão ordenou ele que se trouxesse, mas não uma representação da forma humana, para que não surgisse a idolatria.
(The Nicene and Post-Nicene Fathers, Second Series. Philip Schaff, Henry Wace, Eds. Edinburgh: T&T Clark and Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1899; Reprinted 1988. Vol. 14, p. 544).
Os acordos do sínodo foram assinados pela regente Irene e pelo seu filho Constantino VI. Foi neste concílio que se introduziu a arbitrária distinção entre o culto de latria, devido só a Deus, e o de dulia, que seria lícito para os santos. Também se falou de um culto "terminativo", dirigido à pessoa, e outro "relativo" dirigido à imagem que a representa
Já ficou demonstrado que São Jerónimo e outros Padres reconheciam distintos graus e tipos de culto, muito ANTES deste Concílio de Niceia, de modo que é impossível que neste Concílio se tenham introduzido as distinções. Os termos sim, mas não as distinções, estas JÁ eram reconhecidas muito antes.
Ah, os termos sim são uma novidade, mas não a distinção....
Precisamente este é o ponto. A distinção entre o culto devido a Deus e a honra de que falou Jerónimo, ou a intimidade afetuosa a que se refere Agostinho, é qualitativamente diferente da gradação que se estabeleceu em Niceia. Não é uma simples elaboração, mas uma novidade teológica que somente podia fundamentar-se com referências vagas à “tradição” sem prova documental nem das Escrituras nem dos autores cristãos dos primeiros séculos.
Sem dúvida, tais bizantinismos (strictu sensu!) são por completo alheios às Escrituras, onde há um só culto válido, o que se dirige ao Trino Deus.
As Escrituras NÃO dizem que só haja um tipo de culto, embora deixem claro que só a Deus se deve adorar, cultos de outros tipos, e bases para os mesmos; também os há na Escritura:
Santos (Daniel 8, 17; Tobias 12, 16, 2 Macabeus 15, 11-16; Tobias 12, 12; Apocalipse 8, 3)
Imagens (Números 21, 8)
Relíquias (Êxodo 13, 19; 2 Reis 13, 21; Atos dos Apóstolos 19, 12).
As referências bíblicas fornecidas não apoiam de modo algum a tese católica.
Daniel 8:17 diz que o profeta caiu com o rosto em terra por causa do medo, não num ato de adoração ou culto. E não era um “santo” mas um anjo quem tinha à frente.
Em Apocalipse 8:3 não há nenhum culto aos santos; pelo contrário, um anjo medeia a adoração oferecida a Deus pelos santos.
Em Números 21:8 também não se trata de um ato de culto, mas do remédio fornecido por Deus para a praga de serpentes.
Êxodo 13:19 trata do transporte dos restos de José não para prestar-lhes culto algum, mas em cumprimento da sua vontade.
2 Reis 13:21 não descreve nenhum culto, mas menciona de maneira muito concisa um milagre operado mediante os ossos de Eliseu.
Atos 19:12 também não descreve nenhuma classe de culto, mas os milagres que Deus operava (v. 11) por meio de Paulo.
A evidência proporcionada por Tobias e 2 Macabeus não é aceitável, por não ter sido estes livros reconhecidos como canónicos pelos hebreus. Não obstante, ainda que por causa do argumento se os admitisse, também não suportam a tese romana.
Tobias 12:12 (Fala o anjo Rafael) “Quando tu e Sara fazíeis oração, era eu quem apresentava vossas súplicas diante da Glória do Senhor e as lia; eu fazia o mesmo quando enterravas os mortos.”
O texto fala do trabalho de mediação que os anjos realizam, não de algum culto aos anjos.
Tobias 12:16 “Ficaram ambos cheios de espanto e caíram com a face em terra, com grande temor”.
Caso análogo ao de Daniel 8:17, não um ato de culto mas uma reação causada pelo medo. O anjo os alenta, e acrescenta que é a Deus a quem devem bendizer e adorar (v. 17-21).
2 Macabeus 15:11-16 refere um sonho ou visão de Macabeu, onde aparece o sacerdote Onias orando e a seguir aparece o profeta Jeremias. Deste diz Onias, “Este é o amigo dos seus irmãos, aquele que muito ora pelo seu povo e por toda a cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus”. Não há indicação de que Onias preste culto algum a Jeremias.
Não somente estes textos narrativos não demonstram que se prestasse culto a alguma criatura. Também não há nenhum texto bíblico que prescreva ou ensine tal tipo de culto.
Quando Paulo e Barnabé foram tomados por deuses, rejeitaram com horror o culto que se lhes queria prestar, e perderam uma boa oportunidade de explicar que havia outro tipo de culto (dulia) que era lícito (Atos 14:8-18).
Igualmente, o anjo diante do qual se prostrou João supostamente desaproveitou em duas ocasiões a oportunidade de explicar ao vidente de Patmos que havia um tipo de culto (dulia, diferente do dirigido a Deus) que lhe era lícito aceitar. Na verdade as suas palavras excluem que se preste culto a santos e a anjos (Apocalipse 19:10; 22:8-9).
Este concílio niceno, de infausta memória, ao não poder fundamentar escrituralmente o culto às imagens, declarou a insuficiência das Escrituras e lançou um anátema contra os que não estavam dispostos a aceitar doutrinas com base na autoridade da tradição e dos concílios, se as tais não tivessem claro fundamento bíblico.
Novamente o autor omite o, ou os, Denzinger de tal Concílio... falta uma peça de investigação histórica.
Ainda que por razões que antes assinalei, não seja necessária a numeração de Denzinger para encontrar uma declaração nesta obra, na verdade neste caso o meu interlocutor leu com descuido, já que está indicada a referida numeração no final da citação.
Note-se que os bispos iconólatras não puderam nem sequer apelar à suposta tradição apostólica, pois nenhuma havia para apoiar o culto às imagens.
O autor acusa de "iconólatras" os bispos, sem dar provas históricas de que tais bispos prestaram culto de latria às imagens, o que os faria "iconólatras". Falta outro elemento de investigação histórica.
Por favor... as provas históricas são as que até aqui foram acumuladas, e que demonstram claramente que o movimento do culto às imagens penetrou na Igreja de Cristo procedente não das Escrituras nem da tradição cristã mais antiga, mas de práticas e concepções pagãs. Os bispos de Niceia tentaram desembaraçar-se da acusação de iconolatria com o recurso à distinção artificial e injustificada entre latria e dulia, evidentemente para justificar-se como “iconódulos” (literalmente escravos dos ícones) em lugar de iconólatras (adoradores dos ícones). Mas é apenas um verniz para dissimular o desvio fundamental que sancionaram em relação à Igreja antiga.
Esgrimiram, em contrapartida, uma espúria "tradição da igreja católica" quando, na realidade, todos os escritores cristãos dos primeiros séculos que trataram o tema se opuseram por completo a semelhante abominação.
Lendo o escrito anterior, "semelhante abominação" era o culto idolátrico às imagens, coisa que os próprios bispos "iconólatras", não aceitariam... do contrário não teriam proposto, no Concílio de Niceia, os termos distintos para ambos os tipos de culto.
“Outro tipo” de culto que não pode documentar-se nem na Igreja antiga (pré-nicena), nem muitíssimo menos nas Escrituras.
Em conclusão, o culto às imagens, proibido na Bíblia”
Se o autor se arroga o direito de derrogar o primeiro ponto do mandamento de Êxodo 20, 4-5 (feitura de imagens), por tomá-lo de modo RELATIVO, os católicos podem com igual direito derrogar o valor absoluto do segundo ponto (culto às imagens), e tomá-lo do mesmo modo relativo, de modo que o culto proibido na Bíblia, não nos resta dúvida, é o culto idolátrico, mas NÃO o relativo de dulia, ao que se aproxima muito de perto, o episódio da Serpente de Bronze.
Como deve ficar claro do que precede, eu não me arrogo nenhum direito salvo o de praticar uma correta exegese. Por razões que já apresentei, é arbitrário desdobrar o mandamento em duas partes como quer o meu iconódulo interlocutor.
O episódio da serpente de bronze não é de modo algum um ato de culto, nem absoluto nem relativo. Pela minha parte, reconheço aos católicos todos os direitos que queiram invocar, e todas as práticas que desejem promover. O que não admito é que pretendam apresentá-lo como compatível com as Escrituras, e muitíssimo menos ensinado por elas.
rejeitado unanimemente com horror pelos mestres cristãos primitivos, e proibido pelo bispo de Roma Gregório I e pelos trezentos bispos reunidos em Hieria”
Naturalmente, tais cristãos primitivos rejeitavam a idolatria às imagens, por isso a Igreja Católica a condena do mesmo modo.
Vamos de novo: as Escrituras e os cristãos antigos rejeitavam todo o culto dirigido às imagens, não um tipo determinado.
Assim que, queridos católicos e orientais, vos convido a rejeitar os falsos mestres que vos extraviam e a voltar às Escrituras e à prática da Igreja primitiva.”
Certamente, tenho em conta a recomendação do autor, e quando a Igreja me disser que devo adorar imagens, sairei dela, mas enquanto me disser que se as pode (não como dever mas como opção), VENERAR, não vejo motivos para sair dela.
Era o que mais faltava. É óbvio que não vê motivos, porque admitiu o inadmissível.
Em todo o caso, devo corrigir uma vez mais a errónea concepção de que prestar culto às imagens é para o católico simplesmente uma opção. Eis os anátemas relativos às santas imagens:
1. Se alguém não confessa que Cristo nosso Deus pode ser representado na sua humanidade, seja anátema.
2. Se alguém não aceita a representação na arte de cenas evangélicas, seja anátema.
3. Se alguém não saúda tais representações como símbolos do Senhor e dos seus santos, seja anátema.
4. Se alguém rejeita qualquer tradição da igreja, escrita ou não escrita, seja anátema.
Retirado de Documenta Catholica Omnia
No Denzinger 306-308 sai uma versão algo diferente.
Opcional... é obra!
A validade do culto às imagens foi objeto de uma definição dogmática por um concílio ecuménico (II Niceia), mais tarde reafirmada por outro menos ecuménico (Trento) mas igualmente tido por tal pela Igreja de Roma. É segundo a teologia católica, uma verdade de fé, já que foi, dizem, ensinada por Deus e proposto pelo magistério.
Os bispos nicenos declararam:
Entrando, por assim dizer, pelo caminho real, seguindo o ensinamento divinamente inspirado dos nossos Santos Padres, e a tradição da Igreja Católica – pois reconhecemos que ela pertence ao Espírito Santo, que nela habita -, definimos com toda a exatidão e cuidado que de modo semelhante à imagem da preciosa e vivificante cruz devem expor-se as sagradas e santas imagens, tanto as pintadas como as de mosaico .. Porque quanto com mais frequência são contemplados por meio da sua representação em imagem, tanto mais são movidos os que estas olham à lembrança e desejo dos originais e a tributar-lhes a saudação e a adoração de honra [grego apasmos kai timetike proskynesis], não certamente a latria verdadeira que segundo a nossa fé só convém à natureza divina; mas ... se as honre com a oferta de incenso e de luzes, como foi piedoso costume dos antigos” (Denzinger 302; negrito acrescentado).
É interessante que enquanto se reserva para Deus a latria, se use para o culto aos ícones o termo proskynesis, já que a maioria das 60 vezes que o verbo proskyneô aparece no Novo Testamento, corresponde à honra devida a Deus. Igualmente o termo “adorador” (grego proskynêtês foi usado pelo Senhor para referir-se ao culto devido só a Deus: João 4:23.
Este texto é citado pelo novo Catecismo da Igreja Católica (#1161; por alguma razão, a edição que tenho diz erradamente DS 600).
Também esta pérola:
Para dizer brevemente a nossa profissão de fé, nós conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não, que nos foram transmitidas intactas. Uma delas é a representação pictórica das imagens...” (Ibid. # 1160; negrito acrescentado).
O que não cita o Catecismo é a sanção correspondente, hoje politicamente incorreta:
Assim, pois, os que se atrevam a pensar ou ensinar de outra maneira; ou a descartar, seguindo os sacrílegos hereges, as tradições da Igreja, e inventar novidades, ou rejeitar alguma das coisas consagradas à Igreja ... se são bispos ou clérigos, ordenamos que sejam depostos; se são monges ou leigos, que sejam separados da comunhão".
PD: O autor mencionou o Manual de Teologia Dogmática, de Ludwig Ott, explicando quando apareceu o culto às imagens nas igrejas gregas, mas OMITIU (este autor omite muitas coisas), dizer quem defendeu o culto às mesmas.
Obviamente o facto de alguém citar um autor a propósito de um assunto específico não exige que transcreva tudo o que esse autor disse.
De resto, e falando de omissões, noto que a sua crítica se dirige a aspectos selecionados da minha apresentação, obviamente aqueles que estimou como mais discutíveis.
Recordando os ensinamentos de São Jerónimo, para alguns mestres do conflito iconoclasta, e na verdade para a doutrina católica atual, fica claro que o culto às imagens é o mesmo devido às relíquias (este sim remonta aos tempos primitivos), ou seja, o relativo de dulia:
Como disse em outro lado, o culto às imagens não é o mesmo, pelo menos em princípio, que a conservação de relíquias. Os restos e os pertences dos que nos precederam na fé devem ser tratados com respeito. A conservação das relíquias dos santos mártires não é uma prática que se ensine positivamente na Bíblia, mas não parece contrária às Escrituras já que há exemplos que a sustentam.
Ora, prestar-lhes culto – mesmo relativo - já é outro assunto muito diferente, assim como esperar por seu intermédio milagres, como se Deus se tivesse comprometido a operar através de restos ou objetos de santos falecidos. O problema é que a Igreja de Roma vai no seu ensino muito mais além da reverência devida às relíquias ao ensinar que é lícito e proveitoso prestar-lhes culto, com a desculpa que com isso se honra na realidade a Deus: “posto que de tal maneira adoramos e veneramos as relíquias dos mártires e confessores, que adoramos Aquele de quem são mártires e confessores; honramos os servos para que a honra redunde no Senhor, que disse: O que a vós recebe, a mim me recebe [Mt. 10,40]” (João XV, 985-996 e Concílio Romano de 993; Denzinger 342). No entanto, nem os apóstolos nem os anjos de Deus (Apocalipse 22:8-9) aceitaram algum tipo de veneração mesmo “relativa”.
Para além disso, uma coisa é uma relíquia, ou seja, um objeto ou fragmento da propriedade ou dos restos mortais de algum santo, ou da cruz de Cristo, etc., e outra uma imagem, com frequência surgida da imaginação do artista. A relíquia, se for autêntica, tem uma relação direta com o santo, já que foi parte do seu corpo, ou dos seus pertences. A imagem não tem outra relação que a atribuída pela crença de quem a venera.
São João Damasceno, Germano e Nicéforo de Constantinopla, e o abade Teodoro de Estudion, deixaram claro o carácter relativo do culto às imagens.
Ninguém nascido antes do século VII, todos eles raciocinando a posteriori com base no que se tinha tornado a prática, para justificá-la apesar da Escritura e inclusive da tradição mais antiga e confiável.
Que nessa época o culto às imagens tivesse defensores não muda o facto da sua conspícua ausência nos séculos anteriores, por mais “tradição” que invocasse o II Concílio de Niceia.
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