sábado, 16 de abril de 2011

Citações trinitárias primitivas


Existem grupos que negam a Trindade e afirmam que a doutrina não foi mencionada até o tempo do Concílio de Niceia (325 d.C.). Este concílio, primeiro ecuménico, "foi convocado pelo imperador Constantino para tratar o erro do arianismo, o qual ameaçava a unidade da Igreja cristã". Teria sido Constantino quem introduziu a noção e o termo da Trindade.

Para refutar esta fábula que atribui a doutrina trinitária a Constantino, eis aqui algumas citações de autores cristãos anteriores ao tempo de Constantino, que desmentem tal erro:

As seguintes citações mostram que a doutrina da Trindade na verdade estava vigente e generalizada muito antes do concílio de Niceia.

Policarpo (70-155/160). Bispo de Esmirna, discípulo do Apóstolo João.

"Senhor Deus omnipotente: Pai de teu amado e bendito servo Jesus Cristo ... Eu te bendigo, porque me tiveste por digno desta hora, a fim de tomar parte ... na incorrupção do Espírito Santo... Tu, o infalível e verdadeiro Deus. Portanto, eu te louvo ... por mediação do eterno e celeste Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, teu servo amado, pelo qual seja glória a Ti com o Espírito Santo, agora e nos séculos vindouros" (Martírio de São Policarpo, 14:1-3, em D. Ruiz Bueno, Ed., Padres Apostólicos, p. 682).

Inácio de Antioquia (aprox. 35-107). Bispo de Antioquia. No seu caminho para o martírio, escreveu várias cartas em defesa da fé cristã.

"Sois pedras do templo do Pai, preparadas para o edifício de Deus Pai, levantadas às alturas pelo guindaste de Jesus Cristo, que é a cruz, fazendo vezes de corda o Espírito Santo." (Carta aos Efésios, 9:1; Ruiz Bueno, o.c., pág. 452-453).

"A verdade é que nosso Deus Jesus, o Ungido, foi trazido por Maria no seu seio conforme a dispensação de Deus [Pai]; da linhagem, certamente, de David; por obra, no entanto, do Espírito Santo." (Carta aos Efésios, 17:2; Ruiz Bueno, Padres Apostólicos, pág. 457).

Justino Mártir (aprox. 100-165). Foi um mestre, apologista e mártir, discípulo de Policarpo.

"A Ele [o "Deus verdadeiríssimo"] e ao Filho, que d`Ele veio e nos ensinou tudo isto ... e ao Espírito profético, damos culto e adoramos, honrando-os com razão e verdade" (Primeira Apologia 6:2; em D. Ruiz Bueno, Ed., Padres Apologetas Griegos, pág. 187)

"então tomam na água o banho em nome de Deus, Pai e Soberano do universo, e de nosso Salvador Jesus Cristo, e do Espírito Santo." (Primeira Apologia 61:3; em Ruiz Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 250).

Ireneu (115-190). Originário da Ásia Menor, em jovem foi discípulo de Policarpo. Veio a ser bispo de Lyon, nas Gálias. Foi o principal teólogo do segundo século.

"A Igreja, ainda que dispersa em todo o mundo, até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e seus discípulos esta fé: ... num Deus, o Pai Omnipotente, fazedor do céu e da terra e do mar e de todas as coisas que neles há; e num Jesus Cristo, o Filho de Deus, que encarnou para a nossa salvação; e no Espírito Santo, que proclamou por meio dos profetas as dispensações de Deus e os adventos e o nascimento de uma virgem, e a paixão, e a ressurreição dentre os mortos, e a ascensão ao céu, na carne, do amadíssimo Jesus Cristo, nosso Senhor, e a Sua manifestação desde o céu na gloria do Pai, a fim de 'reunir num todas as coisas', e para ressuscitar renovada toda carne da inteira raça humana, para que diante de Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, e Salvador, e Rei, segundo a vontade do Pai invisível, 'se dobre todo o joelho, das coisas nos céus, e das coisas na terra, e das coisas debaixo da terra, e que toda a língua o confesse, e que Ele execute um justo juízo sobre todos..." (Contra todas as heresias, I, 10:1; em Ante-Nicene Fathers vol. 1).

Teófilo de Antioquia (Segunda metade do século II). Bispo de Antioquia e apologista. Apresentou a doutrina cristã aos pagãos. É o primeiro a utilizar o termo "Trindade" (grego, trias).

"Igualmente também os três dias que precedem a criação dos luminares são símbolos da Trindade, de Deus, do seu Verbo e da sua Sabedoria [o Espírito]" (Três livros a Autólico II:15; em Ruiz Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 805).

Atenágoras de Atenas (Segunda metade do século II). Defensor da fé cristã. Dirigiu uma "Legação" ou defesa dos cristãos ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cómodo, em 177.

"Quem, pois, não se surpreenderá de ouvir chamar ateus aos que admitem um Deus Pai e um Deus Filho e um Espírito Santo, que mostram a sua potência na unidade e a sua distinção na ordem?" (Legação a favor dos cristãos, 10; em Ruiz Bueno, Padres Apologetas Griegos, pág. 661).

Tertuliano de Cartago (160-215). Apologista e teólogo africano. De profissão advogado, escreveu eloquentemente em defesa do cristianismo.

"Definimos que existem dois, o Pai e o Filho, e três com o Espírito Santo, e este número está dado pelo modelo da salvação ... [o qual] traz unidade em trindade, inter-relacionando os três, o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Eles são três, não em dignidade, mas em grau; não em substância mas em forma; não em poder, mas em espécie. Eles são de uma substância e poder, porque há um Deus de quem estes graus, formas e espécies se mostram no nome do Pai, Filho e Espírito Santo." (Contra Práxeas, 23; PL 2.156-7).

Orígenes (aprox. 185-254). Teólogo de Alexandria, crítico e exegeta bíblico, prolífico autor. Discípulo de Clemente de Alexandria.

"Se alguém disser que o Verbo de Deus ou a Sabedoria de Deus tiveram um começo, advirtamos esse tal não seja que dirija a sua impiedade também contra o ingénito Pai, já que negaria que Ele foi sempre Pai e que Ele gerou sempre o Verbo, e que sempre teve sabedoria em todos os tempos anteriores ou idades, ou qualquer coisa que possa imaginar-se anteriormente. Não pode haver título mais antigo do Deus omnipotente que o de Pai, e é através do Filho que Ele é Pai." (Sobre os princípios 1.2.; Patrologia Graeca 11.132).

"Pois se este fosse o caso [que o Espírito Santo não fosse eternamente como Ele é, e tivesse recebido conhecimento em algum momento e então chegado a ser o Espírito Santo] o Espírito Santo nunca teria sido reconhecido na unidade da Trindade, ou seja, junto com os imutáveis Pai e Filho, a menos que Ele sempre tivesse sido o Espírito Santo... De qualquer modo, parece apropriado inquirir qual é a razão pela qual quem é regenerado por Deus para salvação tem que ver tanto com o Pai e o Filho como com o Espírito Santo, e não obtém a salvação senão com a cooperação de toda a Trindade; e por que é impossível ter parte com o Pai e o Filho, sem o Espírito Santo" (Sobre os princípios I, 3:4-5, em Alexander Roberts and James Donaldson, eds., The Ante-Nicene Fathers, Grand Rapids: Eerdmans, Reimpr. 1989, Vol. 4, pág. 253).

"Além disso, nada na Trindade pode ser chamado maior ou menor, uma vez que sozinha a fonte da divindade contém todas as coisas pela Sua palavra e razão, e pelo Espírito de Sua boca santifica todas as coisas que são dignas de santificação ... Tendo feito estas declarações respeitantes à Unidade do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, voltemos à ordem em que começamos a discussão. Deus o Pai concede, antes de tudo, a existência; e a participação em Cristo, considerando que o Seu ser é a palavra da razão, os torna seres racionais ... [e] é a graça do Espírito Santo presente pela qual aqueles seres que não são santos por essência, podem ser tornados santos por participar dela" (Sobre os princípios I, 3:7-8, em Roberts and Donaldson, pág. 255).

Se é verdade, como sustentam os antitrinitários, que a Trindade não é uma doutrina bíblica nem nunca foi ensinada até o Concílio de Niceia em 325, por que razão existem estes textos? A resposta é simples: A Trindade é uma doutrina bíblica e foi ensinada antes do Concílio de Niceia.

Poderia acrescentar-se que o Concílio de Niceia não fez mais que tornar claro, de forma consensual, o que já era, há muito tempo, a doutrina ortodoxa ensinada e aceite pelos cristãos.

1 comentário:

  1. A divindade de Cristo na Igreja primitiva (pós-apostólica):

    http://thecripplegate.com/did-the-early-church-affirm-jesus-deity/#more-11187

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