quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A evidência de que Pedro tenha sido o primeiro bispo de Roma


Diz a Igreja Católica Romana

"O Papa, Bispo de Roma e sucessor de São Pedro, "é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade, quer dos Bispos, quer da multidão dos fiéis " (LG 23). "Com efeito, o Pontífice Romano, em virtude de seu múnus de Vigário de Cristo e de Pastor de toda a Igreja, possui na Igreja poder pleno, supremo e universal. E ele pode exercer sempre livremente este seu poder" (LG 22; cf. CD 2. 9)." (CIC N° 882, negrito e sublinhados acrescentados)

"O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo " (DV 10), isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma." (CIC N° 85, negrito e sublinhados acrescentados)

"... todo bispo exerce seu ministério dentro do colégio episcopal, em comunhão com o Bispo de Roma, sucessor de São Pedro e chefe do colégio; os presbíteros exercem seu ministério dentro do presbitério da diocese, sob a direção de seu Bispo." (CIC N° 877, negrito e sublinhados acrescentados).

No entanto

Não existe evidência de que Pedro tenha fundado a Igreja de Roma, nem de que tenha sido o seu primeiro bispo. Já que a ser isto verdade deveria ter ocorrido não mais tarde que 64 a 67, datas prováveis do martírio de Pedro, o documento fundamental para a nossa avaliação tem que ser o Novo Testamento. Eis aqui os dados:

[ 37 - 40 dC ]

1. A conversão de Paulo ocorreu provavelmente entre 34 e 37. Em Gálatas 1:13-18 Paulo diz que três anos depois da sua conversão viajou até Jerusalém e permaneceu com Pedro durante 15 dias; portanto, em 37 ou 40 Pedro ainda estava em Jerusalém.

2. Em Atos 9 a 11 narra-se a atividade missionária de Pedro em Lida, Jope e Cesareia (Atos 9-11); portanto não estava por então em Roma.

[ 45 dC ]

3. Depois da citada digressão, Pedro voltou a Jerusalém (Atos 11:2). Em Atos 12:1-3 Lucas nos diz que por esse tempo Herodes (Agripa) fez matar o Apóstolo Tiago, irmão de João, e encarcerar vários cristãos, entre eles Pedro. A milagrosa libertação de Pedro enfureceu Herodes Agripa (Atos 12:19). Ora bem, este rei morreu pouco depois (12:23). Segundo Flávio Josefo isso ocorreu durante o quarto ano do reinado do imperador Cláudio, ou seja em 45, e Pedro ainda estava em Jerusalém.

4. Em Gálatas 2:1, Paulo diz que 14 anos depois da sua primeira visita à igreja de Jerusalém, retornou e esteve com Tiago (o irmão do Senhor), Pedro e João (2:9). Pedro ainda permanece em Jerusalém. Depois disso, Pedro retribui a visita, viajando até Antioquia (ocasião em que Paulo o repreende por judaizar); portanto se encontra ainda no Próximo Oriente, longe de Roma.

[ 48 - 49 dC ]

5. Pedro tem um papel destacado no chamado "Concílio de Jerusalém" registado em Atos 15, a propósito do problema dos judaizantes, que teve lugar provavelmente por volta de 48 ou 49; portanto nessas datas também não se encontrava em Roma. Depois disso, possivelmente viajou pelas províncias orientais do império com a sua esposa (1 Coríntios 9:5).

[ 54 - 57 dC ]

6. A carta de Paulo aos Romanos é datada entre 54 e 57. Escreve-lhes para "confirmá-los" e "anunciar-lhes o Evangelho" (1:11-15), coisa estranha se se supõe que Pedro já estava ali ensinando, sobretudo quando se recorda que Paulo não queria gloriar-se do feito por outros (2 Coríntios 10:15-16), e "edificar sobre o fundamento de outro" (Romanos 15:20). Além disso, no capítulo 16 Paulo saúda pelo nome 26 pessoas que conhecia na Igreja de Roma, mas não menciona em lado nenhum Pedro. Portanto, é razoável pensar que por volta de 57 Pedro também não estava em Roma.

[ 58 - 62 dC ]

7. Paulo foi feito prisioneiro e permaneceu em Roma entre 58 e 60 (ou 60 a 62), e permaneceu ali não menos de 2 anos (Atos 28:30). A partir dali escreveu Efésios, Colossenses, Filemom e Filipenses. Em nenhuma destas epístolas menciona a presença de Pedro em Roma em finais dos anos 50 ou princípios dos anos 60.

8. Depois Paulo foi libertado e visitou as igrejas do Oriente. Foi feito prisioneiro e martirizado por volta de 67. Pouco antes escreveu 2 Timóteo, onde diz expressamente [2 Ti 4:11], "Só Lucas está comigo", e envia saudações de vários irmãos ("Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos"), mas novamente Pedro está ausente [4:21].

Diante do aqui exposto, é razoável pensar que se as tradições acerca da morte de Pedro em Roma estiverem corretas, a sua estadia e atividade deve ter sido relativamente breve, possivelmente coincidindo com a libertação transitória de Paulo (ou seja, entre 60 e 66 no máximo, antes que fosse escrito 2 Timóteo). As epístolas de Pedro datariam de aproximadamente 64. Portanto, se bem que pareça muito provável que Pedro tenha pregado e morrido em Roma, não há evidência que tenha fundado a Igreja romana, nem que tenha sido o seu primeiro bispo.

Portanto, do ponto de vista histórico a pretensão do bispo romano de ser o "sucessor de Pedro", com o primado, a infalibilidade e qualquer outra prerrogativa singular, carece por completo de fundamento sólido. Trata-se de um gigantesco edifício construído sobre areia.

Bênçãos em Cristo,
Fernando D. Saraví

19 comentários:

  1. Querido Lucas ! vc já me respondeu , mas pergunto aqui pra q todos vejam a resposta, teólogos católicos estão usando eusébio de cesareia pra dizer q Pedro teve um primado como bispo de Roma por 25 anos horas citam História Eclesiastica, horas citam Cronicas de Eusébio,usam principalmente esta citação :
    “Pedro, de nacionalidade Galileia, o primeiro pontífice dos cristãos, tendo inicialmente fundado a Igreja de Antioquia, se dirige a Roma, onde, pregando o Evangelho, continua vinte e cinco anos Bispo da mesma cidade.” (Crônicas de Eusébio Página 261 parágrafo 2) [1]

    Gostaria q o senhor desse a resposta de forma q todos vejam! Abraço!

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  2. Olá,

    Eu não sou o Lucas :). O Lucas é o dono do blog heresiascatolicas.blogspot.com

    Bom, admiro-me que haja quem ainda dê crédito a estes desvarios. Não há atualmente nenhum teólogo católico sério que defenda que Pedro foi Bispo de Roma durante 25 anos.

    Esse texto para começar está mal referenciado. Ele foi retirado da "Crónica de São Jerónimo", que é em grande parte uma tradução para o latim da "Crónica de Eusébio", mas não é uma mesma obra.

    Diga-se que esta fonte de informações bibliográficas, a «Crónica de São Jerónimo», hoje é unanimemente considerada pouco confiável.

    Pode ser vista aqui. http://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_chronicle_03_part2.htm

    Ora bem, ao que parece há um texto arménio da «Crónica de Eusébio de Cesareia» que diz que Pedro visitou Roma e permaneceu lá por vinte anos.

    «Devemos, pois, descartar por completo o que Eusébio de Cesareia declara no texto arménio da sua «Crónica», seguida substancialmente por Jerónimo (Catal. 1) e por multidões de católicos, quanto a Pedro ter visitado Roma numa data tão precoce como no ano 42 D.C., e que permaneceu ali durante vinte anos! (Jerónimo et al. dizem vinte e cinco anos): uma afirmação tão impossível de sustentar-se com o que a Escritura declara de Pedro, como com o que aprendemos ali de Paulo.»

    (W. Kelly, An Exposition of The Acts of the Apostles, cap. 28:11-15, pág. 393)

    Portanto, isto do bispado de Pedro em Roma por 25 anos, é uma lenda pós-apostólica , da qual Eusébio como historiador fez eco, e que pode traçar-se à literatura pseudo-clementina, da primeira metade do século III. Que o Apóstolo Pedro viajasse para Roma numa data tão precoce (ano 42 D.C.) e permanecesse ali por 20 ou 25 anos é impossível se se levarem em conta os dados do Novo Testamento, como o «post» acima o demonstra.

    Abraços

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  3. Só mais uma coisa:

    Repare que mesmo que admitíssemos o primado de Pedro e que fosse verdade a notícia de Jerónimo sobre o bispado de Pedro em Roma por 25 anos, ficaria por demonstrar que o que Jesus disse a Pedro como Apóstolo se aplicava aos seus sucessores, e que estes eram somente os bispos romanos e não os de outras sedes, como Antioquia.

    Em resumo, estas declarações ajudam bem pouco a causa do papado.

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  4. Desculpa meu querido ! N sei seu nome! Mas continuando , sou leigo em patrística, mas com a medida das minhas forças tenho combatido heresias católicas apenas com conhecimento da palavra, Lucas bazoli me explicou q este texto pode ter sido interpolado nos escritos de Eusébio da Cesareia por algum escriba, já q ele aparece em uma obra mas não aparece em outra, ele no original aparece grifado e com nota de remissão,vou expor aqui a explicação de Lucas Bazoli e gostaria q o senhor comentasse para enriquecer a todos de conhecimento:

    Sobre as Crônicas de Eusébio, você pode ver aqui:

    http://www.tertullian.org/fathers/jerome_chronicle_03_part2.htm

    É fundamental notar o que diz a nota de rodapé daquele mesmo texto, onde está escrito:

    "In the PL, not in the Ms. there follows: Peter the Apostle founded the Church at Antioch, and there securing his (episcopal) throne, he sat (reigning as bishop) for 25 years"

    Ou seja, este texto está em um manuscrito mas não está em outro manuscrito, o que significa, com toda probabilidade, que é uma interpolação posterior feita por algum escriba (senão estaria nos dois manuscritos e não somente em um deles).

    Grande abraço!

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  5. Vamos lá de novo:

    A «Crónica de Eusébio» original em grego se perdeu, e o que sabemos dela é através de duas traduções antigas: «A tradução Latina de Jerónimo» e a «tradução arménia da Crónica».

    Ocorre que há muitas diferenças entre estas duas traduções. Não é somente no tempo do bispado de Pedro em Roma (como já vimos, uma menciona vinte cinco anos outra apenas vinte anos).

    Também há dificuldades em encontrar o texto autêntico da Crónica de Jerónimo em latim, porque há muitos manuscritos antigos, adições e interpolações, o que provoca a existência de muitas variantes. A edição que se encontra na internet aqui

    http://www.tertullian.org/fathers/jerome_chronicle_03_part2.htm ou http://www.ccel.org/ccel/pearse/morefathers/files/jerome_chronicle_03_part2.htm

    é uma edição crítica moderna baseada no texto da Patrologia Latina mas sem as muitas interpolações e adições que esta edição tem. A afirmação que aparece em nota de rodapé, de que Pedro foi bispo de Antioquia por 25 anos a partir do ano 36, está precisamente no texto da Patrologia Latina, mas foi retirada pelos autores nesta edição crítica moderna.

    Portanto, como se pode ver, temos várias afirmações contraditórias entre si, e há claros indícios que houve aqui falsificações pelo meio.

    De fato, há quem defenda que a afirmação dos vinte cinco anos de Pedro em Roma foi uma adição de Jerónimo ao texto de Eusébio.

    «Lemos na Crónica de Eusébio, no ano 43, que Pedro, depois de fundar a Igreja de Antioquia, foi para Roma, onde pregou o Evangelho por vinte e cinco anos e foi bispo daquela cidade. Mas esta parte da Crónica não existe no grego, nem no Arménio, e supõe-se ter sido uma das adições feitas por Jerónimo. Eusébio não diz o mesmo em qualquer outra parte dos seus escritos, embora ele mencione São Pedro, indo para Roma no reinado de Cláudio: mas Jerónimo diz-nos que ele veio no segundo ano deste imperador, e manteve a Sé vinte e cinco anos. Por outro lado, Orígenes, que é citado pelo próprio Eusébio, diz que Pedro foi para Roma no final da sua vida: e Lactâncio coloca isto no reinado de Nero, e acrescenta que ele sofreu o martírio não muito tempo depois. Portanto o testemunho dos Padres se não desmente expressamente a sua longa permanência em Roma, está pelo menos dividido. Eusébio, de fato, diz na sua história, como já observamos, que Pedro foi para Roma no reinado de Cláudio: mas essa passagem, se lida com atenção, parece implicar que ele não ficou lá por muito tempo. Os Atos dos Apóstolos também tornam impossível que ele tenha residido lá durante os dezoito primeiros anos após a Ressurreição, enquanto o segundo ano de Cláudio (que é o tempo mencionado por Jerónimo da sua ida para Roma ) calha com o nono ano depois da Ressurreição, ou AD 42. A história contida nos Atos pode talvez lhe permitir ter ido a Roma algum tempo no reinado de Cláudio, mas a sua visita deve ter sido curta: se seguirmos Eusébio, ela deve ter sido antes dos eventos registrados no capítulo 18 dos Atos»

    (Edward Burton, A description of the antiquities and other curiosities of Rome", Volume 2, pag. 245-246).

    http://books.google.pt/books?id=x4hWAAAAYAAJ&pg=PA245&lpg=PA245&dq=We+read+in+the+Chronicle+of+Eusebius,+at+the+year+43,+that+Peter,+after+founding+the+Church+of+Antioch,&source=bl&ots=AbvA7U27Yh&sig=ff1sqcR0uOERGifQ-CEYIZFiVGE&hl=pt-PT&sa=X&ei=7EwwU5ipHsm57Aa-gIHgBg&ved=0CFsQ6AEwBg#v=onepage&q=We%20read%20in%20the%20Chronicle%20of%20Eusebius%2C%20at%20the%20year%2043%2C%20that%20Peter%2C%20after%20founding%20the%20Church%20of%20Antioch%2C&f=false

    Em suma, esta fonte «da Crónica de São Jerónimo» é uma grande trapalhada e realmente pouco confiável.

    Mas não precisamos de nos preocupar com isto. Basta-nos saber que com interpolações ou sem interpolações, a afirmação de que Pedro foi bispo de Roma durante vinte ou vinte cinco anos, quando cruzada com os dados do Novo Testamento, não pode ser verdadeira.

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  6. O Catálogo Liberiano, escrito em Roma em 350, portanto mais ou menos na mesma época que foi escrita a Crónica de Eusébio, dá como período do bispado de Lino os anos 56 a 67. Portanto, se a Crónica afirma que Pedro foi bispo de Roma durante 25 anos a partir do ano 42, uma das duas fontes está errada. Possivelmente estão as duas, porque não havia bispos monárquicos em Roma no século I.

    Mas se tomássemos como boa a informação do Calendário Liberiano, isso significaria que Lino era o bispo quando Pedro esteve em Roma.

    Também não existe sequer unanimidade na ordem da sucessão dos diferentes bispos de Roma que dão as diferentes fontes.

    E são nestas credenciais, no melhor caso duvidosas e, no pior, falsas, que se apoiam as grandes pretensões romanas.

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  7. Já to até com vergonha de tanto lhe perguntar as coisas, mas se possível me oriente em cima destas citações sobre " o tal do suposto primado de Pedro em Roma" Perdão pelo incomodo! mas sei q minha dúvida é a de muitos, ai vai :
    “[...]quanto a Lino, cuja presença junto dele [do Apóstolo Paulo] em Roma foi registrada na 2ª carta a Timóteo [cf. 2Tm 4,21], depois de Pedro foi o primeiro a obter ali o episcopado, conforme mencionamos mais acima.” (Eusébio Bispo de Cesaréia – HE,IV,8 – 317 d.C).

    “[...]Alexandre recebeu o episcopado em Roma, sendo o quinto na sucessão de Pedro e Paulo” (Eusébio Bispo de Cesaréia – HE,IV,1 – 317 d.C).

    Note que Eusébio diz que Depois de Pedro Alexandre foi o 5º bispo de Roma ou seja o 6º bispo de Roma:
    Pedro -> Lino -> Anacleto -> Clemente -> Evaristo -> Alexandre

    Tertuliano (155-222 d.C.) falou da morte e atividade de Pedro em Roma:

    “A Igreja também dos romanos pública – isto é, demonstra por instrumentos públicos e provas – que Clemente foi ordenado por Pedro.“

    “Feliz Igreja, na qual os Apóstolos verteram seu sangue por sua doutrina integral!” - e falando da Igreja Romana, “onde a paixão de Pedro se fez como a paixão do Senhor.“

    “Nero foi o primeiro a banhar no sangue o berço da fé. Pedro então, segundo a promessa de Cristo, foi por outrem cingido quando o suspenderam na Cruz.” (Scorp. c. 15)

    Cipriano (martirizado em 258), Bispo de Cartago (norte da África):

    “A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal.” (Epístola 55,14.)

    Santo Agostinho (354 – 430):

    “A Pedro sucedeu Lino.” (Ep. 53, ad. Gen.)
    Cipriano (martirizado em 258), Bispo de Cartago (norte da África):
    “A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal.” (Epístola 55,14.)
    Existem fraudes nestas argumentações? por favor me oriente..
    Perdão por tanto te incomodar querido , mas certas informações são difíceis na net ...

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    1. Não é desta forma, com simples citações isoladas, que se conclui qual era a eclesiologia de um padre da Igreja. É preciso ir muito mais longe e ver em que contexto essa frase foi dita, o que eles escreveram noutros lados, em que eventos estiveram envolvidos, ou seja, ter um conhecimento muito mais amplo dos seus escritos, do seu pensamento, e da sua vida.

      Também é preciso ter em conta certos anacronismos, porque alguns argumentos e conceitos usados pelos padres antigos, na sua época e contexto histórico, hoje não fazem mais sentido.

      Quanto à primeira citação da HE de Eusébio de Cesareia, pode ver o comentário abaixo. Ele nunca menciona Pedro como tendo sido bispo de Roma.

      Repare que o autor está a querer ir mais longe do que aquilo que está escrito. Note que Eusébio diz que depois de Pedro e Paulo, Alexandre foi o 5º bispo de Roma, ou seja, o 5º bispo de Roma :)

      Quando Eusébio diz "sendo o quinto na sucessão de Pedro e Paulo”, refere-se a uma sucessão temporal, não a uma sucessão episcopal. Ou será que Paulo também foi bispo de Roma?

      A seguir Tertuliano fala da morte e atividade de Pedro em Roma. Isto é historicamente muito provável que tenha acontecido.

      Note que segundo Tertuliano foi Clemente que sucedeu a Pedro. O que contradiz o dito por Ireneu e Eusébio para os quais foi Lino, e a própria lista oficial de papas da Igreja Católica, que considera Clemente o quarto papa. Não se compreende como se pode defender ao mesmo tempo, sem desonestidade intelectual, a credibilidade do relato de Tertuliano e da lista oficial de papas.

      Quanto a Cipriano já foi amplamente falado aqui. Na verdade Cipriano não disse textualmente o que está citado como tendo dito. O que Cipriano disse foi:

      "Depois de tais coisas como estas, ainda se atrevem – tendo sido nomeado para eles um falso bispo pelos hereges - a embarcar e levar cartas de pessoas cismáticas e profanas ao trono de Pedro, e à Igreja principal onde a unidade sacerdotal tem a sua fonte; e a não considerar que estes foram os romanos cuja fé foi louvada na pregação pelo Apóstolo, aos quais a falta de fé não podia aceder".

      O erudito ortodoxo John Meyendorff explica:

      "A visão de Cipriano da "cátedra" de Pedro (cathedri Petri) foi que ela pertencia não só ao bispo de Roma, mas a cada bispo dentro de cada comunidade. Portanto, Cipriano usou não o argumento da primazia romana, mas o da sua própria autoridade como "sucessor de Pedro" em Cartago ... Para Cipriano, a “cátedra de Pedro”, era um conceito sacramental , necessariamente presente em cada igreja local: Pedro era o exemplo e modelo de cada bispo local, que, dentro da sua comunidade, preside à Eucaristia e possui "o poder das chaves" para perdoar pecados. E uma vez que o modelo é único, único é também o episcopado (episcopatus unus est) comum, em igual plenitude ( in solidum ) por todos os bispos" (John Meyendorff, Imperial Unity and Christian Divisions (Crestwood: St. Vladimir’s, 1989), pp. 61, 152).

      Os católicos parecem assumir automaticamente que “Cátedra de Pedro” significa o Bispo de Roma, mas não é isso o que significa no pensamento de Cipriano.

      Sobre Cipriano veja mais aqui e nas páginas referidas nos comentários:

      http://conhecereis-a-verdade.blogspot.pt/2012/12/defendamos-cipriano-de-cartago-dos.html

      O que possa ter escrito Agostinho ou outro em finais do século IV, ou seja, mais de trezentos anos depois dos supostos fatos, carece de valor histórico.

      E Roma deve concordar comigo porque, ao contrário da sua lista oficial, na continuação Agostinho menciona Clemente como o terceiro bispo de Roma.

      Abraços

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  8. IRENEU, EUSÉBIO E AS CONSTITUIÇÕES APOSTÓLICAS AFIRMAM QUE O PRIMEIRO BISPO DE ROMA FOI LINO.

    Na sua «História Eclesiástica» Eusébio afirma o seguinte:

    I
    [Quem foi o primeiro que presidiu a Igreja de Roma]
    1. Depois do martírio de Paulo e de Pedro, o primeiro a ser eleito para o episcopado da Igreja de Roma foi Lino. Ele é mencionado por Paulo quando escreve de Roma a Timóteo, na despedida ao final da carta (2 Tm 4:21)."

    Note-se que Eusébio de Cesareia nunca menciona Pedro como tendo sido alguma vez Bispo de Roma.

    Isto porque Eusébio seguia uma lista dos doze primeiros bispos de Roma, dada por Ireneu de Lyon no século II, em que o primeiro bispo de Roma mencionado era Lino.

    Eusébio cita então a lista de Ireneu, onde o bispo de Lyon classifica Lino como o primeiro bispo de Roma:

    VI
    [Lista dos bispos de Roma]
    1. "Os bem-aventurados apóstolos, depois de haverem fundado e edificado a Igreja, puseram o ministério do episcopado em mãos de Lino. Este Lino é mencionado por Paulo em sua carta a Timóteo ..."

    As Constituições Apostólicas também indicam que Lino, tendo sido ordenado por Paulo, foi o primeiro bispo de Roma, sendo o seu sucessor Clemente, que foi ordenado por Pedro (cfr. Constituições Apostólicas 7.4).

    Anacleto é considerado o sucessor de Lino por Ireneu,

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  9. A BÍBLIA E A HISTÓRIA FORNECEM EVIDÊNCIA DEFINITIVA DA NATUREZA VÁCUA E ESPÚRIA DAS PRETENSÕES ROMANISTAS.

    «As listas mais antigas de papas começam, não com Pedro, mas com um homem chamado Lino. A razão pela qual o nome de Pedro não foi listado foi porque ele era um apóstolo, que era uma super-categoria, muito superior ao papa ou bispo... A comunidade cristã em Roma, bem dentro do segundo século operava como uma coleção de comunidades separadas sem qualquer estrutura central... Roma era uma constelação de igrejas domésticas, independentes umas das outras, cada uma das quais era livremente governada por um ancião. As comunidades, portanto, basicamente seguiam o padrão das sinagogas Judaicas das quais se desenvolveram.» (John O'Malley. A History of the Popes. Sheed & Ward, 2009, p. 11)

    «É certo que a posição católica, que os bispos são os sucessores dos apóstolos por instituição divina, está longe de ser fácil de estabelecer... O primeiro problema tem a ver com a noção de que Cristo ordenou apóstolos como bispos... Os apóstolos eram missionários e fundadores de igrejas; não há nenhuma evidência, nem é de todo provável, de que qualquer um deles alguma vez tenha fixado residência permanente numa igreja em particular como seu bispo... A carta dos Romanos aos Coríntios, conhecida como I Clemente, que data de cerca do ano 96, fornece boas evidências de que cerca de 30 anos após a morte de São Paulo a igreja de Corinto estava sendo liderada por um grupo de presbíteros, sem indicação de um bispo com autoridade sobre toda a igreja local... A maioria dos académicos são da opinião de que a igreja de Roma, muito provavelmente também era liderada nesse tempo por um grupo de presbíteros... Existe um amplo consenso entre os académicos, incluindo muitos católicos, que tais igrejas como Alexandria, Filipos, Corinto e Roma, muito provavelmente, continuaram a ser lideradas por algum tempo por um colégio de presbíteros, e que só no segundo século a estrutura tríplice tornou-se a regra geral, com um bispo, assistido por presbíteros, presidindo a cada igreja local» (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, pp. 13,14,15).

    «De acordo com Ireneu, Pedro e Paulo, não somente Pedro, nomearam Lino como o primeiro na sucessão de bispos de Roma. Isto sugere que Ireneu não pensava em Pedro e Paulo como bispos, ou em Lino e aqueles que se seguiram como sucessores de Pedro mais do que de Paulo» (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, p. 148).

    «Devemos concluir que o Novo Testamento não fornece nenhuma base para a noção de que antes dos apóstolos morrerem, eles ordenaram um homem para cada uma das igrejas que eles fundaram... "Havia um Bispo de Roma no primeiro século?"... A evidência disponível indica que a igreja em Roma era liderada por um colégio dos presbíteros, e não por um único bispo, por pelo menos várias décadas do século II» (Sullivan F.A. From Apostles to Bishops: the development of the episcopacy in the early church. Newman Press, Mahwah (NJ), 2001, p. 80,221-222).

    (Continua)

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  10. «Fontes primitivas, incluindo Eusébio, reivindicam que Lino ocupou o cargo por cerca de 12 anos, mas elas não são claras sobre as datas exatas ou o seu exato papel pastoral e autoridade. Deve ser lembrado que ao contrário da piedosa crença católica, a estrutura episcopal monárquica de governo da igreja (também conhecida como o episcopado monárquico, em que cada diocese era liderada por um único bispo) ainda não existia em Roma neste tempo» (McBrien, Richard P. Lives of the Popes: The Pontiffs from St. Peter to Benedict XVI. Harper, San Francisco, 2005 updated ed., p. 34).

    «Para começar, na verdade, não havia 'papa', nem bispo como tal, pois a igreja em Roma foi lenta a desenvolver o cargo de presbítero ou bispo chefe... Clemente não fez nenhuma reivindicação de escrever como bispo... Não há nenhuma maneira de definir uma data em que o cargo de bispo dirigente surgiu em Roma... mas o processo estava certamente completo pelo tempo de Aniceto, em meados dos anos 150» (Duffy, Eamon. Saints & Sinners: A History of the Popes, 2nd ed. Yale University Press, London, 2001, pp. 9, 10,13).

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  11. “A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro, a Igreja principal, de onde se origina a unidade sacerdotal.” (Epístola 55,14.).

    Este texto supracitado (pelo Cosme) é o que mais está sendo utilizado atualmente pelos que defendem o papado por causa dos termos "principal" e unidade" e daí decorrem toda a argumentação romana,mas tal argumentação é um non sequitur,pois não se segue que deste trecho isolado Pedro tenha sido papa e que seus sucessores teriam legitimidade bíblica para liderarem a Igreja até aos dias hodiernos!

    É igual aquela citação elogiosa de Inácio que aduz que: "Roma preside na caridade" e então a partir daí vale tudo para se retirar desta simples frase isolada...Pedro foi Papa;a Igreja de Roma era superior hierarquicamente as outras...

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    1. A ironia é que Cipriano de Cartago foi um firme opositor das pretensões de Roma.

      Mas nunca ouviram falar do Concílio de Cartago de 256, em que Cipriano reunido juntamente com outros 71 bispos africanos, decretaram o rebatismo dos hereges, contra a doutrina defendida pelo então bispo de Roma, Estêvão, que os tinha ameaçado com excomunhões se persistissem nesse procedimento?

      E que por isso cessou a comunhão com o bispo de Roma?

      Isto demonstra claramente, que os bispos africanos não criam que o bispo romano tivesse algum primado de jurisdição e ensino sobre a Igreja universal, e muito menos que fosse infalível, ou que estavam a desobedecer ao Vigário de Cristo.

      Além disso, é bom notar que esse trecho, apesar de ser citado como sendo algo que Cipriano disse, na realidade é uma paráfrase do que os católicos pensam que Cipriano disse.

      A frase "A cátedra de Roma é a cátedra de Pedro" NÃO EXISTE nas epístolas de Cipriano.

      O que evidencia que os romanistas só podem justificar a sua doutrina enganando e invocando citações inexistentes.

      Cipriano também escreveu: "Ninguém entre nós se proclama a si mesmo bispo dos bispos, nem obriga os seus colegas por tirania ou terror a uma obediência forçada, considerando que todo o bispo por sua liberdade e poder tem o direito de pensar como quiser e não pode ser julgado por outro, assim como ele não pode julgar outros. Devemos esperar todos o juízo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual só ele tem o poder de nos nomear para o governo da sua Igreja e de julgar as nossas ações.' (Sobre o batismo dos hereges)

      "Certamente os outros Apóstolos também eram o que era Pedro, dotados de um igual companheirismo de honra e poder".

      Sobre a unidade da Igreja 3-4 (ANF 5:672)

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    2. Você já viu a quantidade de adições e interpolações que tem o tratado "Da unidade da igreja" de Cipriano, que os católicos citam como autênticas?

      Sempre que um católico cita "A unidade da Igreja" de Cipriano, é preciso vir aqui ver se não é uma interpolação:

      http://www.e-cristianismo.com.br/pt/apologistas/75-cipriano-de-cartago-da-unidade-da-igreja

      Já viu também os vários artigos que o Gustavo fez sobre Cipriano? Não é preciso acrescentar mais nada. É bem esclarecedor o seu debate com os católicos :)

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  12. 5 razões para duvidar seriamente da história que o papado conta sobre as suas origens:

    http://bnonn.thinkingmatters.org.nz/5-reasons-to-seriously-doubt-the-papacy/

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    Respostas
    1. Este artigo encontra-se traduzido em português aqui:

      http://respostascristas.blogspot.pt/2016/02/cinco-razoes-para-duvidar-das-origens.html

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  13. Ola! Gostaria de saber qual fonte você tirou sobre a conversão de Paulo ser no ano de 37 - 40 dC?

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  14. Como eu posso saber o ano exato do ano que paulo se converteu?

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  15. Olá

    Não se pode saber com exatidão o ano da conversão de Paulo. Normalmente, cruzando dados bíblicos e históricos, os investigadores apontam para uma data aproximada entre os anos 34-37 d.C.

    Por exemplo, a International Standard Bible Encyclopedia aponta como data provável da conversão de Paulo o ano 35.

    "These early dates are more conjectural, but even so the facts seem to indicate 35 AD as the probable year of Saul's conversion."

    http://www.internationalstandardbible.com/P/paul-the-apostle-3.html

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